The Black Spade – “… E do Fim se faz o Início” (2024)
Black Heart Records
#BlackMetal
Para fãs de: Bathory, Venom, Darkthrone, Celtic Frost, Hellhammer, Immortal, Sodom, Isengard
Texto por Thiago Loureiro
Nota: 10
“The Black Spade” é uma banda underground de Black Metal que tem em suas raízes a cultura Kimbanda ou Quimbanda, um conceito religioso afro-brasileiro com origem na mitologia Bantu, ainda controverso quanto à sua real definição na atualidade. Por vezes, é classificada como uma religião autônoma e, por vezes, como uma Linha de Trabalho (Linha de Esquerda) da Umbanda e do Candomblé, ou seja, uma modalidade de atuação e conhecimento do mundo astral e espiritual, onde umbandistas têm a possibilidade de fazer uso da magia e feitiços para atingir objetivos, sejam eles práticos ou ligados à evolução espiritual, pregados pelo culto a Exu e Pomba Gira.
Suas entidades, conhecidas como “Povo da Rua”, dividem-se entre Exus (masculinos) e Pombas Giras (femininas), ambos mensageiros e guardiões que vibram nas matas, cemitérios, encruzilhadas, etc.
A Quimbanda trabalha diretamente com os Exus e com as Pambu Ia-Njila (Pombas Giras), de uma forma não praticada na linha direita da Umbanda, pois esta trata do culto aos Orixás. De acordo com a cosmologia umbandista, Exus e Pombas Giras manipulam tanto forças negativas quanto positivas – o que não significa que sejam malignos: as raízes da cosmovisão da Kimbanda não adotam a divisão maniqueísta entre bem e mal. Os Exus e Pombas Giras da Quimbanda diferenciam-se das Kiumbas (e atuam contra elas), que são espíritos obsessores presos à terra por atrasos em sua evolução e que, por vezes, podem mesmo se manifestar fantasiados de falsos Exus e Pombas Giras.
Os Exus e Pombas Giras trabalham basicamente para o desenvolvimento espiritual das pessoas, com o intuito de evolução espiritual, além da proteção de seus médiuns. Como são as entidades mais próximas à faixa vibratória dos encarnados, apresentam muitas semelhanças com os humanos.
A entrega de oferendas é comum na Kimbanda, assim como na Umbanda, mas varia de acordo com cada entidade. Podem ser oferecidas bebidas alcoólicas, como cachaça (Marafo), uísque, vinho, sidra, conhaque, entre outras, além de velas, charutos e cigarros.
O caminho da mão esquerda é uma filosofia esotérica que se opõe ao caminho da mão direita. Ambos os termos são utilizados na tradição esotérica ocidental para descrever grupos envolvidos com magia cerimonial e ocultismo.
O termo “caminho da mão esquerda” foi cunhado por Helena Blavatsky, ocultista do século XIX, inspirada na dicotomia hinduísta entre Vāmamārga e Dakṣiṇācāra, que significam, respectivamente, “caminho da mão esquerda” e “caminho da mão direita”.
Vāmamārga era uma prática tântrica indiana que envolvia a quebra de tabus sociais hindus. O livro Malandros e Adversários do Caminho da Mão Esquerda aborda temas como Exu, o culto da Quimbanda, o Deus Pã, Nyarlathotep, os Reis Infernais, entre outros.
Como todos sabemos, a banda The Black Spade tomou forma no ano de 2017, no estado de São Paulo, com ramificações existentes na Itália (Agliè, Piemonte). Como forma cultural de vida e ações, seus membros sempre foram praticantes e vivem diariamente a cultura Quimbanda em seus objetivos e caminhos de vida.
Obs: A banda foi idealizada em 2004 como Condessa Sangrenta, em São Paulo, mas se estabilizou em 2017 como The Black Spade.
Este é o álbum que renova a cena do Black Metal brasileiro. De longe, também é um dos álbuns mais importantes para se ter em qualquer coleção de Heavy Metal conhecida pela humanidade. Este foi o primeiro lançamento de álbum completo de estúdio da banda, que, na minha opinião, é o melhor e possivelmente o mais destacado de 2024.
Neste álbum, você tem tudo o que qualquer banda de Black Metal faria em sua carreira: música rápida, seguida por guitarras estridentes que soam como estática; bateria blast beat abafada (que, na minha opinião, soa como um cara levando um soco no rosto repetidamente, mas aprofundado ao máximo); baixo profundamente distorcido, que é quase inaudível e, o mais importante, os vocais revolucionários e desumanos de gritos de morte executados pelo vocalista.
Agora, este álbum é verdadeiramente revolucionário para a sua época, já que nenhuma música como esta foi produzida antes, talvez desde 1984. Na época, Quorthon, vocalista principal e multi-instrumentista da banda Bathory, tinha apenas 17 anos e foi o principal propulsor e motivador que a banda tem como referência em suas magníficas criações de canções magníficas e extremamente espetaculares e emocionantes pra c*o!!!!
Eu, Thiago Loureiro, vejo neste magnífico álbum algo que está entrando para a história como um ícone do metal extremo underground dos anos 80/90 e que merece uma reputação muito maior. Mas o que eu pessoalmente amo neste álbum não é apenas a música, mas o esforço e a inspiração, que foram mais do que incríveis.
Pois aqui você começa com uma peça atmosférica sombria, onde o ruído ambiente se combina com os efeitos sonoros de uma forte tempestade de morte. Além disso, de vez em quando, um certo tipo de transe hipnótico te leva a refletir sobre todos os seus atos como ser humano.
Na minha opinião, neste álbum vejo presente a quintessência da escuridão e do mal. Desta forma, as músicas exalam riffs, guitarras, baixos, vocais, baterias e percussões que sempre me levam a viagens folclóricas e pagãs, como as da banda Bathory, entre outras…
Aqui temos riffs extremos das guitarras principais, baterias batendo ferozmente, onde tudo é cativante, brutal e mortal. Porém, existem momentos em que a bateria é mais calma, mas a guitarra e o baixo ainda permanecem fiéis a serem incríveis. A bateria retorna com batidas mais intensas, enquanto as guitarras produzem riffs marcantes, que podem ser facilmente identificados – ao contrário de algumas bandas de Black Metal que tendem a ter o problema de usar ritmos e riffs monótonos, a ponto de cada música soar igual. Bem, neste caso, The Black Spade é o oposto total disso.
Enfim, este é um excelente lançamento de álbum, totalmente recomendado!!!!