Streaming, gravadoras e músicos: uma visão geral de um novo estilo de consumo de música! E a velha máxima de deixar os músicos de fora da receita!
Por Mauro B. Fonseca
Streaming legalizado, com aval das gravadoras! E os músicos?
Após o advento do Napster, a indústria musical nunca mais foi a mesma, quer dizer, para os executivos! Para os músicos ela continua igual, são sempre excluídos dos lucros. Se para músicos consagrados e que possuem uma grande base de fãs, o dinheiro está “ruim”, imagine para os artistas independentes, e para aqueles que estão iniciando as suas carreiras, ou ainda para aqueles que resolveram se aventurar pelo árduo caminho de estilos renegados, como o nosso bom e sempre amado, Heavy Metal!
Como será que são remunerados os artistas de Metal nestas plataformas? Será que vale a pena colocar suas músicas à disposição nestes serviços de streaming? A tua banda será conhecida pelo simples fato de figurar em uma plataforma de streaming? E para os usuários, como encaram esta nova forma de ouvir música? Quais as modificações podem trazer para o público?
Antes de tocar nas perguntas acima, vamos a alguns fatos, velhos, tão velhos quanto o próprio Metal. A grande maioria dos músicos de Metal não sabe cuidar da própria carreira, não tem a visão de “carreira” para se profissionalizar. Claro há exceções, são poucas, mas existem. A grande maioria dos músicos do estilo tem outra fonte “oficial” de renda, seja aqui no Brasil, ou no exterior, isso é um fato! Muitos “músicos” de Heavy Metal têm grande dificuldade para manter estável a carreira, por falta de dinheiro, não há fórmula mágica, sem dinheiro, sem música!
Antes de se perguntar se vale a pena colocar tuas músicas em qualquer lugar, você e a tua banda deveriam se preparar para a “burrocracia” do mundo real (aqui tem uma amostra de um curso que pode te ajudar: https://itsrio.org/pt/cursos/direitos-autorais-da-musica/). Procure por cursos que te ajudem a se proteger. Sim, é um pé no saco eu sei, mas é a tua arte que está em jogo! Cerque-se de profissionais competentes, isto lhe custará algum dinheiro sim! Uma boa assessoria nunca te promete retorno imediato, te promete trabalho árduo e comemorará contigo os menores frutos deste trabalho! Nada vem fácil e nada é de graça. Se você quer vender a tua música, precisa investir no trabalho de outros profissionais, aceite isso e decida em conjunto com a tua banda se este é mesmo o caminho que querem trilhar, ou se preferem gastar a grana em cerveja. Após esta decisão vocês serão bem mais felizes, seja qual for a decisão. Dito isso vamos voltar ao ponto deste artigo.
Pelas minhas pesquisas, os artistas reclamam do baixo retorno financeiro dado pelas plataformas de streaming, e a falta de clareza dos algoritmos utilizados para pagamento dos artistas. Muitos ainda reclamam da falta de transparência das plataformas quanto ao número de acessos em cada música. Grande parte das reclamações são de músicos, não de gravadoras. Por certo que seria assim, as gravadoras recebem cerca de 80 a 90% do valor a ser pago por faixa executada. Enquanto isso os músicos amargam os recebimentos atrelados à autoria das faixas. Aqui no Brasil o representante mais conhecido para repasse dos direitos autorais é o ECAD. Em todos os meus anos dentro do Heavy Metal, nunca ouvi falar de um único músico sequer deste estilo que tenha recebido dinheiro desta instituição. Se for o teu caso, por favor deixe algumas palavras nos comentários.
Foi divulgado em 2017, que em 2016, os serviços de streaming alcançaram mais ou menos 250 bilhões de reproduções. Houve uma proliferação de plataformas para streaming de música, o próprio Youtube sinalizou que lançaria em 2015 a sua própria plataforma de streaming de áudio, o que ainda não se efetivou. Descobri, ao realizar a pesquisa para este artigo, que o Napster (sim esse mesmo, que abriu a porteira para a troca de arquivos no formato P2P, e que depois foi processado pelo Metallica) tem a sua própria plataforma legalizada de streaming com aproximadamente 3 milhões de usuários que pagam por volta de R$ 15,00 por mês para terem acesso a aproximadamente 36 milhões de músicas.
