Monsters Of Rock – Allianz Parque, São Paulo/SP (19/04/2025)

RESENHA_MONSTERS_2025
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Monsters Of Rock – Allianz Parque, São Paulo/SP (19/04/2025)

Mais de três décadas de peso, suor e devoção: o Monsters of Rock celebra (mais de) 30 anos no Brasil

Texto por Johnny Z. (Stratovarius, Queensrÿche e Judas Priest)
Texto por Cristiano Ruiz (Opeth, Savatage, Europe, Scorpions)

Produção: Mercury Concerts
Assessoria: Catto Comunicação
Fotos por Ricardo Matsukawa/Mercury Concerts

Em 1994, o Brasil recebia pela primeira vez um dos festivais mais emblemáticos do universo do rock e do heavy metal: o Monsters of Rock. Com um line-up histórico que contou com nomes como Kiss, Slayer e Black Sabbath, o evento marcou gerações e cravou seu nome na memória afetiva dos headbangers brasileiros. De lá pra cá, o festival passou por diferentes fases, mudanças de formato e longos hiatos, mas sempre retornou com a mesma proposta: reunir gigantes da música pesada em noites memoráveis.

Agora, em 2025, completa 30 anos (31, né?) desde sua estreia em solo brasileiro — e a edição comemorativa que contou com as atrações Stratovarius, Opeth, Queensrÿche, Savatage, Europe, Judas Priest e Scorpions não poderia ser menos épica. Nesta resenha, citaremos sem muitas delongas ou exacerbações os destaques, momentos marcantes, principais pontos (positivos e negativos) e a importância dessa grande celebração do Rock – mainstream – em nosso país. Confira!

ESTRUTURA:

Há algum tempo, o Allianz Parque vem se consolidando como o melhor estádio para a realização de shows em São Paulo — e os motivos são evidentes: localização central, fácil acesso, acústica de qualidade em praticamente todos os setores e instalações modernas. Em contraste, o Estádio do Morumbi segue na direção oposta em quase todos esses quesitos.

Em todas as ocasiões em que estive no Allianz, minha experiência foi extremamente positiva, sem qualquer tipo de reclamação. Saí de cada apresentação com a sensação de dever cumprido — algo raro quando falamos de grandes eventos em estádios.

Embora o Morumbi conte com maior capacidade de público, sua estrutura pouco favorece o espectador. Quem assiste a um show nas arquibancadas superiores, por exemplo, mal consegue visualizar os artistas no palco e ainda enfrenta problemas de acústica, como o atraso no som (delay), além das intempéries — ventos fortes e chuva são frequentes na região. Já nas arquibancadas inferiores, a qualidade do som é significativamente comprometida, exceto para quem está muito próximo ao palco.

Sim, meus caros leitores, como torcedor do São Paulo, admito que é difícil aceitar isso (risos). Não que não chova no Allianz, mas a cobertura que acompanha todo o anel superior protege bem o público das arquibancadas e cadeiras inferiores. Na pista, aí não tem jeito: é levar a capa de chuva e seguir o show (mais risos).

No Allianz, esses problemas são menos frequentes — ainda que também dependam da competência da equipe técnica e da qualidade dos equipamentos utilizados pela produção.

Outro ponto positivo é a organização, tanto nos arredores quanto nas áreas internas do estádio. Sinalização clara, presença de postos médicos, banheiros acessíveis e facilidade de locomoção tornam a experiência ainda mais confortável para o público.

Mais alguns pontos positivos, agora voltados à produção: Praticamente nenhum atraso nas apresentações e o som esteve impecável durante quase todo o evento, com apenas alguns pequenos percalços no início de certas apresentações — algo completamente compreensível, considerando os ajustes técnicos. E, logicamente, a iluminação também merece destaque, proporcionando um verdadeiro espetáculo à medida que a noite caía.

A expectativa é que o Allianz Parque continue sendo a principal escolha para grandes eventos musicais na capital paulista — mesmo que, em alguns casos, isso signifique dividir um único show no Morumbi em duas ou três datas no Allianz. Ao que tudo indica, o público não se importaria.

Resumindo: um BAITA evento e uma BAITA vibe! Vamos aos shows:

STRATOVARIUS:

Os finlandeses do Stratovarius subiram ao palco às 11h30 da manhã, já com um bom público que fez questão de comparecer desde a primeira atração. Bom, pelo valor dos ingressos, muitos quiseram usufruir de tudo (risos).

