Bangers Open Air: Dia 1 (02/05/2025)

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Bangers Open Air: Dia 1 (02/05/2025)

Texto por Johnny Z. (@johnnyz666)
Fotos por Ezequias Pedroso (@ezequiaspedroso)
Assessoria: Taga Comunicação

Em meio a um cenário cada vez mais carente de festivais voltados ao verdadeiro espírito do Metal, o Bangers Open Air surge como um oásis para os amantes do estilo. Realizado pelo terceiro ano consecutivo (contando com os dois primeiros anos como Summer Breeze Brasil) no Memorial da América Latina, em São Paulo, o festival dividido em três dias (02, 03 e 04 de maio) deu mais um show de funcionalidade e impacto, não apenas entregando uma seleção poderosa de bandas dos mais variados estilos, mas também se destacou pela estrutura sólida e pela organização dedicada ao conforto e diversão de seu público. Desde a disposição inteligente dos palcos e áreas de alimentação até os banheiros limpos e o cuidado com a segurança, tudo parece ter sido pensado com atenção aos detalhes.

O clima de camaradagem entre headbangers de diversas regiões e a atmosfera acolhedora reforçaram a sensação de que o Bangers Open Air é mais do que um simples festival — é um verdadeiro encontro de tribos, amigos e profissionais do metal!

É natural que todo evento esteja em constante processo de aprimoramento, e, embora ainda haja pontos que podem ser melhorados, considero que, desta vez, resta apenas uma observação pontual — especialmente quando comparado às edições anteriores, nas quais todas as sugestões de melhoria foram claramente atendidas. O único aspecto que merece maior atenção diz respeito à qualidade do som. Em diversos shows, os graves estavam excessivamente elevados, o que resultou em uma sensação desconfortável: os bumbos da bateria, em especial, provocavam uma pressão sonora tão intensa que chegava a incomodar fisicamente o público, afetando tanto os ouvidos quanto o peito que parecia uma britadeira. Mesmo com o uso de protetores auriculares, o incômodo persistia a ponto de muitos precisarem recorrer também às mãos para atenuar o impacto sonoro.

Fora esse problema, que ao meu ver é fácil de se solucionar, é imprescindível destacar o alto nível das instalações oferecidas ao longo dos três dias de evento. A praça de alimentação, ampla e variada, atendeu bem a todos os gostos e restrições, com preços razoáveis e atendimento eficiente. As lojas espalhadas pelo local ofereceram desde merchandising oficial até itens de moda alternativa, agradando tanto colecionadores quanto curiosos. As sinalizações eram claras e bem distribuídas, facilitando a circulação mesmo nos momentos de maior fluxo. Vale ressaltar a abertura e saídas de emergência, que possibilitavam aos que não queriam usar a passarela para passar ao outro lado rapidamente.

Outro ponto alto foi o cuidado com o bem-estar do público: a segurança se mostrou presente e atuante, garantindo um ambiente tranquilo e familiar; a oferta constante de água potável, acessível e gratuita, foi um diferencial louvável; e a limpeza do espaço foi exemplar — ao término de cada apresentação, equipes de higienização entravam em ação com agilidade e eficácia, preservando o conforto de todos os presentes.

O Bangers Open Air se consolida, assim, não apenas como um festival musical, mas como uma verdadeira celebração da cultura metálica em sua forma mais respeitosa, organizada e acolhedora. Um evento que, ano após ano, reforça seu compromisso com a experiência do público — e que já nos deixam ansiosos para a edição do ano que vem já confirmada! Fica aqui todo nosso agradecimento à todos profissionais da produção, organização, assessoria e marketing por mais um ano de parceria e respeito para com nosso trabalho.

No dia 2, o Warm-Up (vulgo aquecimento), só tivemos shows nos palcos principais: Ice Stage (esquerdo) e Hot Stage (direito), mas do outro lado do Memorial da América Latina, tudo funcionava normalmente, lojas, exposições, sessões de autógrafo, praça de alimentação, etc. Pois bem, vamos aos shows!

…::: KISSIN’ DYNAMITE :::…

A banda responsável por abrir o festival não se comportou como uma mera atração de abertura — pelo contrário, entregou uma apresentação digna de headliner. Mesmo com o público ainda modesto, os alemães do Kissin’ Dynamite mostraram segurança e carisma, oferecendo um show contagiante e enérgico, sem se abalar pela quantidade de espectadores presentes.

