ENTREVISTA COM BRITTNEY SLAYES (UNLEASH THE ARCHERS)
A banda canadense Unleash The Archers lançou recentemente o quinto disco da carreira, chamado “Abyss”. O álbum é uma continuação conceitual do trabalho anterior e mostra a banda no auge técnico e criativo. O Metal Na Lata bateu um papo exclusivo com a vocalista Brittney Slayes sobre a composição, o atual papel da mulher dentro do Metal, Star Wars e a possibilidade da banda estrear nos palcos do brasileiros ano que vem. Leia abaixo!
Por Gustavo Maiato
Header e diagramação por Johnny Z.
Fotos Divulgação/Shimon Karmel
Metal Na Lata: O novo disco “Abyss” é uma sequência natural do trabalho anterior “Apex”. Os dois álbuns têm essa temática espacial por trás, certo? Como surgiu a ideia de fazer essa continuação?
Brittney Slayes: Quando a gente começou a escrever o “Apex” em 2016 a ideia já era fazer dois discos. Eu escrevi pensando no formato de “CD 1” e o “CD 2” e nós queríamos lançar os dois discos de uma vez, mas nós percebemos que não ia dar tempo de trabalhar com calma todas as músicas, o prazo estava curto. Então, decidimos lançar apenas o “Apex” e deixamos de lado a história do que seria o “Abyss” para ser usada depois.
Metal Na Lata: Eu aposto que vocês se divertiram muito filmando o clipe de “Faster Than Light”! Como surgiu a ideia de colocar a banda em uma pista de corrida?
Brittney Slayes: Foi muito divertido! (risos). Nós sabíamos que o videoclipe iria sair depois do lançamento do disco, então todo mundo já teria ouvido e saberiam a temática geral. Nós pensamos que o clipe poderia ser algo que não tivesse a ver com a história e decidimos nos divertir com essa ideia. Como a música se chama “Faster Than Light”, por que não disputar uma corrida entre a gente? Quando a gente trouxe essa ideia para nosso diretor ele falou que dessa forma poderia ficar meio chato, aí ele perguntou se a gente já tinha lido o livro “The Long Walk” do Stephen King. A gente disse que não e perguntamos sobre o que era. Ele falou “basicamente, é uma corrida que se você desacelerar, você morre”. Nós topamos a ideia e nós chamamos um amigo para interpretar o atirador. Nós fomos até uma pista de corrida pública e ninguém se importou de a gente estar lá. Ninguém encrencou nem quando a gente puxou a arma do bolso! Foi muito divertido. Quando a gente recebeu a edição final a gente riu muito e ficamos felizes que o resultado ficou tão bom.
Metal Na Lata: Ainda falando sobre essa música, algumas pessoas dizem que o Power Metal está obsoleto e não se reinventa. Porém, “Faster Than Light” tem uma forte influência de Stratovarius, principalmente na introdução, e o resultado ficou ótimo. Podemos dizer que o Unleash The Archers descobriu a fórmula para fazer Power Metal em 2020?
Brittney Slayes: Estamos absolutamente honrados pela comparação! Nós nunca fizemos um Power Metal tradicional. Dessa vez, eu e o Andrew (Kingsley, guitarrista) falamos que queríamos ter uma música no estilo Luca Turilli. Esse começo da música é no estilo neoclássico, decidimos entregar um Power Metal super rápido. Mas o estilo do Unleash The Archers pedia também um breakdown no meio, alguns elementos mais pesados, algo que tivesse o nosso estilo. Essa música não é algo que fazemos normalmente, simplesmente aconteceu. Nós não queríamos fazer um Power Metal tradicional porque as pessoas poderiam dizer que estamos querendo copiar alguém, mas nós decidimos testar e vimos que soava bem. Simplesmente aconteceu assim!
Metal Na Lata: O Unleash The Archers converge diversas influências. Podemos ver blast beats, vocais guturais e todos esses elementos mais pesados também. Músicas como “Soulbound” se aproveitaram bem desse lado heterogêneo. Como esse contraste funciona para a banda?
