A criatividade e importância de Snorre W. Ruch e do Thorns para o Black Metal + Resenha “Thorns”
Por Lucas David
Fotos Divulgação
Thorns – “Thorns” (2001)
Moonfog Productions
#BlackMetal, #IndustrialBlackMetal
Para fãs de: Mayhem, Emperor, Satyricon, Dakthrone, Dødheimsgard
Nota: 10
O Black Metal é conhecido pela grande quantidade de bandas que surgem e as que se tornaram clássicas para o estilo como Mayhem, Immortal e Darkthrone. Porém, dentre essas bandas, algumas alcançam o status de cult em meio ao fãs, como é o caso do Thorns.
As raízes do Thorns remontam a 1989 na cidade de Trondheim, quando o guitarrista Snorre W. Ruch e o vocalista/baixista Marius Vold formaram a banda Stigma Diabolicum, e gravaram a demo “Luna De Nocturnus”, além de lançar a gravação ao vivo “Live in Stjørdal”. Eles logo aumentaram seus integrantes, trazendo um baixista chamado Harald Eilertsen, permitindo que Vold se concentrasse nos vocais, assim como o baterista Bård G. Eithun, mais conhecido pelos fãs de Black Metal como Faust, que mais tarde se juntaria ao Emperor. O quarteto mudou seu nome para Thorns por volta de 1991, quando o uso do latim estava se tornando mais proeminente no Black Metal.
Demo “Luna De Nocturnus”
Coincidindo com a mudança de nome, a banda entrou em estúdio para gravar sua primeira fita demo como Thorns, que se tornou o muito elogiado “Grymyrk”. Contando apenas com Snorre na guitarra e Eilertsen no baixo, este lançamento não foi apenas popular, mas muito influente, com o baterista do Darkthrone, Fenriz, alegando que foi nessa demo que Snorre co-criou o som da guitarra Norueguesa de Black Metal, junto com o guitarrista do Mayhem, Euronymous. Um ano depois, o Thorns gravou e lançou sua segunda demo, “Trøndertun” em 1992, que também se tornou a favorita entre os fiéis do Black Metal e continuou a dar ao grupo muito respeito na cena.
Demo “Grymyrk”
Apesar de sua crescente reputação, mesmo o simples ato de ensaiar era difícil para o grupo, já que todos os quatro membros moravam em diversos lugares da Noruega. Eventualmente, foi decidido que eles encontrariam um apartamento na capital Oslo para se tornarem mais organizados. No entanto, a banda não conseguiu encontrar nenhum lugar para ensaiar e, como resultado, vários membros ficaram desinteressados no Thorns e não quiseram escrever nenhuma música. Frustrado com isso, Ruch decidiu aceitar um convite para se juntar às lendas locais Mayhem como o segundo guitarrista, colocando o Thorns em espera por um tempo. No Mayhem, ele ajudou a deixar o som da guitarra de Euronymous melhor, influenciando também nas letras, assumindo o lugar de segundo guitarrista na gravação do clássico “De Mysteriis Dom Sathanas”.
Capa álbum “De Mysteriis”
Apesar de não aparecer no disco finalizado, ele contribuiu com riffs inteiros do Thorns para várias músicas e sua presença sendo sentida não apenas durante esses momentos, mas geralmente através de seu impacto em grande parte do trabalho de guitarra arrepiante de Euronymous. Seu outro papel também foi de reorganizar as letras de Dead (ex-vocalista do Mayhem que cometeu suicídio em 1991) em varias musicas, preparando o terreno para o novo vocalista, Attila Csihar.
Foto com Metalion, Varg, Euronymous e Snorre
Porém, seu tempo com o Mayhem se tornaria infame e terminaria talvez no evento mais notório do Metal. Ruch saía com Varg Vikernes do Burzum com bastante frequência, indo morar com ele em Bergen em 1993, depois de quase ser internado em uma instituição mental. De acordo com Vikernes, foi Snorre quem revelou os planos de Euronymous de torturar Vikernes até a morte, chamando-o para ouvir um telefonema com o guitarrista do Mayhem, no qual ele discutiu seus planos.
Os dois viajaram de Bergen para Oslo para que Vikernes cortasse os laços com Euronymous (Snorre o acompanhou porque queria mostrar alguns riffs para seu colega de banda) e chegando ao local, uma briga começou entre Vikernes e Euronymous, que resultou na morte do guitarrista. Ruch estava esperando do lado de fora do apartamento e quando Vikernes apareceu com sangue em suas roupas, o fundador da Thorns entrou em pânico e tentou fugir, embora Varg tivesse que alcançá-lo porque Ruch estava com as chaves do carro.
