Bangers Open Air: Dia 3 (04/05/2025)
Texto por Johnny Z. (@johnnyz666) (exceto W.A.S.P por Felipe de Castro Junqueira)
Fotos por Ezequias Pedroso (@ezequiaspedroso)
Assessoria: Taga Comunicação
Devido ao credenciamento limitado a apenas um repórter e um fotógrafo, tornou-se inviável cobrir todos os shows do evento de forma abrangente. Por exemplo, não conseguimos acompanhar nenhuma apresentação no palco Waves. Diante disso, priorizamos atrações que, além de alinhadas ao nosso gosto pessoal, têm relevância direta para a linha editorial do Metal Na Lata.
Optamos por não cobrir alguns shows porque nossa cobertura reflete aquilo que realmente sentimos e consideramos autêntico — inclusive levando em conta o desgaste físico natural de uma maratona de apresentações. No Metal Na Lata, não fazemos nada pensando em likes ou que não venha da alma, e é isso que nos guia. Ainda assim, incluímos neste texto as fotos e o setlist dos shows não assistidos, em sinal de respeito. Seguimos focados no que acreditamos ser verdadeiro, com um olhar atento ao que mais nos representa.
…::: PARADISE LOST :::…
Trinta anos após sua primeira passagem por solo brasileiro — durante o Monsters of Rock de 1995 —, a banda britânica retornou a um grande festival ao ar livre no país, reafirmando sua relevância e poder catártico diante de uma multidão entregue à escuridão poética do som que eles ajudaram a moldar.
Eram, o sol a pino castigava sem dó o já grande público presente, criando um contraste quase irônico com a sonoridade densa e sombria do quinteto britânico. Como em um déjà vu climático de 1995, os mestres do doom/gothic metal novamente encararam a luz do dia, ainda que agora com menos cabelos e mais rugas, mas com a mesma intensidade de outrora. Apenas a bateria mudou desde aquela lendária estreia brasileira: agora, o posto é ocupado por Guido Zima Montanarini, que adiciona ao som da banda uma pegada precisa e brutal.
Sem rodeios, “Enchantment” deu início à jornada emocional e a resposta do público foi imediata com punhos erguidos, olhos marejados e corações rendidos.
Nick Holmes, de boné e semblante soturno, fez seu costumeiro cumprimento seco antes de soltar a voz — infelizmente baixa em diversos momentos — na potente “Pity the Sadness”, que revelou o lado mais metálico da banda, com trechos quase thrash metal. Já Gregor Mackintosh (guitarra), o cérebro musical por trás de muitas das obras-primas do grupo, manteve-se concentrado e contido, em contraste com o sempre sorridente Aaron Aedy, que até destoava de toda aquele clima soturno da música da banda.
O setlist navegou com maestria pelas diversas fases da banda. O peso trágico de “No Hope in Sight’ e “The Enemy” dividiu espaço com hinos absolutos como “As I Die’, “Eternal”, a emblemática arrasa-quarteirão que mexe com todo mundo “The Last Time’ e “Say Just Words”, esta última responsável por arrancar o coro mais ensurdecedor da tarde. A execução de “Forsaken” foi responsável para trazer à tona o lado mais recente — e ainda assim incrivelmente coeso — da discografia do grupo.
Um dos pontos negativos de toda a apresentação foi o volume excessivamente alto, que incomodou até mesmo quem usava protetores auriculares — inclusive os que estavam mais distantes do palco. Isso prejudicou a experiência do show como um todo. Em diversos momentos, os vocais de Nick chegaram a desaparecer diante do volume estrondoso da bateria e das guitarras
Inesperadamente, a banda executou e belíssima “Smalltown Boy”, cover do Bronski Beat (banda de SynthPop), que conseguiu emocionar até os fãs mais puristas, provando que a banda segue sabendo como reinterpretar a dor com sua assinatura melódica e introspectiva.
Entre um riff arrastado e uma linha de baixo hipnótica, o Paradise Lost mostrou por que continua sendo um dos nomes mais respeitados do metal mundial. Não apenas pela importância histórica, mas por sua capacidade de transformar melancolia em arte e emoção em comunhão.
Mesmo sob o calor escaldante do início ao fim, o quinteto entregou uma performance impecável — contida, densa, quase ritualística — que fez cada minuto valer. Poucas bandas conseguem traduzir a melancolia em algo tão belo. E menos ainda conseguem fazer isso com tamanha naturalidade diante de um mar de fãs em pleno domingo ensolarado.
