Discografia comentada: Bon Jovi (Parte 1)

BONJOVI_00
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Por João Paulo Gomes
Diagramação e Header por Johnny Z.
Fotos: Google

Bon Jovi“Bon Jovi” (1984)
Mercury

Nota: 8,5

Após criar várias bandas na juventude como “Raze”, “The Rest”, “Jon Bongiovi & The Wild Ones”, “Atlantic City Express Way” – banda de covers de R&B com o tecladista David Rashbaum (Jon e David estudaram no Sayreville War Memorial High School) – Jon Bongiovi (nascido John Francis Bongiovi Jr.) foi trabalhar como faxineiro no estúdio Power Station em NY. Seu primo Tony Bongiovi era sócio do local e já havia trabalhado com Jimi Hendrix, Ramones, Ace Frehley, entre outros. Jon achava que isso facilitaria a abertura das portas do mundo da música.

Jon gravou então sua primeira música oficialmente: “R2-D2 We Wish You A Merry Christmas”, de Meco Monardo e Daniel Oriolo. A música fazia parte de um disco de músicas de natal inspiradas no filme Star Wars.

Após esta gravação Jon enviou várias demos, incluindo uma produzida por Billy Squier, para diversas gravadoras que não o levaram a lugar algum. Decidiu então montar o supergrupo “The All Star Review” para gravar uma única faixa: “Runaway” (composição de Jon com George Karakoglou). Esse supergrupo contava com Tim Pierce (guitarra), Roy Bitten (teclados), Frankie La Rocka (bateria) e Hugh McDonald (baixo), sem esquecer dos Backing Vocals de David Grahmme e Mick Seeley (criador da introdução de “Runaway”) além do próprio Jon nos vocais.

Apesar de toda a esperança, “Runaway” foi recusada tanto quanto foi oferecida. Sem desistir Jon foi até a rádio WAPP 103.5 FM “The Apple” e mostrou suas músicas para o DJ Chip Hobart que adorou “Runaway” e a incluiu em uma coletânea de talentos locais da rádio fazendo sucesso regionalmente no verão de 1983.

Aproveitando então o “sucesso” de “Runaway”, Jon resolveu montar uma banda de verdade. Chamou o amigo David Rashbaum (teclados), que chamou Alec John Such (baixo), que por ter tocado com Hector Samuel Juan “Tico” Torres na banda “Phantom’s Opera” o convidou para a bateria (nessa época Tico estava no “Franke & The Knockouts”). Para a guitarra Dave “The Snake” Sabo, amigo e vizinho de Jon, foi convocado.

Reza a lenda que em um dos primeiros shows, Richie Sambora foi convidado por Alec para assisti-los (eles haviam tocado juntos na banda “Message”). Richie gostou do que viu, foi ao camarim e disse a Jon que queria e iria fazer parte da banda. Apesar da recusa inicial de Jon, Richie insistiu e o restante faz parte da história. OBS.: Dave “The Snake” Sabo anos mais tarde foi parar no Skid Row.

Com “Runaway” nas rádios regionais, a Mercury Records assina com a banda (Derek Shulman, executivo da Polygram gostou do que viu ao acompanhar o show deles de abertura para a banda “Scandal”) e Pamela Maher, funcionária de Doc McGhee, sugere o nome “Bon Jovi” seguindo o exemplo de “Van Halen” (a outra opção seria “Johnny Electric”) o que claramente fez, à partir daquele momento, que Jon Bon Jovi (já com sua nova alcunha) ficasse à frente da banda (como pode ser visto na própria capa do álbum).

Em 21/01/1984, começava então a história de uma das maiores bandas do rock americano. Produzido por Lance Quinn e Tony Bongiovi o autointitulado álbum coloca finalmente o Bon Jovi nas paradas de sucesso alcançando platina (US), ouro (Canadá e Suíça) e prata (UK).