Brittney Slayes: Desde o começo, nós sempre fomos uma banda que mistura gêneros. Nós temos músicas mais tradicionais e outras nem tanto, mas sempre tivemos fortes influências de Death Metal. Nós nunca nos afastamos muito disso, eu diria que temos uma vibe de Death Metal Melódico na maior parte do tempo. Foi uma progressão natural para a gente combinar essas duas abordagens, uma mais leve e outra mais pesada. As pessoas me perguntam se nós vamos sempre ter o vocal gutural nas nossas músicas e eu sempre respondo que sim, eu entendo que isso é um elemento muito importante nas nossas músicas e isso nos define. Eu adoro a combinação dos diferentes tipos de vozes, é como uma ferramenta. Quando eu escrevo as linhas de voz eu penso que cada voz funciona como um instrumento. Nós sempre gostamos de nos reinventar, então eu não me vejo vetando um riff muito extremo, nós escrevemos o que vem na cabeça, sem impor limites nem regras. Nós tocamos o que estiver nos inspirando no momento.
Metal Na Lata: Vocês lançaram muitos videoclipes para divulgar “Abyss”. Em uma era em que as bandas estão caminhando para o formato de lyric video, qual a importância de lançar vídeo clipes tradicionais?
Brittney Slayes: Estamos em uma nova era. O YouTube é extremamente importante para a identidade de uma banda. Não é como na MTV ou na MuchMusic, que é uma espécie de MTV canadense. As pessoas não entendem o quanto importante é o YouTube hoje em dia. É uma plataforma enorme e você precisa estar presente o máximo possível. Lyric vídeos podem ser legais também, nós vamos continuar utilizando esse formato porque sabemos que as pessoas gostam de cantar junto e aprender as letras. Não acho que tenha algo errado com esse formato, mas nós sentimos a necessidade de ter a parte visual junto, nós amamos filmar os clipes. Leva muito tempo, é exaustivo para caramba, mas é uma das coisas mais legais de se lançar um disco. Quando você vê um clipe lançado e lembra de todo trabalho que você teve é um sentimento muito bom. Os fãs reagem, compartilham e nós os fazemos rir, essa é a melhor parte! Os vídeos são quase tão importantes quando as músicas.
Metal Na Lata: Por falar no lado divertido de lançar um disco, você disse recentemente que odeia estar no estúdio gravando com toda a pressão e estresse. Você disse que sempre encontra um detalhe que poderia ter feito diferente depois de ter gravado. Já tem alguma coisa nesse novo disco que você já pense “deveria ter feito diferente”?
Brittney Slayes: Sim, claro! (risos) Tem uma parte da letra na música “The Wind That Shapes The Land” que eu mudaria!
Metal Na Lata: Será que ainda dá tempo?
Brittney Slayes: Eu acho que não! (risos) Podemos tocar ao vivo diferente e isso pode chatear alguns fãs que tinham decorado a letra da forma original. Eu sinto agonia nessa música, eu coloquei tudo que eu tinha, tivemos ideias de última hora, mas teve uma parte da letra que eu mudei no final e eu queria tanto não ter mudado. Eu fiquei pensando muito sobre isso. Essa pressão é difícil. Não é apenas o fato de estar no estúdio e ter que fazer perfeito. Para mim, é importante que a gente tenha esse horário a cumprir, senão nós nunca finalizaríamos o disco. Precisamos dessa data limite, senão ficaríamos mudando as coisas toda hora e nunca daria certo!
Metal Na Lata: A cena do Heavy Metal teve sua primeira onda de vocal feminino com Tarja Turunen, Sharon den Adel, Simone Simons e Floor Jansen. Essa primeira leva ficou muito associada ao Symphonic Metal. Tempos depois, uma segunda onda de cantoras surgiu como você, Elize Ryd do Amaranthe e Tatiana Shmayluk do Jinjer. Dessa vez, essas diferentes cantoras estão indo para diversos outros gêneros. Como você vê esse movimento?
