Entrevista com Tony Kakko (Sonata Arctica)

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ENTREVISTA COM TONY KAKKO (SONATA ARCTICA)

Os finlandeses do Sonata Arctica viriam ao Brasil em março para a turnê de divulgação de “Talviyö”, o décimo disco de estúdio do quinteto, lançado pela Nuclear Blast. Porém, com a pandemia de covid-19, os shows foram adiados para novembro. O Metal Na Lata bateu um papo com o vocalista Tony Kakko que falou a respeito das novas composições, sobre a mudança no estilo da banda e também sobre o ex-guitarrista Jani Liimatainen. Confiram! (OBS: entrevista realizada antes da pandemia de covid-19)

Por Gustavo Maiato
Fotos/Divulgação

Metal Na Lata: O novo álbum “Talviyö” não é Power Metal, com músicas mais lentas e de alguma forma diferentes de tudo pelo que o Sonata Arctica sempre foi conhecido. Você poderia nos contar sobre o processo de escrever o novo trabalho e quais foram as inspirações para criar esse álbum?

Tony Kakko: Apenas a primeira música eu diria que se inclina para os dias antigos, mas sim, o resto está mais próximo do que éramos antes de nos tornarmos o Sonata Arctica. Tenho que admitir, no entanto, que a vibração geral do álbum ficou um pouco mais lenta do que eu imaginava, mas esses eram os andamentos que as músicas funcionavam melhor. Prometi a mim mesmo que NUNCA estupraria outra música minha para algo que não deveria ser, o que é algo que eu estava fazendo MUITO com os álbuns anteriores. Foi terrível. Mas certamente eu trouxe essas músicas para a atenção de pessoas que gostam de coisas mais rápidas. Power Metal e tal.

O mesmo acontece com muitos dos álbuns após “Reckoning Night” (2004). Eu escrevo as músicas que surgem, sem planejamento. Um processo muito verdadeiro e natural, mas é preciso admitir: provavelmente é algo que não é uma maneira muito boa de se fazer. Muitos de nossos antigos fãs me procuraram para dizer que não seguiam o Sonata há anos, pois o gosto musical deles havia mudado, até que de repente agora nos encontramos novamente com a nova abordagem, mais madura. E eles adoram. Então isso é bom. É lamentável que algumas pessoas ainda, depois de tantos anos, dezesseis, dezessete anos, chorem por algo que durou quatro ou cinco anos. Juventude, suponho. Essas memórias e músicas nunca desaparecem, mas você sabe, eu quero apoiar meu trabalho, permitir que seja verdade. E este é o caminho.

A criação de “Talviyö” foi com muito trabalho, diversão, lágrimas, suor, emoções … E aventura, e na verdade esse nome eu estava pensando por um tempo. Nós fomos um pouco old school durante a gravação, gravando bateria e baixo e, em algumas partes, teclados e guitarras ao vivo no estúdio, o que deu ao álbum todo esse sentimento mais natural e orgânico.

 

Metal Na Lata: Você poderia nos contar sobre a música “Ismo’s Got Good Reactors”? É uma música instrumental, algo raro na discografia da banda. Qual foi a inspiração para ela?

Tony Kakko: Algumas das partes são realmente muito antigas, feita nos anos 90, e estavam me assombrando o tempo todo. Já estava na hora de deixar escapar. Eu estava apenas me divertindo, brincando e de repente eu tinha uma coisa que lembrava uma música. Estava tentando descobrir algo para cantar lá também, mas logo cheguei a uma conclusão que funcionava melhor como instrumental. Os caras gostaram tanto… O nome me lembra uma coisa que ouvi de um amigo, algo que veio a ser uma frase cotidiana.

 

Metal Na Lata: Nos shows mais recentes, a banda optou por tocar apenas algumas faixas do material antigo de “Ecliptica” ou “Silence” e optou por se concentrar muito nos álbuns mais recentes, como “Talviyö”, “The Ninth Hour” e “Pariah´s Child “. Por que a banda escolheu esse set list? É um indicador de como o Sonata Arctica quer ser reconhecido a partir de agora?

Tony Kakko: Bem… Sim. Claro. Acho que desde o nosso álbum de rock, “Stones Grow Her Name”, nós criamos três álbuns que são todos diferentes, mas alinhados de várias maneiras. Eu entendo que esta é a nossa “terceira era”. Os primeiros três ou quatro álbuns foram a primeira era; depois, até “Stones”, vivemos nossa segunda era, a era da aventura, e agora essa era mais madura. Claro que você quer ser conhecido pelo que realmente é hoje. Não quero ser conhecido como era quando eu tinha vinte e cinco anos.