O álbum abre com “Runaway” e seu dramático riff de teclado, refrão cativante e um solo bem marcante (é a mesma versão enviada para as rádios com os músicos de estúdio). Além desse clássico o álbum conta com “standarts” como “Shot Through The Heart” (mostrando flashs do brilhantismo que a banda teria anos depois), além dos singles “Breakout”, “Burning For Love” (muito bons hard rocks) e de “Come Back” (melhor refrão do álbum depois de “Runaway”).

“Get Ready”, a balada “Love Lies”, “Roulette” e o grudento single “She Don’t Know Me” (a única música que não foi composta por nenhum dos integrantes da banda (autoria de Mark Avsec em“Wild Cherry” e “Donnie Iris & The Cruisers”) completam o álbum.

Como Jon disse: “Não nos tornamos uma boa banda até o terceiro álbum, mas tínhamos um baterista que conseguia marcar o tempo e isso já é algo que não se pode abrir mão. Eu até que me saí bem para um cara de 22 anos que não sabia nada sobre compor um vocal – onde você pega uma palavra e junta em ou com outra linha de uma faixa. Na época eu pensava: “Meu Deus, eu sou tão ruim que eles têm que juntar meus vocais”, mas o engenheiro de som me dizia: “Não se preocupe, Jon, até os grandes precisam compor um vocal.”

É nítido que a banda ainda procurava seu som, mas mesmo assim é possível ver o lado positivo do álbum com composições interessantes, bons vocais, teclados em profundidade, cozinha sólida (se o Alec tocou ou não é outra história) e Sambora dando um show à parte sendo técnico o suficiente sem ser exagerado.

Previsível? Um pouco. Datado? Sim. Brega? Talvez. Mas extremamente viciante.

Tracklist:

Runaway
Roulette
She Don’t Know Me
Shot Through The Heart
Love Lies
Breakout
Burning For Love
Come Back
Get Ready

Relançamentos:

1998 -> Japão com CD bônus
2010 -> Remasterizado com faixas extras

Bon Jovi“7800º Fahrenheit” (1985)
Mercury

Nota: 6,0

Tudo foi feito às pressas no primeiro álbum (montagem da banda, criação das músicas, gravação…) e apesar de o sucesso não ter sido o imaginado foi relativamente um bom início para o nome “Bon Jovi” começar a ser conhecido. A expectativa era de que o próximo álbum pavimentasse o caminho ao estrelato, mas, infelizmente, não foi bem isso o que aconteceu…

Jon em uma entrevista chegou a dizer: “Tudo naquele segundo álbum estava errado. Todos nós estávamos passando por tempos difíceis pessoalmente e isso era possível perceber na nossa música. Realmente não foi uma experiência agradável”.

Sambora em outro momento relatou a falta de comprometimento de Lance Quinn que estava se dedicando a outros trabalhos paralelamente: “Isso realmente deixou as coisas um pouco tensas” e Jon concordou: “Lance Quinn não era o homem certo para nós. Nenhum de nós queria viver naquele estado mental novamente. Esquecemos o álbum e seguimos em frente”.

Claramente a banda não gostou do resultado, mas foram três singles: “In And Out Of Love”, “Only Lonely” e “Silent Night”, 37º lugar na “Billboard 200”, certificado pela RIAA como disco de ouro e depois platina, excursão pela Europa e Japão, mais seis meses de excursão abrindo para o Ratt nos EUA, participação no “cast” do “Monsters Of Rock” em Donington, UK e do “Farm Aid”… UFA!! Será que o “7800º Fahrenheit” é tão ruim assim? Vejamos…

Em seis semanas, produzido novamente por Lance Quinn, “7800º Fahrenheit” (alguns dizem que o título foi inspirado no romance distópico “Fahrenheit 451” de Ray Bradbury e outros que faz referência ao ponto de derretimento da rocha, algo como a temperatura de um vulcão) foi finalizado e lançado em 27/03/1985.

O álbum começa com três das suas melhores músicas: “In And Out Of Love”, “The Price Of Love” e “Only Lonely”, demonstrando o amadurecimento musical da banda. “Tokyo Road” é um hard rock que homenageia os fãs nipônicos pela receptividade do primeiro álbum, “The Hardest Part Is The Night” remete à própria “Only Lonely” e mesmo assim se destaca e “Silent Night” traz o clima dos isqueiros acesos (ou celulares hoje em dia). Esse sexteto é o melhor do álbum. “King of The Mountain”, “Run To you”, “(I Don’t Wanna Fall) To The Fire” e “Secret Dreams” possuem alguns bons momentos, mas são esquecíveis.