Formada atualmente por Timo Kotipelto (vocal), Jens Johansson (teclados), únicos remanescentes da formação clássica, Matias Kupiainen (guitarra), Lauri Porra (baixo) e Rolf Pilve (bateria), a banda já veio ao Brasil treze vezes, sendo a última no festival Summer Breeze Brasil 2023.

Confesso que, desde a saída nada amigável do fundador Timo Tolkki em 2003, não acompanhei muito o que o grupo fez nesses anos. Não por falta do seu mentor, cuja fase eu ouvia com muito gosto, mas porque a sonoridade melódica do Power Metal começou a desgastar demais meus ouvidos. Logicamente, ouvi um álbum ou outro após a separação e a saída de três membros clássicos da banda, e a qualidade se manteve intacta — principalmente no mais recente trabalho, “Survive” (2022), que trouxe um lado mais pesado que já conversa melhor com o meu gosto pessoal.

Assisti a alguns trechos do show em 2023, mas, por conta do cansaço, acabei optando por outras atrações que tocavam em outro palco. Já aqui no Monsters, acompanhei do início ao fim. E agora uma constatação: os caras voltaram a me impressionar e a despertar o interesse em acompanhá-los novamente. Não que eu tenha me tornado um “velho novo” fã do estilo mais melódico do Power Metal, mas o peso das guitarras de Matias Kupiainen – na banda desde 2008 – e os vocais de Timo Kotipelto — que, desde a minha juventude, sempre achei que poderia ser um sucessor de Michael Kiske (Helloween) — foram determinantes.

A unidade e a coesão da banda também contribuiu para esse impacto, mas esses dois músicos foram cruciais para que eu dissesse a mim mesmo: “Opa, espera um pouco. Tem coisa boa aí que eu perdi” (risos). Gosto muito da presença de palco e carisma de Kotipelto, sempre sorridente e feliz por estar soltando seu gogó que algumas pouquíssimas vezes deu sinais de falha, mas quem se importa? Você não envelheceu não? Quer ouvir certinho, escute o álbum! Eu prefiro o fator humano.

Sobre o show, a banda acertou muito na escolha do setlist, apostando quase que totalmente em sua fase clássica — ou seja, aquela que eu, e acredito que uns 85% dos presentes (os mais experientes… não vou dizer velhos, ok?), gostamos muito de ouvir. Faixas como “Forever Free”, as sensacionais “Speed of Light” e “Paradise”, além de “Black Diamond” e “Hunting High and Low”, foram ovacionadas e cantadas por todos. Não que as três músicas mais recentes da banda não tenham impacto, mas passaram meio batido pelo público. Um fato triste que já venho percebendo há algum tempo: a falta de interesse dos fãs de material novo. Atenção, fãs: reflitam seriamente sobre mudar isso!

O Stratovarius, mesmo com apenas uma hora de apresentação e sob um sol que teimava em castigar os presentes — que a todo momento olhavam para o céu, já que a previsão era de chuva pesada —, fez um show imponente, agradável, pesado (ainda bem!) e de extremo bom gosto. Fiquei feliz em revisitar o catálogo da banda, relembrar os bons tempos da adolescência e, daqui para frente, pretendo dar mais atenção ao som do quinteto. Se você é um daqueles que os abandonou, repense.

Uma pena que a não tivemos “Father Time” e/ou “The Kiss of Judas”, mas valeu muito cada segundo ficar alí em pé no sol!

Setlist:

Forever Free
Eagleheart
World on Fire
Speed of Light
Paradise
Survive
Eternity
Black Diamond
Unbreakable
Hunting High and Low

OPETH:

Assim que a apresentação do Stratovarius terminou, começou a preparação do palco para a próxima atração: a banda sueca Opeth. Exatamente às 12h55, teve início o show mais controverso do Monsters of Rock 2025, já que trouxe, em um mesmo setlist, o lado mais extremo e o mais lisérgico entre todas as bandas que se apresentaram no festival desse ano.

