VAN HALEN: 35 Anos de “5150”
Texto por João Paulo Gomes
Depoimento/Diagramação/Edição/Atualização por Johnny Z.
VAN HALEN – “5150”
24 de Março de 1986
Faixas:
“Good Enough”
“Why Can’t This Be Love”
“Get Up”
“Dreams”
“Summer Nights”
“Best Of Both Worlds”
“Love Walks In”
“5150”
“Inside”
Formação:
Sammy Hagar – Vocal/Backing Vocals
Eddie Van Halen – Guitarras/Teclados/Backing Vocals
Michael Anthony – Baixo/Backing Vocals
Alex Van Halen – Bateria
Ficha Técnica:
Warner Brothers Records – Gravadora
Dan Chapman – Ilustração
Ken Deane – Engenharia de Som
Bobby Hata – Masterização
Mick Jones – Produção
Donn Landee – Produção e Engenharia de Som
Jeri McManus – Direção de Arte
Aaron Rapoport – Fotografia
Van Halen – Direção de Arte
Alex Van Halen – Produção
Eddie Van Halen – Produção
Singles / Charts:
“Why Can’t This Be Love” – Billboard Hot 100 #3 e Mainstream Rock #1
“Dreams” – Billboard Hot 100 #22 e Mainstream Rock #6
“Love Walks In” – Billboard Hot 100 #22 e Mainstream Rock #4
“Best Of Both Worlds” – Mainstream Rock #12
“Summer Nights” – Mainstream Rock #33
“Conheci o Van Halen em 1987, um ano após o lançamento de “5150”, (leia-se ‘fifty-one-fifty’), bisonhamente com a música “Jump”, faixa presente no álbum anterior, “1984”, por conta das inúmeras execuções radiofônicas na época que metralhavam sem dó nem piedade os ouvintes (nesse caso, ainda bem). Já tinha começado a ouvir Rock/Metal, mas meus parcos 10 anos de idade não me davam ao trabalho de saber quem estava tocando, cantando ou quem tinha entrado ou saído de alguma banda. Era muito difícil de se conseguir revistas, materiais, entrevistas e até mesmo discos (leia-se, também, cópias das cópias em fita cassete porcas de dar dó). A Rock Brigade estava engatinhando, e nem todas as bancas de jornais tinham-na disponível. Era um tempo difícil, mas charmoso e saudável. Poucas bandas eu realmente fui procurar me informar a respeito, mas o Van Halen definitivamente não foi uma delas.
“Jump”, hoje, me traz muitas lembranças e para mim ela é a síntese dos anos 80 em termos de música. Mas, foi “5150” que me virou de ponta cabeça e me tornou num fanático a ponto de entrar em tretas homéricas sobre Roth x Hagar naqueles tempos. Coisas de moleque. Dali em diante, Van Halen era sinônimo de Rock (dos bons), alegria, energia, guitarra, espírito de zona, sorriso no rosto e garantia de qualidade abissal, tal qual seu mago atrás das seis cordas. Talvez, por conta de ter consumido “5150” com mais afinco eu, até hoje, seja #TeamHagar.
Sim, eu prefiro um milhão de vezes o Van Halen com Sammy Hagar, com todo o respeito do mundo ao David Lee Roth. A voz de Hagar acho que preenche mais a melodia e as camadas de guitarras por ser mais cheia de classe e volumosa. Roth, que também é sensacional, sempre achei mais “energia” e “performance de palco”, do que alcance ou qualidade vocal. Me julguem (risos).
Assisti a um show solo de Roth muitas décadas depois, no Live N’ Louder, em 2006, e gostei muito (algum ser vivo teria a coragem de falar que era/é ruim??? Não!) mas, infelizmente, nunca vi o Van Halen ao vivo, nem com David, nem com Sammy. Uma das minhas tristezas que agora, pelo falecimento de Eddie, jamais será curada. Meu sonho era ver com Sammy, essa é a real, ou ‘pior’, era. Pode ser que eu consiga vê-lo – junto de Michael Anthony (baixo, também ex-Van Halen) em seus novos projetos, mas a magia de ver Sammy, Eddie, Michael e Anthony, acabou. Pegando carona em uma das faixas da banda lançada anos depois de “5150”, “The Dream Is Over”.