Na verdade, considerando que era uma sexta-feira à tarde e um dia útil, a plateia até surpreendeu, principalmente na pista premium, onde os fãs de Hard Rock/Hard N’ Heavy bem radiofônico — com pegada pesada, cheia de energia e aquela vibe divertida e glamourosa dos anos 80, repleta de backing vocals típicos da época — foram à loucura, cantando e pulando do início ao fim.

O set de 50 minutos passou voando e agradou em cheio, sem exceções. O destaque da apresentação foi o vocalista Johannes Braun, que impressionou com sua voz poderosa, carisma, sinergia com o público e presença de palco. Sua performance me remeteu diretamente a Sebastian Bach nos tempos áureos do Skid Row (guardadas as devidas proporções). Meu destaque ficou para a faixa “Not the End of the World” e “The Devil is a Woman”, por trazerem um lado mais pesado que tanto aprecio.

Setlist:

Back With a Bang
DNA
No One Dies a Virgin
I’ve Got the Fire
My Monster
The Devil is a Woman
Not the End of the Road
You’re Not Alone
Raise Your Glass

…::: DOGMA :::…

Para alguns, a Dogma pode lembrar uma versão feminina — e consideravelmente mais pesada — do Ghost, com forte apelo visual e teatralidade no palco. Para outros, pode soar como uma banda que investe tanto na estética quanto na música. Isso é um problema? De forma alguma. O grupo mostrou competência, peso e presença em uma performance no Hot Stage que foi tão visual quanto sonora.

A proposta da banda, que mescla elementos de hard rock, heavy metal e nuances góticas, gira em torno de um conceito estético que mistura sensualidade e simbologia religiosa. Em 2025, esse tipo de provocação não choca mais como outrora, mas ainda desperta atenção — mesmo que nem todos estejam ali unicamente pela música.

É preciso dizer, no entanto, que a qualidade do som atrapalhou a experiência. O volume excessivo e os graves estourados dificultaram a compreensão de boa parte do repertório. Ainda assim, nas passagens mais limpas, ficou claro que as integrantes têm domínio técnico e sabem o que estão fazendo no palco.

O destaque da apresentação foi a lindíssima vocalista Lilith, que soube comandar a plateia com forte presença cênica, sexy e uma performance intensa. A interação com as demais integrantes e o apelo visual certamente fazem parte do conceito da banda, que culminou em uma interpretação pesada e ousada de “Like A Prayer”, da Madonna — escolha no mínimo simbólica e conveniente para o espetáculo proposto.

No fim das contas, a Dogma é uma banda que vale a pena ser conhecida — tanto pela proposta sonora, que mistura peso, melodia e atmosferas sombrias, quanto pela performance ao vivo, que é envolvente e provocadora. É inegável que o visual das integrantes chama atenção sem chocar e faz parte do espetáculo, mas reduzir a experiência apenas a isso seria injusto. A verdade é que som e estética andam juntos no projeto, e quem se permitir ir além da primeira impressão, encontrará uma banda com muito potencial e presença no palco.

Setlist:

Forbidden Zone
My First Peak
Made Her Mine
Banned
Like a Prayer
(cover da Madonna)
Bare to the Bones
Make Us Proud
Pleasure From Pain
Father I Have Sinned
The Dark Messiah

…::: ARMORED SAINT :::…

Como fã do Armored Saint desde muito jovem, confesso que essa era a banda que eu mais aguardava no primeiro dia do festival. Por isso mesmo, foi ainda mais frustrante ver uma apresentação com tamanho potencial ser prejudicada por problemas técnicos sérios.

Após o show impecável do Kissin’ Dynamite no Ice Stage, era difícil imaginar que o som pudesse mudar tanto — mas infelizmente mudou. Para quem estava colado na grade (como eu), a impressão era de que o som estava quase desligado. Imagine então para quem estava mais ao fundo, na pista comum. O volume estava absurdamente baixo, especialmente o microfone de John Bush, que parecia estar em ‘mono’. Aos poucos, a bateria de Gonzo Sandoval e o baixo de Joey Vera melhoraram, mas as guitarras de Jeff Duncan e Phil Sandoval continuaram apagadas e muitas vezes emboladas, e o vocal seguiu sem potência.

