Por João Paulo Gomes
Diagramação e Header por Johnny Z.
Fotos: Google
Bon Jovi – “Keep The Faith” (1992)
Jambco
Nota: 9,5
Quando Mick Wall, da “Classic Rock”, questionou Jon em 1990, se haveria outro álbum do Bon Jovi, ele respondeu: “Espero que sim”. Mas você não sabe? “Eu não sei, mas eu não quero que a banda acabe, porque nós cinco… eu quero nos manter juntos, porque esses são os caras que há sete anos estavam aqui quando não tínhamos dinheiro suficiente para um pretzel do outro lado da rua e ninguém sabia se Bon Jovi era um jeans ou que merda era essa. Tivemos que lutar por tudo o que conseguimos”.
No início da década de 90 Jon juntou a banda no Caribe (depois de demitir todo seu “staff”, criar a “Bon Jovi Management” e o selo “Jambco”), aonde, junto a um terapeuta, puderam transmitir suas queixas e tiveram a oportunidade de se reconectar mais uma vez.
Mudaram-se então para Vancouver para trabalhar novamente com Bob Rock, agora como produtor. Depois de reinventar o Metallica com o “Black Album” o guru dos estúdios assumiu a tarefa de criar um álbum capaz de sobreviver às novas tendências musicais. Em vez de se render à moda reinante, a banda evoluiu sonora e organicamente para navegar nos sombrios anos 90.
“Keep The Faith”, o primeiro álbum do Bon Jovi a ter uma música título, foi lançado em 03/11/1992 e além de trazer um som mais maduro e coeso, mostrou uma banda com consciência social e política assumindo riscos e se impondo à nova década. Menção especial às letras mais diversas e profundas de Jon inspiradas pelo que ele testemunhou durante sua viagem solitaria de moto atravessando o País, passando pelas cidades devastadas socialmente pelo declínio da indústria do petróleo americana. O álbum debutou no Billboard 200 na quinta posição enquanto no Reino Unido e na Austrália no primeiro lugar e conseguiu ser certificado como Ouro em mais de oito países e Platina em mais de treze, sendo que em alguns desses mais de uma vez.
“I Believe” abre o álbum e mostra que quando Jon canta com emoção é um dos melhores do ramo. Riffs distorcidos, solo memorável e refrão cativante. Brilhante!
A música título “Keep The Faith” tem como tema a justiça social e é uma reação aos tumultos de Los Angeles na época com sua incrível linha de baixo de abertura. Uma das primeiras letras de cunho político de Jon que impressiona pelos detalhes.
Surgem “I’ll Sleep When I’m Dead” e “In These Arms”. A primeira uma tremenda festa com refrão “à la” Bon Jovi anos 80. A segunda uma das músicas mais contagiosas da banda (que só entrou no álbum graças ao refrão criado por David Bryan nos dias finais de gravação) com um “crescendo” irresistível que culmina no refrão dos refrões e em um dos melhores solos do álbum.
Surge a balada do álbum: “Bed Of Roses”. Jon explicou à “Cosmopolis” em 2002: “Eu não estava com disposição de escrever esta música em 92 devido às circunstâncias e em vez de deixar para lá, sentei-me ao piano e escrevi: “Sentado aqui perdido e ferido neste velho piano…” era a dor que eu sentia naquele dia”. Canção honesta e um dos solos mais bonitos do álbum.
É hora da épica “Dry County”, que sozinha merecia uma resenha. A Magnum Opus do Bon Jovi! Brilhante, surpreendente, instigante e de longe a melhor música da vida dos membros da banda. Quase 10 minutos de pura emoção e excelência musical extasiam com a história angustiante de um homem simples que sai para trabalhar com petróleo e perde tudo o que tem. Que letra! Bob Rock queria extrair tudo que pudesse de Sambora e então utilizou o mesmo artifício usado com Kirk Hammett em “The Unforgiven”: “Surpreenda-me”. Como resultado Sambora nos faz passear por paisagens áridas, inóspitas, cheias de esperança e desilusão enquanto mostra toda a habilidade e capacidade de transmitir emoção com a guitarra. Uma obra-prima!
O restante do álbum com “If I Was Your Mother” (um instrumental do calibre do “Black Album”), “Woman In Love” (bem interessante), “Fear” (excelente baixo de abertura), “I Want You” (tremenda balada “uptempo” e um “hidden treasure”), “Blame It On The Love Of Rock & Roll” (“pitadas” de “Bad Medicine”) e “Little Bit Of Soul”, acompanha de perto a solidez da primeira metade do álbum trazendo uma incrível e excelente musicalidade sem soar datado.
