Estreando nossa nova seção, convidamos nosso amigo, parceiro e incrível apoiador da cena Metal nacional e Mundial, Marcos Garcia, do não menos incrível site Metal Samsara, que aceitou prontamente nosso convite. RESPEITO! Confira!
Por Marcos “Big Daddy” Garcia
E lá se vão quase 30 anos desde que o Sepultura lançou seu segundo álbum, “Schizophrenia”. Buscando as minhas lembranças pessoais, ainda lembro-me de estar em plena cidade do Rio de Janeiro no início de dezembro de 1987, em uma loja, esperando o disco chegar (sim, as cópias do disco estavam marcadas para chegar naquele dia).
A ansiedade minha (e de quase todos os headbangers da época) se baseava no seguinte: desde a saída de Jairo e a consequente entrada de Andreas Kisser na guitarra solo (que era oriundo do finado PESTILENCE, banda do ABC paulista que havia lançado uma Demo Tape chamada “Slaves of Pain”), todas as notícias mostravam uma mudança no direcionamento musical do quarteto, ou seja, estavam deixando o Death Metal cru e primário de “Bestial Devastation” e “Morbid Visions” em busca de algo mais técnico e esteticamente bem feito, inclusive com comentários sobre a banda ter levado uma versão de “Curse the Gods” do DESTRUCTION em um show, aproveitando os vocais de Andreas (que faziam isso no PESTILENCE e tornou a fazer durante a primeira tour do quarteto na Europa em 1989, devido à problemas de Max com úlceras estomacais). Mas um olhar mais crítico e realista mostra que isso era uma tendência mundial, ou seja: bandas deixando a brutalidade do Death Metal e aderindo à agressividade técnica e mais melodiosa do Thrash Metal era corriqueiro no exterior, vide o POSSESSED com “Beyond the Gates”, o KREATOR com o EP “Flag of Hate”, e o próprio DESTRUCTION com “Eternal Devastation” era fato corriqueiro.
Ao ouvir “Schizophrenia”, se percebia que as influências primordiais do Death Metal executado pelo quarteto ainda estavam evidentes em certos momentos, bem como o lado mais Hardcore e Crossover também levantam o dedo aqui e ali, mas agora com todo um alinhavo técnico/melódico mais esmerado, com muitas mudanças de ritmo, e mesmo o uso de ritmos mais cadenciados. A voz de Max mostra um timbre agressivo próximo ao normal um pouco mais voltado ao Crossover/HC, ao mesmo tempo em que as guitarras de Andreas impuseram uma qualidade técnica excelente, e é impossível não falar de como Igor estava com um trabalho cada vez mais maduro e pesado. Paulo, como já é fato bem conhecido, não gravava suas partes no baixo, mas está firme na marcação. E juntando isso, o disco é uma porrada nos cornos, com um impacto sonoro que até os nossos dias é surpreendente.
Gravado em apenas 16 canais (algo bem comum no Metal nacional na época, e um luxo em relação aos 8 canais usados em muitos discos brasileiros do gênero antes de 1987) no JG Estúdio, em MG, tendo Tarso Senra cuidando da mixagem e masterização, a sonoridade de “Schizophrenia” é bruta, crua e cheia de energia, mas já imprimindo uma qualidade mais limpa e certa preocupação sem soar audível. E nota-se o uso do tema do filme “Psicose” feito por violinos que foram tocados por Paolo Gordo.
A arte da capa e contracapa é algo até simples para a época, mas ficou ótima pelo uso da capa dupla, com encarte e foto da banda no centro.
A chave dessa sonoridade mais amadurecida e que não perde sua beleza apesar dos anos é a energia com que a banda sempre fazia suas canções. Sim, aqui o SEPULTURA mostrava que sabia compor arranjos musicais de primeira, deixar que o trabalho técnico ficasse evidente aos ouvidos. E outro fator é o uso de uma instrumental longa como “Inquisition Symphony”, de mais de 7 minutos de duração.
Não seria grosseiro dizer que “Schizophrenia” transcendeu o seu tempo, foi evoluído demais para a época.
Músicas como a clássica “From the Past Comes the Storms” (mostrando riffs matadors, e uma ótima variação de ritmos), “To the Wall” (outra que mostra muitas variações rítmicas, mas com uma estética refinada em termos de solos e riffs, e um fato interessante é que a letra é de Vlad Korg, do CHAKAL), a força bruta da base rítmica em “Screams Behind the Shadows” (realmente a bateria está fantástica, com peso e muita técnica), e a veloz e brutal “R.I.P. (Rest in Pain)” marcaram ossos e mentes.
Foi um dos melhores presentes de Natal que ganhei de mim mesmo, que atormentou a vida de meus pais e vizinhos, e que faz parte da história do Metal nacional como o primeiro álbum com qualidade voltada para o exterior.
Óbvio que existem estórias engraçadas aos montes sobre o que ocorre durante as gravações e mesmo após o disco ser lançado. Mas para isso, existem biografias e documentários mais que suficientes para comentar.
Agora, dezembro está chegando e o disco vai comemorar seu 29º. Aniversário, logo, pegue sua cópia em vinil de “Schizophrenia”, ou mesmo a versão remasterizada em CD (que tem alguns bônus bem interessantes, como a versão demo de “From the Past Comes the Storms”, antes chamada de “The Past Reborns the Storms”), e detone os tímpanos alheios!
Sepultura – “Schizophrenia” (1987)
Cogumelo Records
1. Intro
2. From the Past Comes the Storms
3. To the Wall
4. Escape to the Void
5. Inquisition Symphony
6. Screams Behind the Shadows
7. Septic Schizo
8. The Abyss
9. R.I.P. (Rest in Pain)
Banda:
Max Cavalera – Vocais, guitarra base
Andreas Kisser – Guitarra solo
Paulo Jr. – Baixo
Igor Cavalera – Bateria
Contatos:
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