ENTREVISTA COM REGGIE WU (HEAVENS EDGE)
Entre os muitos discos de hard rock e heavy metal que completam 30 anos em 2020, o de estreia do Heavens Edge pode nem constar entre os mais festejados, mas é, sem dúvida, um dos de maior qualidade. Muito disso deve-se ao trabalho do guitarrista Reggie Wu, principal compositor da banda ao lado do vocalista Mark Evans. De sua casa em Nova Jersey, Wu fez uma retrospectiva da carreira do Heavens Edge – com ênfase no trabalho que completou três décadas no último dia 24 de maio – e falou para o Metal Na Lata sobre o futuro da banda à luz do falecimento do baixista George “G.G.” Guidotti. Confira abaixo.
Por Marcelo Vieira
Fotos: Divulgação
Metal Na Lata: Devo dizer que quando penso em Hard Rock lado B na Filadélfia, os dois primeiros nomes que me vêm à mente são Heavens Edge e Roughhouse. Você se lembra deles?
Reggie Wu: Claro que me lembro do Roughhouse! Éramos grandes fãs deles! Gregg [Malack] é um ótimo guitarrista!
Metal Na Lata: Como era a cena da Filadélfia naqueles dias?
Reggie Wu: Incrível! Era demais poder assistir ao Cinderella e ao Britny Fox todo fim de semana! Havia muita gente talentosa em Nova York, Nova Jersey e Connecticut, muitas bandas incríveis. Era como ter a nossa própria filial da Sunset Strip!
Metal Na Lata: Heavens Edge é um ótimo nome de banda. Dá a impressão de que vocês estão no inferno ou perto o bastante. Quem teve a ideia do nome? Há algum significado por trás dele?
Reggie Wu: Mark fazia parte de uma banda chamada Network, que estava se preparando para lançar um disco quando uma banda do Canadá os proibiu de usar o nome. Eles abriram um concurso para escolher um novo nome, valendo um CD player para o autor do nome escolhido. Uma das entradas era Heavens Edge. Então, quando estávamos pensando em um nome, Mark o mencionou e nós o adoramos. Mais tarde, quando assinamos com a Columbia Records, um repórter nos perguntou: “Esse nome, Heavens Edge, vem de Mark EVANS e REG Wu (EvansReg)?” [risos]. Eu bem que gostaria que fôssemos inteligentes a esse ponto – embora tenhamos futuramente nomeado nossa editora EvansReg.
Metal Na Lata: O lendário Neil Kernon produziu o álbum de estreia de vocês. Como foi trabalhar com ele?
Reggie Wu: Trabalhar com Neil foi uma das melhores experiências da minha vida – seu ouvido é incrível!
Metal Na Lata: Na minha opinião, Neil exagerou um pouco na dose, deixando tudo muito super-polido. Você teria preferido uma abordagem mais direta no que diz respeito a produção?
Reggie Wu: Acho que Neil poliu as coisas um pouco demais, sim, mas era isso que estávamos procurando na época. Passados trinta anos, sinto que a produção do CD envelheceu muito bem! Não éramos uma banda qualquer, para começar [risos]
Metal Na Lata: Vocês gravaram um clipe para “Skin to Skin”. Apesar de ela ser uma das melhores músicas do álbum, talvez não seja a mais radiofônica nem a mais compatível com a MTV. Se dependesse apenas de você, qual teria sido o single e clipe de estreia?
Reggie Wu: A tendência naquela época era lançar um “rockão” primeiro para tentar atrair o público do sexo masculino. A Columbia achava que os homens gostariam mais da banda do que as mulheres. Pareceu fazer sentido na época, sem contar que “Skin to Skin” era uma das nossas músicas mais populares entre os fãs locais. Mas agora, olhando em retrospecto, deveríamos ter lançado “Find Another Way”, embora eu acredite que o grunge teria nos atingido de qualquer maneira.
Metal Na Lata: Qual é a sua música favorita no álbum e por quê?
Reggie Wu: “Come Play the Game”. Amo o refrão que Mark escreveu para ela. Não a tocamos nos shows, mas adoro ouvi-la!
Metal Na Lata: Já a minha é “Hold On to Tonight”. Aliás, em um mundo perfeito, ela deveria ter sido um hit.
Reggie Wu: Muito obrigado! Engraçado que eu ensinei essa música outro dia. Tive que reaprender o solo dela para ensinar para o meu aluno [risos]. Mark e eu sempre gostamos de compor no piano. Fizemos várias músicas no piano na época. Voltando a uma pergunta anterior, sobre Neil ter polido demais o disco, acho que Neil queria ter usado um piano de cauda na “Hold On”, mas eu tinha acabado de ouvir “Headed for a Heartbreak”, do Winger, e optei por esse “som”. Pensando agora, gostaria que tivéssemos usado um piano de cauda.