Com o objetivo de divulgar seu mais novo lançamento, Mikael Åkerfeldt (vocal/guitarra), Fredrik Åkesson (guitarra), Martín Méndez (baixo), Joakim Svalberg (teclados) e Waltteri Väyrynen (bateria) estavam lá para entregar seu som experimental que vai do death metal ao rock progressivo. E todos pareciam estar realmente curtindo aquele momento, principalmente Mikael.

“The Last Will and Testament”, o Opeth iniciou a apresentação com sua faixa de abertura, “§1”, mesclando sua era mais pesada com a fase Prog Rock. A pesada “Master’s Apprentices”, do “Deliverance”, veio logo em seguida, chamando a atenção dos adictos à discografia do quinteto original de Estocolmo. Na sequência, o Åkerfeldt anunciou mais uma composição do novo disco, “§3”. A partir de então, ele passou a dialogar com o público nos intervalos entre as músicas — aliás, Åkerfeldt deu um show de simpatia, humor e educação.

“In My Time of Need” (do álbum “Damnation”) foi, talvez, o momento mais Prog Rock do espetáculo. Já “Ghost of Perdition”, do magnum opus do Opeth, “Ghost Reveries”, esquentou bastante o clima e, como resultado, a galera abriu a primeira roda de mosh pit do evento. “Sorceress” e “Deliverance” fecharam o show, intercalando, mais uma vez, o Prog Rock e o Prog Death Metal.

Apesar de o som da banda parecer deslocado para uma parte considerável do público, o Opeth conquistou o respeito geral graças à simpatia e ao bom humor de Mikael Åkerfeldt, que, com muita inteligência, soube cativar até os mais céticos e criar um ambiente de empatia. Para os verdadeiros fãs, foi um verdadeiro banquete musical.

Deixando de lado o carisma e o respeito conquistados, o impacto musical foi mais polarizado: os fãs de longa data saíram ainda mais apaixonados, os que nunca gostaram da banda mantiveram (ou até reforçaram) sua rejeição, e talvez alguns poucos, até então alheios ao som do grupo, tenham despertado curiosidade. Em resumo, foi uma apresentação de músicos técnicos, competentes e extremamente musicais — mas cujo repertório complexo nem sempre encontrou um público totalmente preparado para absorvê-lo.

Setlist:

§1
Master’s Apprentices
§3
In My Time of Need
Ghost of Perdition
Sorceress
Deliverance

QUEENSRYCHE:

Os americanos do Queensrÿche, que estreavam o excepcional Todd La Torre (vocalista desde 2012) em terras brasileiras, vieram com uma formação contando apenas com os remanescentes originais Michael Wilton (guitarra) e Eddie Jackson (baixo), além do já citado Todd La Torre, Mike Stone (guitarra) e Casey Grillo (bateria, ex-Kamelot). Muitos fãs da banda, que já conta com uma carreira longeva e uma sequência de hits, apontam um Queensrÿche descaracterizado. Não estão errados — mas, se você é fã de música antes de tudo, dificilmente se incomodará com esse fato.

Sim, Todd La Torre é um dos poucos vocalistas e frontmen que conseguiu a façanha de conquistar 100% dos fãs da banda, por seguir fielmente o que Geoff Tate, vocalista original, fazia. A maestria foi tanta que era visível nos rostos dos presentes — muitos dos quais nunca tiveram a chance de ver essa formação da banda ao vivo em solo brasileiro. Era um tal de “Meu Deus do céu”, “Que monstro!”, “Incrível!” pra todo lado. Ver e ouvir pelo YouTube é uma coisa, mas ao vivo… o impacto foi de outra dimensão!

Todd não só conseguiu se igualar em alcance, potência e carisma, como, para a grande maioria, fez com que ninguém clamasse por uma volta de Geoff. E isso já vem há pelo menos uns 13 anos lá fora: praticamente ninguém sente falta dele, já que Todd faz exatamente — e até com mais potência — o que Geoff fazia nos últimos anos à frente do Queensrÿche. Sejamos francos: até 1994, Geoff era matador. Depois, caiu bastante em desempenho, entrou em umas maluquices e virou um “tiozinho” sem a menor graça ou impacto. Já Todd veio na contramão disso: trouxe sangue novo, qualidade, alcance e muito, mas muito carisma!

Outros ex-membros fazem falta? Sim. Mas, voltando ao início deste texto: a roda girou… e está, sim, excelente — como todos puderam comprovar neste que foi o melhor show do festival.