Não demorou muito para que Vikernes fosse preso pelo assassinato e posteriormente condenado à pena máxima de vinte e um anos de prisão Norueguesa, mas Ruch também foi condenado, em 1994, a oito anos de prisão por ser cúmplice de assassinato, apesar da insistência de Vikernes de que Snorre estava meramente “no lugar errado na hora errada” e não participou da morte de Euronymous.
Snorre
Ele foi liberado em 1999 e o Thorns retornou lançando o split “Thorns VS. Emperor” com o Emperor, que incluía cada banda fazendo um cover de uma música da outra.
Capa do split
Após o lançamento do split, Ruch começou a gravar o álbum de estreia homônimo, lançado em 2001. “Thorns” tem uma formação adequada que se parece mais com um supergrupo. Satyr, frontman do Satyricon, que segundo Snorre foi quem o convenceu a voltar à música após sua libertação da prisão, co-produziu e compartilhou os vocais com Aldrahn de Dødheimsgard. A bateria é destruída por Hellhammer (Mayhem), e Snorre toma conta do restante dos instrumentos. Desde a abertura da primeira faixa, “Existence”, fica bem claro que os riffs de Snorre são mergulhados em distorção a ponto de terem um efeito estático, sendo mais inquietantes do que furiosos, além da generosa ajuda de elementos industriais e com os vocais de Aldrahn, que dá mais um toque macabro a faixa.
A primeira faixa de Satyr é a excelente “World Playground Deceit”, que mais uma vez é destacada pelos riffs únicos e misteriosos de Snorre. A performance de Hellhammer também merece destaque, pois adota um estilo mecânico que aprimora muito o som e que, surpreendentemente, tem poucos ou quase nenhum blast beats.
O Black Metal e o Industrial são uma boa combinação, como alguns começaram a mostrar nessa época, e os riffs enlouquecidos de Snorre são ingredientes perfeitos para uma reformulação industrial. Depois de mais duas faixas de Black Metal, um par de músicas muito mais industrializadas seguem em “Shifting Channels” e “Stellar Master Elite”. O primeiro é mais lento e contém constantes adições eletrônicas, incluindo o som de tubos batendo e movimentos robóticos. O último é mais furioso e libera todo o poder do Hellhammer em alguns pontos. Ambas são excelentes, mas “Shifting Channels” é a mais corajosa das duas, é a primeira faixa a realmente dar fôlego igual a cada estilo.
O próximo par são as duas partes de “Underneath the Universe”. A Parte 1 é uma faixa industrial ambiente de mais de 7 minutos com alguns riffs polvilhados. A atmosfera criada, apesar do vazio da faixa, é uma excelente ponte para a Parte 2. Aldrahn e Satyr estão presentes vocalmente, mas a composição de Snorre leva o prêmio mais uma vez. A inclusão de alguns teclados absolutamente arrepiantes é um bônus adicional, reunindo uma faixa simplesmente deslumbrante. Já “Interface to God” tem um riff em espiral que passa a sensação de ascensão e um trabalho de bateria mais uma vez excepcional de Hellhammer. “Vortex” é uma faixa decadente, com Snorre contribuindo com um vocal mal e robótico quase falado, junto com outra tempestade de riffs não ortodoxos e efeitos estranhos, fazendo dela uma excelente forma de finalizar o disco.
Capa do disco
O disco Foi recebido com muito entusiasmo e elogios, mas foi notavelmente influenciado pela música industrial, afastando-se do estilo de Black Metal frio que eles ajudaram a criar, levando Ruch a criar o grupo de spin-off eletrônico, Thorns Ltd. que criaram música para várias mostras de arte. Desde então, o Thorns tem estado em grande parte inativo e Ruch passou mais tempo com Thorns Ltd., mas o pequeno catálogo de músicas que o Thorns criou será para sempre aclamado como um dos mais importantes na cena Black Metal Norueguesa.
Abaixo deixo também um vídeo de uma apresentação, onde o Mayhem foi introduzido ao Norway’s Rockheim Hall of Fame, em 2021, e teve a participação de um supergrupo contando com Gaahl (ex-Gorgoroth), Anders Odden (Cadaver), Samoth e Trym Torson (Emperor) e Snorre Ruch, fazendo uma versão mais do que excelente do clássico do Mayhem, “Freezing Moon”.
Vídeo apresentação Rockheim
Fontes:
Sunday Old School: BMHM Part 3. Thorns – in Metal News (Metal Underground.com)
Voices From The Darkside