“Keep The Faith” foi um marco na carreira da banda. Com um fantástico Sambora desfilando seu repertório de Rock, Blues e o que mais aparecesse pela frente, um David Bryan mais cru e sem toda a pompa dos sintetizadores, um Tico Torres cada vez mais honrando o apelido “The Hit Man”, o melhor trabalho de baixo da banda até então (reina a dúvida de quem tocou no álbum) e um Jon Bon Jovi totalmente reinventado em sua forma de cantar, compor e transmitir emoção. Imprescindivelmente necessário!
Tracklist:
I Believe
Keep The Faith
I’ll Sleep When I’m Dead
In These Arms
Bed Of Roses
If I Was Your Mother
Dry County
Woman In Love
Fear
I Want You
Blame It On The Love Of Rock ‘N’ Roll
Little Bit Of Soul
Save A Prayer *
Starting All Over Again **
Faixas Extras:
*-> Brasil, Europa e Japão: O Bon Jovi nunca soou tão U2, até aqui, (com mais guitarras) do que nessa música;
** -> Japão: Uma das melhores músicas do álbum e, com certeza, deveria ter feito parte do álbum, pois se tornaria um clássico da banda.
Relançamentos:
1998 -> Japão com CD extra
2010 -> remasterizado com faixas extras
Observações: O álbum também foi lançado como edição dupla (CD extra ao vivo) em 1993 em diversos países com músicas diferentes. A versão mexicana tem “Cama de Rosas” (versão de “Bed Of Roses” em espanhol). Existe uma edição americana com “Cama de Rosas” como hidden track.
Bon Jovi – “Crossroad” (1994)
Mercury
Nota: 7,0
Seria muito simples explicar a primeira coletânea do Bon Jovi escrevendo que praticamente todos os singles fazem parte desde álbum além de três novas canções, mas décadas de trabalho árduo não se resumem em um parágrafo. Então vamos lá…
Com uma banda multi-estelar em termos de singles de sucesso, deveria ser mais do que fácil pinçar clássicos e colocar uma ou duas novas canções para atender os fãs e manter o apelo comercial, mas não foi bem isso o que aconteceu.
Claro que grandes clássicos estão presentes: “Runaway” (havia um plano de regravar “Runaway” com a banda como “Runaway ‘94”, mas não foi levado adiante), “Livin’ On A Prayer”, “You Give Love A Bad Name”, “Wanted Dead Or Alive”, “Lay Your Hands On Me”, “Bad Medicine”, “I’ll Be There For You” e “Keep The Faith”.
Mas existem alguns questionamentos, tais como:
Qual o sentido de ter “Blaze Of Glory” em uma coletânea do Bon Jovi se, além de não ser uma música da banda, não foi (re)gravada pela banda para este álbum (já basta “Runaway”)?
Por que duas versões de “Livin’ On A Prayer” no mesmo álbum? Por que não incluir “In These Arms”, “Born To Be My Baby”, “Blood On Blood”, “Dry County” e tantos outros singles?
Outra coisa… “Bed Of Roses”? “In And Out Of Love”? São boas músicas, mas existem diversas outras na frente delas.
Essas perguntas provavelmente nunca terão resposta, mas fazem com que “Crossroad”, lançado em 11/10/1994, e também em vídeo, não seja uma coletânea definitiva.
Talvez o nome do álbum seja derivado do local aonde foi tirada a foto da capa (Roadside Diner in Wall Township, NJ) que fica no cruzamento (“Crossroad”) da Rota 33 com a Rota 34 ou realmente era um momento de decidir para aonde seguir na carreira.
Mas vamos as coisas boas de “Crossroad”…
Além dos grandes clássicos já citados são três novidades: “Someday I’ll Be Saturday Night”, excelente canção com “feeling” Mellencamp e letra sobre as batalhas do dia a dia (alguém pensou em “The Boss”?), um remake acústico de “Livin’ On A Prayer”, intitulado “Prayer ‘94”, aonde é possível ouvir mais a voz de Sambora do que na versão original (apesar do questionamento inicial a versão é muito boa), e “Always”, a melhor balada e uma das melhores músicas que o Bon Jovi já gravou. Alias “Always” vale o álbum. Não por ter se tornado um super mega hit da MTV, com dois vídeos diferentes e dominar as “paradas de sucesso” durante seis meses entre os 10 primeiros lugares, mas, principalmente, pela qualidade. Que música meus amigos! Como Jon é capaz de passar emoção a cada palavra cantada. Impressionante! A banda, principalmente Sambora, dá outro show à parte.
