Bon Jovi – “Keep The Faith” (1992)

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Bon Jovi“Keep The Faith” (1992)
Jambco
#HardRock, #MelodicRock, #Rock

Para fãs de: U2, Motley Crue, Bruce Springsteen, John Mellencamp

Quando Mick Wall, da “Classic Rock”, questionou Jon em 1990, se haveria outro álbum do Bon Jovi, ele respondeu: “Espero que sim”. Mas você não sabe? “Eu não sei, mas eu não quero que a banda acabe, porque nós cinco… eu quero nos manter juntos, porque esses são os caras que há sete anos estavam aqui quando não tínhamos dinheiro suficiente para um pretzel do outro lado da rua e ninguém sabia se Bon Jovi era um jeans ou que merda era essa. Tivemos que lutar por tudo o que conseguimos”.

Depois de praticamente dominar o mundo nos anos 80 o Bon Jovi precisava de um tempo para recuperar a energia e recarregar as baterias já que praticamente não houve intervalo entre as turnês do “Slippery When Wet” (1986) e do “New Jersey” (1988). Após esse pequeno hiato no qual Jon Bon Jovi lançou “Blaze Of Glory” (1990) e Richie Sambora “Stranger In This Town” (1991), Jon juntou a banda no Caribe (depois de demitir todo seu “staff”, incluindo Doc McGhee, criar a “Bon Jovi Management” e o selo “Jambco”), aonde, junto a um terapeuta, puderam transmitir suas queixas e tiveram a oportunidade de se reconectar mais uma vez.

Mudaram-se então para Vancouver para trabalhar novamente com Bob Rock, já que Bruce Fairbairn estava com o Aerosmith, agora como produtor. Depois de reinventar o Metallica com o “Black Album” o guru dos estúdios assumiu a tarefa de criar um álbum capaz de sobreviver às novas tendências musicais. Em vez de se render à moda reinante, a banda evoluiu sonora e organicamente para navegar nos sombrios anos 90.

Em entrevista para a “Q Magazine” em 2007, Jon Bon Jovi explicou o que foi necessário para enfrentar a nova década que se descortinava: “Quando nos reunimos em Vancouver, fechamos a porta e ignoramos o que havia acontecido com o nosso gênero musical. Nos livramos dos clichês, escrevemos letras com consciência social e cortamos o cabelo. Não fiz uma música grunge ou fui para o rap, mas eu sabia que não poderia compor outra “Livin’ on a Prayer”, então não tentei. E isso funcionou”.

“Keep The Faith”, o primeiro álbum do Bon Jovi a ter uma música título, foi lançado em 03/11/1992 e, além de trazer um som mais maduro e coeso, mostrou uma banda com consciência social e política, assumindo riscos e se impondo à nova década. Menção especial às letras diversas e profundas de Jon, a maioria das dezenas de músicas escritas durante a sessão de gravação foram de sua autoria, inspiradas pelo que ele testemunhou durante sua viagem solitária de moto atravessando o País e passando pelas cidades devastadas socialmente pelo declínio da indústria do petróleo americana. O álbum alcançou #5 no Billboard 200 nos EUA mesmo com a invasão Grunge, enquanto Reino Unido, Austrália e Finlândia alcançou #1 e na Áustria, Alemanha, Holanda, Hungria, Japão, Suécia e Suíça #3. Ainda conseguiu certificado Ouro em mais de oito países e Platina em mais de treze, sendo que mais de uma vez em alguns desses países.

“I Believe” abre o álbum e mostra que quando Jon canta com emoção é um dos melhores do ramo. Riffs distorcidos, solo memorável e refrão cativante. Brilhante!

A música título e sua incrível linha de baixo tem como tema a justiça social sendo uma reação aos tumultos de L.A. na época. Uma das primeiras letras de cunho político de Jon que impressiona pelos detalhes.

Surgem “I’ll Sleep When I’m Dead” e “In These Arms”. A primeira é uma tremenda festa com refrão a la Bon Jovi anos 80 e a segunda é uma das músicas mais contagiosas da banda (que só entrou no álbum graças ao refrão criado por David Bryan nos dias finais de gravação). Como se não bastasse o “crescendo” irresistível que culmina no refrão dos refrões ela ainda possui um dos melhores solos do álbum.

A balada do álbum, “Bed Of Roses”, é explicada por Jon à “Cosmopolis” em 2002: “Eu não estava com disposição de escrever esta música em 92 devido às circunstâncias e em vez de deixar para lá, sentei-me ao piano e escrevi: “Sentado aqui perdido e ferido neste velho piano…” era a dor que eu sentia naquele dia”. Canção honesta que conta com um trabalho exuberante de Richie.

É hora da épica “Dry County”, que sozinha merecia uma resenha. A Magnum Opus do Bon Jovi! Brilhante, surpreendente, instigante e de longe a melhor e mais complexa música da vida dos membros da banda. Quase 10 minutos de pura emoção e excelência musical extasiam com a história angustiante de um homem simples que sai para trabalhar com petróleo e perde tudo o que tem. Que letra! Que música! Bob Rock queria extrair tudo que pudesse de Sambora e então utilizou o mesmo artifício usado com Kirk Hammett em “The Unforgiven”: “Surpreenda-me”. Como resultado Sambora nos faz passear por paisagens áridas, inóspitas, cheias de esperança e desilusão enquanto demonstra toda a sua habilidade e capacidade de transmitir emoção com a guitarra. Uma obra-prima!

O restante do álbum com “If I Was Your Mother” (instrumental do calibre do “Black Album”), “Woman In Love” (bem interessante), “Fear” (excelente baixo de abertura), “I Want You” (tremenda balada “uptempo” e um “hidden treasure”), “Blame It On The Love Of Rock & Roll” (“pitadas” de “Bad Medicine”) e “Little Bit Of Soul” (diversão total), acompanha de perto a solidez da primeira metade com incrível e excelente musicalidade sem soar datado.

“Keep The Faith” foi um marco na carreira do Bon Jovi e manteve a banda relevante no novo cenário musical. Com um fantástico Sambora desfilando seu repertório de Rock, Blues e o que mais aparecesse pela frente, um David Bryan menos protagonista, mais cru e sem toda a pompa dos sintetizadores, um Tico Torres cada vez mais honrando o apelido “The Hit Man”, o melhor trabalho de baixo da banda até então (reina a dúvida de quem tocou no álbum) e um Jon Bon Jovi totalmente reinventado em sua forma de cantar, compor e transmitir emoção.

Nesse aniversário de trinta anos mantenha/renove a sua fé (re)visitando-o e honre a memória de Alec John Such, que nos deixou em 04/06/2022.

Imprescindivelmente necessário!

João Paulo Gomes

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