Ancient – Jai Club, São Paulo/SP (10/04/2025)
O culto norueguês do Black Metal em noite obscura e memorável em São Paulo
Produção: Dark Dimensions
Assessoria: JZ Press
Texto por Daniel ‘Troyll’
Fotos por Johnny Z. e Daniel ‘Troyll’
Na noite de quinta-feira, 10 de abril, os paulistanos presenciaram um marco na história do metal extremo com a estreia da lendária banda norueguesa Ancient em palcos brasileiros. O Jai Club foi o local escolhido para sediar a primeira apresentação da banda no país, em uma turnê organizada pela experiente produtora Dark Dimensions. Embora a casa não estivesse lotada, os poucos presentes formaram um público fiel, reverente e sedento por um culto ao verdadeiro Black Metal noventista.
A ausência da banda de abertura — o Mørk VisdoM, inicialmente escalado para acompanhar toda a tour — foi sentida, mas não comprometeu a atmosfera da noite. Segundo informações, a decisão se deu por polêmicas envolvendo declarações de seu líder, o que levou à sua exclusão do evento.
Pontualmente às 21h, o Ancient subiu ao palco sob a introdução solene de “Ponderous Moonlight”, que preparou o terreno para o impacto imediato com “The Cursed” e “Discipline of Caine”, ambas do clássico álbum The Cainian Chronicle (1996). A formação atual, liderada pelo fundador e guitarrista Zel (Aphazel), trouxe músicos contratados que, apesar de discretos, sustentaram com competência a sonoridade sombria e intensa da banda. O destaque, no entanto, ficou por conta do retorno triunfante de Lord Kaiaphas (Valério Zyohn), vocalista dos tempos áureos, cuja performance foi visceral, teatral e absolutamente cativante — um verdadeiro ritual encarnado no palco.
Kaiaphas mostrou que ainda domina a estética e a essência do Black Metal de raiz, conduzindo o set com autoridade e entregando vocais rasgados e gélidos em hinos como “Song of Kaiaphas”, com seu refrão entoado pela plateia. O visual da banda era simples, mas respeitoso à estética tradicional do estilo, sem os exageros visuais dos anos 90, mas ainda carregado de misticismo e aura ritualística.
Momentos marcantes não faltaram. Em “Lilith’s Embrace”, os vocais femininos originalmente gravados por Kimberly Goss foram supridos de forma espontânea por um coro vindo da própria plateia, em uma interação que deu ainda mais força à atmosfera intimista e devocional do show.
O final da apresentação trouxe uma sequência que agradou tanto os fãs da fase melódica quanto os devotos da crueza inicial do Ancient, com as clássicas “Troops of an Archangel” e “The Call of the Absu Deep”, do seminal Svartalvheim (1994). Para encerrar a noite com chave de ouro, uma homenagem ao maior nome do Black Metal mundial: Bathory, com uma interpretação poderosa de “13 Candles” que fez arrepiar até os mais céticos.
O Ancient mostrou que o tempo pode até passar, mas a chama do verdadeiro Black Metal jamais se apagará. Uma apresentação histórica, sombria e apaixonada — como deve ser.
