Se havia alguma dúvida de que os britânicos ainda são mestres em sua arte, ela foi dissolvida com cada acorde arrastado e cada refrão angustiado. O Paradise Lost é mestre no que faz e sempre será!
Setlist:
Enchantment
Forsaken
Pity the Sadness
Faith Divides Us – Death Unites Us
Eternal
One Second
The Enemy
As I Die
Smalltown Boy (cover de Bronski Beat)
The Last Time
No Hope in Sight
Say Just Words













…::: VADER :::…
Lamentavelmente, não pude comparecer a este show devido ao cansaço extremo acumulado, e poupar energia para outros shows. Se arrependimento matasse, eu estaria morto agora (risos). Caso tenha interesse em colaborar com esta resenha, enviando seu texto para publicação com todos os créditos devidamente atribuídos, entre em contato conosco pelo e-mail: [email protected].
Setlist:
Wings
Black to the Blind
Dark Age
Go to Hell
Carnal
Silent Empire
Triumph of Death
Unbending
This Is the War
Helleluyah!!! (God Is Dead)






















…::: KERRY KING :::…
No calor abrasador de uma apresentação repleta de expectativas, uma figura emergiu das sombras com a responsabilidade de provar que a chama do thrash metal ainda arde em carne viva. Kerry King, conhecido por ter moldado o som de uma geração com o Slayer, subiu ao palco não como um fantasma de glórias passadas, mas como o comandante de uma nova tropa sonora — e o Brasil teve a chance de testemunhar esse rito de passagem.
Era inevitável: havia uma tensão pairando no ar. Não por medo, mas por curiosidade. O que esperar da estreia dessa nova fase de King em solo brasileiro com “From Hell I Rise”, álbum solo que carrega nos riffs toda a fúria de uma vida dedicada ao peso, mas que também despertou polêmica por soar… Slayer demais (ah vá, jura?). Mas sejamos honestos: alguém realmente esperava que King, com o braço tatuado com “God Hates Us All”, reinventasse a roda? Ele realmente não precisa disso!
A noite começou com “Where I Reign”, dando o tom: não havia espaço para firulas ou tentativas de modernização. Era thrash, puro e direto. O público, inicialmente contido, parecia calibrar suas expectativas. A resposta não foi explosiva de imediato — talvez uma reverência contida, talvez um estranhamento típico diante de algo novo que soa familiar demais, ou quem sabe apenas pés no chão. Mas bastou a pancada seca de “Rage” e o riff pegajoso de “Trophies of the Tyrant” para que o gelo começasse a derreter. Houve tropeços, um microfone mudo aqui, uma introdução confusa ali, mas isso apenas humanizou a performance, como se a banda estivesse dizendo que estava viva, forte e não dependesse de nenhum passado. Será mesmo?
E foi justamente essa entrega crua que conquistou. Mark Osegueda, veterano absoluto com o Death Angel, tomou para si a missão de incendiar o público com seus vocais agressivos como de costume, porém aqui mais rasgado. E conseguiu. Aos poucos, os braços começaram a subir, as rodas a girar e a plateia, antes respeitosa demais, tornou-se parte do espetáculo. “Two Fists” e “Idle Hands” foram como gasolina jogada em brasas. A banda, formada por pesos pesados como Phil Demmel, Kyle Sanders e Paul Bostaph, não era coadjuvante. Era uma muralha sonora.
Mas Kerry King não é burro. Sabia que ali, diante de milhares, ainda pairava o fantasma do Slayer — e realmente pairava, não tinha como negar. Talvez isso tenha criado um clima meio orgásmico, meio destrutivo… aquela sensação incômoda de “tá faltando alguma coisa”.
E foi assim que, com estratégia, ele inseriu as faixas mais demoníacas da velha banda de forma orgânica. “Disciple” surgiu como uma extensão natural do novo repertório, e “Shrapnel” preparou o terreno para a hecatombe sonora de “Raining Blood” e “Black Magic”, que rasgaram o céu em trovões de velocidade e caos. Senti muito a falta de faixas próprias como “Toxic” (um pecado não terem tocado essa) e “Crucifixation”, porém quem é louco o suficiente para não gostar de algum material do Slayer no set?