Riffs mais “pesados”, solos legais (Sambora começava a chamar mais atenção), letras um pouco mais introspectivas, vocais OK, muitos sintetizadores, produção meio capenga (em alguns momentos dá dó ouvir a “cozinha”), alguns equívocos de que peso tem a ver com substância, alguns refrões fracos e outros muito legais, mas nada que justificasse um terceiro álbum naquele momento. Afinal o segundo álbum do Metallica foi “Ride The Lightning”, do Megadeth foi “Peace Sells…” e do King Diamond, “Abigail”.

O álbum grita aos quatro cantos que há potencial, mas ainda é preciso um maior amadurecimento. Parecia faltar uma certa capacidade de escrever grandes canções. Rumores diziam que a Mercury iria desistir da banda se não houvesse colaboração externa nas próximas composições. Mas isso é história para a próxima resenha.

Medíocre? Longe disso. Clichê? Bastante. Mas, apesar de repetir alguns erros do primeiro álbum, não se pode negar que havia uma “fagulha” ali que precisava ser mais bem explorada. Na média, “7800º Fahrenheit” tem seu charme e mérito.

Tracklist:

In And Out Of Love
The Price Of Love
Only Lonely
King Of The Mountain
Silent Night
Tokyo Road
The Hardest Part Of The Night
Always On The Run
(I Don’t Wanna Fall) To The Fire
Secret Dreams

Relançamentos:

1998 -> Japão com CD bônus
2010 -> Remasterizado com faixas extras

Bon Jovi“Slippery When Wet” (1986)
Mercury

Nota: 10

Não se alcançam resultados diferentes fazendo as mesmas coisas. Então, sai Lance Quinn e Tony Bongiovi e entram Desmond Child (Kiss, Scorpions, Alice Cooper) como colaborador externo (segundo a lenda por pressão da gravadora), o falecido Bruce Fairbairn (Loverboy, Black & Blue, Blue Oyster Cult) como produtor e Bob Rock, em início de carreira, como engenheiro de som. A banda se muda para Vancouver e grava todo o álbum no “Little Mountain Studios”.

A maioria do álbum foi escrita por Jon e Sambora e quatro músicas com a parceria inédita de Desmond Child, trabalhadas no porão da Mãe de Sambora. Jon certa vez explicou: “Ele não tentou mudar o que somos, mas nos refinar um pouco; sugerir maneiras de extrairmos mais de nós mesmos”.

O álbum, quase batizado de “Wanted Dead Or Alive”, foi “testado” para uma seleta audiência e o feedback definiu o corte final das músicas. Alguns dizem que o novo nome do álbum surgiu em virtude de uma placa que Doc McGhee (empresário da banda) viu na estrada e que coincidia com a performance das meninas do “strip club” No. 5 em Orange, Vancouver (parada obrigatória da banda durante a gravação do álbum) que passavam água e sabão umas nas outras, outros que durante uma dessas performances alguém gritou: “Slippery When Wet”, mesmos em ter essa certeza é fato que o “strip club” No. 5 influenciou a criação da capa do álbum que acabou alterada para o mercado mundial (menos no Japão) para a banda não parecer sexista.

Com relação às músicas, todos sabiam que havia algo de especial, mas como definir o que se tornará sucesso? Havia uma certa apreensão no ar e nenhuma previsão poderia ser feita, muito menos que a história da banda e do Hard Rock mudaria drasticamente. Em 18/08/86 “Slippery When Wet” é lançado e o Bon Jovi finalmente encontra seu pote de ouro.

