Porão Do Rock 2018, Brasília/DF (29/09/2018)

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Porão Do Rock 2018 (Primeiro dia – Palco Pesado)
Bandas: KrisiunDeceiversGangrena GasosaAgressivo Pau PôdiProject46CadibódELa RazaFallen AngelDeaf KidsSeconds of NoiseDesonra
Local: Estacionamento do Estádio Monumental, Brasília/DF

Data: 29/09/2018 

Texto, fotos e vídeos por Victor Augusto

O Porão do Rock chegou a sua vigésima edição neste ano, um feito difícil de alcançar em Brasília-DF. Mantendo o tema “sustentabilidade” como foco de suas propagandas, o evento consegue unir vários tipos de música que vai desde o Hip Hop ao Metal mais extremo. Esse ano, nomes como Barão Vermelho e CPM22 foram algumas das atrações dos palcos principais, enquanto o Krisiun e Korzus foram os Headliners do Heavy Metal.

Mantendo o mesmo formato desde 2015, o festival contou com três palcos, sendo dois principais e lado a lado. O terceiro palco é mais afastado e isolado, destinado somente ao Heavy Metal/Hardcore/Punk, chamado de “Palco Pesado” e novamente esse foi o foco de resenha para o Metal na Lata. O cast de 2018 contou com mais bandas de Hardcore, em relação às edições anteriores e acredito que isso seja importante para aumentar a interação entre os públicos.

Se a edição de 2017 foi marcado pelo adiamento da data do festival, atrasos nos shows e pela forte chuva que devastou o palco, ocasionando o cancelamento das bandas Dark Avenger, Deceivers e Krisiun, esse ano tudo ocorreu tranquilamente e todos os shows começaram PONTUALMENTE, como na programação prevista. Outro fator positivo foi o retorno do festival para dois dias seguidos e hoje vou comentar como foi esse primeiro dia de festival.

Desonra (DF)

O Desonra foi uma das bandas vencedoras das seletivas e abriu o dia de shows no palco destinado ao som pesado. Com um estilo mais voltado ao Crossover, o quarteto fez um show com uma empolgação boa apesar do calor extremamente forte que fazia às 16 horas. Era possível ver os membros, literalmente, pingando de suor, pois o sol batia direto no palco e foi bem desgastante, apesar disso em nada ter tirado a empolgação da banda e dos fãs.

O set foi curto, talvez pelo fato da banda ainda ter pouco material. O final do show contou com o novo single “Toda Dor” e foi legal ver que já haviam alguns corajosos colados na grade para prestigiar o som da banda, entre eles, alguns músicos de bandas amigas. Eles fizeram valer a pena quem veio prestigiar o som.

Seconds of Noise (DF)

O Seconds of Noise é uma velha conhecida banda na cidade, com os 25 anos de existência. A participação deles no Porão do Rock foi bem descontraída, como de costume em seus shows, tanto no aspecto sonoro, quanto na interação com o público. Musicalmente falando, a banda não se prende a rótulos e toca a vontade, entre um Death Metal e Grindcore.

Pelo visto, a vontade de tocar deles era tanta que o vocalista Fábio Guedes se apresentou mesmo com a perna quebrado. Daí surgiu às risadas, pois alguns amigos da banda brincavam que seria um show do Possessed e o próprio Fábio disse que iria tocar Paralamas do Sucesso, já que ele estava usando uma cadeira de rodas no palco. Mesmo com esse imprevisto, a banda tocou com bastante vontade, sobrevivendo ao sol, que ainda castigava a todos os presentes.

Durante alguns problemas técnicos na guitarra de Adelcio Santana, Fabio voltou a arrancar gargalhadas, dizendo que era o Professor Xavier e estava ligado em tudo que estávamos pensando, logo após perguntar sobre o som.

Além de músicas mais novas, como a “By Wreckage”, eles também tocaram “Guerreiro de Satã” e fizeram um show curto e descontraído com seu Grind preciso.

Deaf Kids (RJ)

Já com o sol se pondo e a temperatura dando uma ligeira aliviada, foi a vez do Deaf Kids se apresentar. O show começou sem anúncio nenhum e muitos ainda estavam comprando suas cervejas ou água nesse momento. Cheguei a me perguntar se ainda estavam passando o som, pois o trio toca um som bem peculiar.