Abriram mão de alguns clássicos que, na minha modesta opinião, se tivessem sido incluídos, eu provavelmente já colocaria esse show como o melhor do ano — mesmo estando ainda em abril (risos). Faltou “Silent Lucidity” e “Jet City Woman”? Sim, faltou. Mas é compreensível: o tempo de uma hora de apresentação exigia alguns cortes. E você pode se perguntar: “Justo essas?” Meu querido, num setlist como o que foi apresentado, quem esteve lá saiu com sorrisos de orelha a orelha. Somente clássicos queridos dos fãs antigos e absolutamente NADA após o maravilhoso álbum “Empire”, de 1991.

Para alguns, pode soar como um desrespeito à fase atual, ou haver mil outras explicações. Mas, como disse lá no texto do Stratovarius, o povo — fã mesmo — queria ouvir as velharias, exatamente por conta de Todd, que simplesmente deu um show de interpretação, carisma, alcance e impacto. Nesse caso, ninguém nem lembrou de Geoff Tate, e muito menos dos trocentos álbuns — alguns horrorosos — antes de sua saída. Ok, alguma faixa dos álbuns da fase Todd poderia ter sido tocada? Sim. Mas os caras optaram por agradar ao público e, ao mesmo tempo, se divertiram numa espécie de combo do “amor” (risos). E acertaram bonito!

Mesmo de dia, com um som impecável — onde até mesmo a bateria de Casey Grillo estava levemente mais alta que o resto, com estrondos e explosões dentro de nossos peitos — tivemos uma aula de nostalgia e emoção! Michael Wilton tem uma imponência no palco que, na hora de sua apresentação, foi — junto a Todd — o músico mais saudado dentre todos, seguido logicamente por Eddie. Mike Stone é um bom guitarrista? Sim, é. Mas parece sempre estar lá apenas cumprindo seu papel como figurante.

Apostar em faixas soberbas e queridas pelos fãs mais antigos foi uma cartada de mestre. E mesmo longe de uma lotação, ninguém arredou o pé dali — nem para beber água. Isso realmente podia esperar, pois ninguém nem sentia essa sede, apenas a de clássicos! Volto a dizer: a precisão de Todd em alcançar todas as notas altíssimas do passado foi inacreditável — sem nenhum errinho, tom mais baixo, nada! Simplesmente uma potência avassaladora de bom gosto e qualidade. Destacar alguma faixa seria uma injustiça com as demais, mas abrir com “Queen of the Reich”, ter “Walk in the Shadows”, “Warning”, “Nightrider”, cinco músicas de “Operation: Mindcrime” (1988) e a fabulosa “Empire” foi uma covardia. ‘Apanhamos’ com muito prazer (risos).

Muito obrigado, Queensrÿche, por esse ESPETÁCULO que não se via há muitos e muitos anos por aqui. Vale lembrar que, em 2013, um “Queensrÿche” de Geoff Tate — por conta de disputas judiciais na época pelo nome — se apresentou no Monsters Of Rock e foi um verdadeiro fiasco. Então, desconsiderem essa fatídica apresentação como se nunca tivesse existido.

Está passando da hora de a banda gravar algum show completo com Todd e lançar para a posteridade! Que voz fenomenal!

Setlist:

Queen of the Reich
Operation: Mindcrime
Walk in the Shadows
I Don’t Believe in Love
Warning
The Needle Lies
The Mission
Nightrider
Take Hold of the Flame
Empire
Screaming in Digital
Eyes of a Stranger

SAVATAGE:

Alguém como eu, que teve a oportunidade de assistir ao Savatage no Monsters of Rock de 1998, nunca imaginou que os veria novamente, já que a banda estava oficialmente inativa há mais de duas décadas. No entanto, vê-los novamente no Monsters of Rock, 27 anos depois, trouxe diferentes emoções.

Embora o líder, tecladista, guitarrista e vocalista Jon Oliva não estivesse presente fisicamente por problemas de saúde, sua interação com o grupo, através do telão durante “Believe”, foi um dos momentos mais marcantes da apresentação do Savatage em São Paulo/SP. Além disso, a homenagem ao falecido guitarrista Criss Oliva, um dos fundadores da banda, levou muitos fãs às lágrimas.