Em um momento já meio esperado para quem acompanha as notícias e vídeos por aí, King puxou uma homenagem ao Iron Maiden de Paul Di’Anno com uma versão surpreendentemente e extremamente fiel de “Killers”. Um gesto que mostrou que, mesmo sendo um ícone, ele também é fã. Funcionou muitíssimo bem e seria ótimo se um dia a banda regravasse essa faixa no estúdio, ou até mesmo a outra que tocaram em shows do exterior, “Purgatory”. Enfim, esse cover foi uma espécie de respiro emocional antes da reta final, que culminou com a destruidora faixa-título do disco, “From Hell I Rise”, selando o pacto entre artista e público.
No fim, não era mais sobre Slayer, mas sobre afirmação. Kerry King provou (como se ele precisasse de algo) que sua nova banda não é só uma sombra do passado glorioso, mas um corpo vivo que pulsa no mesmo compasso de guitarras que ainda gritam contra o mundo. E se o inferno o ergueu, o palco brasileiro foi o altar onde ele voltou a reinar. Mas que o Slayer faz falta, ah… isso faz!
Setlist:
Where I Reign
Rage
Trophies of the Tyrant
Residue
Two Fists
Idle Hands
Disciple (Slayer)
Killers (cover do Iron Maiden)
Shrapnel
Raining Blood (Slayer)
Black Magic (Slayer)
From Hell I Rise































…::: BLIND GUARDIAN :::…
Era para ser apenas mais um show do Blind Guardian no Brasil. Uma substituição de última hora no line-up do Bangers Open Air, sem disco novo, sem turnê comemorativa, sabendo que no ano retrasado a banda tocou no antigo Summber Breeze Brasil (pré-Bangers Open Air) e fez um tremendo show tocando “Somewhere Far Beyond” na íntegra, e mais outros clássicos. Enfim, o que vimos no Hot Stage foi muito mais do que uma apresentação bem executada — foi uma celebração visceral entre banda e público, daquelas que a gente guarda para sempre na memória.
Logo depois do caos instaurado por Kerry King no palco ao lado, a tarefa de manter o nível parecia difícil. Mas bastou o primeiro acorde de “Imaginations from the Other Side” para tudo mudar. Em segundos, todo mundo estava entregue. Não importava se você já tinha visto a banda trocentas vezes — o Blind Guardian sempre faz a plateia ficar na mão de Hansi Kürsch (vocal), André Olbrich e Marcus Siepen (guitarras) e Frederik Ehmke (bateria). Em questão de segundos, todos os presentes mergulhavam de cabeça em seu universo fantástico, onde cada música era um capítulo e cada refrão, um feitiço coletivo.
Só não entendo o motivo de trazerem um baixista contratado (Johan Van Stratum) e não oficializarem um novo integrante, como fizeram com Frederik em 2005. Acredito que sejam “boletos” (risos).
Com “Blood of the Elves” e “Violent Shadows”, ficou claro que a fase atual da banda ainda tem fôlego e impacto de sobra perante os clássicos dos anos 80 e 90. Mas foram as pérolas do passado que deixaram o público em êxtase: “Time Stands Still”, a soberba (e muito querida deste redator) “Bright Eyes”, “Into the Storm”… Era impossível não cantar junto, não se arrepiar com o filme que passava nas nossas cabeças.
Hansi Kürsch talvez já não alcance todos os tons do estúdio — e quem se importa? O cara comanda a plateia com uma presença única, e quando ele pede que público cante, é atendido tão alto que mal se escuta o seu complemento. Especialmente em “The Bard’s Song – In the Forest”, onde o som da banda quase some, engolido por milhares de vozes cantando juntas, de olhos fechados, como se o tempo tivesse parado.
O gran finale veio com as pedradas “Mirror Mirror” e “Valhalla”, e aí já era puro delírio. Teve rodas, gritos, coros e tradicionalmente com a plateia cantando o refrão de “Valhalla’ por vários minutos sozinha até a banda sair do palco. Parecia que ninguém queria ir embora. E nem precisava: depois de uma hora e pouco de show, o que ficou foi aquela sensação de missão cumprida, de coração cheio, de ter vivido algo especial.