O álbum também tem três boas sacadas: não seguir uma ordem cronológica desnecessária, não deixar nenhum álbum de fora e trazer novas e excelentes canções para os fãs. Podemos dizer que nisso “Crossroad” fez um “hat-trick”.
Tudo bem que “Crossroad” se tornou platina quíntupla e continua sendo uma boa pedida para adentrar ao mundo da banda, mas deixou no ar um gosto de quero mais.
Tracklist:
Livin’ On A Prayer
Keep The Faith
Someday I’ll Be Saturday Night
Always
Wanted Dead Or Alive
Lay Your Hands On Me
You Give Love A Bad Name
Bed Of Roses
Blaze Of Glory
Tokyo Road / Prayer ’94 **
Bad Medicine
I’ll Be There For You
In And Out Of Love
Runaway
Never Say Goodbye **
Faixas Extras:
** -> Na primeira edição japonesa além da adição de “Never Say Goodbye” temos “Tokyo Road” no lugar de “Prayer ‘94”. “Never Say Goodbye” também aparece em edições de outros países, mas não no mercado americano.
Relançamentos:
1998 -> Japão com CD extra
2005 -> Relançado como “Delux Sound & Vision” com CD extra e o DVD “Live In London” em vários países
2010 -> Remasterizado com faixas extras
2019 -> Relançado em LP duplo vermelho translúcido dessa vez com “Never Say Goodbye” para o mercado americano
2020 -> Relançado em LP duplo vermelho no mercado europeu
Observação: Foi lançado na época nos formatos VHS/Laserdisc/VCD com vários videoclipes (anos mais tarde foi relançado em DVD no Japão). Em vários relançamentos “In These Arms” substitui “Prayer ‘94”
David Bryan – “On A Full Moon” (1995)
Ignition Records
Nota: 6,0
David Bryan foi o primeiro a receber uma ligação de Jon (ainda Bongiovi) quando ele estava recrutando membros para o Bon Jovi. Além de se conhecerem desde a adolescência, haviam tocado juntos na banda “Atlantic City Expressway”. Nessa época ele ainda era David Rashbaum, mas, depois do primeiro álbum da banda, segundo palavras do mesmo, “escolhi outro nome depois de sempre ter que soletrar meu sobrenome para ser entendido”.
Apesar de David ter poucas músicas escritas com a banda, quase todas são relevantes: “Love Lies” e “Breakout” do primeiro álbum, “Only Lonely”, “The Hardest Part Is The Night” e “(I Don’t Wanna Fall) To The Fire” do “7800º Fahrenheit”, “Borderline” (faixa extra do “Slippery When Wet”), “In These Arms” do “Keep The Faith”, “The End” (faixa extra do “These Days”) e mais para frente “Last Cigarette” e “Unbreakable” do “Have A Nice Day”.
Então sua capacidade de escrever canções não é novidade, mas para quem só o conhece como tecladista do Bon Jovi pode se surpreender com um álbum como “On A Full Moon” lançado em 05/09/1995, produzido pelo próprio Bryan, aonde ele cria jornadas instrumentais utilizando praticamente “apenas” um piano.
Contando com Nancy Buchan (Violino), Harold Scott (Baixo), Troy Turner (Guitarra), Stanley Watson (bateria) e Edgar Winter (saxofone) “On A Full Moon” é influenciado pelos grandes clássicos e David pinta uma aquarela de paisagens musicais intimistas enquanto passeia por diversos estilos (tem até valsa!).
“Awakening” e a música tema são pontos altos do álbum junto com “It’s A Long Road” (um dos exemplos de música clássica), “Room Full Of Blues” (blues empolgante), enquanto “Netherworld Waltz” traz a banda completa tocando uma das composições mais belas do álbum.
Um álbum interessantíssimo mostrando que a qualidade de David vai muito além da banda e pode ser perfeito como música de fundo enquanto visitamos nossas próprias memórias.
Tracklist:
Awakening
It’s A Long Road
On A Full Moon
April
Kissed By An Angel
Endless Horizon
In These Arms
Lullaby For Two Moons
Interlude
Midnight Voodoo
Room Full Of Blues
Hear Our Prayer
Summer Of Dreams
Up The River
Netherworld Waltz
In These Arms *
Faixa extra:
* -> Brasil: versão intimista com David tocando e cantando.