Foi um verdadeiro balde de água fria. Com um som à altura, o Armored Saint teria feito um dos grandes shows de todo o festival, pois a performance da banda foi intensa e afiada como sempre. Quem os viu em São Paulo, em 2018, sabe o que estou falando. O público, percebendo o problema, sinalizava constantemente para a equipe de som e aos músicos, e o próprio John Bush pediu diversas vezes para aumentarem o volume — sem sucesso.

Em um gesto grandioso (meio que de costume), Bush desceu do palco e cantou “Can U Deliver” no meio da pista premium e, em seguida, no meio do público geral, ganhando a plateia de vez. Além de ser um dos maiores vocalistas do metal, ele mostrou carisma, humildade e respeito pelo público. Ao lado de Joey Vera — que, com seus movimentos característicos, tocou absurdamente bem —, Bush conduziu a banda com uma entrega irrepreensível.

Apesar da inadmissível falha técnica no som, foi impossível não se emocionar com clássicos como “March Of The Saint”, “Long Before I Die”, a poderosa “The Pillar”, “Last Train Home” e o encerramento apoteótico com “Can U Deliver” e “Reign Of Fire”. O Armored Saint é uma máquina heavy metal no palco — e merecia ter sido ouvido com a dignidade que sua música exige. Monstros que merecem (mais) respeito.

Setlist:

March of the Saint
End of the Attention Span
Raising Fear
Long Before I Die
The Pillar
Last Train Home
Feft Hook from Right Field
Standing on the Shoulder of the Giiants
Win Hands Down
Can U Deliver
Reign of Fire

…::: PRETTY MAIDS :::…

O Pretty Maids subiu ao palco Hot Stage para uma apresentação intensa e emocional que, apesar de problemas técnicos na mixagem — especialmente nos vocais de Ronnie Atkins e nas guitarras de Ken Hammer e Chris Laney —, conseguiu cativar o público com sua entrega sincera e repertório bem escolhido.

A banda dinamarquesa apostou em faixas marcantes de pura nostalgia com hinos como “Pandemonium”, “Red, Hot and Heavy”, “I.N.V.U.”, a balada “Little Drops of Heaven”, “Future World” e “Love Games”.

A performance de Ronnie Atkins, mesmo com limitações vocais visíveis, foi comovente – para quem não sabe, Ronnie foi diagnosticado em 2019 com um câncer de pulmão em estágio avançado e infelizmente informado de que teria pouco tempo de vida. Especialmente em “Please Don’t Leave Me”, transformada em homenagem a Phil Lynott e John Sykes, esse último falecido recentemente, você sentia um clima de muita emoção de todos os tipos no ar. A conexão entre banda e público foi palpável, com o clima variando entre a celebração e a introspecção.

Mesmo longe da perfeição técnica, o show provou por que o Hard N’ Heavy do Pretty Maids – podendo ser até mais Heavy do que Hard para alguns – é cultuado por tantos fãs brasileiros pela verdade que transparece em cada nota e principalmente pela sua carreira longeva e extremamente relevante.

Setlist:

Mother of All Lies
Kingmaker
Rodeo
Back to Back
Red, Hot and Heavy
Pandemonium
I.N.V.U.
Little Drops of Heaven
Please Don’t Leave Me
(cover de John Sykes)
Future World
Love Games

…::: DORO :::…

Não tem como começar essa resenha sem destacar o brilho contagiante de Doro Pesch no palco. A “rainha do metal” mais uma vez entregou uma apresentação repleta de sorrisos, alegria e uma energia absolutamente envolvente. Seja em músicas pesadas ou em baladas emotivas, a alemã Doro permanece vibrante, carismática e dona de uma vibe incrivelmente positiva — impressionante, especialmente após tantas décadas de estrada.

Abrindo sua apresentação no Ice Stage com quatro clássicos do Warlock, Doro já mostrou a que veio: colocar fogo no primeiro dia do Bangers Open Air 2025. E conseguiu. Ao lado de sua banda afiadíssima, ela protagonizou um dos pontos altos do festival. A escolha de Glenn Hughes para encerrar a noite acabou parecendo deslocada após tamanha intensidade.