Metal Na Lata: O álbum poderia e deveria ter impulsionado a banda para o primeiro escalão. Na sua mais sincera opinião, por que não o fez?
Reggie Wu: Don Ienner previu que o grunge seria grande – e ele estava certo. Ele nos substituiu, e o Warrant, pelo Alice in Chains, e o Alice in Chains segue firme e forte até hoje. Vejo as revistas Metal Edge e Hit Parader da época e toda banda parecia cópia uma da outra, faltava identidade, todos parecíamos um só. Então, quando o Nirvana, o Soundgarden e o Pearl Jam chegaram, o som era tão diferente que o público adorou. No começo eu detestei – ouvi as primeiras demos do Alice in Chains e achei terrível –, mas agora eu amo. Acho que provavelmente era só recalque da minha parte [risos].
Metal Na Lata: Você acredita que as coisas teriam sido diferentes se a Columbia tivesse seguido em frente com a ideia original, que era lançar um clipe para “Find Another Way”?
Reggie Wu: Sem dúvida, mas mesmo depois disso, “Find Another Way” começou a decolar por conta própria. A KNAC-FM de Los Angeles a incluiu na programação. Acho que com algum suporte da gravadora, “Find Another Way” poderia ter dado em alguma coisa. Chegamos a gravar metade do clipe antes de Ienner cancelar tudo. Eu adoraria ver essas imagens.
Metal Na Lata: Jani Lane disse uma vez que soube que algo estava prestes a acontecer quando o escritório da Columbia substituiu o pôster de “Cherry Pie”, do Warrant, por um de “Dirt”, do Alice in Chains. Você se lembra do exato momento em que percebeu que a indústria fonográfica havia mudado e que talvez vocês estivessem com os dias contados na gravadora?
Reggie Wu: Foi meio que do nada para nós. Gravamos metade do clipe de “Find Another Way” e então tudo foi cancelado. Lembro dos nossos empresários nos dizendo que Don Ienner odiava a música, e quando lhe disseram que já havíamos torrado metade do orçamento em um dia de filmagens, ele disse que esse era mais um motivo para não investir mais um centavo nele, para minimizar os prejuízos. Quando nossa turnê com Nelson e Love/Hate foi cancelada nós soubemos que era o fim da linha.
Metal Na Lata: Em 1990, a Columbia também lançou o álbum de estreia do Firehouse, que ganhou disco de ouro graças ao sucesso da power ballad “Love of a Lifetime”. Você se lembra se o Firehouse recebeu mais promoção e esforços da gravadora na época?
Reggie Wu: Para falar a verdade, eu nem sabia que o Firehouse estava na Columbia, mas eles eram uma ótima banda.
Metal Na Lata: [Risos] com quais bandas que você sabia que estavam na Columbia vocês tinham uma boa relação?
Reggie Wu: Tínhamos uma ótima relação com o Britny Fox, obviamente. Não lembro se cheguei a conhecer pessoalmente os caras do Warrant – David [Rath, o baterista] e George que costumavam confraternizar com todas as outras bandas. Uma vez esbarrei com Bruce Dickinson e Lemmy no elevador da sede da Columbia – morri de medo do Lemmy [risos].
Metal Na Lata: Hoje o álbum de estreia do Heavens Edge é considerado um clássico cult do Melodic Rock. Surpreende você que tantas pessoas de tantos países diferentes se sintam ligadas às músicas que você gravou três décadas atrás? Como é obter um feedback tão positivo – mesmo que com tanto tempo de atraso?
Reggie Wu: É simplesmente o máximo! Somos muito gratos por essa nova oportunidade. Quando tocamos no Firefest X, em 2013, mal podíamos acreditar: o público cantava junto com nossas músicas. Foi aí que decidimos que faríamos alguns shows todo ano. Agradecemos demais pelos nossos fãs!
Metal Na Lata: O show no Firefest foi o primeiro de vocês fora dos Estados Unidos. Ainda assim, a maior autoridade no que diz respeito ao Heavens Edge é um fã de Gotemburgo, Suécia. O que você tem a dizer sobre Daniel Staresina e o trabalho que faz desde 1997 à frente do heavensedge.net?