O álbum caiu como uma bomba nas paradas com o “timing” perfeito: músicas, hora e lugar. Clássico atrás de clássico sem piedade. Um dos poucos álbuns já feitos em que todas as músicas poderiam ser lançadas como single. “You Give Love A Bad Name” (com sua abertura hipnotizante foi composta no 1º dia de parceria com Child, baseada em uma canção que ele havia escrito para Bonnie Tyler e quase foi cedida para o “Loverboy”), “Livin’ On A Prayer” (que música senhoras e senhores!! Também composta com Child e inspirada em seu relacionamento com Maria Vidal, só entrou no álbum graças a Sambora e Child terem convencido Jon a regravá-la (com menção honrosa para a inesquecível “talk box”). Como poderíamos ficar sem os eternos Tommy & Gina?), “Wanted Dead Or Alive” (inspirada em “Turn The Page” de Bob Seger comparando o músico e a estrada com o cowboy e o velho oeste. Imortal introdução, solo impecável e a segunda voz incomparável de Sambora), passando por “Raise Your Hands” (o hino da diversão), “I’d Die For You (Child de novo com ecos de “Runaway”), “Let It Rock” (introdução “Pink Flamingos” com órgão OTT), “Without Love” (um “hidden treasure” com Child e ecos de Springsteen), “Never Say Goodbye” (a única balada do álbum e a melhor da banda até então), “Social Disease” (quase cedida ao Aerosmith) e “Wild In The Streets” (pinceladas “Springsteenianas” misturadas com um “quê” de “Johnny B. Goode”).

Foram três “TOP 10” sendo “You Give Love A Bad Name” e “Livin’ On A Prayer” como nº 1 fazendo do Bon Jovi a primeira banda de Hard Rock a ter dois hits consecutivos em 1º lugar na “Billboard Hot 100”. “Wanted Dead Or Alive”, alcançou o 7º lugar tornando “Slippery When Wet” o 1º álbum de Hard Rock a ter três hits no “TOP 10”. Além disso, “Slippery When Wet” se manteve no 1º lugar na “Billboard 200” por 08 semanas e foi “TOP 5” por 38 semanas. Em termos de vendas foi Diamante nos EUA (12x) e Canadá, além de Platina no UK (3x) e na Austrália (6x).

Como disse Jon à “Arizona Republic” em 2013: “Esse foi o nosso “Thriller”, o nosso “Born In USA”, o nosso disco definitivo sobre o qual escreverão depois que morrermos. Não tenho problema em olhar para “Livin’ On A Prayer”, “Wanted Dead Or Alive” e “You Give Love A Bad Name” e dizer: “Sim, eles ainda fazem parte da cultura pop”.

“Slippery When Wet” ajudou a definir uma época. Citando Jon novamente, não se pensava apenas no sucesso financeiro e comercial, mas também em ser apreciado e respeitado: “Eu quero o tipo de respeito permanente e duradouro que Bruce Springsteen ou Southside Johnny têm. Eles fazem as pessoas pensarem com suas músicas e é isso que eu espero alcançar”.

Apoiado e muito pela MTV, o álbum foi, não apenas inovador, mas um avanço para o Hard Rock dos anos 80 marcando o momento no qual o “mainstream” foi invadido por este gênero. Totalmente essencial!

Tracklist:

Pink Flamingos (Intro) *
Let It Rock
You Give A Bad Name
Livin’ On A Prayer
Social Disease
Wanted Dead Or Alive
Raise Your Hands
Without Love
I’d Die For You
Never Say Goodbye
Wild In The Streets

* “Let It Rock” vem separada da introdução “Pink Flamingos” no mercado japonês

Relançamentos:

1998 -> Japão com bônus CD
2010 -> remasterizado com faixas extras

Observação: Duas canções que os fãs gostam muito não figuram no corte final do álbum: “Edge Of A Broken Heart” que Jon chegou a dizer que “era absolutamente apropriado para o álbum – poderia, deveria e teria estado nele se pensamentos mais sóbrios prevalecessem. Aqui está meu pedido de desculpas formal” (mais tarde ela fez parte da trilha sonora do filme “Disorderlies”, em 1987) e “Borderline” que mesmo não compondo o álbum virou single no Japão.

