Mastodon e Gojira – Espaço Unimed, São Paulo/SP (14/11/2023)
Produção: Move Concerts
Assessoria: Midiorama
Texto por Ivan Luiz
Fotos por André Tedim (@andretedimphotography)
“O metal está morto”, “o metal é música para velhos”, “não existe renovação no metal”. Você, leitor, já deve ter ouvido pelo menos uma vez uma das frases acima, e alguns talvez até tenham concordado com alguma delas. Quem esteve presente na última terça-feira, dia 14 de Novembro, no Espaço Unimed em São Paulo, com certeza não concorda com nenhuma.
E respondendo a outra questão que continua pertinente, quem serão os futuros protagonistas do estilo que tanto amamos? Mastodon e Gojira, com certeza, estarão entre eles. Em uma noite de véspera de feriado em São Paulo, com um calor que será lembrado por muitos anos, a casa recebeu um excelente público, mostrando que quando se tem qualidade, pode ser antigo ou novo, o público irá. Um público, aliás, bem heterogêneo. Havia muitos jovens e da velha guarda também, e, felizmente, a plateia feminina também prestigiou o espetáculo.
Divulgando seus mais recentes discos de estúdio, “Fortitude-Gojira” e “Hushed and Grim-Mastodon”, as bandas também souberam mesclar com seus maiores hits, para deleite dos presentes.
MASTODON:
Às 20h20, os americanos do Mastodon subiram ao palco para iniciar sua segunda apresentação no Brasil, mas desta vez com set completo e um punhado de discos muito celebrados pelos fãs. Já iniciaram com uma do último disco, “Pain With an Anchor”, esquentando ainda mais o Espaço Unimed. Seguiram com “Crystal Skull” e a já clássica “Megalodon”. Pude notar que a banda possui fãs que os acompanham fielmente, e a cada novo som anunciado, alguns urravam a plenos pulmões seus refrões.
Um ponto muito interessante da banda é que praticamente todos os membros cantam. A imagem do guitarrista Brent Hinds é uma das mais associadas à banda, mas o baterista Brann Dailor canta em diversos sons e manda muito bem, assim como o baixista Troy Sanders, que executa as partes mais pesadas com maestria. Fazem parte ainda da banda o guitarrista Bill Kelliher e o tecladista pernambucano João “Rasta” Nogueira, músico convidado nessa parte da turnê e que estava na pista durante a apresentação do Gojira.
Seguindo a apresentação, tocaram “Divinations” e “Sultans’ Curse”, com algumas belas animações nos telões. “Bladecatcher”, mostrando o virtuosismo da banda, foi muito bem executada, com suas variações ao longo da música, de ritmo e velocidade, até mesmo lembrando, em determinadas passagens, as loucuras do “The Mars Volta”. O rodízio de vocalistas se mostrou bem presente na pesada “Black Tongue” e logo após, uma das mais queridas dos fãs, “The Czar”, pesada, épica, com diversas mudanças e um certo psicodelismo em certas passagens. Fato interessante: as animações da banda que passavam nos telões, aliadas ao jogo de luzes, traziam centenas de cores ao palco, deixando tudo com um ar muito anos 70, até um pouco hippie. “High Road” tem um refrão grudento e melancólico que foi difícil de tirar da cabeça nos dias seguintes.
No bis, tocaram dois grandes clássicos para colocar um sorriso de orelha a orelha nos fãs da banda, “Steambreather” e “Blood and Thunder”. Devo confessar que o patamar da banda se elevou muito para este redator após essa empolgante e visceral apresentação.
Setlist:
Pain With an Anchor
Crystal Skull
Megalodon
Divinations
Sultan’s Curse
Bladecatcher
Black Tongue
The Czar
Halloween
High Road
More Than I Could Chew
Mother Puncher
Steambreather
Blood and Thunder
GOJIRA:
Como dito no início do texto, apesar de o Gojira encerrar a noite, ambos eram headliners, e a empolgação do público foi a mesma pelas duas bandas, mesmo havendo uma troca de lugares em frente ao palco.
Os franceses do Gojira, possivelmente a banda de metal de maior sucesso na terra de Asterix e Obelix, subiram ao palco tendo a difícil missão de manter o nível da apresentação anterior. E não decepcionaram.
Assim como o Mastodon, apostaram em um som novo para iniciar os trabalhos, e “Born For One Thing” já iniciou a porradaria. Apesar de serem contemporâneas, o Gojira pende para um lado mais pesado, apesar de todo o groove.
“Backbone” foi a segunda do set e, após, dois dos maiores clássicos da banda, “Stranded” com suas palhetadas certeiras e a viajante “Flying Whales”, uma das responsáveis por elevar a banda ao estrelato da cena.
Mais um som que podemos classificar como épico, a genial “The Art of Dying” era uma das mais aguardadas e a banda não decepcionou. Seu início enigmático explode com a entrada da bateria nuclear de Mario Duplantier, sem dúvida, um dos melhores bateristas de rock pesado da nova geração, e nem seria necessário um solo de bateria para comprovar isso.
Depois de “Grind”, a maravilhosa “Another World”, com seu refrão empolgante, que fez novamente a casa quase vir abaixo. Durante sua execução, uma animação sobre uma França destruída e a vida selvagem tomando todo o seu território foi um ponto fora da curva, visto que em quase todas as outras músicas foram usadas poucas cores e temas mais soturnos.
Como minha primeira presença em um show dos caras, achei muito legal o entrosamento de banda e público em “The Chant”, um coro que mesmo após o final da música se manteve. Emocionante.
As duas próximas, extremamente pesadas, mostraram que o quarteto francês são músicos excepcionais, principalmente o líder Joe Duplantier. “The Heaviest Matter of the Universe” colocou um sorriso no rosto de muita gente, principalmente por não estar tão presente ao longo da turnê.
Alguns devem saber das causas ecológicas defendidas pela banda, inclusive Joe Duplantier esteve em Brasília no ano de 2021 para participar de protestos indígenas. Mesmo sem grandes discursos, emendaram “Amazonia”, do seu último lançamento, com sua letra de protesto às queimadas na maior floresta do mundo e sua levada pesada, mas com um estilo único que a banda consegue imprimir em suas músicas, deixando-as totalmente personificadas.
A apresentação foi finalizada com “The Gift of Guilt”, e por mais clichê que isso possa parecer, vi muitos jovens relatando terem assistido ao “show” de suas vidas.
Nos agradecimentos ao público, era claro a emoção dos músicos, e simplesmente DO NADA, um bote aparece no palco e o vocalista começa a navegar com o público, algo não inédito, mas que faz o público se apaixonar ainda mais pela banda.
A sensação ao término foi que, além de responder às perguntas no início desse texto, podemos ficar tranquilos, o futuro do metal está em boas mãos.
Setlist:
Born for One Thing
Backbone
Stranded
Flying Whales
The Cell
The Art of Dying
Drum Solo
Grind
Another World
Oroborus
Silvera
The Chant
L’enfant Sauvage
The Heaviest Matter of the Universe
Amazonia
The Gift of Guilt