Sirenia – Jai Club, São Paulo/SP (23/03/2025)
Produção: Venus Concerts
Texto e fotos por Matheus “Mu” Silva
Pela terceira vez no Brasil e quatorze anos após sua última passagem por aqui, a banda norueguesa de Gothic Metal Sirenia teve seu tão aguardado retorno ao nosso país. Anteriormente prevista para tocar no Sadness and Pain Festival, em São Paulo, juntamente com Saturnus e Novembers Doom, o evento, previamente organizado pela MAD Produtora, foi cancelado. No entanto, tanto a data da capital paulista quanto as demais marcadas em outras cidades conseguiram ser remanejadas pela Venus Concerts, o que levou a banda a realizar um show solo em São Paulo, na Jai Club, em mais uma operação que se fez necessária para que a banda pudesse tocar em nosso país.
Um dos nomes mais proeminentes do Gothic Metal mundial, o Sirenia foi criado pelo guitarrista e vocalista Morten Veland em 2001, após sua saída de outro grande nome do estilo, o Tristania, onde gravou os dois primeiros discos da banda, sendo um deles o clássico Beyond The Veil (1999). Mesmo com diversas mudanças de formação, principalmente nas trocas constantes de vocalistas femininas, a banda ainda assim conseguiu construir obras muito apreciadas e expressivas do estilo, como At Sixes and Sevens (2002), An Elixir of Existence (2004) e Perils of the Deep Blue (2013).
Uma curiosidade acerca da construção musical da banda é que Morten usou bateria eletrônica em praticamente todos os discos de estúdio do Sirenia, com exceção dos dois últimos, Riddles, Ruins and Revelations (2021) e 1977 (2023), onde o atual baterista Michael Brush (na banda desde 2019) efetivamente gravou as linhas de forma orgânica. Outro fato curioso é que a banda não tem baixista. Ao vivo, usam linhas de baixo programadas, sendo que somente em 2008 chegaram a usar um baixista ao vivo, se apresentando como quarteto. Toda a parte sinfônica também é programada.
Além dos membros citados, a banda ainda conta com o guitarrista Nils Courbaron (membro desde 2018) e Emmanuelle Zoldan, a vocalista mais longeva da história do Sirenia, integrando a formação há nove anos, desde 2016.
O show da atração de abertura, BrightStorm, começou às 19h. Na ativa desde 2012, a banda de Symphonic Metal de São José dos Campos/SP, capitaneada pela vocalista Naimi Stephanie, está divulgando seu lançamento mais recente, o EP Deep Higher Thoughts (2024), e vem conquistando cada vez mais espaço na cena nacional, tocando inclusive em outras duas datas juntamente com o Sirenia, sendo uma no dia de ontem, em Limeira/SP (22), e outra na próxima quarta-feira (26), em Santo André/SP.
Fazendo uma apresentação carregada de energia e carisma, a banda foi um ótimo aquecimento, brincando entre si no palco e agitando o público de forma descontraída, sem abrir mão de executar um show preciso e bem feito. Músicas como My Mind, Never Alone e Lost demonstraram por que são uma banda que merece o destaque que vem recebendo, realizando uma ótima apresentação durante os 40 minutos de set, o que só deixou o público ainda mais animado para a atração principal.
Setlist BrightStorm:
To Follow My heart
My Mind
Deep Higher
The change of seasons
Never Alone
The Awakening
Powerfull
Lost




Às 20h15, foi a vez da atração da noite iniciar sua apresentação, e o Sirenia começou com a música Addiction No. 1 (Riddles, Ruins and Revelations, 2021). No entanto, a faixa seguinte, Dim Days of Dolor, do disco homônimo de 2016, já foi suficiente para levantar o público, que fez coro com a parte orquestrada inicial e bateu cabeça junto.