Observações: Em 2000 o álbum foi lançado com outro título “Lunar Eclipse” e possui duas alterações: Saem “Awakening” e Midnight Voodoo” e entram “Second Chance” (um dos momentos mais emotivos oscilando entre melancolia e alegria, pois foi escrito sobre um momento difícil quando David teve uma lesão na mão (com seu hobby de marcenaria) e que poderia provocar o fim da sua carreira), “I Can Love” e a versão de “In These Arms” com vocal em todas as edições.
Bon Jovi – “These Days” (1995)
Mercury
Nota: 8,5
Em 95, três anos após “Keep The Faith”, o Bon Jovi precisava encarar um território completamente desconhecido, mostrar que ainda estava vivo e ser relevante. Em uma era pós-Napster, que fez o caminho pavimentado da indústria musical se tornar terreno acidentado, era preciso se reinventar novamente já que os estilos que dominavam as rádios eram: Grunge, Alternativo e Indie.
Peter Collins (Rush, Alice Cooper) foi o escolhido para produzir o novo álbum e Hugh Mcdonald substituiu no baixo, como músico contratado, Alec John Such, que deixou a banda após o “Crossroad”.
Em 27/06/1995 “These Days” (que quase foi chamado “Sex Sells”) é lançado misturando o inconfundível som do Bon Jovi com um pouco de Soul, R&B, Rock anos 70 e 90.
Apesar de Jon abraçar o lirismo introspectivo dos anos 90 com letras mais sombrias do que qualquer coisa que ele escreveu anteriormente, a banda não se rendeu ao som reinante da época. Pode-se dizer que “These Days” traz a dor e a alegria da maturidade de um artista.
O álbum abre com a brilhante “Hey God”. Letras densas, guitarras furiosas (com uma introdução “a lá” The Cult) e um vocal em agonia e raiva pura. Jon não escrevia mais sobre manter a fé: “Eu sei o quão ocupado você deve estar, mas Hey Deus… Você realmente pensa em mim?”.
“This Ain’t A Love Song” (o primeiro single do álbum) é uma balada bem no estilo Bon Jovi mostrando que, ao combinar todos os ingredientes, ninguém supera os garotos de New Jersey.
Logo depois a música título começa com um piano esplendoroso contando a história de pessoas comuns querendo viver seus sonhos (a famosa transição para a vida adulta). Jon até cita, de certa forma, Neil Young em: “Don’t you know that all my heroes died and i guess i’d rather die than fade away”. Sambora impressiona com um impecável solo de blues. Uma canção redentora.
“Lie To Me” é uma das grandes baladas da banda, como se encontrássemos os personagens de “Livin’ On A Prayer” uma década depois e acerta em cheio ao utilizar o clamor dos vocais de Sambora como contraste ao lamento de Jon. Duca!
Na sequência o primeiro contraponto: “Damned” e “My Guitar Lies Bleeding In My Arms”. Enquanto a primeira é um blusão da porra que tem um dos melhores riffs no álbum e um groove bem interessante a segunda é uma ode ao clássico de George Harrison. Sambora tem o talento de tecer e pintar o que a música pede. Clássica e brilhante, mesmo sendo desolada.
O segundo contraponto é com “Hearts Breaking Even” e “Something To Believe In”. A primeira é uma música muito boa e possui um toque “à la” Aerosmith rejuvenescendo a sequência do álbum e a segunda é a primeira música escrita para o álbum e talvez a música mais desacreditada pelos fãs. Uma música não, uma oração. Uma das melhores interpretações de Jon tentando acreditar em algo quando seus valores entram em colapso: “In a world that gives you nothing we need something to believe in”. Uma das pérolas deste álbum.
O restante do álbum tem “Something For The Pain” (segundo single, mas é uma música fraca, mesmo com as “pitadas” de Beatles), a depressiva, bonita e chata “Diamond Ring” (ficou de fora do “New Jersey”), “It’s Hard Letting You Go” (bonita e emocionante, mas lenta e arrastada) e “If That’s What It Takes” que é bem mais legal que as outras três.
O que diferenciou muito o Bon Jovi das outras bandas de Hard Rock dos anos 80 é que eles evoluíram junto com o mundo. Todas as músicas são boas? Não. Mas a atitude de não acreditar em fórmulas e clichês já vale a aventura.