Reggie Wu: Daniel é a razão pela qual ainda estamos tocando. Ele é um cara muito legal! Foi incrível finalmente conhecê-lo pessoalmente no Firefest! Não acredito que o site existe desde 1997 – uau! Devemos muito a Kieran [Dargan] do Firefest também – caras como eles mantiveram nosso nome vivo e por isso somos eternamente gratos! Fiquei muito chateado quando nosso show na Suécia no ano passado foi cancelado. Espero que ainda possamos compensar isso um dia.
Metal Na Lata: Falando em shows, vocês tocaram na última edição do Monsters of Rock Cruise. Para quem nunca foi, como é a experiência de conhecer os caras de outras bandas, os fãs de diferentes partes do mundo e toda a boa música e diversão envolvidas?
Reggie Wu: É incrível. Conhecemos pessoas de todo o mundo – nos surpreende que esta pequena banda de Nova Jersey tenha fãs em todo o mundo. Somos muito gratos pelo apoio de todos. Por exemplo, no último cruzeiro, alguém fez uma correia de guitarra com a imagem do nosso primeiro álbum – eu queria uma! [risos] E conhecer os caras de outras bandas é sempre ótimo. Nunca tivemos o sucesso de muitas das outras bandas no cruzeiro, então conhecer uma banda como o Extreme é demais – sou muito fã do Nuno [Bettencourt] e quando o conheci simplesmente gelei. Tudo o que eu consegui dizer a ele foi: “eu gosto das suas músicas”. Caramba, eu com certeza deveria ter pensado em algo melhor para dizer! [risos].
Metal Na Lata: Os shows no Monsters Of Rock Cruise foram os primeiros da banda desde a morte do G.G. Lembro-me de quando você disse que vocês tocariam no MORC em sua homenagem. Vocês também dedicaram “Jacky” a ele. Para quem não conhecia o cara, como você o descreveria como pessoa, colega e músico?
Reggie Wu: Durante todo o cruzeiro, todos nós da família Heavens Edge ficávamos lembrando do George e das coisas engraçadas que ele dizia e fazia – era uma loucura. Todos sentíamos que ele estava lá conosco. Sinto muita falta dele.
Metal Na Lata: Jaron Gulino, que tocou com vocês no MORC, continuará sendo o baixista do Heavens Edge?
Reggie Wu: Sim. Quando George faleceu, eu fiquei em dúvida se queria continuar com a banda. Aí Mark sugeriu Jaron, e quando ele veio tocar conosco, fiquei impressionado com sua interpretação, sua personalidade. Ele se tornou parte da família logo de cara. Seu objetivo era deixar George orgulhoso e fazer jus ao seu legado. Sem contar que é o cara mais esforçado que eu conheço, com sua banda Tantric! Assim que começamos a tocar, não perdemos o ritmo!
Metal Na Lata: Sempre que a Frontiers Records pergunta aos fãs quais bandas eles gostariam de ver gravando um novo álbum, o Heavens Edge é um dos nomes mais citados. Ela já entrou em contato com vocês? Existe alguma perspectiva de um novo álbum do Heavens Edge em um futuro próximo?
Reggie Wu: Conversamos com muitas gravadoras diferentes, mas, para mim em especial, seria difícil me dedicar a isso. Tenho um filho no ensino médio e se preparando para ir para a faculdade, logo, minha prioridade tem que ser minha família. Mas nunca se sabe…
Metal Na Lata: Apesar das músicas que foram lançadas em “Some Other Place, Some Other Time” (1998), suponho que deva haver mais de onde elas vieram. Por que vocês não as lançam para a alegria dos fãs?
Reggie Wu: Temos muito material que nunca foi usado, mas teríamos que trabalhar em cima dele. O problema é que todos temos empregos em horário integral. David é vice-presidente da Roadrunner Records e vive incrivelmente ocupado. Eu trabalho mais de 50 horas por semana dando aulas etc. Mark e eu compusemos músicas novas – espero que possamos encontrar tempo para gravá-las.
Metal Na Lata: O que podemos esperar então do Heavens Edge?
Reggie Wu: Por enquanto, Mark e eu estamos compondo. Espero que essa quarentena termine logo e possamos entrar em estúdio para gravar algumas demos.
Metal Na Lata: Muito obrigado por essa conversa, Reggie! Vamos terminar com um recado seu para os leitores do Metal Na Lata!
Reggie Wu: Para todos os leitores do Metal Na Lata, muito obrigado do fundo do coração. Obrigado aos fãs pelo apoio ao longo dos anos. Espero que um dia possamos ir ao Brasil e tocar! Eu adoraria!
Mais informações:
www.facebook.com/heavensedgeband