Bon Jovi – “Forever” (2024)
Bon Jovi Profit Split
#PopRock #Rock #Pop
Para fãs de: Bruce Springsteen, John Mellencamp, Tom Petty
Texto por João Paulo Gomes
Nota: 5,5
É importante ressaltar que, ao falar do Bon Jovi do século XXI, é preciso entender que esta não é mais a mesma banda de décadas atrás. Desde a saída de Sambora e as limitações vocais de Jon Bon Jovi, o som foi “adaptado” aos novos tempos.
Dito isto, a banda, comemorando 40 anos de existência, lança seu décimo sexto álbum de estúdio (sem contar coletâneas e álbuns ao vivo), o primeiro desde a cirurgia reconstrutiva nas cordas vocais de Jon Bon Jovi. O trabalho segue o caminho introspectivo que permeia os últimos álbuns, com letras sinceras, edificantes, positivas e emocionantes.
Mesmo sem apresentar grandes novidades ou trazer relevância ao mundo da música, me atrevo a dizer que “Forever” é o melhor álbum da banda pós-Sambora.
Mas essa não é a questão principal. A pergunta que deve ser feita é: “Um novo álbum do Bon Jovi ainda vale a pena?”
Vejamos…
Nos últimos álbuns, testemunhamos a queda de um dos grandes nomes do rock mundial vendo-o seguir por um caminho cansativo e repetitivo aliado a um produtor conformista (John Shanks) que não consegue extrair o melhor dos músicos e ao atacar – também – de compositor não se reinventa e cria canções esquecíveis e muitas vezes sem alma.
Apesar disso, Jon Bon Jovi nunca se entregou. Esteve nas cordas por muito tempo, mas sempre se recusou a cair sem lutar. Resta saber se isso é suficiente para justificar um novo álbum. Será?
Vejamos…
“Forever” ganha um valor mais significativo se o ouvinte, antes de escutá-lo, assistir ao documentário “Thank You, Goodnight”. Nele, Jon Bon Jovi expõe, com muita franqueza, sua fragilidade diante das provações enfrentadas pela perda de sua voz e a luta para recuperá-la. Com isso, “Forever” assume ares de superação e resiliência, dando uma nova profundidade às canções e letras, tornando o ouvinte mais empático com toda a situação.
O caminho percorrido pelo novo álbum não se distingue tanto dos anteriores (aquele caminho cansativo e repetitivo já citado). Embora a era pós-Sambora dê a impressão de que o “poço das ideias” secou, a introspecção de “Forever” e sua quase “vulnerabilidade” lírica proporcionam uma conexão com o ouvinte, que o encoraja a entender a “dor e a delícia” de ser uma lenda do rock que tenta, corajosamente, superar suas limitações.
Mas vamos lá…
Gravado no Ocean Way em Nashville e no Multiview em Los Angeles, “Forever” foi lançado em 07/06/2024, produzido pelo próprio Jon Bon Jovi e pelo já citado John Shanks.
A banda conta com Everett Bradley na percussão e nos vocais de apoio, David Bryan no órgão, piano, teclados, sintetizadores e vocais de apoio, Hugh McDonald no baixo, John Shanks nas guitarras, teclados, sintetizadores, bateria eletrônica e vocais de apoio, Tico Torres na bateria e percussão, e Phil X nas guitarras e talk box.
O álbum começa com a alegria de “Legendary” e “We Made It Look Easy”. Com instrumentais semelhantes, essa dupla (e seus títulos um tanto presunçosos) conta quase a mesma história reflexiva e nostálgica, mas cheia de otimismo e esperança.
“Living Proof” marca o retorno do “talk box”, trazendo uma nova moldura para uma fórmula antiga. Mesmo repetindo uma estrutura usada desde “Crush”, a faixa se destaca, unindo elementos do passado e presente. “Waves”, a melhor música do álbum, excede as expectativas, inundando a canção com a densa melancolia de “These Days”.
“The People’s House” traz um clima à la Southside Johnny e o som de “Keep The Faith”, discorrendo sobre os restaurantes comunitários de Jon Bon Jovi. “Walls of Jericho” mistura elementos de Petty e Springsteen, mas demonstra como a ausência da voz (e da guitarra) de Sambora reduz o impacto de uma canção, apesar de seu refrão contagiante. “Living In Paradise”, co-produzida com Joe Rubel, é um “roquinho” salvo pela colaboração com Ed Sheeran.
A repetição temática das letras e a produção homogênea transformam algumas faixas em arremedos do que poderiam ser. “Kiss The Bride” é um exemplo, sucumbindo ao marasmo apesar das letras sinceras e da emoção palpável de Jon Bon Jovi. “I Wrote You a Song” é anêmica, “Seeds” volta ao otimismo (de novo), e “My First Guitar” homenageia a primeira guitarra de Jon Bon Jovi, mas com guitarras quase superficiais. Embora as letras sejam emocionantes e introspectivas, elas não saem do lugar comum.
A melancolia de “Hollow Man” encerra o álbum com um comovente questionamento existencial, tornando-se um dos pontos altos do disco.
Após quatro décadas de carreira, é óbvio que a idade pesa e as prioridades mudam. Contudo, nos últimos 15 anos, houve uma ausência expressiva dos elementos que tornaram Bon Jovi memorável — os grandes refrãos, solos memoráveis, riffs inesquecíveis e melodias contagiantes. Com a ausência desses elementos, o que sobra?
Sobra o legado. Um legado que Jon Bon Jovi enaltece (como visto no documentário), mas que, nos últimos anos, vem sendo abalado com álbuns “adaptados” aos novos tempos.
“Forever” até tenta sair desta situação, e volto a afirmar que é o melhor álbum pós-Sambora. Porém, ele ainda sofre dos mesmos problemas: inconsistência, repetitividade e falta de ousadia. O que fazer para sacudir a casa que não está à venda?
Jon Bon Jovi precisa de um atrito criativo, de alguém que o tire da zona de conforto e o faça navegar por mares diferentes. Talvez não seja Sambora (nem vou mencionar a falta que sua segunda voz, riffs e solos fazem), mas alguém que possa preencher esse vazio.
Já se passaram mais de dez anos sem esse atrito, e já está claro que John Shanks não é essa pessoa. Tudo que ele faz é criar um paredão sonoro, colocando a voz de Jon Bon Jovi à frente. Os músicos não se destacam, as melodias são limitadas, as harmonias são repetitivas… Tudo é feito de forma monocromática e em tons pastéis.
Espero que “Forever” realmente encontre seu lugar na discografia da banda como um recomeço, provando que a resposta à pergunta inicial da resenha seja positiva. Que Jon Bon Jovi (re)encontre seu caminho, reafirmando não apenas a importância da banda como um ícone do rock mundial, mas também a sua própria relevância como uma das figuras mais populares da história do rock.