Brittney Slayes: Eu acho que essas mulheres lá atrás realmente pavimentaram o caminho para nós sermos uma voz dentro do Metal. Sem elas, não haveria a possibilidade de uma mulher começar uma banda hoje em dia em qualquer que seja o gênero. Existem mulheres por aí que curtem Metal, mas elas não teriam um caminho para trilhar se não fosse esse movimento lá atrás. No começo, as mulheres se destacaram dentro do gênero sinfônico e foi algo legal e diferente esse contraste da voz com o peso. Isso era muito interessante, mas acabou se tornando praticamente a única coisa que as mulheres faziam dentro do Metal. Então, essa geração nova está falando que é hora de se libertar dessa amara e ser o oposto disso. Por exemplo, o Hair Metal era algo grandioso nos anos 80 e então o Metallica chegou com outra proposta, querendo ser algo diferente. Eu entendo que essa nova geração de mulheres no Metal está fazendo o mesmo. Não é como uma rebelião, mas é um sentimento. “Todo mundo acha que uma mulher dentro do metal deve se comportar assim”, mas não é bem assim. Existem vários tipos de mulher no Metal e ela pode ser uma cantora de Power Metal, pode ser uma cantora de Black Metal ou de Death Metal. Existem vários gêneros e certamente várias mulheres que amam diferentes gêneros.
Metal Na Lata: Os diferentes tipos de vocal no disco são responsáveis por contar certas partes da história? Existem personagens por trás de cada linha vocal?
Brittney Slayes: Sim, eu uso os guturais como uma alternativa. Nesse disco, os guturais interpretam o personagem da Matriarca e também é uma espécie de voz do subconsciente, uma voz interna. Eu uso esse tipo de voz na música “Soulbound”, sendo as vozes que estão gritando o nosso personagem principal. Essas vozes são como um outro instrumento, é uma maneira de contar a história e uma maneira de diferenciar um personagem do outro. Tem muitos momentos que eu julgo necessário destacar uma parte da música com esse tipo de voz. Algumas partes muito pesadas da música simplesmente pedem esses vocais rasgados. Eu penso: “essa é a parte que a Matriarca vai falar, então precisa ser algo mais pesado”, eu coloco cada voz da maneira que eu acho que vai se encaixar melhor e sempre pensando na história conceitual.
Metal Na Lata: A música “Awakening”, do disco anterior “Apex”, é a música do Unleash The Archers com maior número de streams no Spotify. A que você atribui isso?
Brittney Slayes: Honestamente, eu não faço ideia! (risos). Muito disso eu acredito que se deva a comunidade de YouTubers que fazem vídeos de react. Nós temos um clipe de “Awaketing” onde nós aparecemos tocando nossos instrumentos, mostra bastante as linhas de guitarra, bateria e baixo. Mostra os caras em ação. As pessoas adoram ver os músicos tocando seus instrumentos, especialmente em uma música como “Awakening” que é muito rápido e técnico. Chama muita atenção dessa comunidade do “react”. Muitos canais acharam que seria legal gravar vídeos reagindo ao clipe. A música ganhou uma repercussão enorme no YouTube e eu acho que isso se transferiu para o Spotify. Muitas pessoas acharam legal o vídeo e depois foram procurar a gente no Spotify e acharam a música. Isso dialoga com a minha resposta anterior sobre a importância do YouTube. Muito desse sucesso vem dessa plataforma.