“These Days”, é um álbum com absurdas paisagens sonoras que complementam aqueles raros momentos em que todas as peças do quebra-cabeças se encaixam (performance, produção e música) e juntam psique, alma e a motivação de um artista. Por todos esses motivos é o último álbum do Bon Jovi a me emocionar de verdade.
Tracklist
Hey God
Something For The Pain
This Ain’t A Love Song
These Days
Lie To Me
Damned
My Guitar Lies Bleeding In My Arms
(It’s Hard) Letting You Go
Hearts Breaking Even
Something To Believe In
If That’s What It Takes
Diamond Ring
All I Want Is Everything *
Bitter Wine *
Faixas Extras:
* -> Europa e Japão: Duas excelentes músicas com ecos de Beatles. Enquanto na primeira Sambora usa a famosa talk box, a segunda é uma balada com toques de “I’ll Be There For You”.
Relançamentos:
1998 -> Japão com CD extra
2000 -> Relançamento remasterizado individual de todos os álbuns até então com uma luva em que juntos formam o logo da banda
2010 -> remasterizado com faixas extras
Observações: Na época do lançamento alguns países da América do Sul incluíram “Como Yo Nadie Te Ha Amado”, versão espanhola de “This Ain’t A Love Song”. Foram lançadas edições duplas especiais nas quais o CD extra possui interpretações individuas de cada membro da banda. Existe uma versão dupla Francesa na qual o CD extra possui uma sequência de músicas inéditas que foram lançadas apenas em singles. No Japão houve o lançamento de um box com um CD extra de versões Karaokê (1996) e nos EUA um box promocional com o CD normal além de cartões postais e um caderno de capa dura. Na Austrália houve o lançamento de edições comemorativas da turnê do “These Days”. Cada álbum da banda lançado até então foi relançado em uma luva na qual juntos formavam o logotipo da banda. Apenas a versão do “These Days” possui um CD extra (ao vivo)
Jon Bon Jovi – “Destination Anywhere” (1997)
Mercury
Nota: 7,0
Na década de 90, além de liderar o Bon Jovi, Jon resolveu investir em sua carreira de ator, mas ele diz que não era bem isso: “Minhas lições de atuação eram para conseguir roteiros e escrever músicas para filmes”. Uma das provas dessa ideia foi “Always” que foi gravada para a trilha sonora de “Romeo Is Bleeding” estrelado por Gary Oldman, mas acabou não entrando no filme.
“Demorei dois anos para dizer à banda que estava tendo aulas de atuação. Só contei quando fiz o teste para “Moonlight & Valentino” e ganhei meu primeiro papel. Criei então “(It’s Hard) Letting You Go”, mas acabei utilizando no “These Days”’.
Ao participar de outro filme, “The Leading Man”, Jon aproveitou sua inatividade no set para escrever. Foi o pontapé inicial para o seu segundo álbum solo.
Em 17/06/97 “Destination Anywhere” ganha vida gerando também um curta metragem homônimo estrelado por Kevin Bacon, Demi Moore, Jon Bon Jovi, Whoopi Goldberg e Annabella Sciorra, detalhando as lutas de um casal que lida com o alcoolismo e a perda do filho (roteiro retratado nas letras do álbum). Dirigido por Mark Pellington (diretor do clip de “Jeremy” do Pearl Jam), o filme promocional de 48 minutos estreou no VH-1 e na MTV na mesma noite de lançamento do álbum.
No novo trabalho Jon utilizou dois produtores: Stephen Lironi (Black Grape) que com sua experiência de suavizar os ritmos transformou o trabalho em algo mais descontraído e moderno (toques eletrônicos e loops de bateria) e Dave Stewart (Eurythmics) que se tornou um colaborador e o produtor chave do álbum.
Com Kenny Aronoff e Hugh McDonald na “cozinha” e Jon, Lironi, Stewart e Bobby Bandiera (Southside Johnny) nas guitarras o álbum causou boa impressão por ser um trabalho altamente introspectivo, inovador e contemplativo.
“Queen Of New Orleans”, segundo single, abre o álbum destruindo qualquer possibilidade de estarmos testemunhando um novo “Blaze Of Glory”. Vocais monótonos, som mais enxuto e aquela “guitarrinha” que não diz nada dão o tom da canção que lembra uma pseudo “Last Dance With Mary Jane” (Tom Petty). Muito boa canção.