No momento da execução da clássica “Handful of Rain”, até a natureza pareceu se emocionar e, dessa forma, abençoou a apresentação do Savatage, enviando suas lágrimas em forma de uma leve garoa — a qual o vocalista Zachary Stevens fingiu estar segurando com as mãos. Stevens, sempre interagindo com o público, ainda chutou bolas de futebol para a plateia. Imaginem a felicidade de quem conseguiu pegar uma delas?

Em um show recheado de tantos clássicos, não poderiam faltar os mais marcantes da época em que Jon Oliva era o vocalista, ainda atuando ao lado do irmão Criss. Assim sendo, “Jesus Saves”, “Sirens” e “Hall of the Mountain King” representaram muito bem essa era. Ou seja, quem esperava há tantos anos pela volta do Savatage pôde presenciar um show completo e emocionante.

Setlist:

The Ocean / City Beneath the Surface (intro)
Welcome
Jesus Saves
The Wake of Magellan
Dead Winter Dead
Handful of Rain
Chance
Gutter Ballet
Edge of Thorns
Believe
(com homenagem a Cris Oliva e Jon Oliva no telão)
Sirens
Hall of the Mountain King

EUROPE:

Não posso responder pelos outros, mas a banda sueca de Hard Rock, Europe, foi a minha maior surpresa positiva entre todas as apresentações do festival. Anteriormente, eu pensava que o Europe era apenas uma banda de Hard Rock/AOR que se resumia ao seu período de sucesso com o álbum “The Final Countdown”, principalmente por causa da balada “Carrie” e da faixa-título. Porém, ao vivo, o Europe me provou que é infinitamente mais do que isso… e tocou muito pesado no Monsters Of Rock!!!!

Grande parte das músicas do setlist contou com o público cantando junto — e, mesmo que a intensidade não se compare à dos seus maiores clássicos, é um ponto positivo que não posso deixar de mencionar. O guitarrista John Norum é, certamente, um dos melhores de todos os tempos no Hard Rock, e o show daquela noite serviu muito bem para reforçar essa conclusão. A maioria dos vocalistas perde qualidade vocal com o passar dos anos; entretanto, Joey Tempest parece o mesmo de quando gravou “The Final Countdown”, há quase 40 anos.

Tão logo o show terminou, após a execução de “The Final Countdown” — conduzida pelo épico teclado de Mic Michaeli —, decidi imediatamente conhecer a discografia completa do Europe, tentando, assim, resgatar o tempo que perdi. Decerto, esse show do Europe jamais sairá da minha memória.

Setlist:

On Broken Wings
Rock the Night
Walk the Earth
Scream of Anger
Sign of the Times
Hold Your Head Up
Carrie
Last Look At Eden
Ready Or Not
Superstitious
(com trecho de “No Woman, No Cry”, de Bob Marley & The Wailers)
Cherokee
The Final Countdown

JUDAS PRIEST:

O que falar dessa entidade do Heavy Metal mundial que atende pela alcunha de Judas Priest e que comemora 50 anos de carreira? Acredito que 98% dos presentes no Monsters Of Rock 2025 estavam lá por eles como prioridade. Desde 1991, a banda veio inúmeras vezes ao país, e em todas as vezes o alvoroço para assisti-los é contagiante.

Divulgando seu mais recente e excelente álbum “Invincible Shield”, Rob Halford (vocal), Ritchie Faulkner (guitarra), Andy Sneap (guitarra), Ian Hill (baixo) e Scott Travis (bateria) já começaram o “jogo” ganhando antes mesmo de pisarem no palco.

Um pouco diferente do caso do Queensrÿche, a formação atual – super coesa, pesada, tinindo e dando um show de execução e interpretação – não elimina a saudade de vermos a emblemática dupla original de guitarristas do quinteto: KK Downing e Glenn Tipton. Mesmo que Ritchie tenha sido aceito de forma unânime pelos fãs por sua presença de palco, simpatia e destreza nas seis cordas já há quase 15 anos – e sejamos justos, o cara se encaixou muitíssimo bem –, é fato que sentimos falta dos dois citados acima, mais por nostalgia. E “nostalgia” talvez seja a palavra que mais definiu todo o festival. Andy Sneap toca muito bem, se movimenta bastante no palco, agita, ou seja, faz tudo certinho — mas também não é Glenn ou KK.