Metal Na Lata: Falando em YouTube, você recentemente soltou um cover da música “Zombie”, do The Cranberries. Eu acho que a sua voz é tão forte e enérgica quanto a da Dolores O’Riordan…
Brittney Slayes: Eu sempre amei essa música! Se você foi adolescente nos anos 90, você vai me entender! Eu era jovem quando essa música estourou, mas eu gosto dessa pegada meio grunge, eles foram parte desse movimento. Eu dediquei essa música ao movimento Black Lives Matter porque foi a primeira música que veio na minha cabeça quando eu fiquei sabendo como o George Floyd morreu. Isso me chateou muito, eu fiquei muito brava e a primeira coisa que eu pensei foi que outra criança foi levada. Essa letra é sobre isso. Uma pessoa inocente que foi levada embora desse mundo. É triste que esse tipo de coisa aconteça ainda hoje em dia, nós humanos continuamos fazendo mal uns aos outros. Por isso eu fiz esse cover.
Metal Na Lata: Eu vi no seu Instagram que você tem várias fotos com personagens de Star Wars! Para qual personagem da saga de Star Wars você escreveria uma música e por quê?
Brittney Slayes: Essa é uma pergunta difícil! Acho que provavelmente seria sobre o Anakin se tornando o Darth Vader. Essa é uma história muito boa, dá para escrever um disco inteiro só sobre esse momento! Essa parte no final do episódio três quando o Anakin é derrotado pelo Obi-Wan e ele fica furioso!
Metal Na Lata: Acho que você deve considerar isso para o próximo disco!
Brittney Slayes: Sim! Quem sabe! (risos)
Metal Na Lata: Anos atrás, o Unleash The Archers fez uma turnê no Canadá com a banda brasileira Hibria. Quais memórias você tem dessa ocasião? Vocês têm alguma previsão de finalmente vir para o Brasil? Vocês têm muitos fãs aqui!
Brittney Slayes: Essa turnê com Hibria infelizmente precisou ser encurtada porque eles não conseguiram o visto americano, isso foi triste. Nós adoraríamos tocar com eles de novo, nós amamos os caras! Já tocamos com eles diversas vezes por anos, sempre que eles vêm para o Canadá. Nós sabemos o quanto significa para o Brasil que o Hibria tenha conseguido esse sucesso internacional. Esperamos tocar com eles novamente em breve. Já sobre nossa ida para o Brasil, nós estamos trabalhando nisso e deve acontecer em setembro do ano que vem. A nossa ideia era vir esse ano, mas com o coronavírus tudo foi cancelado e nós estamos trabalhando para visitar a América do Sul em setembro ou outubro do ano que vem.
Metal Na Lata: Ótimas notícias! O Unleash The Archers já lancou cinco discos de estúdio. Será que já está na hora de lançar um DVD?
Brittney Slayes: Esse tipo de coisa é determinado pela nossa gravadora. Eles têm os direitos dos nossos três últimos discos, então o contrato diz que se eles quiserem que a gente faça um DVD, nós vamos fazer! Acho que isso vai acontecer ano que vem, durante os festivais de verão na Europa. A Napalm Records deve fazer as filmagens no Wacken, mas quem decide é eles. Se por acaso eles tiverem uma ideia de fazer um show específico, eles vão falar com a gente. Eu espero que eles decidam gravar logo!
Metal Na Lata: E quem você convidaria para um hipotético show de gravação de DVD?
Brittney Slayes: Eu não sei, mas definitivamente seria melhor do que o que acontece hoje em dia onde nós gravamos sozinhos direto do nosso isolamento social! Se nós pudemos ter todos os fãs reunidos já seria muito legal!
Metal Na Lata: Por favor, deixa uma mensagem para os seus fãs brasileiros e para os leitores o Metal Na Lata!
Brittney Slayes: Muito obrigado por comprar ou baixar o novo disco! Obrigado pelo apoio ao longo de todos esses anos! Nós sabemos que vocês estão aí e estamos trabalhando duro para tocar para vocês no Brasil. Estamos tentando por muitos anos, mas não se preocupem, nós não esquecemos de vocês. Assim que o coronavírus acabar nós vamos tocar para todos os nossos fãs do Brasil na maior quantidade de cidades possível!
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