Dentre as plataformas mais conhecidas, e com maior número de usuários, estão o Spotify, o Deezer (oferecido para clientes da operadora de telefonia TIM aqui no Brasil), o Google Play Música (que vem instalado em TODOS os celulares e tablets com sistema Android) e o Youtube (mesmo sendo conhecido por streaming de vídeo, muitos usam para ouvir música e que também vem instalado em TODOS os celulares e tablets com sistema Android).
Apesar de todo o falatório em torno das plataformas digitais, ainda não há um consenso, entre os músicos, sobre o benefício ou malefício das plataformas, para músicos e bandas. Por exemplo Rick Rocha, guitarrista da banda paulista Laboratori, entende que as plataformas de streaming auxiliam as bandas, em especial as iniciantes. Afirma também que a CD Baby (que distribui e fiscaliza os streamings em outras plataformas) presta um serviço de qualidade e transparente para a banda, fiscalizando a monetização de músicas em plataformas e sites pela internet, serviço este que seria virtualmente impossível para a banda realizar. Ele e a banda estão felizes com o serviço e colocarão o próximo álbum para ser veiculado por streaming, mesmo sabendo que as plataformas não gastam um centavo em propaganda com as bandas, cada banda tem que gastar para realizar a própria propaganda.
Por outro lado, Carlos Digger do Makinária Rock, disse em uma entrevista na internet, não gostar deste formato, mas entende que a banda não pode se excluir do mercado, seria muito prejudicial para a banda, na visão dele. Assim como muitos de nós, ele ainda prefere o material físico. Até mesmo artistas pop com base de milhões de fãs andam propagando sentimentos contra as plataformas e alguns até retirando suas respectivas músicas do serviço, por conta da baixa remuneração.
Para os usuários, aparentemente, é o pote de ouro no final do arco-íris, uma vez que pagam uma taxa mensal para “alugar” um acervo (desculpe-me, mas do meu ponto de vista o acervo é alugado) de milhares e milhares de músicas. Pensando pelo lado prático, é mesmo, uma vez que não se faz necessário levar pilhas e pilhas de mídias físicas para todo canto, e ter apenas um milésimo de músicas à disposição. Pelo lado financeiro também é uma grande economia, uma vez que a taxa cobrada, muitas vezes é pequena em relação ao tamanho do acervo.
Há ainda uma “bela opção” para os usuários, em que não é nem necessário desembolsar a taxa mensal para ter acesso ao acervo de milhões de músicas, ou seja, totalmente gratuita a possibilidade de ouvir música, isso para o usuário final é excelente. Porém como já diziam pessoas bem mais inteligentes do que eu: “Não existe almoço grátis!” Alguém vai pagar por esses usuários, lógico! E claro, para estes usuários, as funcionalidades são reduzidas, por vezes até a qualidade de execução da música é menor, e ainda há que suportar os anúncios entre faixas de tempos em tempos. Sem contar a impossibilidade de se escutar um álbum do início ao fim, na ordem das faixas.
Mesmo com toda as benesses que as plataformas digitais podem trazer para gravadoras, usuários e músicos, sempre é bom ter cuidado com as leis. Por exemplo o Spotify já foi processado em mais de duas oportunidades por quebra de direitos autorais. A tua arte deve ser sempre assegurada. Papel! Lembra lá no início do artigo que falamos sobre a burocracia? Previna-se!
Para começar a responder algumas das questões formuladas acima, vamos apresentar alguns números. Pagar os músicos, que na minha opinião deveria ser a peça mais importante e consumir a maior parte do orçamento de todas as plataformas, me parece não ser a prioridade das empresas. Segue abaixo uma lista (desatualizada) de valores pagos por stream por música e uma estimativa de usuários de cada plataforma, organizadas em ordem decrescente de remuneração.