Sobre “5150” ser meu álbum favorito do Van Halen eu explico: A vigorosa e eletrizante “Good Enough” jogam seu astral para cima só no “Hello Baaaaaby” e te deixam lá em cima a cada riff e “u-u-u-u”, aquela vibe “Jump” de “Why Can’t This Be Love” que gruda na sua cabeça com índices de ‘crueldade’ (do bem), a cacetada de “Get Up” que eu amo por ser rápida e maluca até dizer chega, a linda “Dreams” que – se não me falhe a memória – graças ao comercial do cigarro Hollywood impregnou até em defunto (cigarro, defunto, pegou a ideia?), a quebrada e sacana “Summer Nights”, a arrastada e sacaninha (também) com um toquinho de AC/DC da fase Bon Scott no andamento “Best Of Both Worlds”, a balada “Love Walks In” que emociona até os pelos do….deixa para lá, a faixa título “5150” que por conta da rifferama viciante te faz cantar junto até as palhetadas e te faz sonhar em ser um guitarrista de sucesso sabendo que nunca/jamais seria igual ao seu criador e “Inside” – talvez a menos inspirada – cheia de coros e sintetizadores o que estava bem em voga na época. Tudo isso embalado numa produção majestosa, “gorda”, com aquele som de bateria “felpudo” – o famoso ‘brown sound’ de Alex Van Halen que você mata na hora ser Van Halen, backing vocals e baixão característico de Michael Antony e, logicamente, as A-U-L-A-S de como se cantar com alma e tocar idem! Meu Deus, escrevi esse texto ouvindo novamente o álbum inteiro e vou dar o ‘repeat’ de novo, e de novo. E, obviamente, o DVD “Live Without A Net”, gravado na turnê de divulgação de “5150” que é simplesmente LINDO! Nota 10 (para ambos) é pouco. Temos que agradecer – e muito – por termos nascido/vivido na mesma época que os criadores da porra toda estavam por aí enchendo-nos de alegria. Obrigado Eddie! Você foi e sempre será o melhor. Tenho pena da nova geração!”
Johnny Z. (Redator-Chefe Metal Na Lata)
35 ANOS DE “5150”
Por João Paulo Gomes
Existe uma conversa no filme “Airheads” na qual Chazz (Brendan Fraser) pergunta a Chris Moore (Harold Ramis): “De que lado você ficou na separação: David Lee Roth ou Van Halen?” Quando a resposta dada é “Van Halen”, Ian (Joe Mantegna) responde: “Ele é um policial”. Esse é apenas um exemplo do impacto que a saída de Roth do Van Halen causou. Não apenas no mundo da música, mas na vida das pessoas, mesmo quase uma década depois.
Com a saída de Roth primeiro a gravadora pensou em acabar com a banda, depois a banda pensou em convidar vários vocalistas (Patty Smyth, Eric Martin, Jimmy Barnes), mas a decisão final foi ter realmente um novo integrante oficial. Como Hagar disse a Rolling Stones (2017): “Eu estava prestes a ir à L.A. pegar minha Ferrari na loja do Claudio Zampolli. Eddie entrou, viu meu carro e perguntou: “Esse carro é legal. De quem é?”. Claudio respondeu: “É do Sammy Hagar. Você devia chamá-lo para a banda”. Eddie me ligou dali mesmo e eu fui sincero: “Eddie, isso parece ótimo. Eu adoraria tocar com você, mas estou exausto. Depois de dez anos estou pensando em tirar um ano de folga”. Eddie replicou: “Vamos nos reunir e ver o que acontece”. “Ok” – eu falei – “te ligo na próxima semana”, mas ele retrucou: “Que tal amanhã?”.
