Machine Head – “UnatØned” (2025)
Nuclear Blast | Shinigami Records
#GrooveMetal #Metalcore #AlternativeMetal
Para fãs de: Linkin’ Park, As I Lay Dying, All That Remains, Trivium, Gojira
Texto por Johnny Z.
Nota: 3,0
Acompanhar a trajetória do Machine Head sempre foi, para mim, mais do que apenas seguir uma banda — foi crescer junto com um dos nomes mais intensos e marcantes do metal moderno. Tive o privilégio de conhecer o som deles lá em 1994, quando o clipe de “Davidian” estreou na MTV e, consequentemente, o maravilhoso álbum de estreia Burn My Eyes foi lançado. Aquela porrada sonora me cativou de imediato e, desde então, o Machine Head se tornou uma das minhas bandas favoritas da vida.
Assisti a todos os shows da banda no Brasil, vibrei a cada acorde, a cada performance destruidora. Me emocionei profundamente com álbuns como The More Things Change, Through the Ashes of Empires, The Blackening, Unto the Locust e Of Kingdom and Crown — verdadeiras obras-primas que mostraram o quanto Robb Flynn e companhia eram — e são — capazes de evoluir sem perder o peso, a fúria e a alma.
Claro, nem tudo foram flores. Alguns discos anteriores e posteriores a esses me deixaram dividido; outros me fizeram surtar — no bom e no mau sentido. Mas o amor pela banda sempre falou mais alto, e eu segui firme: ouvindo, apoiando, acreditando — sempre com os pés no chão, sempre sem clubismo.
Infelizmente, esse laço foi abalado com o lançamento de Untøned, álbum recém-lançado. Um trabalho que, para mim, não carrega a essência que tanto admirei no Machine Head. Pelo contrário, foge completamente daquilo que sempre apreciei na banda.
Me decepcionou profundamente essa sonoridade modernosa demais, com incursões até de trap music e eletrônico, falta de peso, insosso, adolescente, tendencioso — ou seja, completamente abaixo de tudo que a banda fez até hoje, inclusive do Supercharger, que eu já considerava fraquíssimo. Tem horas que parece até um Linkin Park piorado. Nitidamente, a banda apostou em faixas bem mais curtas e na sonoridade da juventude de hoje em dia, trazendo muito do metalcore melódico e cheio de choradeira — o que não me agradou em nada.
Tem coisas boas? Sim, poucas. Por exemplo, “ATØMIC REVELATIØNS”, precedida pela introdução totalmente desnecessária de “LANDSCAPE ØF THØRNS”. “ATØMIC REVELATIØNS” segue a linha de Of Kingdom And Crown, mas já apresenta vocais limpos cheios de auto-tune (por todo o álbum), que podem incomodar o ouvinte mais apaixonado por brutalidade. Essa é realmente pesada e agressiva, com aquelas guitarras ganchudas que tanto gostamos, mas já indica nitidamente para onde o álbum levará o ouvinte. “UNBØUND”, lançada previamente como single, me agradou de imediato, pois tem tudo aquilo que eu gosto: peso, groove, rifferama encorpada, vocais agressivos. Então, até aqui, tudo bem.
Mas aí começam a vir certas coisas que fazem o fã mais antigo se incomodar. “ØUTSIDER” não é ruim, tem seu impacto, mas é totalmente nu metal, cheia de refrões metalcore, e poderia estar perfeitamente em Catharsis ou até mesmo em Supercharger.
Em “NØT LØNG FØR THIS WØRLD”, o caldo começa a entornar: arrastada, extremamente chorosa e insossa, traz muito aquele clima Linkin Park de semi-balada. É bonita? Sim. Mas estamos falando de Machine Head — cadê o caos? Claramente, a banda está indo por um caminho que visa agradar um nicho ao qual ela não pertence.
“THESE SCARS WØN’T DEFINE US”, primeiro single lançado com a participação das bandas In Flames, Lacuna Coil e Unearth para promover a turnê conjunta, aqui aparece somente com os vocais de Robb Flynn e sem os convidados. Confesso que gostei mais dessa versão do que a do single, e parece que as coisas iam voltar ao normal, por ser uma cacetada certeira. Pois bem, ledo engano.
“DUSTMAKER” é uma coisa que eu não sei nem classificar. Eletrônica, cheia de trap music, meio rapeada, sem pé nem cabeça, totalmente desconexa, sem sentido, com uma voz feminina vociferando coisas que só trazem tédio. Inadmissível uma parada dessas. “BØNESCRAPER”, outra bem nu metal, com “ôôô” no refrão, poderia ser uma ótima música do Linkin Park para um filme de “sucesso” do Adam Sandler. Dá pra ouvir? Dá, mas com raiva e indigestão (risos).
“ADDICTED TØ PAIN” é uma tentativa de retomada do peso e da velocidade, mas descamba em vocais cheios de agonia de Robb e, mais uma vez, cai naquele nu metal juvenil que desagrada. “BLEEDING ME DRY” já começa novamente influenciada por bandas como Linkin Park, e essa, se você fechar os olhos, vai imaginar que é mesmo — mesmo com uma tentativa de agressividade que acaba repentinamente e te faz torcer para que não entrem Mike Shinoda ou a tal Emily Armstrong cantando. Sinceramente, é uma boa música? Sim, é. Mas as partes lentinhas estilo Linkin Park (de novo esse troço!) você vai querer desouvir.
Chegamos a “SHARDS ØF SHATTERED DREAMS”, penúltima faixa do álbum, uma outra tentativa de agradar os fãs mais sedentos por porradaria. Agrada? Sim e não. Soa forçada demais. O refrão, que poderia ser algo mais brutal e agressivo, descamba para a choradeira e vai tudo por água abaixo. Acha que acabou? Está enganado!
“SCØRN” é uma música lenta, cheia de emoção (depende do ponto de vista), com vocal limpo de Robb e sem guitarras até a metade. Mas me desculpem os fãs de Linkin Park (cansei!): cheia de teclados e sonoridades adolescentes, isso não é metal — e muito menos Machine Head.
Não tivemos nenhum riff pungente e brutal; não tivemos solos para fazermos air guitar (realmente um desperdício, pois tanto Robb quanto o atual guitarrista Reece Scruggs, ex-Havok, são exímios nisso); a produção está similar à do álbum anterior — portanto, sem queixas, exceto a falta de peso. As levadas de bateria simples de Matt Alston não comprometeram, mas também não o fizeram ser chamado de “o cara”. O baixo de Jared MacEachern cumpre bem o seu papel, principalmente em “ØUTSIDER”, onde está bem evidente. A capa do álbum é lindíssima. Mas só. Deixou muito a desejar.
Pouquíssimos pontos positivos, infelizmente. É duro dizer isso sobre uma banda que significa tanto, mas talvez essa seja a consequência de amar algo profundamente: a frustração quando isso não corresponde.
Ainda assim, a história, o legado e os momentos que vivi com o Machine Head continuam sendo parte da minha jornada como fã. E isso, nenhum disco abaixo da média vai apagar.
Vai ser muito doloroso colocá-lo como grande decepção do ano na minha lista de fim de ano — e pior ainda será esperar mais alguns bons anos para termos algo que traga a banda novamente aos trilhos. Sim, a nota pode soar exagerada para alguns? Pode! Não julgo, mas para mim foi com otimismo e tristeza, pois eu amo essa banda.