Pegamos amor pela presença da dupla original? Sim, demais. Mas não podemos ser levianos em dizer que a formação atual não faz jus à posição que ocupa. Se esse detalhe musical não lhe incomoda — assim como a mim — é só mergulhar de cabeça, porque o jogo já está ganho!

Sim, Rob Halford é uma entidade. E mesmo se ele não estivesse cantando nada, só de ficar em pé no palco encarando o público já seria o suficiente. Mas sim, o monstrão ainda está cantando muito! Obviamente, por conta da idade avançada, é nítido que em certas (poucas) horas ele soe cansado, mas ninguém liga. Sua movimentação de palco também está cada vez mais comprometida — e ninguém liga pra isso também. Resumindo: o cara é a síntese do metal, e estava diante de nós a poucos metros. Isso já bastava para sermos considerados afortunados por, mais uma vez, vê-lo fazendo um TREMENDO show.

Ian Hill, seu velho parceiro, não tem muito o que comentar: quem o conhece e já o viu ao vivo sabe que ele não sai do seu quadrado. Mas com seu baixo imponente – e nesse show, bem alto e audível – mostra que o peso mesmo sai das suas quatro cordas! O canhoto Scott Travis, como sempre, foi certeiro, descendo o braço na bateria. Nunca vi um erro sequer em suas execuções. Ele é, simplesmente, um dos melhores do Heavy Metal tradicional.

O quinteto executou um setlist impecável, com praticamente todos os clássicos que amamos ouvir à exaustão. Exceto o pecado de suprimir “Metal Gods”, que eu facilmente trocaria por “Love Bites” — que, mesmo sendo antiga, não acrescentou muito e passou quase despercebida.

Falando em atenção, eu jurava que as três faixas de “Invincible Shield” seriam bem recebidas pelo público do Monsters Of Rock. Mas, para minha surpresa, não vi muita agitação. Praticamente todo o público ficou parado, apenas reverenciando os mestres. Poxa, a faixa-título é uma cacetada, e ver só uma pequena parcela de fãs se descabelando foi, no mínimo, estranho. Olha aí novamente a velha história das “músicas novas” que já citei anteriormente.

Um pequeno ponto negativo que posso citar é em relação ao volume das guitarras, que, na pista premium — bem próxima ao palco — não estavam altas o suficiente. Às vezes, com o baixo e a bateria altíssimos, elas simplesmente sumiam em partes essenciais. Comprometeu? Não. Mas estamos falando de Judas Fuckin’ Priest, ok?

A enxurrada de clássicos logo após a nova (e excelente) “Panic Attack” foi uma hecatombe de adrenalina. Não havia um ser vivo ali que não estivesse se esbaldando, sem chance de descanso, como se não existisse amanhã — nem dores nas costas por conta da idade. Halford comandava o “culto” com tamanha maestria e presença de palco que só ele consegue ter, mesmo mais contido pelos fatores já mencionados.

“You’ve Got Another Thing Comin’”, “Rapid Fire”, “Breaking the Law” e “Riding on the Wind” formaram uma sequência de tirar lágrimas. Nessa hora voavam copos de cerveja, rolavam pisões, empurra-empurra, tropeços — mas ninguém ligava pra isso. Todo mundo só queria mais e mais.

Uma pena que “Saints In Hell”, tocada em shows anteriores, tenha sido retirada do setlist no Monsters Of Rock. E, ironicamente, na hora em que ela deveria ter sido tocada, começou uma chuva leve que não atrapalhou em nada a apresentação, que seguiu com a nova “Crown Of Horns”. A tempestade que era esperada — e que chegou a atingir outras regiões de São Paulo — felizmente não veio até ali. A chuva, na verdade, serviu apenas para refrescar a cabeça dos fãs alucinados. Show do Judas é energia do começo ao fim. Nada atrapalha essa celebração — nem se caísse uma tempestade de proporções bíblicas.

Um dos momentos mais emocionantes aconteceu durante “Victim Of Changes”, quando o telão exibiu uma homenagem a Glenn Tipton, que não pode mais se apresentar ao vivo devido ao Parkinson, mas continua fazendo parte das composições e gravações da banda. Não precisa nem dizer que o Allianz veio abaixo, certo?