Bon Jovi“New Jersey” (1988)
Universal Music Group

Nota: 10

Em agosto de 1987, a turnê mundial do “Slippery When Wet” caminhava para o seu fim. A banda estava na estrada mais de um ano e o cansaço já estava exaurindo a todos. Uma pequena amostra disso pode ser vista no clipe de “Wanted Dead or Alive”. Mas a gravadora não queria saber de intervalo.

Logo após o fim do ciclo desse álbum a banda entrou em estúdio para gravar o próximo. Mesmo após vender milhões de discos não havia garantias. Anos mais tarde Jon explicou: “A gravadora nos aconselhou a não fazer uma pausa enorme. O sucesso pode ser muito instável na primeira vez e, a menos que você o acompanhe rapidamente, corre um sério risco de ser esquecido. Por isso fazia todo o sentido não perdermos tempo em gravar o próximo álbum”.

Mas como sobrepujar a própria obra-prima?

A pressão para dar sequência ao sucesso de “Slippery When Wet” era enorme. Não apenas o mundo todo estava de olho, mas a própria banda não queria deixar que pensassem que o sucesso foi obra do acaso. Desta vez, não havia apenas a colaboração de Desmond Child, mas também de Holly Knight (Aerosmith, Kiss) e Diane Warren (quase todos os artistas do mundo).

Depois de perder a queda de braço para a gravadora (se o álbum seria duplo ou não) a banda passa a ter o trabalho de fazer o corte final de 12 músicas das mais de 30 gravadas. A ideia de “Slippery When Wet” foi repetida: teste para uma audiência seleta. O resultado foi surpreendente e duas músicas que não estavam no corte final do álbum acabaram entrando: “Stick To Your Guns” (épico sobre autoconfiança) e “Wild Is The Wind” (sobre a natureza transitória da estrada e o “mítico” cowboy que pauta boa parte do álbum) e se tornaram dois “hidden treasures”.

“New Jersey”, que originalmente se chamaria “Sons Of Beaches”, ganha vida em 19/09/1988, novamente com Bruce Fairbairn e Bob Rock no comando (não se mexe em time que está ganhando).

O álbum já começa com uma sequência avassaladora: “Lay Your Hands On Me” e sua épica introdução, o petardo “Bad Medicine” (um hard rock de primeira linha com uma das versões do clipe sendo gravada pelos próprios fãs com as Super 8 e a impagável participação de Sam Kinison) e “Born To Be My Baby”, um dos maiores clássicos da banda, aumentando ainda mais a expectativa do restante do álbum.

Em seguida temos a balada espetacular “Living In Sin” a única composição solo de Jon no álbum aonde sua capacidade vocal é demonstrada. A clássica “Blood On Blood” é uma das composições mais poderosas do álbum. Com a introdução bombástica de Tico Torres a música é uma ode as virtudes da amizade e da lealdade. “I’ll Be There For You” é um show à parte. A melhor balada da banda até então apresenta visões nostálgicas da juventude através do arranjo de Blues de Sambora (sem contar seu vocal avassalador) e as harmonias complementares de Jon.

O álbum ainda conta com “Homeboud Train” um blues-rock que quase não parece Bon Jovi, “99 In The Shade” para se imaginar dirigindo um conversível à beira da praia, “Ride Cowboy Ride” em, pasmem, Mono e “Love For Sale” (uma brincadeira da banda).

Respondendo à pergunta do início da resenha: A maneira mais fácil seria fazer uma cópia, uma sequência, mas, astutamente, a banda escolheu por não fazer isso e “New Jersey” provou que não era apenas um álbum lançado na era MTV ou apenas uma sequência de seu antecessor, mas sim um álbum de rock real e substancial com várias pitadas de Blues e influências de John Mellencamp e Bruce Springsteen.

Dessa forma criaram um dos melhores álbuns de hard rock de todos os tempos. De novo!

Esse é um dos álbuns do Bon Jovi que se você ainda não tem precisa ter. Um clássico absoluto!