“Janie, Don’t Take Your Love To Town”, terceiro single, e seu “quê” de Oasis, já melhora um pouco o ambiente com uma aura mais pop e bastante violões. Dizem que foi escrita para a esposa de Jon (como “I’ll Be There For You” também foi) depois de uma briga em Amsterdã.
“Midnight In Chelsea”, primeiro single, já é uma combinação de anos 60, 70 e alguns toques modernos com um surpreendente refrão. Boa canção.
Ao lado dessas três canções temos outros destaques como: “Every Word Was A Piece Of My Heart”, “August 7, 4:15”, “Staring At Your Window With A Suitcase In My Hand” e “Destination Anywhere” (excelentes canções com Jon demonstrando sua força de intérprete. Vale ressaltar que “August 7, 4:15” é uma das melhores músicas do disco e retrata a dor da perda da filha de Paul Korzilius, tour manager do Bon Jovi na época).
Completam o álbum “Ugly” (quarto single, interessante, mas esquecível), “Learning How To Fall”, “Naked”, “Little City” (três músicas repetitivas em sequência), “It’s Just Me” e “Cold Hard Heart” (duas músicas monótonas).
Chamam a atenção duas situações neste álbum: primeiramente a abordagem musical ser completamente diferente de tudo que Jon já havia feito, o que o transforma em um artista que entende seu amadurecimento sem ter medo do desafio e, depois, a inteligência das letras.
“Destination Anywhere” é um álbum que vai crescendo com o tempo e, infelizmente, foi, na época, negligenciado injustamente.
Tracklist:
Queen Of New Orleans
Janie, Don’t Take Your Love To Town
Midnight In Chelsea
Ugly
Staring At Your Window With A Suitcase In My Hand
Every Word Is A Piece Of My Heart
It’s Just Me
Destination Anywhere
Learning How To Fall
Naked
Little City
August 7, 4:15
Cold Hard Heart (Demo) *
I Talk To Jesus (Demo) *
Sad Song Night **
Faixas extras:
* -> Japão: com certeza essa música deveria ter entrado no álbum. Excelente canção.
** -> França: Outra excelente canção. Não sei o porquê dessas duas canções não terem entrado oficialmente no álbum.
Observações: Em vários países foi lançada uma edição dupla com um CD extra ao vivo da turnê do álbum. A edição japonesa, além das faixas extras, possui cartões postais e mini-poster. Uma outra versão japonesa foi lançada no formato de livro com papelão rígido com as mesmas faixas extras da outra versão. Na edição argentina existe a música “Miro A Tu Ventana” (versão em espanhol de “Staring At Your Window With A Suitcase In My Hand”).
Richie Sambora – “Undiscovered Soul” (1998)
Mercury
Nota: 8,0
Após sete anos de seu primeiro trabalho solo, Sambora sentia a necessidade de se expressar como artista novamente. Sendo fiel ao que sentia como músico não se poderia esperar outro “Stranger In This Town” após todo esse tempo. Todo artista passa por um amadurecimento natural.
Ele convocou o super produtor Don Was (Bonnie Raitt, Brian Wilson) e um time de fazer inveja a qualquer superbanda: David Paich, Greg Phillinganes, Steven Tyler, Pino Palladino, Kenny Aronoff, Paulinho da Costa, Billy Preston e vários outros.
Em 23/02/1998 “Undiscovered Soul” é lançado sem tanto alvoroço, mas novamente se engana quem acha que um bom álbum é definido pela sua divulgação.
O álbum abre com três novos clássicos da discografia de Sambora: “Made In America”, mesmo musicalmente não tendo muitas variações (contando a própria vida do jovem músico) te prende do início ao fim. Por falar no jovem músico, não por acaso ela começa com “One, two, three, four…” em homenagem aos Beatles. Excelente canção. “Hard Times Come Easy”, a música mais famosa do álbum, fala sobre os “ups and downs” da vida de forma leve e contagiante com Sambora explorando outros sons. “Fallen From Graceland” é uma das mais belas canções de sua discografia. Um alimento à alma.
Algumas outras faixas também se destacam: as baladas “All That Really Matters” (canção mais do que especial com um tremendo solo), “In It For Love” (a prova de que às vezes menos é mais) e “Harlem Rain” (surpreendente!), “If God Was a Woman” com a harmônica de Steven Tyler e a guitarra de Sambora a todo vapor, “Downside of Love” única música que remete ao mesmo feeling de “Stranger In This Town” (incrível!) e “Undiscovered Soul” finalizando o álbum com um banho de alma. Todas usam e abusam de imagens ilustrando as mensagens que são passadas.