Basicamente são sons psicodélicos com extrema distorção e eco nos vocais, onde alguns berros ou sussurros são feitos em cima de uma batida constante de bateria. A Guitarra também tem bastante efeito, lembrando bastante som industrial. Por não ter letras e sem mudanças de ritmo ao longo do som, me deu a impressão que estava ouvindo um som de festa Rave, versão Heavy Metal com distorção e vozes do além. Não que seja ruim, mas não atraiu muito a atenção.

Algumas levadas tem um ritmo mais gingado, mas não muda na essência. Acredito que a falta de comunicação com o público fez com que parecesse um “soundcheck” prolongado, pois a única palavra da banda foi um “boa noite” ao termino do set. Pelo menos não dá pra reclamar que não teve um som diferente no cast.

Fallen Angel (DF)

Quem conhece da história do Heavy Metal de Brasília, com certeza já ouviu falar do Fallen Angel, que foi uma das pioneiras na cidade. Eles estiveram na ativa entre os anos de 1986 e 1988 e o seu fim deu origem a bandas como o Dungeon. Infelizmente essa notícia do retorno, após 30 anos, não foi muito divulgado ou comentado e me espantei que o local não estivesse ainda tão cheio como de costume daquele horário e com o público que essa banda merece.

O Heavy Metal da banda segue uma linha mais tradicional, com letras tanto em português quanto em inglês, num vocal mais limpo, que lembra um pouco a forma com que as bandas de Rock brasileiras cantavam na década de oitenta. O grupo tem riffs bem trabalhados e bons solos também, tudo sem muito exagero e isso realmente torna o som bem agradável por ter esse equilíbrio com o Rock, sem deixar o Metal de lado.

Sons como “Prostituta e Justiça”, “You Want More” e a saideira “Fallen Angel” fizeram o curto set memorável para esse retorno. Gostei de presenciar essa reunião e, mais ainda de saber que o grupo tem planos de gravar material inédito.

La Raza (SP)

Antes de a banda La Raza começar o show em si, alguns samplers de Hip Hop rolavam no PA, feito pelo DJ da banda que fica mais ao fundo. Entre esses sons, teve até a versão que o Sepultura fez da música “Black Steel in the Hour of Chaos”, do Public Enemy. Logo após, algumas sirenes soaram, dando o sinal que a banda começaria o show e entraram com tudo, tocando um som que mistura um pouco de Hardcore, com as influências de Rap. Chegou a me lembrar de algo de Planet Hemp.

A presença de palco deles é bem legal, principalmente a do vocalista Panda, que não fica parado. Ele perguntou que ali curtia Hardcore e mandaram um som na linha de CPM22, com mais peso.

Além das próprias músicas, que animaram bastante o público, Panda questionou se alguém curtia Rage Against The Machine e obtendo uma forte resposta que sim, o grupo mandou a “Bulls On Parade”. Também teve o cover de “Puteiro em João Pessoa”, dos Raimundos, com a participação de Pedro Rocan (Rocan). Esta última foi engraçada pelas rodas que se formaram, que ficaram mais fracas, pois todos estavam mais cantando e pulando do que se empurrando.

Finalizaram o show pedindo um famoso “Wall of Death” e agradaram bastante aos fãs e público.

CadibódE (DF)

O CadibódE foi mais uma banda de Hardcore escolhida para o Porão e conseguiram manter a empolgação da plateia com seu som mais direto e agressivo. Gostei da pegada e dos riffs diretos que a banda toca. Tudo bem na cara e sem muitas firulas.

Divulgando o seu último lançamento “Ficar Doido é Fei”, o grupo tem feito boas turnês pelo país, o que ajudou no entrosamento e na “tranquilidade” de tocarem e se movimentarem pelo palco. Em alguns momentos, percebi alguns arranjos e pegadas mais influenciadas pelo Heavy Metal também.

A banda comentou e agradeceu a todos os parceiros que apoiam a cena, além dos fãs e amigos presentes. Sua última música contou com uma “invasão” de convidados, fechando bem o set.

Project46 (SP)

Uma das atrações mais esperadas da noite foi o Project 46, que estão numa ascendente constante durante os últimos anos. Mesmo sendo uma banda presente no cast do Porão do Rock, os fãs se demonstram bem ansiosos para ver as músicas do último disco “TR3S” (2017) ao vivo. Acredito que a mistura de fãs de variados estilos do Metal e de Hardcore acabaram ficando satisfeitos com a proposta sonora dos paulistanos.