Tracklist:

Lay Your Hands On Me
Bad Medicine
Born To Be My Baby
Living In Sin
Blood On Blood
Homebound Train
Wild Is The Wind
Ride Cowboy Ride
Stick To Your Guns
I’ll Be There For You
99 In The Shade
Love For Sale
You Give Love A Bad Name (Live Version) *

* Faixa extra japonesa

Relançamentos:

1998 -> Japão com bônus CD
2010 -> Remasterizado com faixas extras
2014 -> Remasterizado com CD faixas extras (13 músicas que não entraram no corte final do álbum)

Jon Bon Jovi“Young Guns II: Blaze Of Glory” (1990)
Vertigo

Nota: 9,5

Depois de quatro álbuns o Bon Jovi virou uma máquina de sucesso tão grande que engoliu seus integrantes. Ao fim de duas sequenciais e intermináveis turnês com mais de 16 meses cada, a banda acabou dando um tempo nos trabalhos. Como Jon disse à Classic Rock uma década depois: “Inchado, bêbado, cansado, esteroides, sem voz… fiz show até com uma fratura na perna. Quebrei no palco e prendi com uma fita para que eu pudesse pular. Mas, verdade seja dita, não foi culpa de ninguém. Eles – gerência, empresa e agentes – estavam fazendo seu trabalho e estavam mais felizes com o dinheiro do que a gente”.

Durante essas “férias” Jon foi apresentado a Emilio Estevez e ouviu que “Wanted Dead Or Alive” serviu de inspiração musical para “Young Guns II” e que ele gostaria de utilizá-la no filme. “Fiquei muito satisfeito, mas um pouco confuso, pois a letra não encaixava no filme já que “Wanted…” é sobre estradas e turnês. Pedi que me deixassem escrever algo mais apropriado para o velho oeste e Billy The Kid” – lembrou Jon – “Uma música acabou se transformando em quatro, que viraram oito, chegaram a dez e eu concordei com um álbum”.

Mesmo que não confessem, acredito que músicos possuem alguma coisa de jogador de futebol: reclamam do trabalho intenso o ano todo, mas sempre que surge uma folga rola uma “peladinha”.

Jon se cercou de músicos famosos: Jeff Beck, Little Richard, Kenny Aronoff (John Cougar Mellencamp), Benmont Tench (Tom Petty), Sir Elton John, Waddy Wachtel (Rolling Stones, Iggy Pop), Aldo Nova, Randy Jackson e outros para a gravação do álbum. Menos de dois meses depois, mais precisamente em 07/08/1990, nascia “Young Guns II: Blaze Of Glory” produzido pelo próprio Jon e por Danny Kortchmar (Neil Young, Don Henley).

O álbum já abre com um trio matador: “Billy Get Your Guns”, “Miracle” e, nada mais nada menos do que “Blaze Of Glory”: a música que fez Jon ganhar um Globo de Ouro em 1991 e ser indicado ao Oscar e ao Grammy e, que, segundo Kiefer Sutherland, foi escrita em guardanapos de um bar e Emilio Estevez os emoldurou em sua casa. Com Jeff Beck, Kenny Aronoff e Jon mandando ver, essas músicas nos levam de volta ao velho oeste (com uma tremenda pegada hard rock) mostrando o porquê de o álbum ser platina triplo e a faixa título ter alcançado o primeiro lugar nas paradas.

“Blood Money” (excelente e com ecos de Bob Dylan), a épica e espetacular “Santa Fe” (a melhor música solo de Jon), “Never Say Die” (com o falecido Robbin Crosby do Ratt nas guitarras), “Bang A Drum” (soul rock com Jeff Beck e Jon sendo o corpo e as vocais de apoio Julia e Maxine Waters sendo a alma e roubando a cena) e “Dying Ain’t Much Of A Livin’” emoldurada pelo piano e voz de Sir Elton John são os pontos altos do álbum.

“Justice in The Barrel”, com o canto nativo de Lou Diamond Phillips além de um Jeff Beck inspiradíssimo e “You Really Got Me Now” com o eterno Little Richard, não chegam a ser pontos fracos, mas destoam do restante do álbum.