O Blind Guardian pode até ser escalado em cima da hora, sem grande produção por trás (apenas imagens lindas no telão de fundo do palco), mas quando eles sobem no palco, viram protagonistas absolutos. Porque no fim das contas, o que importa mesmo é a conexão. E disso, esses alemães entendem como poucos.
Setlist:
Imaginations from the Other Side
Blood of the Elves
Mordred’s Song
Violent Shadows
Into the Storm
Tanelorn (Into the Void)
Bright Eyes
Time Stands Still (At the Iron Hill)
And the Story Ends
The Bard’s Song – In the Forest
Mirror Mirror
Valhalla


























…::: W.A.S.P :::…
Quarenta anos após o lançamento de seu impactante álbum de estreia, o W.A.S.P. pisou novamente em solo brasileiro e entregou uma apresentação que, mesmo sem os excessos performáticos do passado, deixou sua marca como um dos momentos mais emocionantes e poderosos do Bangers Open Air 2025. Para quem viu o auge da banda nos anos 1980 ou apenas cresceu ouvindo histórias sobre cruzes em chamas, fetos arrancados e sangue falso jorrando do palco, o show desta noite foi um lembrete maduro — mas ainda potente — do legado de uma banda que transformou o shock rock em arte provocadora.
Hoje, Blackie Lawless não é mais o incendiário de outrora. O líder da banda parece ter encontrado outro caminho: converteu-se ao cristianismo, abandonou a teatralidade extrema e incorporou um discurso mais conservador — algo impensável para quem já foi a encarnação do caos cabeludo e decadente do Sunset Strip. Ainda assim, ao subir ao palco do Bangers, ele provou que, mesmo com menos explosões visuais, o espírito do W.A.S.P. segue vivo através da música — e do respeito conquistado ao longo das décadas.
Acompanhado por uma formação afiadíssima, composta por Doug Blair na guitarra, Mike Duda no baixo e backing vocals e o brasileiro Aquiles Priester na bateria, Blackie conduziu um show dividido em duas partes. A primeira: a execução completa do clássico W.A.S.P. (1984). Da abertura com a explosiva “I Wanna Be Somebody” até o peso sombrio de “Tormentor”, a banda ofereceu uma verdadeira viagem no tempo — com direito a telão exibindo imagens raras, videoclipes originais e até cenas do filme “The Dungeonmaster”, em que a banda aparece em uma versão ainda mais caricatural de si mesma, misturando fantasia e violência gráfica.
Mas se Lawless optou por um papel mais reservado, seus companheiros de banda compensaram com energia de sobra. Duda pulava, girava e berrava como se tivesse voltado no tempo. Blair, por sua vez, brilhou em momentos de destaque, como no solo prolongado de “Sleeping (In the Fire)”. E Aquiles… bom, Aquiles não apenas tocou — ele viveu o momento.
No intervalo entre as duas partes do show, o baterista brasileiro emocionou o público ao abandonar o tradicional solo de bateria para, em vez disso, falar diretamente com os fãs. “Esse é o show mais importante da minha vida”, disse ele, visivelmente comovido, lembrando de quando conheceu o W.A.S.P. ainda na infância e como estar naquele palco era a realização de um sonho. Aplausos, gritos e punhos erguidos saudaram um dos maiores nomes da bateria nacional, agora celebrando sua trajetória ao lado de um dos ícones do heavy metal mundial.
A segunda parte do show foi dedicada a outros clássicos da carreira da banda. A trinca com “The Real Me”, “Forever Free” e “The Headless Children” foi intensa e comovente. Enquanto homenagens visuais a Frankie Banali e cenas históricas do Holocausto desfilavam pelo telão, a banda parecia falar diretamente ao coração de uma geração inteira. “Wild Child” fez o público cantar a plenos pulmões, e “Blind in Texas” encerrou a noite com aquela sensação de festa suada, cerveja no ar e corações cheios.
W.A.S.P. pode não ser mais a entidade blasfema e chocante dos anos 80, mas ainda sabe como criar uma experiência catártica. Mesmo com as mudanças, o grupo mostrou que envelhecer com dignidade no rock é possível — desde que se mantenha viva a paixão. E nesta noite, no Bangers Open Air, Blackie e companhia entregaram exatamente isso: uma celebração visceral, honesta e inesquecível de uma carreira que desafiou todas as convenções. Para muitos, o melhor show do festival. Para outros, o mais emocionante. Para todos, um momento para nunca esquecer.