Aliás, tanto o Sirenia quanto o BrightStorm utilizam o recurso das partes sinfônicas pré-programadas, o que, por mais que seja funcional, tira um pouco do fator orgânico do show. Ainda assim, isso não compromete a apresentação, afinal, faz parte do conceito da banda ao vivo desde sempre.
Alguns problemas técnicos antecederam a execução de Into the Night (Arcane Astral Aeons, 2018), momento em que o guitarrista Nils contornou a situação fazendo um solo de guitarra e tocando um trecho de Wasted Years, do Iron Maiden, para entreter a galera. Logo depois, o show voltou ao eixo e continuou com a ótima Deadlight (1977, 2023), The Last Call (Nine Destinies and a Downfall, 2007) e Lost in Life (The 13th Floor, 2009). Com o público já na mão, a banda seguiu com In Styx Embrace (Arcane Astral Aeons, 2018), uma das mais celebradas da noite, com banda e plateia batendo cabeça em um dos momentos mais enérgicos da apresentação. Foi também nessa música que Morten finalmente trouxe os guturais e doses de brutalidade para o show.
Durante toda a apresentação, a vocalista Emmanuelle se mostrou extremamente carismática, fazendo caras e bocas e dançando o tempo todo, enquanto os guitarristas, sorrindo constantemente, exalavam a alegria de tocar no Brasil. Esse entusiasmo ficou ainda mais evidente nas músicas seguintes, como This Curse of Mine (Riddles, Ruins and Revelations, 2021), além de uma dobradinha do 1977 (2023) com A Thousand Scars e Nomadic.
Em seguida, a banda voltou aos primórdios de sua carreira, com Morten saudando os brasileiros em bom português e apresentando a clássica Meridian (At Sixes and Sevens, 2002). Nesse momento, a banda se apresentou como trio até a entrada de Emmanuelle na segunda metade da música, conduzindo a execução em mais um trecho recheado de peso, para a alegria dos fãs.
Logo depois, um cover um tanto inusitado: Voyage, Voyage, da cantora francesa Desireless, um hit dos anos 80, ganhou uma versão totalmente adaptada ao estilo do Sirenia, tornando-se um dos momentos mais divertidos do show. A banda seguiu com outro clássico, Sister Nightfall, novamente resgatado do álbum de estreia At Sixes and Sevens (2002), e encerrou a primeira parte do set com Wintry Heart (1977, 2023).
“Encerrou” entre aspas, pois Emmanuelle, em um primeiro momento, anunciou que aquela seria a última música da noite, mas logo se entregou ao entusiasmo e revelou que tocariam mais algumas, arrancando risadas da banda e animando os presentes.
Para o bis, a banda mandou uma dobradinha do Nine Destinies and a Downfall (2007), com My Mind’s Eye e The Other Side (nesta, o guitarrista Nils dividiu os guturais com Morten), finalizando a apresentação com a derradeira The Path to Decay (The 13th Floor, 2009). Com isso, o Sirenia encerrou seu set de aproximadamente 90 minutos, sendo ovacionado pelo público no final.
Setlist Sirenia:
Addiction No. 1
Dim Days of Dolor
Into The Night
Deadlight
The Last Call
Lost in Life
In Styx Embrace
This Curse of Mine
A Thousand Scars
Nomadic
Meridian
Voyage, Voyage (Desireless Cover)
Sister Nightfall
Wintry Heart
My Mind’s Eye
The Other Side
The Path to Decay





A noite chuvosa de domingo foi palco de dois shows muito interessantes, que trataram passado e presente com o devido respeito. O BrightStorm trouxe toda a influência do Sirenia, enquanto o próprio Sirenia demonstrou o quanto seu som continua atual. A espera de quase 14 anos foi recompensada com uma apresentação marcante, que certamente fez a alegria dos fãs do estilo.
Vale destacar também o trabalho da Venus Concerts, que conseguiu manter a turnê e o show mesmo diante das adversidades, garantindo um espetáculo de excelente qualidade musical e sonora.