Os números são assombrosos, né? Suponhamos que todos os usuários do Youtube assistissem/ouvissem uma única música, o proprietário dos direitos receberia 900 mil dólares. Imagine por alguns segundos que você fosse o proprietário dos direitos do vídeo mais assistido do Youtube, que teve 5.625.411.334 visualizações, esse proprietário recebeu 3.375.246,80 dólares. Entretanto, quanto tempo levou para ter esse número todo de acessos? E mais importante ainda, quem ficou com a maior parte dessa grana toda?
Imagine quanto ganha uma gravadora que tem 10 hits de sucesso! Sabendo que o valor recebido pelo artista, está entre 10 e 20% do valor pago pela plataforma. Agora, lembre-se que, para ganhar esses valores imensos a tua música e a tua banda precisam agradar o público. Lembre-se também que, a parcela da população que curte Heavy Metal, é consideravelmente menor do que a que se presta ouvir outros estilos de música.
Sobre valer a pena colocar ou não as músicas nas plataformas, vamos lembrar que até pouco tempo atrás, as bandas underground ganhavam ZERO reais por suas músicas, portanto a possibilidade de ganhar algum dinheiro com a tua arte, deve ser sim valorizada e aproveitada. Tudo vai depender do quanto você e a tua banda estarão dispostos a trabalhar em prol do reconhecimento e da profissionalização do teu trabalho. Quanto mais pessoas conhecerem e gostarem das tuas músicas, maior será o retorno. Parece meio óbvio! E se não tiverem um “intermediário” para ficar com 80 a 90% do que a banda receberia, melhor. Tudo vai depender daquela conversa que mencionei lá no começo do texto!
As plataformas, pelas respostas que obtive de alguns músicos, não fazem propaganda alguma de qualquer banda que seja, isso ficará a cargo da banda ou da gravadora. Mesmo as propagandas dentro das plataformas, são pagas. Ou pelos artistas, ou pelas gravadoras. O simples fato de ter as tuas músicas numa plataforma de streaming, não representará necessariamente que a tua banda tem inúmeros fãs. Bom exemplo é a banda norte-americana Threatin, que comprou grandes quantidades de “audições” em uma plataforma de música e agendou diversos shows pela Europa, o maior público que esteve presente ao show da banda, foi de 3 pessoas, uma vez que ninguém conhecia a banda. Então trabalho duro para divulgar, fazer shows, suar a camisa para obter algum reconhecimento real sempre fará parte das obrigações da banda.
Aparentemente quem se dá melhor (não financeiramente falando, já que pagará pelo serviço) neste sistema é o usuário, que pode “carregar” consigo milhares e milhares de músicas por um preço relativamente baixo. Apesar de ser um acervo de músicas “alugadas”, uma vez que ao encerrar o pagamento do plano de adesão à plataforma, o usuário terá o acesso encerrado (algumas plataformas permitem acessos gratuitos, com inserção de comerciais e bloqueio de algumas funcionalidades).
As bandas também se beneficiarão de uma “vantagem”, que até então parecia impossível de combater, o download ilegal de músicas (ele sempre existirá, fato!), uma vez que ao lançar as músicas em uma plataforma de streaming, a banda tem alcance mundial no mesmo minuto, para que alguém se daria ao trabalho de baixar ilegalmente as músicas?
Para finalizar, a tecnologia está aí, nunca mais poderemos voltar ao tempo em que ela não existia! Para sobreviver devemos nos adaptar, ou amargar enormes derrotas. As bandas (e de modo geral, os músicos) atuais deverão se adaptar para reivindicar seus direitos para não serem passadas para traz. Um tempo atrás Mario Linhares (falecido há pouco mais de um ano atrás) reclamou em suas redes sociais que alguém havia colocado os álbuns do Dark Avenger em uma das plataformas de música, e claro recebendo os dividendos das “audições” que as músicas tinham. Não sei se as providências legais chegaram a ser tomadas, mas como sempre digo, proteja-se contra os espertinhos, nacionais e internacionais! Evite que a tua banda seja usada para encher os bolsos alheios.