Voltando à performance de Doro e sua banda afiadíssima no Ice Stage, o que se viu foi uma verdadeira aula de heavy metal — intensa, enérgica e com foco evidente nos tempos áureos do Warlock. Com oito faixas do repertório clássico, o show foi uma celebração do metal tradicional, incendiando o público com a força das velharias que ainda causam emoções à flor da pele. No entanto, é sempre saudável quando artistas também se abrem ao novo — e Doro fez isso ao incluir duas faixas de seu álbum mais recente, Conqueress – Forever Strong and Proud (2023): “Time for Justice” e “Fire in the Sky” (esta última coescrita com seu guitarrista, o brasileiro Bill Hudson). Apesar de não provocarem o mesmo impacto dos hinos consagrados, essas músicas trouxeram frescor ao setlist e mostraram que a chama criativa de Doro continua acesa. Já a belíssima balada “Für Immer” ofereceu um dos momentos mais emocionantes da noite, com Doro conduzindo os coros da plateia, Hudson ao teclado e Bas Maas brilhando no solo de guitarra.

Completando o time, Danny Piselli (bateria) e Nick Douglas (baixo) seguraram com maestria a base da apresentação. Doro também arrancou aplausos ao interagir em português com a plateia durante todo o show, reforçando sua conexão com os fãs brasileiros, inclusive se enrolando em uma bandeira brasileira. O único momento questionável foi o cover de “Breaking the Law”, do Judas Priest — desnecessário!

Na quinta visita ao Brasil, Doro Pesch mostrou por que continua sendo um dos nomes mais reverenciados do heavy metal mundial. Um show memorável, eletrizante e cheio de alma — exatamente o que se espera de uma verdadeira lenda, ou melhor, rainha! Que show incrível! Que energia!

Setlist:

I Rule the Ruins (Warlock)
Earthshaker Rock
(Warlock)
Burning the Witches
(Warlock)
Fight for Rock
(Warlock)
Time for Justice
Raise Your Fist in the Air
Metal Racer
(Warlock)
Für immer
(Warlock)
Hellbound
(Warlock)
Fire in the Sky
Breaking the Law
(cover do Judas Priest)
All We Are
(Warlock)

…::: GLENN HUGHES :::…

Uma lenda do rock é, sem dúvida, sempre uma lenda — mas isso, por si só, não garante um show arrebatador. Glenn Hughes encerrou o primeiro dia do Bangers Open Air 2025 com uma apresentação tecnicamente correta, porém fria e distante, destoando da energia que marcou os demais shows do festival. Sua voz segue impressionante, poderosa e firme como sempre, mas desta vez, o que se viu no palco foi um desempenho sem empolgação ou envolvimento emocional.

Ao lado de uma banda competente — Søren Andersen na guitarra, Bob Fridzema nos teclados e Ash Sheehan na bateria —, Hughes percorreu com precisão um setlist baseado exclusivamente em sua fase com o Deep Purple, com faixas dos álbuns Burn, Stormbringer (ambos de 1974) e Come Taste the Band (1975). Com clássicos como “Mistreated” e “Burn”, esperava-se uma explosão de sentimentos e nostalgia, mas o que se teve foi um show protocolar, sem brilho, que em alguns momentos deixou o público visivelmente disperso e apático.

Não foi um show ruim — longe disso. Mas careceu de calor humano, da entrega que transforma uma apresentação técnica em algo memorável. Diante desse clima mais frio, é inevitável pensar que o fim da turnê — e possivelmente da carreira ao vivo de Hughes — esteja se aproximando mais por exaustão do que por escolha artística. Ainda assim, Glenn Hughes é uma figura histórica, com uma trajetória irretocável, e merece todo o respeito e reverência. Que seus próximos shows, incluindo a passagem final pelo Brasil em dezembro, tragam de volta a chama que sempre o acompanhou.

Setlist:

Stormbringer
Might Just Take Your Life
Sail Away
You Fool No One/Solo de guitarra/Blues/High Ball Shooter/You Fool No One/Solo de bateria/You Fool No One
Mistreated
Gettin’ Tighter
You Keep On Moving
Burn

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