Fale o que quiser da banda, pois gostando ou não do som, é impossível negar que os caras são muito profissionais no palco, desde ao backline próprio, até a execução das músicas. Estou pra ver uma banda que tenha a pegada deles ao vivo, pois eles tocam como se o mundo fosse acabar em breve. A técnica dos guitarristas Vini Castellari e Jean Patton é de impressionar. Mandam muito nos solos, riffs, correm para toda a parte e não param de bater cabeça um segundo. O vocalista Caio MacBeserra também tem uma excelente presença de palco, sempre puxando o público e comunicando-se bem entre as músicas. O baixista Baffo Neto também não fica por menos, além do baterista Betto Cardoso, que dá o seu show a parte ao fundo do palco.

Entre muitos Breakdowns, a plateia respondia a altura, como no refrão de “Erro +55”. “Pânico” e “Rédeas” foram outras músicas que tiveram boa receptividade. Em “Foda-se (Se Depender de Nós)”, novamente o refrão foi bem entoado na plateia. Certamente um dos pontos altos do primeiro dia foi o show do Project 46 que manteve a pegada do início ao fim, mostrando bastante carisma com os fãs, que fizeram bonito também.

Agressivo Pau Pôdi (DF)

O Agressivo Pau Pôdi retornou ao line up do Porão após a sua apresentação no mesmo palco do evento em 2017. Se no ano passado eles tocaram muito cedo e praticamente sem público devido a alguns problemas na abertura dos portões, esse ano foram agraciados com um bom horário e uma bom público para a divulgação de seu recente trabalho “Derreteu Meu Cerebelo” (2017)

O Hardcore tocado pela banda tem várias partes de Reggae que dão uma mudada no andamento do som, indo do pesado ao leve por alguns instantes. Engraçado como a banda levanta a bandeira da legalização da maconha em suas letras, logo e até na roupa de seus integrantes inclusive.

Mesmo não sendo muito o tipo de som que eu goste, foi interessante ter uma banda com um som mais tranquilo após um show de peso como o Project 46, ajudando a não ficar tão cansativo e fizeram um bom show.

Gangrena Gasosa (RJ)

Um fato curioso é que antes do show dos cariocas da Gangrena Gasosa, eu fui ao banheiro, próximo da lateral do palco e escutei uns berros familiares. Era Angelo Arede aquecendo a voz, numa parte reservada aos músicos. De curioso, fui dar uma espiada por um pequeno buraco na grade e lá estava ele, de Zé Pelintra, andando concentrado, de um lado pro outro com o seu “ritual” de preparo para o show que estava por vir.

Não demorou muito para que o grupo iniciasse a “gira” com as faixas “Ponto de Abertura” e “Gente Ruim”, ambas do disco novo “Gente Ruim Só Manda Lembrança Pra Quem Não Presta” (2018) e daí pra frente o que se viu foi uma explosão de energia desses caras no palco. A dupla de vocalistas Angelo Arede e Eder Santana (Omulu) mostrou um entrosamento bem forte, apesar do pouco tempo que tocam juntos. Os dois não param no palco um segundo só. O baixista Diego Padilha (Tranca Rua) e o baterista Renzo Borges (Exu Mirim) também tocam com bastante empolgação. Ao fundo, meio escondida, a Ge Vasconcelos (Pomba Gira Maria Mulambo) impressiona pela força que entra em várias partes das músicas, dando um belo “punch” na sonoridade da banda e isso ficou bem destacado, principalmente em “Black Velho”, a minha preferida da banda pelo trabalho instrumental de todos. Outro integrante que rouba a cena é Minoru Murakami, pois a máscara e capa de Exu caveira, somada a sua incrível técnica na guitarra, realmente o faz algo bem sinistro e curioso de se ver.

