Banda Principal: Max e Iggor Cavalera (Return To Roots)
Bandas de Abertura: Sinaya e Krisiun
Local: Audio Club, São Paulo/SP
Data: 07/08/2022
Produção: Honorsounds
Texto por Johnny Z.
Fotos por Léo B. Muniz
Domingo nunca é um dia ideal para shows, já que na segunda-feira todos levantamos quebrados para o trabalho, mas existem os “domingos” e os “quebrados” que valem e muito a pena por lavarem nossas almas, corpos e problemas para longe. Foi o caso de ontem, com três BAITA shows na Audio Club, na capital paulista.
Eu sempre elogiarei locais de shows que são próximos a metrô, e no caso da Áudio elogiar é pouco, já que a estação Barra Funda fica a apenas 5 minutos a pé. A única preocupação de quem usa o transporte público é o horário do término dos shows, o que ontem foi uma verdadeira aula de pontualidade e respeito ao público. Parabéns a produção fantástica da Honorsounds, que soube como ninguém administrar todos os horários direitinho sem deixar ninguém na mão, mesmo com o pequeno atraso no início do show dos irmãos Cavalera.
Falando da casa, sempre gostei também de sua acústica perfeita, conforto e iluminação. Talvez sua acessibilidade na saída, com apenas um único e extenso corredor (não muito largo) não seja uma coisa correta, sempre ocasionando um amontoado de gente querendo sair num tremendo alvoroço de empurra-empurra e aperto. Pessoal, fica o alerta! Tem que se pensar um pouco nessa segurança! Se precisarmos sair correndo de lá, principalmente quem está nos camarotes ou longe dessa única saída, seria desesperador para se falar o mínimo.
Enfim, pontualmente as 19h30, Marcelo Pompeu (Korzus), mestre de cerimônia na noite (responsável pela apresentação dos três shows), entrou no palco agradecendo o público e apresentando a primeira banda da noite: Sinaya.
Única banda de Deathcore formada apenas por mulheres, bem frisado por Mylena Monaco (vocalista e única como membro original da banda), entrou no palco quebrando tudo logo de cara com uma introdução em solo de bateria de Amanda Imamura, que foi um dos destaques da apresentação pela sua técnica e cacetada. Confesso que achei interessante, pois nunca tinha visto uma banda iniciar seu show com um solo, muito menos de bateria. Não estou muito antenado sobre os shows que a banda vem fazendo, mas me pareceu que as meninas estão no seu segundo show com a atual formação/fase. Tocam muitíssimo bem, mas achei Amanda Melo (baixo) e Helena Nagagata (guitarra) um pouco tímidas, mas talvez o nervosismo deva ter dado o ar da graça, o que é perfeitamente compreensível. Tenho plena certeza que com o tempo elas vão se soltar mais e agitarão como umas loucas no palco. Mylena era a mais solta no palco, correndo, pulando e mostrando toda sua experiência.
Faixas de toda a carreira foram executadas, inclusive uma faixa ainda inédita chamada “Struck Out By You”, a ser lançada em breve que, de acordo com Mylena, conta com a participação de Diva Satanica (Nervosa). Para quem não sabe, a Sinaya já tem 12 anos de carreira, com 1 EP, 1 álbum completo e 3 singles lançados, ou seja, elas não são marinheiras de primeira viagem ok?
Show correto, som, iluminação muito bons, talvez a timbragem da guitarra poderia ter sido outra já que comparada aos shows posteriores – ao meu ver – me pareceu bem diferente, mas nada que comprometesse, pelo contrário, Helena manda muito bem, só precisa se soltar mais. As faixas mais novas, já no novo estilo Deathcore, “Psycopath” e “Afterlife”, essa com a convidada especial Mayara Puertas (Torture Squad) fazendo os vocais que foram gravados originalmente por CJ McMahon (Thy Art is Murder), mostraram-se mais ‘a cara’ da banda e agradaram o público (que não estava completamente lotado ainda) bem mais em relação as antigas da fase mais Death/Thrash Metal. Acredito que elas darão o que falar assim que lançarem um novo trabalho completo! Parabéns para a mulherada, vocês arrebentaram (para variar um pouco, né?)!
