Alice Cooper – Best Of Blues & Rock, São Paulo/SP (14/06/2025)
Local: Parque Ibirapuera, São Paulo/SP
Assessoria: Marra Comunicação
Texto por: Samuel Silas do Carmo
Colaboração: José Henrique Godoy (Rebel Rock)
Fotos por: Ezequias Pedroso
Vincent Damon Furnier — ou simplesmente Alice Cooper, como o mundo o conhece há quase 60 anos — transformou o palco do Auditório Ibirapuera, no sábado, 14 de junho, em algo muito maior do que apenas um local para um show. O que aconteceu ali foi um verdadeiro espetáculo multimídia, onde o rock pesado encontrou o teatro macabro, e o tempo pareceu curvar-se diante de um artista que segue tão relevante e impactante quanto sempre foi.
Alice não precisa de palavras para comandar um palco. Basta um olhar, um gesto calculado, um figurino carregado de simbologia. Com isso, ele já captura os sentidos da plateia. E assim foi desde os primeiros minutos do espetáculo, iniciado por volta das 20h30 com uma introdução teatral que remetia à Idade Média: dois médicos da peste negra surgem ao som de sinos, enquanto uma imensa cortina em forma de jornal anuncia que Alice Cooper foi “banido do Brasil” por “crimes contra a humanidade”. A silhueta do nosso eterno anti-herói aparece por trás do pano, que é rasgado ao som de “Lock Me Up”, do visceral Raise Your Fist and Yell (1987). A seguir, “Welcome to the Show”, do álbum Road (2023), mostra que a lenda ainda tem munição nova — e poderosa.
E então, o desfile de clássicos começa com tudo: “No More Mr. Nice Guy”, “I’m Eighteen” e “Under My Wheels” deixam claro que essa noite seria inesquecível. A banda, afiadíssima, entrega cada nota com precisão e alma, enquanto Alice reina absoluto, como uma entidade do rock encarnada.
Os músicos que o acompanham são um espetáculo à parte. Nita Strauss, com sua energia, técnica e carisma, confirma o status de estrela da guitarra que conquistou merecidamente. Ao seu lado, Tommy Henriksen segura as bases com elegância, e Ryan Roxie evoca o espírito dos anos 70 com naturalidade. Chuck Garrick é o alicerce no baixo e nos vocais de apoio, enquanto Glen Sobel, devidamente apresentado como “o baterista número um”, simplesmente destrói em cada virada.
Momentos teatrais se alternam com clássicos em ritmo acelerado. Em “Bed of Nails”, Nita assume o centro do palco. “Billion Dollar Babies” traz Alice duelando com a plateia, espada em punho. Já “Snakebite” só não teve a tradicional cobra no palco — mas em espírito, ela estava lá. A sequência segue com “Be My Lover” e “Lost in America”, mas o clima muda de tom com “He’s Back (The Man Behind the Mask)”. De repente, Jason Voorhees invade o palco para acabar com uma fã empolgada demais, numa encenação que mistura humor, terror e crítica à obsessão por selfies. Em “Hey Stoopid”, o alvo é um fotógrafo. Cooper acerta o pedestal do microfone como se fosse uma lança — e tudo, claro, faz parte da performance.
Após um solo poderoso de Sobel, “Welcome to My Nightmare” traz de volta a atmosfera sombria. Em “Cold Ethyl”, Alice dança com uma boneca cadáver, num número que é tão bizarro quanto cativante. “Go To Hell” vem com maracas e a presença de Sheryl Cooper, sua esposa, que entra com um chicote e é dramaticamente expulsa da cena pelo próprio marido — mais uma atuação dentro da atuação.
A catarse vem com “Poison”, o hino oitentista que nunca falha em levantar a plateia. Mas o clímax dramático ainda estava por vir. Alice é preso no palco, amarrado em uma camisa de força, e entregue ao delírio da balada sombria “Ballad of Dwight Fry”. Antes disso, Nita executa um solo carregado de emoção, daqueles que grudam na alma.No telão, a voz arrepiante de Vincent Price narra “The Black Widow”. Sheryl retorna vestida como uma figura medieval, conduzindo Alice à guilhotina ao som instrumental de “Killer”. A lâmina cai, e sua cabeça é erguida, antes de receber um beijo cinematográfico durante “I Love the Dead”. É grotesco, teatral, poético — é Alice Cooper.
Mas como todo bom pesadelo, ele renasce no fim. Surge como um professor rebelde para cantar “School’s Out”, enquanto balões voam e um trecho de “Another Brick in the Wall” costura a música em um mashup irresistível. É também o momento da apresentação da banda, todos ovacionados de pé. O bis vem com “Feed My Frankenstein” e a aparição de um Alice Cooper em versão gigante e monstruosa, encerrando a noite com peso, ironia e puro entretenimento.
Alice Cooper não é apenas um artista — ele é um gênero por si só. Sua voz ainda impressiona, sua forma física desafia a idade, e sua mente criativa está tão viva quanto sempre esteve. O que ele entregou em São Paulo foi mais do que um show: foi um espetáculo sensorial completo, onde a música encontra o teatro, o humor, o horror e a emoção. Um presente inesquecível para todos que estavam ali. Que ele volte sempre. O rock — e o mundo — ainda precisam de figuras como Alice Cooper.
Setlist:
Lock Me Up (Intro)
Welcome to the Show
No More Mr. Nice Guy
I’m Eighteen
Under My Wheels
Bed of Nails
Billion Dollar Babies
Snakebite
Be My Lover
Lost in America
He’s Back (The Man Behind the Mask)
Hey Stoopid
Drum Solo (Glen Sobel)
Welcome to My Nightmare
Cold Ethyl
Go to Hell
Poison
The Black Widow (Nita Strauss solo)
Ballad of Dwight Fry
I Love the Dead
School’s Out / Another Brick in the Wall, Part 2
Feed My Frankenstein






























