Katatonia – Carioca Club, São Paulo/SP (15/11/2024)

katatonia_resenha
Compartilhe

Katatonia – Carioca Club, São Paulo/SP (15/11/2024)

Produção: Overload
Texto por Matheus “Mu” Silva
Fotos por Nathalia Eidt (credenciada Metal No Papel) *
* Fotos gentilmente cedidas pelo site Metal No Papel

Pouco mais de um ano após sua última passagem pelo Brasil, e em sua quarta visita ao país, os suecos do Katatonia retornaram para uma apresentação única na cidade de São Paulo, na última sexta-feira (15). O show, produzido pela Overload — responsável por três das quatro visitas da banda ao Brasil —, integrou a turnê de divulgação de Sky Void of Stars (2023), o mais recente álbum do grupo.

Uma das bandas mais aclamadas da atualidade, o Katatonia foi formado em 1991 por Jonas Renkse (vocal) e Anders Nyström (guitarra). Nos primórdios, o som característico do grupo refletia o que fervilhava na Europa no início dos anos 90: um Death/Doom Metal sombrio. O álbum de estreia, Dance of December Souls (1993), trazia vocais guturais de Renske mas, devido a problemas de saúde, ele adotou um estilo mais limpo em Brave Murder Day (1996). Curiosamente, nesse disco, os vocais guturais foram assumidos por Mikael Åkerfeldt, do Opeth. A transição vocal se mostrou eficaz e, no terceiro álbum, Discouraged Ones (1998), a banda abandonou os guturais, distanciando-se do Death Metal em favor de um som mais melancólico, com letras profundas e uma identidade musical única.

O período mais prolífico da banda começou com o quinto álbum, Last Fair Deal Gone Down (2001), que consolidou uma formação estável com os irmãos Fredrik e Mattias Norrman (guitarra e baixo, respectivamente) e o baterista Daniel Liljekvist. Juntos, eles elevaram a música do Katatonia a um novo patamar, lançando álbuns aclamados como Viva Emptiness (2003), The Great Cold Distance (2006), Night Is the New Day (2009) e Dead End Kings (2012). Ao longo dos anos, a banda incorporou elementos progressivos sem abrir mão da melancolia característica de seu som, que permaneceu em constante evolução. Seus trabalhos mais recentes, City Burials (2020) e Sky Void of Stars (2023), destacam camadas complexas e bem construídas, sustentadas pelo vocal impecável de Renkse, reforçando a singularidade da banda.

Pontualmente às 21h, a banda abriu o show com “Austerity”, faixa que também inicia o álbum Sky Void of Stars (2023). A execução impecável da música impressionou pela técnica e complexidade. Após um descontraído “Hello Brazil, Hail Satan” de Renkse, seguiram com “Colossal Shade”, outra faixa do álbum mais recente, que embalou o público em sua cadência pesada. Em seguida, a banda apresentou “Lethean”, do Dead End Kings (2012), com o refrão cantado em uníssono pelo público.

Voltando no tempo, o Katatonia tocou “Deliberation”, do clássico The Great Cold Distance (2006), álbum que dominou boa parte do setlist da noite ao lado do novo trabalho. A recepção calorosa destacou o carinho do público brasileiro por esse disco, consolidado como um dos maiores sucessos da banda.

Durante a apresentação, Renkse explicou que um dos guitarristas precisou se ausentar devido a questões pessoais, forçando a banda a se apresentar novamente como um quarteto, assim como em sua última visita ao país. A ausência foi compensada com o uso de playbacks em alguns momentos, o que, embora funcional, comprometeu um pouco a organicidade do show.

Entre os momentos mais marcantes, destacaram-se “Forsaker” (Night Is the New Day, 2009), com sua alternância entre melancolia e riffs pesados, e “For My Demons” (Tonight’s Decision, 1998), que voltou ao setlist após anos de ausência. Apesar de evidenciar a falta de uma segunda guitarra em trechos-chave, a execução emocionou profundamente o público, reforçando o impacto lírico da música.

O setlist trouxe ainda “Leaders” (The Great Cold Distance, 2006), “Soil’s Song” e “Onward Into Battle” (Night Is the New Day, 2009), além de “Birds” (Sky Void of Stars, 2023), que contagiou a plateia com seu refrão enérgico. Entre agradecimentos e brincadeiras, Renkse demonstrou gratidão pela recepção calorosa e brincou sobre retornar com o mesmo repertório na semana seguinte — ideia prontamente aprovada pelos fãs.

Em um dos momentos mais emocionantes da noite, “Old Heart Falls” (The Fall of Hearts, 2017) arrancou lágrimas do público, enquanto “Criminals” (Viva Emptiness, 2003) destacou o desempenho impecável do baixista Niklas Sandin. O show principal encerrou-se com “My Twin” (The Great Cold Distance, 2006), coroada pelo público cantando o refrão em uníssono, e “Atrium” (Sky Void of Stars, 2023).

Após os gritos de “one more song”, a banda retornou para o bis com “July” (The Great Cold Distance, 2006), um de seus maiores sucessos. Apesar da ausência de Anders Nyström e das contribuições guturais características da música original, o público não se deixou abalar e cantou com fervor. A noite se encerrou com “Evidence” (Viva Emptiness, 2003), levando o público ao êxtase e coroando uma apresentação inesquecível.

Apesar dos desafios técnicos e da ausência de alguns clássicos, o Katatonia entregou uma performance memorável, demonstrando a devoção à sua arte e ao público brasileiro. Com um repertório cuidadosamente escolhido e momentos de pura emoção, a banda mais uma vez provou por que é uma das maiores referências do metal melancólico contemporâneo. Que voltem logo, pois serão sempre bem-vindos!

Setlist:

Austerity
Colossal Shade
Lethean
Deliberation
Forsaker
Opaline
For My Demons
Leaders
Onward Into Battle
Soil’s Song
Birds
Old Heart Falls
Criminals
My Twin
Atrium
July
Evidence

Compartilhe
Assuntos

Veja também