Deep Purple – Best Of Blues & Rock, São Paulo/SP (15/06/2025)
Local: Parque Ibirapuera, São Paulo/SP
Assessoria: Marra Comunicação
Texto por: José Henrique Godoy
Fotos por: André Veloza/Best Of Blues and Rock
Ao contrário de alguns que reclamam de mais uma visita do Deep Purple ao Brasil (sim, existe quem reclama!), eu estava era com saudades. Apesar das frequentes turnês por aqui, eu não os via ao vivo desde 2014 – e não por falta de vontade, mas de oportunidade. Essa chance finalmente veio neste domingo, 15/06, e lá estava eu para ver, mais uma vez, os septuagenários mais geniais do hard rock mundial.
Eram 20h20 quando o telão ao fundo do palco começou a exibir projeções relacionadas ao mais recente lançamento da banda, o ótimo =1. Em seguida, um a um, os senhores “Purplelianos” adentraram o palco e deram início à clássica — e favorita dos fãs — “Highway Star”. Quase no mesmo instante em que Ian Gillan soltou os primeiros versos, o público (em excelente número) já cantava a plenos pulmões essa verdadeira ode ao rock.
Logo de cara, como tem sido nos últimos anos, percebemos a boa forma de Gillan. Se por um lado ele não atinge mais os agudos de outrora, por outro encontrou uma maneira inteligente de adaptar sua performance vocal, entregando algo satisfatório e condizente com seus limites atuais. Lembrem-se: estamos falando de um senhor que está prestes a completar 80 anos.
Ian Paice segue sendo uma referência para qualquer baterista de rock ou hard rock. Sua levada continua pesada, precisa e empolgante, sempre em sintonia com o parceiro de tantas décadas, o baixista Roger Glover. Este, além de um músico brilhante, é também o mais carismático da banda no palco — sempre sorridente, exalando prazer por ainda estar ali, tocando para milhares de pessoas.
E Don Airey? O que dizer de um tecladista que já trabalhou com Black Sabbath, Michael Schenker, Whitesnake, Ozzy Osbourne… e que foi a escolha natural para substituir o maestro Jon Lord? Sua performance é matadora, recriando com maestria as camadas sonoras que são marca registrada das composições do Purple.
Por fim, o “caçula”, o “cara novo”: Simon McBride. Mais próximo do estilo de Ritchie Blackmore do que de Steve Morse, sua pegada é mais crua, mais rock and roll. Eu curtia o Steve, mas achava que ele deixava o som da banda um pouco polido demais. Simon trouxe de volta a aspereza que o rock pesado do Deep Purple precisa — e acertaram em cheio ao escolhê-lo.
Voltando ao show: a segunda faixa foi “A Bit On The Side”, a primeira do novo álbum no setlist, executada com precisão, abrindo caminho para duas pedradas do clássico In Rock (1970): “Hard Lovin’ Man” e “Into the Fire”. Nesta última, Gillan se arriscou mais, com agudos que quase nos remeteram aos seus anos dourados — com a ajuda, claro, de todo o Ibirapuera cantando junto. Pessoalmente, foi um momento de pura nostalgia: voltei no tempo para meu quarto, ainda na pré-adolescência, ouvindo e regravando incansavelmente minha fita k7 de In Rock, presente dos meus pais. São essas viagens temporais que só a música proporciona.
Chega a vez de Simon brilhar sozinho, executando um solo sensacional — um verdadeiro show de técnica, unindo o novo e o clássico, arrancando muitos aplausos e gritos de aprovação. A sequência seguiu com “Uncommon Man”, do Now What?! (2013), que Gillan dedicou ao maravilhoso e saudoso Jon Lord, falecido em 2012. Seu legado permanece eterno.
Seguimos com “Lazy Sod”, uma das melhores faixas do novo álbum +1. Ao final desta, Don Airey teve seu primeiro momento solo da noite: entre pitadas de música clássica e rock and roll, fez graça ao deixar uma nota soando no teclado por quase um minuto enquanto servia — e, claro, tomava — uma Heineken. Genial.
“Lazy” veio na sequência, com sua levada boogie e uma das melhores interpretações de Gillan na noite, com direito a pandeiro e harmônica. Seria ainda melhor se eu não tivesse a “sorte” de estar na frente de um “vocalista” de plateia que, além de cantar alto, tentava (em vão) imitar os agudos de Gillan. Como diria o mestre Renato Portaluppi: “Tem dia que é noite”.