Setlist:
Intro (Drum Solo)
Pure Hate
Legion Of Demons
Riddle Of Death
Buried By Terror
Struck Out By You
Obscure Raids
Afterlife
Psychopath
Ah, o Krisiun! Tive a honra e o enorme prazer em ver – pelo menos – um show de cada álbum lançado pelos gaúchos! Sim, e que me lembre, cheguei a ver um quando a banda ainda estava lançando o EP “Unmerciful Order”, de 1994, no Ginásio da Portuguesa, aqui em São Paulo. Dali em diante, se não me falhe a memória, foram 17 shows assistidos presencialmente, incluindo esse agora. E o que posso falar? Cada show é um massacre impiedoso, furioso e colossal de se fazer Death Metal, e ver a simpatia, humildade e orgulho de Max Kolesne (bateria), Moysés Kolesne (guitarra) e Alex Camargo (vocal/baixo) ali fazendo o que amam, sempre batendo no peito como brasileiros com orgulho, apesar desse país estar cheio de problemas e nas mãos erradas a décadas a fio. Lançando seu novíssimo álbum “Mortem Solis”, inclusive foi o primeiro show da turnê, pudemos ser testemunhas de três faixas novas sendo executadas pela primeiríssima vez ao vivo: “Swords Of Flesh”, “Serpent Messiah” e “Sworn Enemies”, que igualmente a todas as outras, aniquilaram toda galera que já preenchia 99,9% de toda a casa. O único porém, não para quem assistia e/ou curtia o show, talvez mais para os fotógrafos creio eu, foi o demasiado uso de luzes vermelhas que são um verdadeiro caos para esses profissionais e até para quem quer tirar uma foto ou gravar um mísero videozinho para recordação (risos).
Outras faixas como “Combustion Inferno”, “Ravager”, “Hatred Inherit” e “Scourge of the Enthroned” também fizeram a alegria dos presentes (nessa última até arrisquei um vídeo, já que usaram bastante luz azul, mas meu celular fez o favor de morrer ha ha ha. Ficarei devendo dessa vez).
Moysés – pra mim – é o melhor guitarrista de Death Metal do mundo disparado e ontem só provou o que eu já sabia, da mesma forma que Max Kolesne, que ao final do show parecia ter saído de um chuveiro de tão suado e molhado. Não era para menos, certo? O cara deve ter implantes biônicos nas juntas para aguentar a porradaria, técnica, timing, quebradeira…., sério, estudem-no! (risos). Alex, como sempre, um frontman nato que têm o público nas mãos já até antes de entrar no palco, o cara é uma lenda! Pedindo rodas e destruição com seu trivial jeitão de falar e agradecendo muito (como de costume) só mostra que estamos não só bem representados também no Death Metal como, também, temos (mais um) ‘O CARA’ para reverenciarmos (vocês me entenderam, certo?). A execução do clássico “Ace Of Spades”, do saudoso Motörhead, fez jus não só ao grande legado do também saudoso Lemmy, como também a última frase acima.
Senti falta de “Black Force Domain”, ok? Não me xinguem. Obrigado Krisiun por mais uma aula de como se destruir nossos crânios de forma tão carinhosa, na tratativa sim, na execução NUNCA. Ainda bem! (risos)
Setlist:
Kings Of Killing
Ravager
Swords Into Flesh
Scourge Of The Enthroned
Serpernt Messiah
Combustion Inferno
Sworn Enemies
Ace Of Spades
Hatred Inherit
Com a casa absolutamente lotada, Max Cavalera (vocal/guitarra) e Iggor Cavalera (bateria) – leia-se os donos da porra toda – entraram em cena com o monstro Dino Cazares (Fear Factory) junto ao baixista Mike Leon (Havok, Soulfly). Comemorando 26 anos (e não 25 como falaram, mas 25 fica mais redondo e bacaba de se falar) do álbum que mudou a história do Metal e da música no mundo, “Roots”, os agora rechonchudos Max (esse está um absurdo de obeso!) e Iggor – completado por Dino nesse time (risos) – e um (baita músico, diga-se!) Mike Leon que até some fisicamente perto dos três, entraram com a plateia nas mãos.
