Myrath – Carioca Club, São Paulo/SP (01/05/2023)
Banda Principal: Myrath
Bandas de abertura: Ego Absence e Skalyface
Local: Carioca Club, São Paulo/SP
Data: 01/05/2023
Produção: Dark Dimensions
Assessoria: JZ Press
Texto por Geovani “Gigio” Vieira
Fotos por Leandro Almeida
Myrath no Brasil: Noite das Arábias em São Paulo.
No último dia 01 de maio (segunda-feira), o Carioca Club foi palco de um espetáculo grandioso, estrelado por uma das bandas mais originais e impressionantes da nova geração da música pesada, Myrath.
Formado em 2001 na Tunísia e contando atualmente com Zaher Zorgati (vocais), Malek Ben Arbia (guitarras), Anis Jouini (baixo), Elyes Bouchoucha (teclados) e Morgan Berthet (bateria), o grupo desembarcou no Brasil, mais especificamente na capital paulista, para uma única apresentação, trazendo no repertório músicas os álbuns “Desert Calls” (2010), “Tales Of Sands” (2011), “Legacy (2016)” e “Shehili” (2019).
Oficialmente o show deveria ter acontecido em novembro de 2022, porém segundo nota da Dark Dimensions, produtora responsável por trazer a banda ao Brasil, problemas envolvendo vistos dos músicos fizeram com que o show fosse adiado.
É difícil precisar se isso foi bom ou ruim, haja visto que na primeira ocasião é quase certo que a banda tocasse para um público pequeno, visto que ainda vivíamos o terror causado pela Covid 19, e todo o caos psicológico alimentado por um bando de marionetes.
Analisando a forma como as coisas aconteceram por aqui, é quase certo que naquela ocasião, o show fosse um fator preocupante, já que aqui no Brasil o tal vírus era seletivo, oferecendo perigo e proliferando apenas em determinados lugares e com algumas exceções.
Exceções estas para bailes funks (os pancadões) e o carnaval, eventos onde o vírus era generoso, e por incrível que pareça não oferecia nenhum perigo, não é mesmo?
Por isso, é bem provável que um show do Myrath (na época) fosse encarado como um perigo à sociedade, e por que não dizer, a banda fosse alvo dos ignorantes e hipócritas de plantão.
É provável que ao marcarem a data para o aguardado fim da pandemia, e com a volta da liberdade de ir e vir, e também com as condições financeiras enfim restabelecidas (ou quase), isto tenha contribuído para levar ao Carioca Club um público numeroso a fim de ver um espetáculo grandioso, protagonizado pelo quinteto.
Devido ao trânsito da volta do feriado, e como vim direto de viagem para o Carioca Club, finalmente cheguei ao local do show, onde a segunda banda, os paulistas do SkalyFace estavam encerrando sua apresentação. Peço desculpas por ter perdido a apresentação das duas, realmente o trânsito foi meu pior inimigo.
Além do Skaly Face, tocaram também os paulistas do Ego Absence, porém e como mencionado acima, não tive a oportunidade de vê-los.


Pontualmente às 20h30, as luzes se apagam, a cortina cai, e no palco uma dançarina faz seu número de dança do ventre ao som de “Asl”, faixa introdutória que abre “Shehili”, álbum mais recente do quinteto, enquanto um a um, os músicos adentram ao palco aos gritos dos fãs presentes, alguns deles, em especial as mulheres fazendo uso do salguta (ou, zaghareet) famoso grito usado pelas mulheres de cultura árabe e/ou do Oriente Médio.
A sequência com “Born To Survive”, “You’ve Lost Yourself” e “Dance”, também do mesmo álbum, formaram a trinca perfeita para a abertura de um show grandioso que estava apenas começando.
Ainda explorando seu mais recente trabalho, “Monster In My Closet” e “Shehili”, foram executadas com maestria pela banda, que em poucos minutos de apresentação já dominava o público, que cantava cada verso de cada música demonstrando uma recepção calorosa e carinhosa para com o grupo.
Sorridente e com uma simpatia ímpar, o vocalista Zaher Zorgati anuncia a belíssima “Child Of Prophecy”, música inédita que fará parte do vindouro álbum previsto para setembro. O resultado não poderia ser outro senão a aceitação imediata da mesma, e a aprovação unânime por parte dos fãs.
