Skeletal Remains – Mirage Eventos, Limeira/SP (31/05/2025)
Produção: Tumba Productions
Abertura: Faces Of Death, Desdominus e Nervochaos
Texto e fotos por: Matheus “Mu” Silva
Pela segunda vez no Brasil, e quase três anos após sua primeira passagem por aqui, a promissora banda norte-americana de Death Metal Skeletal Remains finalmente retornou ao país. Na primeira vinda, o grupo fez parte do cast do tradicional Setembro Negro Festival, em São Paulo, com show único no Brasil. Desta vez, porém, a banda realizou uma extensa turnê, com dez datas — sendo a de hoje (31) a penúltima, em Limeira/SP, e encerrando amanhã (01) em Arujá/SP.
Com produção da Tumba Productions, vale destacar que, mais uma vez, eles priorizaram ingressos com preços realmente acessíveis. Em tempos em que shows se tornaram um item de luxo, com valores muitas vezes exorbitantes, é sempre louvável ver quem faz um esforço real para que todos possam prestigiar bandas relevantes para a cena, sem precisar gastar um rim pra isso.
Formado em 2011, na Califórnia, o Skeletal Remains pratica um Death Metal old school de altíssima qualidade, carregado de brutalidade incessante, riffs criativos e cheios de pegada — um verdadeiro prato cheio para os fãs do estilo. Isso explica a crescente atenção que a banda vem conquistando ao longo dos anos. Liderado pelo vocalista e guitarrista Chris Monroy, único membro original desde o início e presente em todos os álbuns, o grupo vem pavimentando seu caminho na cena extrema com discos extremamente relevantes para o atual momento do Death Metal. Destaque, claro, para o mais recente trabalho, Fragments of the Ageless (2024), um verdadeiro petardo que coroa a sólida trajetória construída ao longo desses 14 anos de existência.
Pontualmente às 19h, quem abriu os trabalhos foi o Faces of Death, banda de Pindamonhangaba/SP, formada originalmente em 1990, que esteve em hiato entre 1997 e 2017, e desde então vem retomando sua trajetória com força total. O grupo segue divulgando seu mais recente álbum, Evil (2023), e apresentou um set de 40 minutos, despejando seu Thrash/Death Metal brutal e enérgico, que agitou principalmente quem já acompanha mais de perto sua caminhada. Sons como “Usurpers of Souls”, “Evil”, “Stronger Than You” e a derradeira “Killer… In the Name of God” cumpriram muito bem o papel de aquecer o público. Apesar do som estar um pouco estourado, isso não comprometeu em nada a apresentação, que teve uma resposta incrível do público — boa parte dele, inclusive, vinda de um ônibus lotado com seus fãs! Isso é atitude underground na veia. Todos estão de parabéns!

Às 20h, foi a vez da veterana Desdominus, de Americana/SP, tomar o palco, destilando seu poderoso e brutal Death/Black Metal. Formada em 1993, a banda — que carrega claras influências de nomes como At The Gates — já contou com uma melhora significativa no som em relação à banda anterior, o que contribuiu para uma apresentação ainda mais impactante. Abrindo o show com uma de suas músicas mais conhecidas, “Certo e Convicto”, do álbum Uncreation (2015), a banda encontrou a casa mais cheia e fez, sem dúvida, um dos melhores shows da noite. Ovacionados após cada execução destruidora ao longo dos seus 40 minutos de set, mostraram-se uma escolha extremamente acertada para representar a região no evento.

Às 21h15, subiu ao palco a tradicional banda paulistana de Death Metal Nervochaos. Liderados pelo incansável baterista Edu Lane, e beirando os 30 anos de estrada, eles seguem sendo provavelmente a banda mais ativa do Brasil, constantemente na estrada, tanto no país quanto no exterior — e nesta turnê acompanharam o Skeletal Remains em todas as datas. Executando seu Death Metal old school, na pegada da escola oitentista do gênero, o grupo trouxe músicas do mais recente álbum, Chthonic Wrath (2023), além de clássicos adorados pelo público, como a já tradicional dobradinha “Pazuzu Is Here” (sempre precedida pela célebre frase “Deus não está aqui esta noite!!”) e “Total Satan”, ambas do álbum Battalions of Hate (2010), e ainda “For Passion, Not Fashion”, do disco The Art of Vengeance (2014). Encerraram com a poderosa “To The Death”, faixa-título do álbum de 2012. Com um set direto e brutal, de 40 minutos, o Nervochaos fez exatamente o que se espera deles: um show honesto, destruidor e fiel ao que o Death Metal representa em sua essência.

Com 30 minutos de atraso — por conta da troca de equipamentos —, finalmente às 22h30, a atração principal, Skeletal Remains, subiu ao palco. O set foi majoritariamente focado no recém-lançado Fragments of the Ageless (2024), com pedradas como “Void of Despair”, “To Conquer the Devout”, “Relentless Appetite” e a devastadora “Unmerciful”, além da matadora “Beyond Cremation”, do álbum Condemned to Misery (2015), que foi um dos pontos altos da apresentação, escancarando as influências diretas de nomes como Morbid Angel e Obituary no som da banda. A resposta do público foi intensa, com pedidos constantes para abertura de rodas, prontamente atendidos nos momentos mais brutais. Um destaque absoluto da apresentação foi o baterista Ruston Groose, cuja técnica, precisão e pegada são realmente impressionantes, somando-se à entrega visceral de todos os músicos. O som, aliás, estava bem superior ao das bandas de abertura. Após apenas 40 minutos, o grupo deixou o palco sem cerimônia, o que pegou muita gente de surpresa. Parte do público permaneceu alguns minutos pedindo um bis que não veio, o que gerou certa frustração, especialmente devido ao set relativamente curto — ainda que executado de forma absolutamente primorosa.



Mais uma vez, o underground brasileiro deu uma aula de resistência e paixão neste sábado, em um evento acessível, dedicado à música extrema e pesada. O contraste entre três veteranas da cena nacional e uma das forças mais relevantes do Death Metal atual, aliado ao ótimo público presente, comprova que as coisas no Brasil realmente acontecem — para quem faz acontecer.
Obrigado Tumba Productions pela parceria e principalmente pelo profissionalismo de sempre!