Tocar na íntegra esse verdadeiro marco da história do Metal não é uma tarefa das mais fáceis, mas ontem parece que foi! Tocaram-no de cabo a rabo, com uma precisão impecável. Fora o peso colossal de todos os instrumentos, principalmente as guitarras e bateria que deixaram algo já pesadíssimo ainda mais destruidor! A pegada de Dino Cazares – nas bases principalmente – deram outro peso mais brutal as músicas. Na parte dos solos, ele fez direitinho conforme gravado originalmente e sem deixar a desejar em nada! Já o baixo ao vivo, meu amigo, Mike Leon fez um BAITA trabalho, inclusive até nos backing vocals! Por favor gente, a comparação aqui é sadia e sem babaquice, ok?
Max estava realmente possuído (Max Possessed is back?) e fez coisas que eu em mais de 35 anos acompanhando sua carreira assistindo-o ao vivo etc, não via! O cara pulava, se jogava no chão, brincava com o público, se esgoelava com aquele vozeirão da ‘porra’ como se um garoto de 20 anos estivesse presenciando o fim do mundo e – pasmem – arriscando até uns solinhos com alavanca! Acho que nem na época do “Beneath The Remains”, “Arise” e “Chaos AD”, onde o pau comia para valer, eu o vi de forma tão descontraída, humana e visceral como ontem. Me surpreendi positivamente, mesmo com o seu físico bem fora da curva (risos).
Alguns momentos se tornarão inesquecíveis como, por exemplo, quando Max pediu para que todas as luzes da casa fossem apagadas e o público iluminasse o palco com as lanternas de seus celulares. Nesse momento, “War Pigs”, clássico do Black Sabbath precedendo um trecho de “Territory”, foi tocado meio que de forma descompromissada, mas a vibe desse momento chegou a arrepiar!
“Lookway” ficou tão pesada, mas tão pesada, que me arrisco a dizer que foi a mais pesada da noite. Seu único ponto negativo foi a falta de um playback com as partes de Mike Patton (Faith No More), que dariam um tom ainda mais caótico ao momento.
“Itsari”, tocada apenas por Iggor e o restante em playback, foi o momento de brilho do músico, que contrariando o que muitos falam atualmente: continua UM TREMENDO BATERISTA e que GOSTA DE METAL sim senhor! Ao final, todos voltaram ao palco e num momento histórico, importante e inesquecível, Max chamou o Cacique Cipasé, da tribo dos Xavantes em Pimentel Barbosa, Mato Grosso, que participou da gravação de “Roots”, em 1995/1996. Max passou o microfone ao cacique que deu um verdadeiro show nas suas palavras de uma forma que não só emocionou a todos falando sobre “Itsari” ser uma música espiritual feita para curas e também falar sobre a triste realidade dos povos indígenas hoje, que de acordo com as pesquisas e também as palavras de Cipasé – estão vivendo um momento horrível na história do país, e se continuarmos nessa onda, daqui 50 anos não haverá mais tribos indígenas, nem um Brasil ou até mesmo um mundo para se viver. Sábias e tristes palavras! Todos presentes compreenderam BEM ATÉ DEMAIS, pena que quem deveria ouvir está pouco de lixando não só para os índios, como para a população toda. Obviamente, gritos hostis a “peçoa” – que não vale a pena nem darmos nome – foram devidamente vociferados.