De volta ao passado, o grupo revisita o álbum “Tales Of Sands” ao executarem “Merciless Time”, seguida de “Lili Twill”, música originalmente gravada pelo quarteto marroquino Les Frères Negri, aqui executada com maestria pelos tunisianos.
Para a próxima música, a banda anuncia a participação especial de Michel da Luz, vocalista e produtor catarinense, que assume as vozes principais em “Get Your Freedom Back”, presente no álbum “Legacy”. Numa atuação excelente e auxiliado por Zaher, o brasileiiro surpreendeu e fez bonito nos vocais, enquanto Zaher assumiu o papel de coadjuvante com um sorriso estampado no rosto. Ao final, os dois dividem os vocais em um dos pontos altos do show..
Mais uma revisitada ao álbum “Tales Of The Sands”, o grupo executa a faixa título em mais um momento excepcional do show. Em ambas, o público mais uma vez foi uma atração à parte cantando, e encantando os músicos que pareciam não acreditar no que estavam vendo. A propósito, era visível o quão surpreso estavam com a calorosa recepção dos brasileiros.
Por esta razão, entre uma música e outra, o vocalista fazia questão de agradecer os fãs presentes.
Ao anunciar “Let It Go”, mais uma música que estará presente no próximo registro de inéditas, o vocalista faz uma brincadeira ao explicar ao público que apesar do título homônimo, não se trata da famosa canção presente na animação “Frozen” .
Bem recebida e de fato bem diferente da animação da Disney, temos aqui mais uma música excepcional do vindouro trabalho, destacando os vocais perfeitos do carismático e falante Zaher, mostrando que não por acaso figura na seleta lista de grandes vozes da da nova geração.
De volta a “Legacy”, a banda executa a excelente “The Unburnt”, seguida de “No Holding Back”, cantada em uníssono e mais uma vez arrancando sorrisos (e elogios) da banda.
O encerramento (antes do Bis) veio com “Beyond The Stars”, mais uma do álbum “Tales Of The Sands” fechando com chave de ouro a primeira parte do show para um público claramente satisfeito e extasiado.
Como de costume em todos os shows, o grupo deixa o palco, enquanto o público grita o nome da banda, seguido do famoso “Olê, Olê, Olê, Olá, Myrath, Myrath”(!).
De volta ao palco para o famoso Bis, os músicos que vestiam camisetas da seleção brasileira de futebol (para o delírio dos presentes) fecharam a noite com uma trinca cujo início deu-se com a excelente “Endure The Silence”, seguida de “Jasmim” e encerrando com a magnífica e aguardada “Believer” do já citado “Legacy”, música que já tornou-se um clássico obrigatório da banda nos shows, aqui cantada em uníssono por todos.
Por motivos óbvios, “Believer” foi a música de maior interatividade com o público e também a mais longa do setlist.
Com os fãs sob seu domínio, o vocalista passeou e brincou com sua voz, numa conexão direta com os fãs que fizeram bonito e sem dúvidas foram a cereja do bolo.
Sem nenhum receio, eu vos digo que este foi o grande momento de todo o show. Realmente, um belo espetáculo da banda e público.
Após 1h40 minutos de apresentação, a banda deixa o palco sob gritos e aplausos, levando consigo a certeza de proporcionarem aos fãs presentes uma apresentação grandiosa e no mínimo perfeita.
Além, de uma performance espetacular para um público que certamente contou cada minuto para o aguardado dia, o Myrath ofereceu aos paulistas um show à parte de simpatia, carisma e humildade, através de sua música rica em detalhes que explora brilhantemente a cultura de sua terra natal, a Tunísia.
Por outro lado, o público que compareceu ao Carioca Club também fez bonito, sendo o responsável por momentos de brincadeiras e descontração durante o espetáculo, onde em alguns momentos vocalista Zaher foi a vítima.
Em dado momento do show, alguém teve a ideia de entoar o grito de “Vai Safadão”, uma referência ao cantor cearense Wesley Safadão. Claro que Zaher não entendeu absolutamente nada, fazendo cara de confuso, tentando entender o que diabos era aquele coro. Na dúvida, ele apenas sorria e agradecia. Vale lembrar que o tal coro se repetiu outras vezes, e devo admitir que foi divertido.