Completam o álbum “You’re Not Alone” e os rockões “Chained” e “Who I Am”.
Em “Undiscovered Soul” Sambora demonstra mais maturidade nas letras e experimenta uma grande variedade de estilos, com muito mais acertos do que erros.
O resultado é um álbum mais do que respeitável confirmando que ele sempre foi mais do que apenas o “guitarrista do Bon Jovi” e sua emancipação como artista sempre foi possível.
Tracklist:
Made In America
Hard Times Comes Easy
Fallen From Graceland
If God Was A Woman
All That Really Matters
You’re Not Alone
In It For Love
Chained
Harlem Rain
Who I Am
Downside Of Love
Undiscovered Soul
Observações: No Japão tivemos dois lançamentos: primeiro o álbum foi lançado antecipadamente (1997), com as músicas em ordem diferente, capa diferente e com “All That Really Matters (Reprise)” como faixa extra e, depois, em 1998 (ano do lançamento oficial no restante do mundo) uma nova edição foi lançada com um CD extra de músicas do show de San Diego (1992). Na Europa uma edição especial foi lançada com uma luva holográfica.
Bon Jovi – “Crush” (2000)
Island Records
Nota: 5,5
Novo século. Dezesseis anos do lançamento do primeiro álbum. Jon queria continuar por um bom tempo ainda em evidência e começou a pensar em atingir um público que, se já havia nascido, ainda usava fraldas na época que o Bon Jovi começou a existir.
O sétimo disco da banda traria Bob Rock e Bruce Fairbairn de volta, mas o repentino falecimento de Fairbairn em 1999 acabou por frustrar esses planos. John Kalodner então indicou Luke Ebbin à banda já que Jon mudou seus planos e decidiu por um “up and coming producer”.
O advento da internet revolucionou diversos conceitos e os artistas passaram a ganhar mais dinheiro com shows do que com álbuns, mas, teoricamente, era preciso se manter em evidência. Pensando assim Jon e Sambora se juntam a Ebbin para a produção de “Crush” lançado em 13/06/2000.
Seguindo o modelo “up and coming”, Jon e Sambora convocaram Max Martin (Backstreet Boys, N’Sync, Britney Spears) e criaram um clássico da banda para o novo século: “It’s My Life”. Responsável por alavancar as vendas (o álbum foi Ouro em 13 países e Platina em mais de 25 países), levar a banda de volta às paradas (TOP 10 (vinte e quatro países) e TOP 1 (dez países)), além de uma indicação ao Grammy. Um tiro certeiro e sob medida para o sucesso.
Infelizmente no restante do álbum a banda atira para todos os lados tentando acertar em algo (o que ocorreu com “It’s My Life”) e ainda parecer relevante e contemporânea para aumentar sua base de fãs. O álbum acabou se tornando uma grande “colcha de retalhos”.
De bom “Crush” tem, além de “It’s My Life”, “Just Older” (Uma “Blood On Blood” moderna que traz uma brisa de esperança para o álbum. Até Jon chegou a dizer que esse era o hino do álbum), “Mystery Train” (que deveria ser mais reconhecida. Um Bon Jovi menos rock, mas nem por isso ruim. Refrão bem legal que envolve o ouvinte com os temas de Sambora), “Captain Crash & The Beauty Queen From Mars” (no meio de tantas músicas esquecíveis se sobressai de alguma forma, pois não há nenhuma pretensão além de entreter) e “One Wild Night” (Seguindo a linha “It’s My Life”: feita para divertir).
Parece que Jon acertou ao nomear uma das músicas deste álbum de “Thank You For Loving Me” (uma balada de segunda linha que se segura em seu vocal apaixonado) como se agradecesse aos fãs por ainda estarem com ele depois de ouvir o álbum.
Ainda temos as esquecíveis “Say It Isn’t So” (segundo single do álbum, mas nem as homenagens aos Beatles salvam), “Save The World”, “Two Story Town”, “She’s A Mystery”, “I Got The Girl” (nem Sambora salva) e “Next 100 Years” (que só vale pelo “quê” de Beatles) completam o álbum.
Infelizmente neste disco Sambora não fez jus a sua importância nas músicas. Como na época existia uma “crise da guitarra” sua participação praticamente se resumiu mais a temas do que propriamente riffs e solos. Não que isso seja ruim, mas não é necessariamente bom.