Em “Dictatorshit”, Max disse que era a faixa contra a ditadura e pediu que era hora de se mandar “essa peçoa” tomar devidamente no meio do C*, e mais uma vez, prontamente atendido. A parte da letra que o instrumental para e Max grita “Tortura Nunca Mais!” é simplesmente icônico e entra dentro de nosso corpo de um jeito que causa uma revolta imensa com tudo que estamos vivendo.
Finalizando a execução de “Roots”, eis que surge os vários momentos de descontração. Não que não tenham ocorrido antes, longe disso, mas vermos um trecho de “Rainning Blood” (Slayer), seguido de “Troops Of Doom” – de forma beeeeem mais cadenciada – com a presença do filho de Iggor na guitarra, e Alex Camargo (Krisiun) (obs: Max agradeceu ao final como sendo o Moysés, mas tudo bem, os três são irmãos e tudo a mesma “forma” mesmo ha ha ha) cantando junto com Max solto feito um louco no palco sem guitarra na mão, foi um momento único!! Trechos de “Territory” finalizaram esse momento fúria no palco de forma cavalar.
Seguindo a “festa”, Dino Cazares apresenta “La Migra”, de uma das bandas mais icônicas que ele fez parte: o Brujeria! Com direito a Max cantar tudo em um português (a faixa originalmente é em espanhol!) que só ele entendeu, ou nem ele (risos). Foi uma carnificina nessa hora! Aliás, um destaque a parte: o público estava durante todo o show completamente insano, me lembrando muitos shows da própria turnê de “Roots”, em especial o show do Olympia, em 1996!
“Refuse/Resist” veio para colocar a casa no chão, e Iggor Cavalera deu (mais) um show de pegada e precisão para calar a boca dos bobões da internet, que ele (nem ningúem) dá a mínima atenção.
Finalizando a noite, “Orgasmatron”, com direito a Max contar que foi batizado com whiskey na cabeça por Lemmy, foi tocada de várias formas: igual a original, da forma como o Sepultura fazia em 1991/1992, e também cheio de improvisações e zoeiras. Simplesmente brutal e divertidíssimo! Logicamente que a faixa “Polícia”, sem os famigerados palavrões pedidos por Max, não podia deixar de fazer parte da festa não é mesmo? Eu até hoje acho engraçado ver gringos tocando essa música e não entendendo porra nenhuma (risos). Só quem é brasileiro entende REALMENTE o sentido dessa música, não é mesmo? Outro trechinho de “Roots Blood Roots”, só que de uma forma totalmente Hardcore, rápida e trituradora encerrou a noite com chave de ouro!
Dá para destacar alguma música dessa apresentação? Impossível, mas da parte do “Roots” eu destaco todas (risos).
Sim, Max e Iggor tem o direito, podem e DEVEM manter esse projeto de reviver os clássicos vivo, já que… bom deixa para lá. Ainda sonho em ver um show focado no “Schizophrenia”, as minhas sangrentas raízes. Quem sabe um dia?
Obrigado Max, Iggor, Dino e Mike por me levar a adolescência mais uma vez, ou melhor, olhar para trás e ver que fui feliz para C*%@*&%, agradecer por isso e por CONTINUAR TENDO ESSAS CHANCES DE SER!
Setlist:
Roots Bloody Roots
Attitude
Cut-Throat
Ratamahatta
Breed Apart
Straighthate
Spit
Dusted
Lookaway + “War Pigs” (Black Sabbath) + “Territory” (trechos)
Itsári
Ambush
Dictatorshit
Troops of Doom + “Rainning Blood” (Slayer) + “Territory” (trechos)
La Migra (Brujeria)
Refuse/Resist
Orgasmatron (Motörhead)
Polícia (Titãs)
Roots Bloody Roots (+ rápida)
Agradecimentos a Baffo e Damarias (Honorsounds), Áudio Club e Marcos Franke pela parceria e credenciamento.