Na sequência, a belíssima balada “When a Blind Man Cries” emocionou. Mais um show particular de Mr. Gillan. Uma pena essa canção nunca ter entrado em um álbum oficial da banda, apenas como single — dizem por aí que a culpa foi de Ritchie Blackmore…
Uma das surpresas da noite veio logo após: “Anya”, do subestimado The Battle Rages On. A melodia foi acompanhada em coro pelo público, e dava pra ver a satisfação da banda ao tocar esse som. O “vocalista” de trás? Não faço ideia — por bem da minha sanidade, mudei de lugar.
Don Airey retornou com mais um solo, esbanjando carisma e simpatia, tocando trechos de “Mr. Crowley” (que ele gravou com Ozzy) e até mesmo uma versão de “Aquarela do Brasil” — momento que levou o público ao delírio. Já nos aproximando do final, tivemos a insana “Space Truckin’”, que levantou a galera de vez. Na sequência, Simon se aproximou da plateia e puxou aquele que é, sem dúvidas, um dos três riffs mais famosos da história do rock/metal: “Smoke on the Water”, com destaque para as animações no telão que ilustravam a letra.
Após saírem do palco, os mestres retornaram para o bis com “Hush” e “Black Night”, encerrando uma noite memorável, com o público do Ibirapuera cantando cada nota com paixão.
Mais um excelente show do Deep Purple, como já se tornou praxe. É incrível pensar que uma banda com quase 60 anos de estrada ainda entrega um espetáculo tão acima da média — superior a muitos artistas das novas gerações. Eles souberam se adaptar aos tempos e às limitações físicas, como só os grandes sabem fazer.
E para aqueles que dizem que o Deep Purple é “figurinha repetida” no Brasil… sinto muito informar: desde 1991, quando vieram pela primeira vez, já somam mais de 30 apresentações por aqui. E quer saber? Que venham muitas mais! A prova da sua conexão com o Brasil é que este show no Best Of Blues & Rock foi uma das apenas três apresentações agendadas pela banda em 2025 — um ano em que, inclusive, preparam o lançamento de um novo álbum.
Como diria o “Futebolês”: chora, secador! Que o Deep Purple continue nos visitando quantas vezes mais forem possíveis.
Setlist:
Highway Star
A Bit on the Side
Hard Lovin’ Man
Into the Fire
Guitar Solo (Simon McBride)
Uncommon Man (Dedicada a Jon Lord)
Lazy Sod
Lazy (com introdução extendida de teclado)
When a Blind Man Cries
Anya
Keyboard Solo (Don Airey)
Bleeding Obvious
Space Truckin’
Smoke on the Water
Green Onions (Booker T. & the MG’s cover)
Hush (Joe South cover)
Black Night
Nota do Redator-Chefe: Gostaríamos de registrar, com o devido respeito, nosso profundo descontentamento em relação a um episódio ocorrido durante a cobertura do festival realizado nos dias 14 e 15 de junho, em São Paulo.
Nosso fotógrafo foi devidamente credenciado para ambos os dias do evento, tendo se deslocado por mais de 400 km exclusivamente para realizar a cobertura fotográfica dos shows de Alice Cooper e Deep Purple – as duas atrações que se alinham com a linha editorial do nosso veículo.
Infelizmente, durante o show do Deep Purple, fomos surpreendidos com a negativa de acesso à área de fotos, sem qualquer explicação prévia ou oficial no momento. Apenas posteriormente, após tentativas de esclarecimento, fomos informados de que a decisão partiu da própria produção da banda, e não da assessoria de imprensa responsável pelo evento.
Reforçamos que confiamos no trabalho da Marra Comunicação e não temos a intenção de responsabilizá-los pelo ocorrido. No entanto, consideramos a situação extremamente deselegante e desrespeitosa com os profissionais que estavam ali a trabalho, especialmente ao sabermos que um grupo seleto de 12 fotógrafos foi autorizado a realizar a cobertura, em detrimento de outros profissionais igualmente credenciados.
Entendemos que decisões internas das bandas possam interferir na logística da cobertura, mas acreditamos que transparência, previsibilidade e isonomia são princípios essenciais para que o trabalho de imprensa seja valorizado e respeitado.
Ficamos à disposição para eventuais esclarecimentos e esperamos que situações como essa possam ser evitadas em futuras oportunidades.
Johnny Z.