Quando “The Red Rocker” (Montrose e sua fértil carreira solo) foi anunciado como o novo vocalista do Van Halen, os fãs meio que: “Hã? Como assim? Montrose?”, mas parte da genialidade de Eddie sempre residiu na sua própria complexidade. Ele deixou para trás o irônico, o exagero e as travessuras de Roth e abraçou Hagar, voz e guitarra, aonde ele poderia amplificar suas ideias e ter mais espaço para se expressar musicalmente.
A pergunta que não queria calar era: “Será que mesmo um Titã como Van Halen se sustenta sem um de seus personagens principais?” Apesar de não ser um grande vocalista, Diamond Dave, casava perfeitamente com o som da banda, além de sua genial presença de palco. Se o “Rock N’ Roll” fosse um circo, Roth seria, não apenas um mestre de cerimônias, mas um indomável animal a espreita.
Além disso, poucos são os exemplos de bandas de rock em que a troca de vocalistas deu certo. Talvez tenhamos AC/DC e Black Sabbath neste time, mas ao ouvir “Huhlow, bay-beee!!” (homenagem a The Big Booper em “Chantilly Lace”), na abertura de “5150” (o nome do álbum é uma referência ao estúdio de Eddie que remete ao código da lei da Califórnia para alguém com distúrbios mentais), este seleto grupo recebeu mais um participante.
Como se não bastasse trocar de vocalista, Ted Templeton, produtor dos seis primeiros álbuns, deixou a produção (foi produzir o primeiro álbum solo de Roth: “Eat ‘Em And Smile”) a cargo da própria banda, Donn Landee e Mick Jones (Foreigner). Assim, “5150” se afastou do som “ao vivo” dos álbuns anteriores indo em direção a um som mais anos 80 e foi o primeiro álbum da banda a não ter nenhuma música instrumental.
Mesmo no olho do furacão “5150”, gravado entre os meses de novembro de 1985 e fevereiro de 1986, no 5150 Studios, na Califórnia, foi lançado apenas um mês após o término das gravações no dia 24 de março de 1986 e foi o primeiro álbum do Van Halen a ser #1 na “Billboard 200”. “O álbum ganhou disco de platina em uma semana” – lembrou Hagar em 2014 – “Foi o álbum que vendeu um milhão mais rápido na história da Warner”. Ainda colocou três “singles” no “Billboard Hot 100” (“Why Can’t This Be Love”, “Dreams” e “Love Walks In”) e ganhou Platina (Canadá, três vezes, EUA, seis vezes), Ouro (Alemanha) e Prata (Reino Unido).
Ao se permitir levar por diversas novas ideias, Eddie transformou “5150” em um álbum de transição. Não era mais o antigo som da banda e o novo ainda estava sendo lapidado. Muito deste álbum foi escrito com Roth na banda, por isso encontramos tantas referências a “1984” e várias novas ideias. Em sua autobiografia “Crazy From The Heat” Roth diz que: “a música que o Van Halen estava escrevendo era “sombria””.
Claro que os fãs mais radicais poderiam não gostar de “5150” pela simples ausência de Roth, mas a estrondosa abertura “Good Enough” (que também está na trilha sonora de “Spaceballs”), continha todos os ingredientes “party rock” de uma canção do Van Halen com metáforas de garçonete suficientes para saciar Charles Bukowski. Impossível passar incólume. Magnífica!
O estilo dos álbuns anteriores continua com “Summer Nights” (celebração do prazer do rock com um refrão irresistível) e “Best Of Both Worlds” (combinação Hagar/Eddie aqui é explosiva, implacável e cativante. Citando a letra: “deixe a magia fazer o trabalho por você”).
Com a entrada de Hagar, que é um guitarrista proficiente, Eddie se dedicou mais aos teclados e sintetizadores (outras de suas paixões). Como Michael Anthony disse: “Quando Eddie entrou nessa de teclados, ele não pegava na guitarra por um bom tempo. Ele tocava teclado o tempo todo”. Com essa nova “roupagem” (sintetizadores, bateria eletrônica e teclados) alguns fãs passaram a chamar a banda de “Van Hagar”.
