Cannibal Corpse – “Butchered At Birth” (1991)
Metal Blade Records
#DeathMetal
Para fãs de: Sepultura (antigo), Deicide, Obituary, Suffocation
Nota: 10
Parece que foi ontem, mas “Butchered At Birth” comemora nesse ano “apenas” 30 anos de seu lançamento! Segundo álbum dos americanos do Cannibal Corpse não só eleva os níveis do Death Metal, como os define de forma brutal e apocalíptica, desenvolvendo mesmo que inconsciente uma nova safra do estilo já que seu primeiro álbum “Eaten Back To Life” era mais voltado ao Thrash Metal.
No começo dos anos 90, havia no Death Metal uma batalha para saber qual a banda era mais veloz, mais barulhenta e mais pesada. Porém, mais importante do que o som, o que passou a chamar a atenção foi a imagem. Os apreciadores do Thrash Metal já não estavam contentes com caveiras no inferno ou bombas atômicas vaporizando as ruas, eles queriam uma arte tão suja e chocante quanto o som que ouviam para que fosse mais e mais ofensivo e ultrajante possível.
A grande vitória veio com “Butchered At Birth”, pois juntou a agressividade das músicas com uma arte igualmente repugnante, conseguindo redefinir a ideia do doentio, e mesmo depois de três décadas (30 de junho de 1991), continua sendo uma obra de selvageria estética inestimável.
É inevitável falar do álbum sem primeiro citar sua capa. A ilustração do artista Vincent Locke retrata uma cena monstruosa, aterrorizante e gore, deixando a ilustração simples de seu álbum de estreia como se fosse uma revista em quadrinhos para crianças. É uma imagem que acaba transcendendo a realidade e a fantasia, sendo que, naquela época, você nunca sequer imaginaria ver uma foto de cenas de crime ou até pôsteres de filmes de terror, fazendo com que a imagem realmente te causasse até certa ojeriza. Isso veio até “piorar” nos próximos álbuns, se tornando marca registrada da banda. Infelizmente, hoje não é algo difícil de se acontecer tamanha atrocidade que acometeu as mentes assassinas e criminosas no mundo.
Não importou quem era a mulher desenhada na capa, como ela foi parar nesse lugar ou de onde vieram os aventais dos seres que a dilaceravam, o que realmente importava era que fosse o mais macabro, asqueroso e impactante possível. E acredite, foi. Não é a toa que, a partir de “Butchered At Birth”, que foi censurado na época, a banda começou sempre a pedir duas capas para Vincent Locke, uma aterrorizante e outra “censurada”, ou mais “assessível”.
Acham que a banda parou por aí? Ledo engano! O encarte continha citações do conhecido assassino de crianças Gilles de Rais e do infame serial killer Albert Fisher!
Enquanto algumas bandas diziam ao mundo que eles adoravam Satã ou assistiam vários filmes de Lucio Fulci, o Cannibal Corpse adotou o esqueleto delineado de uma criança como seu símbolo preferido nas divulgações e promoções! Era um nível de agressividade e insanidade inalcançável.
Entretanto, foram as músicas que colocaram a banda no mais alto patamar do necrotério, ou melhor, do Death Metal mundial. Se o ouvinte não se assustar ou ter pesadelos assustadores com “Meathook Sodomy”, que foi uma transição da pegada mais Thrash do álbum anterior para o Death Metal, então as chances ficam para a maldade de “Gutted” que tem a velocidade nas guitarras e os blast beats da bateria tão violentos que até a própria morte se assustaria.
Outros destaques que trouxeram um novo tipo de excitação pútrida nos fãs vão para os desmembramentos e mudanças de andamento de “Under The Rotted Flesh”, marcas registradas que estão presentes nos discos até hoje, o pus vomitado de “Covered In Sores” e “Vomit The Soul” (com participação de Glen Benton, do Deicide) e a motosserra sonora de “Rancid Amputation”.
Os vocais mais sujos de Chris Barnes, vocalista na época, eram mais monstruosos do que no álbum anterior e as guitarras de Jack Owen e Bob Rusay (hoje não fazem mais parte da banda, também) destruíam tudo que aparecesse na frente. Já o baixo de Alex Webster e a bateria de Paul Mazurkiewicz, únicos remanescentes da formação original até hoje, formavam e ainda formam, uma base perfeita para que toda essa podridão fosse despejada.
Gravado no “Morrisound Studios” com o produtor Scott Burns, famoso por já ter trabalhado com bandas como Sepultura, Death e Obituary, conseguiu não só manter a qualidade do disco anterior, também produzido por ele, mas deixou-o ainda mais brutal.
O mais surpreendente do álbum é sua atemporalidade. Muitas bandas que tentaram chegar perto do sucesso falharam miseravelmente, já que “Butchered” não tenta ser mais grosseiro do que qualquer outra coisa, ele se contenta em ser a coisa mais grosseira que você possa imaginar.
É incrível ver a evolução da banda nesses 30 anos desde o lançamento desse trabalho, tendo aparecido no filme do Ace Ventura, passado por mudanças de vocalista e guitarristas, sua enorme presença em festivais, sofrido várias e várias censuras e boicotes pelo mundo, muitos discos que esbanjam o que há de mais grosseiro, pesado, técnico e brutal na música, tudo isso só fizeram com que a carreira do Cannibal Corpse se consolidasse de forma primordial transformando-a numa das bandas mais brutais e importantes do gênero. Pode pegar qualquer disco da vasta discografia da banda, pois o peso descomunal das guitarras, do baixo, da bateria e dos vocais monstruosos (sendo Chris Barnes ou do atual vocalista George “Corpsegrinder”), vão te perturbar ao ponto de se apaixonar e tornar-se um masoquista!
Pode não ser o melhor álbum dessa instituição da grosseria brutal e técnica do Death Metal, pois “Tomb Of The Mutilated”, álbum seguinte, veio para abrir feridas incuráveis nos fãs, mas é tão importante quanto!
Não importa quantos anos um fã da banda pode ter, seja ele antigo ou novo, ainda vai se sentir ultrajado e enojado… maravilhosamente enojado e sedento por cada vez mais! Se já assistiu a algum dos inúmeros shows que a banda fez no Brasil, sabe BEM do que estamos falando.
Lucas David e Johnny Z.