Setlist:
I Wanna Be Somebody
L.O.V.E. Machine
The Flame
B.A.D.
School Daze
Hellion
Sleeping (In the Fire)
On Your Knees
Tormentor
The Torture Never Stops
The Real Me (cover de The Who)
Forever Free / The Headless Children
Wild Child
Blind in Texas
…::: NILE :::…
Uma aula de brutalidade milimétrica! Não é exagero dizer que o show do Nile foi, sem sombra de dúvida, o mais brutal de todo o festival. Na noite em que o peso dominou o palco Sun Stage, os norte-americanos transformaram o Memorial da América Latina em um templo de adoração ao death metal técnico, apocalíptico e brutal. Após um breve atraso, que só aumentou a tensão entre os fãs, o quarteto entrou em cena como uma entidade ancestral recém-desperta — e o que veio a seguir foi devastador.
Com uma das melhores qualidades de som de todo o festival — limpa, precisa, poderosa e ao mesmo tempo absurdamente brutal — era possível ouvir cada detalhe da performance mesmo à distância, sem sacrificar os tímpanos no processo. A pancadaria sonora foi equilibrada de maneira tão cirúrgica que parecia impossível tamanha violência sem ruído excessivo, de forma vibrante e clara. Uma proeza digna de nota.
No palco, a banda se mostrou extremamente entrosada. Karl Sanders, fundador e cérebro do grupo, dividia os vocais com Dan Vadim Von (baixo) e Zach Jeter (guitarra), criando um turbilhão de vozes guturais com timbres distintos, que soavam como pragas lançadas do além. A precisão milimétrica de George Kollias na bateria, um verdadeiro monstro do instrumento, completava a muralha sonora com blast beats que mais pareciam metralhadoras em rotação máxima. E aqui cabe um comentário muito particular: o cara é um dos melhores bateristas de Brutal Death Metal do mundo!
O setlist foi uma sequência de golpes certeiros — um massacre atrás do outro. “To Strike With Secret Fang” abriu os trabalhos com tamanha ferocidade que, já nos primeiros segundos, abriu-se a primeira roda insana no meio do público, algo que se repetiu sem parar até o último acorde. Em “Sarcophagus”, o peso foi tão absurdo que parecia que o próprio palco ia desabar. A iluminação sombria e precisa, com tons quentes e vermelhos infernais, contribuiu para a atmosfera ritualística que só o Nile sabe criar numa espécie de viagem às catacumbas egípcias onde somente o caos reina.
Mesmo sem interações extensas com o público, exceto por alguns agradecimentos tímidos em português por parte de Sanders, a resposta foi intensa: rodas de mosh brutais, fãs ajoelhados em reverência e gritos que ecoavam pelo espaço. Quando “Sacrifice Unto Sebek” começou, o caos era total — uma catarse coletiva de agressividade e respeito a uma banda que é, há décadas, sinônimo de excelência extrema no metal.
Ao final do show, com promessas de um retorno em breve, o sentimento era unânime: o Nile não apenas entregou um espetáculo — entregou uma aula de brutalidade com um dos melhores sons do festival, com destaque para as guitarras que mais pareciam como um ataque de monstros Kaijus! Um show que ficará marcado como um dos pontos mais altos da edição de 2025.
Setlist:
Stelae of Vultures
To Strike With Secret Fang
Sacrifice Unto Sebek
Defiling the Gates of Ishtar
Vile Nilotic Rites
In the Name of Amun
Kafir!
Sarcophagus
Lashed to the Slave Stick
Black Seeds of Vengeance



















…::: DESTRUCTION :::…
A noite de domingo, 4 de maio de 2025, foi marcada por um verdadeiro rito de passagem no Bangers Open Air. Após o cancelamento inesperado das bandas Knocked Loose e We Came As Romans, coube ao Destruction assumir o desafio de encerrar o evento no palco Sun com um show que rapidamente se transformou em um marco absoluto para os fãs do thrash metal.