Alguns percalços aqui no Brasil ainda devem ser superados, provavelmente em cada país há alguma coisa que faz com que o serviço para o consumidor final, não seja perfeito. Por exemplo, para escrever esta matéria, utilizei por um período uma das plataformas de streaming, um dos principais problemas que encontrei foi escutar música no metrô de São Paulo. Nos túneis não há internet, sem internet, sem streaming, logo sem música. Alguns lugares da maior cidade do país também não têm sinal de internet, imagino como deve ser fora da Metrópole!
Enfim, e você caro leitor, como utiliza as plataformas de streaming? Qual o teu hábito para consumir música? Deixe as tuas impressões sobre esta tecnologia no formulário abaixo. Ajude-nos a mapear como os Headbangers usam esta tecnologia, tanto na posição de usuários, quanto na posição de banda ou gravadora.
Link do formulário: https://goo.gl/forms/DvF3XvD1ZAIlVTcf2
Divirta-se!
Mauro B. Fonseca
Fontes (que foram consultadas entre janeiro e dezembro de 2018):
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https://tratore.wordpress.com/2015/11/24/dicas-tratore-spotify-deezer-apple-music-como-funciona-o-streaming-de-musica-para-os-artistas/
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http://exame.abril.com.br/revista-exame/apenas-2-centavos-por-musica/
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http://www.uai.com.br/app/noticia/musica/2017/04/05/noticias-musica,204642/spotify-assina-acordo-e-vai-pagar-mais-aos-artistas-da-universal-music.shtml
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https://oglobo.globo.com/cultura/musica/musicos-questionam-direitos-autorais-em-servicos-de-streaming-15934958
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https://www.showmetech.com.br/spotify-lucro-artista/
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http://gizmodo.uol.com.br/artistas-catalogo-spotify/
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http://www.dci.com.br/servicos/plataforma-permite-que-estabelecimentos-usem-musica-ambiente-sem-pagar-taxa-ao-ecad-id573461.html
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http://tecnologia.ig.com.br/2017-02-10/streaming-direitos-autorais.html
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http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/streaming-ja-e-principal-fonte-de-receitas-da-musica-nos-eua.ghtml
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https://www.cartacapital.com.br/revista/940/stj-abre-brecha-para-a-cobranca-de-direitos-autorais-de-musicas-na-internet
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http://sei.cade.gov.br/sei/institucional/pesquisa/documento_consulta_externa.php?jNlKNVkjneAJM88p3E4nqYkzEmtBBl4A9PN9jE_0e6BybPZ9jjFiAtUhQQ962RxL5FLLRUcn6kBJNCvCh9yhdQ,,
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http://radiosparx.com.br/site/?gclid=COzjsrGO89QCFYQEkQodpX8IrA#Início
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https://canaltech.com.br/noticia/musica/radios-transmitidas-via-internet-agora-devem-pagar-diretos-autorais-aos-artistas-88920/
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http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2017/06/09/internas_viver,708091/taylor-swift-volta-a-disponibilizar-musicas-em-servicos-de-streaming.shtml
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http://idgnow.com.br/internet/2017/06/16/spotify-alcanca-a-marca-de-140-milhoes-de-usuarios-pelo-mundo/
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https://itsrio.org/pt/cursos/direitos-autorais-da-musica/
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https://canaltech.com.br/noticia/musica/quanto-taylor-swift-ja-ganhou-depois-de-voltar-para-os-servicos-de-streaming-95774/#
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http://portalguandu.com.br/noticia/62965/spotify-chega-a-140-milhoes-de-usuarios-e-receita-cresce-a-us-3-3-bilhoes
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https://www.tecmundo.com.br/mercado/125697-novo-spotify-leva-processo-us-1-6-bilhoes-quebra-de-copyright.htm
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https://www.tecmundo.com.br/software/119548-spotify-recebe-dois-processos-violacao-direitos-autorais.htm
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https://top10mais.org/top-10-videos-mais-vistos-Youtube/
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https://canaltech.com.br/musica/comparativo-qual-e-o-melhor-streaming-de-musica-disponivel-no-brasil-45039/