Os destaques de todo o maravilhoso setlist — desta que foi, na minha opinião, a segunda melhor apresentação de todo o festival — ficam por conta das soberanas e onipresentes faixas clássicas que nunca deixam de estar em um show do Judas Priest. E o final apoteótico foi uma verdadeira aniquilação sonora: “Painkiller”, “The Hellion/Electric Eye”, “Hell Bent For Leather” (com Halford entrando, como sempre, em sua Harley-Davidson) e o gran finale que rivaliza com “Detroit Rock City”, do Kiss, como música de encerramento: “Living After Midnight”. Show de Rock e Metal é isso: confraternização e celebração. Judas Priest deveria ser um adjetivo/sinônimo nos dicionários para descrever “entretenimento de qualidade e energia”.

Ao final da apresentação — e agora falo por mim — tive uma leve sensação, um sentimento de despedida, como se talvez não víssemos mais a banda ao vivo, por conta da idade de Halford e Ian. Espero estar enganado. Caso se confirme, só posso agradecer por ter vivido na mesma época que esses senhores. Obrigado, mestres, por mais uma aula. Por tudo que criaram e por todo o impacto que causaram nas nossas vidas!

Setlist:

Panic Attack
You’ve Got Another Thing Comin’
Rapid Fire
Breaking the Law
Riding on the Wind
Love Bites
Devil’s Child
Crown of Horns
Sinner
Turbo Lover
Invincible Shield
Victim of Changes
The Green Manalishi (With the Two Prong Crown)
(cover do Fleetwood Mac)
Painkiller
The Hellion / Electric Eye
Hell Bent for Leather
Living After Midnight

SCORPIONS:

Assistindo à minha banda alemã favorita pela oitava vez, eu pensei que não haveria surpresas — mas me enganei. Em primeiro lugar, a abertura com “Coming Home”, incluindo a introdução lenta, me remeteu ao primeiro Rock in Rio, o qual assisti apenas pela TV, já que o Scorpions a usava como abertura do set naquela época. Em seguida, “Gas in the Tank” representou o mais novo lançamento do quinteto de Hanover, “Rock Believer”. Já “Make It Real”, assim como “The Zoo”, formaram a dobradinha do “Animal Magnetism”, seguidas pelo épico tema instrumental “Coast to Coast”, de “Lovedrive”.

Com o propósito de homenagear todas as fases da banda em seu aniversário de 60 anos, o medley “Top of the Bill / Steamrock Fever / Speedy’s Coming / Catch Your Train” representou sua fase inicial, antes da saída do guitarrista Uli Jon Roth. Daí em diante, clássicos e mais clássicos aqueceram a noite chuvosa paulistana: “Bad Boys Running Wild”, as baladas “Send Me an Angel” e “Wind of Change”, “Loving You Sunday Morning” e “I’m Leaving You” foram executadas em sequência.

É verdade que Klaus Meine já não é o mesmo vocalista de outrora — mas quem realmente se importa com isso? Rudolf Schenker e Matthias Jabs, por sua vez, continuam sendo os guitarristas fantásticos que sempre foram.

Os solos de baixo e bateria (Paweł Mąciwoda e Mikkey Dee) deram uma pausa estratégica para que os membros mais veteranos da banda pudessem descansar. Logo depois, as clássicas “Tease Me Please Me”, “Big City Nights” e a balada “Still Loving You” – não tocada no show anterior em Brasília – encerraram o “tempo normal” do show. A banda se despediu, mas o público sabia que ainda haveria mais.

Após alguns minutos, o Scorpions retornou ao palco tocando “Blackout” e “Rock You Like a Hurricane”, encerrando a edição de 2025 — que comemorou os 30 anos do festival Monsters of Rock no Brasil. Um dia que será inesquecível para mim, assim como foi a edição de 1998.

Agradecemos à Mercury Records e à Catto Comunicação pelo credenciamento e pelo respeito ao trabalho do Metal Na Lata.

Setlist:

Coming Home
Gas in the Tank
Make It Real
The Zoo
Coast to Coast
Medley com Top of the Bill / Steamrock Fever / Speedy’s Coming / Catch Your Train
Bad Boys Running Wild
Send Me an Angel
Wind of Change
Loving You Sunday Morning
I’m Leaving You
Solo de baixo e bateria
Tease Me Please Me
Big City Nights
Still Loving You
Blackout
Rock You Like a Hurricane

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