E o que poderia ser apenas mais uma apresentação eletrizante da veterana banda se tornou histórico por um motivo especial: pela primeira vez em seus mais de 40 anos de carreira, o Destruction executou o clássico álbum de estreia “Infernal Overkill” (1985) na íntegra. Esse álbum é considerado um dos pilares do thrash teutônico (e mundial), com faixas que moldaram gerações de fãs. Embora canções como “Invincible Force’ e “Bestial Invasion” sempre estejam nos setlists da banda desde sua formação, o grupo nunca havia tocado o álbum completo em sequência — e escolheu São Paulo para essa estreia mundial. E que presente!!
O início do show foi precedido por uma celebração ao Star Wars Day (May 4th), com a “Marcha Imperial” – para os leigos o tema do maior vilão do cinema, Darth Vader, ecoando pelos alto-falantes e aquecendo o clima. Mas logo veio a avalanche: “Invincible Force” abriu os trabalhos como uma máquina de aniquilação, com uma roda gigantesca se formando imediatamente em frente ao palco. A sequência “Death Trap”, “The Ritual” e “Tormentor” manteve a intensidade e trouxe uma energia difícil de descrever, mas fácil de sentir em cada riff. Só quem estava lá presente sabe o que foi aquela avalanche!
Ao anunciar “Bestial Invasion” — geralmente a faixa que fecha os tradicionais shows da banda — como parte do bloco principal, a banda demonstrou que não estava ali apenas para cumprir tabela. A decisão, ousada, funcionou melhor do que o esperado: a energia do público cresceu ainda mais, com as rodas atingindo proporções épicas num verdadeiro caos.
A execução completa do álbum seguiu com “Thrash Attack”, a poderosa e aclamada por todos “Antichrist” e a caótica e sombria “Black Death’, que há anos estava fora do repertório. Ao fim desse trecho histórico, o Destruction saiu brevemente do palco, mas retornou com ainda mais força. Se tivesse encerrado nessa hora, todos presentes já teriam suas almas completamente lavadas, mas veio a segunda parte do ‘culto’.
“Curse the Gods”, seguida pela pedrada “Total Desaster”, separou os verdadeiros homens dos meninos, reafirmando que a banda ainda tinha muita munição após a celebração com “Infernal Overkill” na íntegra.
E como se não bastasse reviver 1985 com maestria, ainda houve espaço para interatividade. Schmier consultou os fãs sobre o que gostariam de ouvir: “Thrash ‘Til Death” ou “Nailed to the Cross’? A vencedora foi esta última — recebida com um coro uníssono —, seguida da sempre impactante e onipresente “Mad Butcher”, mostrando que as músicas continuam afiadas como na época em que foram escritas. Aliás, deixo aqui um comentário pessoal sobre essa nova fase da banda, com Schmier (vocal/baixo) como único remanescente da formação clássica, ao lado de Damir Eskic e Martin Furia (guitarras) e Randy Black (bateria, ex-Annihilator, Primal Fear, etc.): os caras estão mais pesados, técnicos e brutais do que nunca. Eu adoraria ouvir um Infernal Overkill totalmente regravado em estúdio por essa formação. Para alguns, isso pode soar como uma blasfêmia — mas, sinceramente, eu não ligo (risos).
Para a penúltima faixa, veio a homenagem à própria banda com “(We’re) Destruction”, música do novo álbum “Birth of Malice” — único representante do disco recém-lançado, mas com uma recepção calorosa que prova a conexão ainda viva entre público e banda. O encerramento veio com o mega clássico “Thrash ‘Til Death”, transformando o Sun Stage numa verdadeira Faixa de Gaza.
Mais do que simplesmente substituir atrações canceladas, o Destruction entregou um verdadeiro presente aos fãs brasileiros: uma viagem ao passado com um pé firme no futuro. Thrash Metal como tem que ser — brutal, caótico, violento e desgraçado! Um show simplesmente INESQUECÍVEL, graças à união primorosa de todos os fatores: setlist matador, som impecável, iluminação certeira, banda afiada, público insano, clima perfeito, clássicos atemporais… e, claro, caos absoluto!
Setlist:
Invincible Force
Death Trap
The Ritual
Tormentor
Bestial Invasion
Thrash Attack
Antichrist
Black Death
Curse the Gods
Total Desaster
Nailed to the Cross
Mad Butcher
Destruction
Thrash ‘Til Death






























