Beherit – Carioca Club, São Paulo/SP (22/05/2025)

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Beherit – Carioca Club, São Paulo/SP (22/05/2025)

Produção: Estética Torta e Talent Nation
Assessoria: Tedesco Comunicação & Mídia

Texto e fotos por Matheus “Mu” Silva

Pela primeira, única e última vez no Brasil, um dos nomes mais obscuros do Black Metal mundial contrariou todas as probabilidades e veio ao país: Beherit. O show aconteceu no tradicional Carioca Club, em São Paulo, na última quinta-feira (22). A lendária banda finlandesa finalmente fez uma visita ao nosso continente, levando em consideração que raramente se apresenta ao vivo. Com produção conjunta da Estética Torta e Talent Nation, provaram que, sim, nem tudo é impossível nessa vida de ser fã de metal.

Formado em 1989, o Beherit é um dos nomes mais cultuados do Black Metal, muito por conta do que construiu em seu início. Seu debut, “Drawing Down the Moon” (1993), assim como a infame coletânea “The Oath of Black Blood” (1991), apresentavam um som primitivo, cru, atmosférico e minimalista, que acabou influenciando toda uma geração dentro do estilo. Entretanto, ainda na década de 1990, seu líder Nuclear Holocausto Vengeance (pseudônimo do vocalista, guitarrista e produtor Marko Laiho) utilizou o nome da banda para se aventurar pela música ambient, lançando os discos “H418ov21.C” (1994) e “Electric Doom Synthesis” (1996). A mudança foi tão radical em relação à proposta original que o Beherit entrou em hiato, e Marko chegou a se desinteressar completamente pela música extrema, atuando até como DJ por um período. A banda retornou em 2007, com Marko e o baterista original Sodomatic Slaughter, lançando “Engram” (2009), disco que marcou tanto uma nova fase na trajetória do grupo quanto o retorno ao Black Metal de suas origens.

Pontualmente às 20h30, o Beherit subiu ao palco, completamente imerso na escuridão. Marko caminhava de um lado a outro, com uma lanterna pendurada, como se fosse um emissário do caos que estava prestes a se instaurar. Assim, a banda deu início à apresentação com “Black Arts”, mergulhando o Carioca Club na aura maligna que sua música emana. Ainda havia, no público, uma certa incredulidade de que aquilo estava realmente acontecendo. Isso começou a mudar logo após a introdução “Tireheb”, quando, ao som de todos gritando junto com Marko “Hail Satan!”, a banda executou “Solomon’s Gate”, em um verdadeiro atropelo sonoro. E, como um tanque de guerra esmagando tudo à frente, com Sodomatic debulhando sua bateria, deram sequência com o clássico “Nocturnal Evil”, levando o Carioca Club inteiro a bater cabeça em cada riff. Fechando esse primeiro bloco dedicado ao seu debut, veio “Sadomatic Rites”, muito celebrada pelos presentes, executada de forma absolutamente pesada e precisa.

Após uma breve pausa de Marko e a introdução “Temple”, a banda mergulhou ainda mais fundo em suas raízes, resgatando duas de suas músicas mais obscuras: “Grave Desecration” e “Witchcraft”. Nesse momento, a banda se apresentou como um trio, com o guitarrista Blackmoon assumindo os vocais. Vale destacar que Blackmoon também integra o Witchcraft, banda considerada um “Beherit contemporâneo”, pois sua sonoridade bebe diretamente da fonte da banda finlandesa. Seu vocal, inclusive, remete muito ao que Marko fazia nos primórdios. Esse foi, sem dúvida, um dos momentos mais simbólicos da noite: ver criador e criatura dividindo o palco na mesma música.

Alguns pontos merecem ser destacados sobre a apresentação. O som estava altíssimo — por vezes, ensurdecedor —, potencializando todo o caos que o Beherit transmite em sua música. A iluminação, propositalmente carregada na penumbra, permitia que o público enxergasse apenas as silhuetas dos músicos, reforçando ainda mais o tom de obscuridade e mistério. A voz de Marko, processada com muitos efeitos, se somava às ambiências criadas por seu sintetizador, que costuravam toda a apresentação, mantendo uma atmosfera ritualística e hipnótica. A banda entrou muda e saiu calada, totalmente focada na música, que era, de fato, o que importava.

Voltando ao repertório, com Marko reassumindo os vocais, a banda retornou ao clássico “Drawing Down the Moon” e despejou dois de seus maiores hinos: “Unholy Pagan Fire” e a eterna “The Gate of Nanna” — ponto máximo do show, com o público inteiro batendo cabeça incessantemente e entoando blasfêmias junto a Marko, cantando os refrões a plenos pulmões. A banda, por sua vez, ofereceu um massacre sonoro, pesado e implacável.

Caminhando para o final, o Beherit apresentou duas músicas de seu álbum de retorno ao Black Metal, “Engram” (2009): primeiro, “All in Satan”, muito bem recebida, e, encerrando a apresentação, “Pagan Moon”, com sua cadência simples e arrastada, que colocou o público mais uma vez em estado de êxtase. Sem maiores cerimônias, a banda deixou o palco. Apesar de a apresentação ter durado cerca de 80 minutos, ficou a sensação de que foi curta, tanto pela quantidade de músicas executadas quanto pelos longos trechos de ambiências. Isso faz parte da proposta do Beherit, mas acabou frustrando alguns. Ainda assim, foi inegável: o que aconteceu naquela noite foi absolutamente impressionante.

Por tocarem ao vivo pouquíssimas vezes ao longo da carreira, uma vinda do Beherit ao Brasil sempre pareceu improvável. Pareceu. Quem teve coragem de enfrentar a noite fria no Carioca Club testemunhou um dos shows de Black Metal mais singulares que já aconteceram no país. Mesmo com a sensação de set curto, foi um repertório totalmente focado no que realmente importa, deixando claro o respeito que a banda tem por sua própria história no underground. E, mesmo com o público reduzido… quem viu, viu um pedaço da história da música extrema ser executada por um dos seus nomes mais influentes.

Setlist:

Intro
Lord of Shadows and Goldenwood
Intro (Tireheb)
Salomon’s Gate
Nocturnal Evil
Sadomatic Rites
Intro: Temple
Grave Desecration
Witchcraft
Black Arts
The Gate of Nanna
Unholy Pagan Fire
Lord of Shadows and Goldenwood
Outro
All in Satan
Pagan Moon
Outro

Observação: Atendendo a um pedido da própria banda, nenhum fotógrafo profissional foi credenciado para o evento, justamente para preservar o espírito do underground. Por esse motivo, as fotos que acompanham esta resenha refletem esse contexto, priorizando o registro espontâneo em detrimento da qualidade técnica.

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