Jon diz que não é um trabalho solo e sim uma trilha sonora, mas outras pessoas dizem que não é uma trilha sonora, pois nenhuma música toca durante o filme. Sem importar a definição, Jon deu vida a uma dezena de canções conceituais, inspirado pelo tema de redenção e traição (contando a história de Billy The Kid e Pat Garrett e porque não a personificação do próprio velho oeste) e mostrou ao mundo que teve qualidade e capacidade de criar um álbum atemporal!

Tracklist:

Billy Get Your Guns
Miracle
Blaze Of Glory
Blood Money
Santa Fe
Justice In The Barrel
Never Say Die
You Really Got Me
Bang A Drum
Dyin’ Ain’t Much Of A Livin’
Guano City

Richie Sambora“Stranger In This Town” (1991)
Mercury

Nota: 9,5

Após conquistar o mundo os membros do Bon Jovi resolveram seguir caminhos diferentes e Sambora lançou em 1991 seu primeiro álbum solo sem muito alarde, mas se engana quem confunde discrição com má qualidade.

Com seus amigos do Bon Jovi: Tico Torres (bateria) e David Bryan (teclados) ele adicionou à essa química existente o fantástico baixista Tony Leven (King Crimson, Pink Floyd, Liquid Tension Experient). Ainda há participações de Eric Clapton, Randy Jackson, Jeff Bova, Dean Fasano (saudoso companheiro de Sambora e Alex John Such no “Message”) e tantos outros.

Em 03/09/91 “Stranger In This Town”, produzido por Sambora e Neil Dorfsman (Dire Straits, Bruce Hornsby, Paul McCartney e Sting) é lançado e impressiona a todos como ele é capaz de colocar “alma” em tudo o que toca.

O álbum abre com a bela introdução “Rest in Peace” trazendo um clima sombrio, atmosfera pesada totalmente embebida em blues e com vocais emotivos.

Depois é petardo atrás de petardo: “Church of Desire” (carregada de alma e com Sambora detonando nos vocais e na guitarra. O groove do baixo é outro show à parte. Amém!), “Stranger In This Town” (aonde o Blues se encontra com o Rock. Irresistível!), “Ballad Of Youth” (que vocal, que solo e que música!), “One Light Burning” (com Randy Jackson no baixo, Sambora voa em uma balada excepcional), “Rosie” (tremendo hard rock coescrito com Child,  Jon e Diane Warren para o “New Jersey”, mas ficou de fora no corte final) e as duas baladas finais: “Father Time” (melancolia a define. Palmas para o trabalho impressionante de Sambora nas guitarras e no vocal (coescrita com Child também)) e “The Answer” (uma viagem existencial).

Dois momentos destoam no álbum: “River Of Love” (a “Bad Medicine” de Sambora com uma pegada diferente e o incrível baixo de Tony Levin, mas ainda assim genérica) e “Mr. Bluesman” que, apesar da presença de Eric Clapton (Ele rouba a cena “rasgando” no solo) e do bom trabalho de Tico Torres, é excessivamente bajuladora.

Se existiu alguma dúvida sobre Sambora conseguir se desvincular da imagem da banda e imprimir sua própria marca, ela caiu por terra quando o álbum foi lançado. Trazendo uma união madura e diversificada de Blues, Soul e Rock passando por Vaughan, Hendrix, Clapton e o próprio Sambora, cada faixa do álbum é uma surpresa bem-vinda.

Como está escrito na instrução do álbum: “Turn down the lights, light a candle… Welcome…” Deleite-se com “Stranger In This Town”: um bálsamo que soube envelhecer e não teve seu brilho alterado!

Tracklist:

Rest In Peace
Church Of Desire
Stranger In This Town
Ballad of Youth
One Light Burning
Mr. Bluesman
Rosie
River Of Love
Father Time
The Answer
Wind Cries Mary *

* Faixa extra japonesa

Observação: O álbum foi lançado nos EUA também como CD duplo em duas edições com um estojo diferente: uma com um CD de entrevistas e outra com um CD single. As duas edições vinham também com mais algumas bugigangas como palheta, cordão, etc.

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