Em outros momentos e enquanto o vocalista gentilmente tentava agradecer a presença do público, estes praticamente atropelavam sua fala aos gritos de “Myrath, Myrath, Myrath”, arrancando largos sorrisos dos músicos que durante o show não pouparam elogios aos brasileiros.
Em contrapartida, Zaher fez uma brincadeirinha ao mencionar o público argentino, já que o Myrath havia se apresentado em Buenos Aires antes de vir ao Brasil. Claro que o público entendeu e não se estressou, afinal de contas é possível dizer que nós brasileiros somos bem mais energéticos (risos).
Enquanto anunciava a música “Let It Go”, o vocalista fez questão de demonstrar sua gratidão aos presentes, prometendo um retorno ao nosso país, na turnê de divulgação do novo álbum, formalizando o convite para que o público esteja presente no retorno da banda ao nosso país.
Outros momentos como a famosa brincadeira sobre qual o lado mais animado (direito ou esquerdo) também fizeram parte da apresentação.
Comandado por Zaher, o duelo teve como desafiante o baixista Anis Jouini, que não apenas aceitou o desafio, como também esbanjou simpatia ímpar interagindo com o público durante toda a apresentação.
Também foram muitos os momentos em que o vocalista pegou seu celular, e começou a filmar trechos onde todos cantavam suas músicas, deixando em dado momento a emoção transparecer em seu rosto.
*Não lembro de ter presenciado, já que assisti ao show um pouco distante do palco, porém ao final da apresentação, ouvi de um fã que assistiu a apresentação de frente pro palco (na grade) que Malek Ben Arbia (guitarrista) deixou escorrer algumas lágrimas durante o show. Honestamente, não duvido que isso tenha ocorrido, haja visto o carinho enorme com o qual os brasileiros receberam a banda.
Diferente dos tradicionais “solos de bateria”, quase sempre chatos e maçantes, Morgan Berthet fez diferente ao juntar-se a Anis Jouini (baixista) e juntos formarem uma dupla, diferenciando assim esse momento, que particularmente não tenho muita paciência. Até nisso, a banda conseguiu ser agradável.
Como se estivéssemos em solo árabe presenciando um espetáculo de dança do ventre, o show apresenta um número onde uma dançarina faz acrobacia e coreografia com uma espada, atraindo olhares e claro, aplausos.
Sem dúvidas, mais um momento marcante do show e a impressão de que estávamos a passeio pelo Oriente Médio.
Excelentes em estúdio, e também em seus videoclipes, o Myrath é um dos poucos casos de bandas perfeitas quando tocam ao vivo, destacando a qualidade ímpar de seus músicos (sem exceção). Porém, é impossível ficar indiferente aos vocais precisos e excepcionais de Zaher Zorgati, indiscutivelmente uma das grandes vozes da nova safra de vocalistas.
O público brasileiro se rendeu a banda, que também se rendeu aos encantos de uma plateia ávida por boa música. Posso estar enganado, mas acredito que após a apresentação do Myrath em solo brasileiro, a banda deixou de ser pequena e/ou desconhecida conquistando uma legião de novos fãs e claro, mantendo os antigos.
Que esta, seja a primeira de muitas apresentações em terras brasileiras, e que a promessa de uma turnê no próximo ano seja cumprida.
Aguardamos ansiosamente.
PS: ao final do show, Anis Jouini e Morgan Berthet, pacientemente distribuíram autógrafos para o público.
Em um dia de muita sorte, um sortudo levou para casa um dos pratos da bateria, entregue em mãos pelo próprio Berthet.
Agradecimentos a Dark Dimensions e à JZ Press pela cordialidade, parceria e profissionalismo no credenciamento para mais esse grande evento. Que venham muitos outros!
Setlist:
Asl
Born to Survive
You’ve Lost Yourself
Dance
Monster In My Closet
Shehili
Child Of Prophecy
Merciless Times
Lili Twil
(Les Frères Mégri cover)
Get Your Freedom Back
Tales of the Sands
Let It Go
The Unburnt
No Holding Back
Beyond The Stars
Endure The Silence
Jasmin
Believer