Mas esse novo Van Halen, ou Van Hagar, é responsável por novos clássicos da discografia da banda como a fantástica “Love Walks In” (#16), com as excelentes harmonias de Eddie e Michael Anthony que se tornariam uma nova assinatura da banda. Em entrevista a Classic Rock em 2014, Hagar disse que se arrepiou ao ouvir a música pela primeira vez “achei tão linda que eu logo escrevi a letra e cantei com um microfone de mão mesmo. Se você a ouvir bem de perto, vai perceber que não é o melhor vocal do mundo”. Para Eddie Trunk ele disse que a ex-esposa de Eddie costumava aprovar as músicas: “Claro! Valerie chegava e aprovava. Quando ela ouviu “Love Walks In”, disse: “Meu Deus!”. Eddie respondeu: “Se minha esposa está feliz, então eu estou feliz”. Estávamos todos felizes e tivemos sucesso”.
E a banda não parou por aí. Temos ainda a única, inovadora e imortal “Why Can’t This Be Love” (#3) melodias hipnotizantes excepcionais e uma guitarra arrasadora, “Dreams” (#22), um hino com absurdas melodias e harmonias vocais, aonde Hagar se entrega de coração (a música se tornou tema dos “Blue Angels”, esquadrão de demonstração aérea da Marinha dos Estados Unidos) e a música título, uma cativante jam feita para os músicos brilharem e como brilham. Alex, Michael, Eddie e Hagar estão incríveis e não é apenas nesta música. Inacreditável como Eddie é capaz de transformar um simples “riff” em uma sinfonia.
Completam o álbum: “Get Up”, um rolo compressor (lembrou de “Hot For Teacher”? Você não está sozinho) que te transporta para uma corrida insana inundada de guitarras distorcidas e uma bateria frenética, mas não é um dos momentos mais célebres do álbum, e a faixa estranha de “5150” (como “Could This Be Magic” em “Women And Children First” e “Happy Trails” em “Diver Down”): “Inside”. Conduzida por sintetizadores, a música até possui um groove legal e percebe-se a diversão da banda, mas quando Hagar pergunta: “Que porra é essa?”, temos que concordar.
Existe uma décima faixa gravada durante as sessões de “5150” intitulada “I Want Some Action”, mas acabou não sendo lançada no álbum. Para os fanáticos em questão, existe uma versão demo no Youtube, e me perguntou qual o motivo de não ser incluída até hoje! Vai saber os motivos…
Com críticas ambíguas que foram de “experiência frustrante” (Robert Christgau, do The Village Voice) a “Eddie e Sammy falam o mesmo idioma” (Tim Holmes, da Rolling Stone), “5150”, que de sombrio não tem nada, é um Van Halen renascido, cheio de qualidade e mostrando ser possível sobreviver em mundo sem Roth. A arte da capa reforça a importância da banda com Atlas tentando segurá-los e na contracapa ele caído, enquanto a banda surge como “Humpty Dumpty” (“Gato de Botas”), aonde ao se quebrar a casca descobre-se ouro.
Soando vigoroso o álbum conta com uma produção coesa, com os vocais absurdos de Hagar e Eddie no auge de seus poderes.
Trinta e cinco anos se passaram e este continua sendo um dos melhores álbuns de uma das maiores bandas de todos os tempos. Brilhante!
E o que “falar” de Eddie? Inventivo? “Guitar Hero”? Revolucionário? Eddie era tudo isso e muito mais. Com uma receita que incluía Clapton, Hendrix, Charlie Christian (que influenciou diversos outros guitarristas como: BB King, Santana, e o citado Hendrix), muita velocidade e uma técnica impensável na época, Eddie foi responsável por uma verdadeira revolução no mundo da guitarra. Dono de uma habilidade inexplicável, ele estabeleceu um novo conceito, enquanto destruía barreiras no processo, fascinando e surpreendendo o mundo com seus timbres e execuções.
Uma das maiores provas da representatividade de Eddie para a música é o vídeo gravado ao vivo “Van Halen – Live Without A Net” para promoção do “5150”. Ao assisti-lo, testemunhamos a existência de uma verdadeira divindade.
R.I.P. Eddie Van Halen (o maior dos maiores)!