Uma estreia no novo milênio bem abaixo do que se esperava da banda.
Tracklist:
It’s My Life
Say It Isn’t So
Thank You For Loving Me
Two Story Town
Next 100 Years
Just Older
Mystery Train
Save The World
Captain Crash & The Beauty Queen From Mars
She’s A Mystery
I Got The Girl
One Wild Night
I Could Make A Living Out Of Lovin’ You *
Neurotica **
Faixas extras:
* -> “Hidden Track”: No fim do álbum a banda faz uma brincadeira sobre James Brown e depois de 30 segundos em silêncio começa a música que é um dos rocks mais encorpados do álbum. Sem firulas, com “punch” e o toque de Sambora lembrando a era “Keep The Faith”. Quem dera estivesse oficialmente no álbum.
** -> Austrália e Japão: música fraca, mas com um refrão poderoso no estilo Bon Jovi e um dos melhores solos de Sambora no álbum.
Relançamento:
2010 -> remasterizado com faixas extras
Observações: Nos países asiáticos e na Austrália foi lançada uma edição especial com um CD extra ao vivo (Live In Osaka). Na Inglaterra foi lançado um kit promocional para a imprensa com a biografia e discografia da banda e um outro box com um VHS e três fotos. Existe uma edição de colecionador Australiana que é numerada.
Bon Jovi – “One Wild Night” (2001)
Island Records
Nota: 5,0
Durante a turnê de divulgação do “Crush”, o Bon Jovi anunciou que lançaria um disco ao vivo. Mais de quinze anos de espera deixaram os fãs ansiosos com a notícia, mas infelizmente o “álbum ao vivo” não era o que os fãs imaginavam.
“One Wild Night 1985-2001” foi lançado em 22/05/2001 produzido por Jon, Sambora, Child, Ebbin e O’Brien (UFA!). O álbum contempla três turnês diferentes (com mais de 15 anos entre elas). O álbum alcançou #20 na “The Billboard 200”.
Vale à pena um questionamento: Por que lançar um álbum ao vivo com faixas pinçadas das turnês de 85, 95, 96 e 2000 em vez de um show completo como o DVD da própria turnê do “Crush” que havia acabado de ser lançado?
Claro que existem boas versões ao vivo neste álbum, mas como deixar medalhões de fora como “Born To Be My Baby”, “Blood On Blood”, “Dry County”, “Always”, “These Days”, “Lay Your Hands On Me”, “I’ll Be There For You” e “In These Arms” que fizeram a banda ser o que é? Já que era para lançar um álbum “picotado” que mais clássicos fossem colocados para os fãs.
Mas existem pontos altos: como as versões um pouco diferentes e legais demais de “Keep The Faith”, “Wanted Dead Or Alive”, “Someday I’ll Be Saturday Night”, “You Give Love A Bad Name” e “Bad Medicine”, a cover de “Rocking In The Free World” de Neil Young gravada em Johannesburg como uma mensagem contra o Apartheid é um show à parte e “Something To Believe In”, essa sim uma boa surpresa. Que música!! Que dueto!! Que interpretação!!
Aliás, por falar em covers, acredito que Jon quis neste álbum mostrar ser um “roqueiro” sério. É a única explicação para dois covers em um álbum carente de repertório próprio. Além da mencionada acima temos ainda “I Don’t Like Mondays” em que ele canta com Bob Geldof.
Para os novos fãs pode ser um bom registro ao vivo da banda pela quantidade de hits, mas a questão aqui não é se as músicas são bem escolhidas (o que não foram) ou bem tocadas (o que foram), mas quando se ouve um álbum ao vivo o mínimo que se espera é que ele retrate a experiência “real” de estar “presente” em um show da banda. E não é o que acontece.
Tracklist:
It’s My Life
Livin’ On A Prayer
You Give Love A Bad Name
Keep The Faith
Someday I’ll Be Saturday Night
Rockin’ In The Free World
Something To Believe In
Wanted Dead Or Alive
Runaway
In And Out Of Love
I Don’t Like Mondays (Feat. Bob Geldof)
Just Older
Something For The Pain
Bad Medicine
One Wild Night (2001)
Observações: Na Austrália foi lançada uma edição com um disco a mais com outras performances ao vivo e outra edição tripla na qual o terceiro CD é o “Crush”. Na edição japonesa a capa é diferente.