Mesmo sem muito papo entre as músicas, para não quebrar a empolgação, Angelo dedicou a “Fiscal de Cu” pra quem fica vigiando a vida alheia. Ainda tiveram as clássicas “Surf Iemanjá”, dedicada às mulheres, “Matou a Galinha e Foi ao Cinema”, com uma pesadíssima base de guitarra e a “Centro do Pica-Pau Amarelo”, com o refrão bem cantado pelos fãs. O público respondia a altura e berravam o refrão, também de música mais novas, como a “Se Deus é 10, Satanás é 666” e “Quem Gosta de Iron Maiden, Também Gosta de KLB”. Perto do final da apresentação, Eder e Minouro mostraram os rostos, sendo que Eder ainda desceu do Palco se juntando ao público em meio a algumas músicas.

O que vimos foi uma tremenda sinergia da banda com os fãs. O Gangrena Gasosa mostrou que estão mais fortes do que nunca e que são um dos nomes mais interessantes e criativos da nossa música. Pra quem tinha alguma dúvida, ficou claro que eles estão em um dos seus melhores momentos, fazendo o seu trabalho, mesmo que haja uma corrente “desagradável” tentando puxa-los para baixo. Particularmente, foi o show que mais curti de todo o festival e se eu já tinha orgulho das bandas brasileiras, o Gangrena Gasosa só fez esse sentimento aumentar.

Deceivers (DF)

O Deceivers é uma banda com bastante reconhecimento na cena do DF, não só pelo tempo de estrada, mas também pela qualidade de seu material. O grupo teve a oportunidade de mostrar e divulgar sons de seu mais recente lançamento, o “Poisoning” (2017), pois tiveram a apresentação cancelada no ano anterior devido a forte chuva que devastou o palco do Porão do Rock.

Com um som bem pesado, indo na mescla entre o Metal, Crossover e um pouco de Hardcore, o quarteto mostrou uma grande presença de palco e habilidade com seus instrumentos. A pegada me lembra de um pouco de Biohazard, mas eles conseguem impor uma personalidade mais própria.

O vocalista Gregório falou um pouco da comum prática da “carteirada” em Brasília, onde algumas pessoas gostam de usar o seu nome para conseguir as coisas e anunciou a “Say My Name” Ele comentou também que a banda não apoia nada relacionado à política quando anunciou a “Fake Campaign”.

Conseguiram prender a atenção do público, apesar de já passar da meia noite e alguns sinais de cansaço físico já eram visíveis no público que estava lá desde as 16 horas. Fizeram um excelente show.

Krisiun (RS)

Pontualmente às 02 horas da manhã, como a programação previa, surgiu uma animação com a capa do disco “The Great Execution” ao fundo e o trio surgiu com uma grande recepção dos fortes guerreiros que ainda restavam no local. Sem dúvidas, o grupo é um dos nomes brasileiros mais respeitados atualmente, tanto no Brasil quanto no mundo e tiveram a oportunidade voltar aos palcos do porão após o já mencionado problema de cancelamento no ano anterior.

A minha coluna que já dava sinais de problema, só piorou, pois é impossível não se empolgar com a música “Kings of Killing” abrindo um show de uma banda tão foda quanto o Krisiun. Não somente essa, mas as pancadarias de ”Ravager” e “Hatred Inherit” são sempre impressionantes, principalmente como Max Kolesne tritura a bateria em todas as músicas, com sua extrema velocidade e pegada.

Moyses e Alex também esbanjam técnica e presença de palco. Os dois conversaram um pouco com o público entre uma música ou outra e deixaram bem claro o quanto estavam felizes em ver que a galera ainda fazia roda, mesmo depois da maratona de shows e o quanto gostam de tocar em Brasília.

Um fato engraçado foi a “Slain Fate” ser anunciada como uma música mais calma, pois apesar de seu ritmo mais cadenciado, a sua levada e riffs é sempre algo muito empolgante e mostra um lado mais trabalhado do som. A banda também atendeu a quem estava pedindo alguns sons mais antigos e mandaram a “Vengeance Revelation”.

As surpresas do set foram o cover de “Aces Of Spades”, do Motörhead e a nova música “Scourge Of The Enthroned”, que foi tocada pela primeira vez no Brasil nesse dia. Outra que me agradou muito foi a “Ways of Barbarism”, mostrando uma cara um pouco diferente da banda e a extrema habilidade de Moyses na guitarra.

Mais uma vez fizeram por valer a espera e assim como Alex comentou que eles têm muito orgulho de serem brasileiros, apesar do momento em que o país está vivendo, nós também temos muito orgulho de ter o Krisiun representando o nosso país.

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