Quando se trata de set lists, com dez álbuns lançados, temos um ‘problemão’ para escolher as músicas. Alguns álbuns estão totalmente de fora, esperando ser trazidos mais tarde. De qualquer forma, estamos promovendo nosso novo álbum “Talviyö” nesta turnê, então naturalmente existem algumas faixas dele.

Engraçado, na verdade, tocamos aquelas músicas antigas de “Power” aqui e ali, pensando que seria uma explosão para os fãs e eles adorariam isso, mas uma enorme maioria dos nossos fãs apenas nos encarou pensando claramente “o que diabos é isso?”. Eu imagino que foi muito parecido com o modo como presumo que algumas pessoas ficaram surpresas quando foram ver o Mr. Big ao vivo, pensando que tudo era apenas ““I’m the one who wants to be with you”… Engraçado.

 

Metal Na Lata: O vídeo da música “Who Failed The Most” foi dirigido por Patrick Ullaeus, que se tornou um nome forte quando se trata de clipes de Heavy Metal. Você poderia nos dizer como foi trabalhar com ele e como foi gravar este videoclipe?

Tony Kakko: Nós trabalhamos com ele no álbum “Pariah’s Child” também. Ele é um CARA FANTÁSTICO, fácil de trabalhar e super profissional. Foi um longo dia de filmagens. É claro que o cantor geralmente leva a pior nas gravações, mas é assim que as coisas são. Eu não me importaria de NÃO estar no vídeo (risos)!

 

Metal Na Lata: Recentemente, o Sonata Arctica tocou na mesma noite com o Insomniun, a nova banda do ex-guitarrista do Sonata, Jani Liimatainen, e tudo parecia ótimo, vocês até tiraram fotos juntos. Você poderia nos dizer como é o relacionamento da banda com ele e o que você acha de o Sonata ter dois guitarristas no futuro, Elias e Jani?

Tony Kakko: Nós o vemos muito raramente, mas as coisas são boas. Nunca tivemos discussões, apenas um monte de coisas que nos levaram a nos separar. Foi muito triste. Mas provavelmente para o melhor. Eu nunca imaginaria Jani querendo se juntar ao Sonata novamente. Ter dois guitarristas mudaria muito as coisas, abriria algumas portas em relação ao arranjo, mas acho que estamos bem resolvidos do jeito que estamos. Só não vejo isso acontecendo, nem mesmo se eu quisesse.

 

Metal Na Lata: Como você lida com as críticas de que a banda deve entregar algo que os fãs desejam, como solos rápidos, bateria com pedal duplo, refrões que grudam na sua cabeça e tudo o mais pelo qual a banda ficou conhecida?

Tony Kakko: Isso foi há muito tempo, eu não entendo por que as pessoas se preocupam em reclamar quando nós claramente nos afastamos dessa forma de nos expressar. Mais de dez anos atrás. Eu acho que é um desperdício de energia. Então, eu realmente não presto atenção ao que quer que seja. Eu sinto muito (risos)!

 

Metal Na Lata: No ano passado, o Brasil teve uma grande perda na cena Heavy Metal com a morte de Andre Matos, que cantou no Angra, Shaman, Avantasia etc. Você o conheceu, teve algum contato ou conhece a música dele?

Tony Kakko: Isso foi um choque. Ele era jovem demais para ir. Ele era um grande cantor e artista e certamente foi uma enorme perda para o mundo da música. Pelo que ouvi, ele também era uma pessoa muito legal. Infelizmente, nunca tive a chance de conhecê-lo pessoalmente.

 

Metal Na Lata: No próximo ano, o álbum “Silence” faz 20 anos. Devido ao sucesso das turnês comemorativas hoje em dia, o que você acha de fazer uma turnê tocando as músicas deste álbum?

Tony Kakko: Veremos. É provável que não, pois temos muitos planos para 2021 além da turnê. Vinte anos… Caramba!

 

Metal Na Lata: Muitas pessoas não conhecem a saga Caleb, onde algumas músicas de vários álbuns da banda contam uma história paralela. Essa história foi planejada pela banda? Como surgiu essa ideia? (Nota, são elas: “The End of This Chapter” (“Silence”, de 2001), “Don’t Say A Word” (“Reckoning Night”, de 2004), “Caleb” (“Unia”, de 2007) e “Juliet” (“The Days of Greys”, de 2009).

Tony Kakko: Ah, na Europa e no resto do mundo me parece que essa saga se tornou uma peça central da nossa carreira (risos)! Diferenças culturais… Eu escrevi algumas músicas em alguns álbuns e de alguma forma elas pareciam estar conectadas, então tomei uma decisão consciente de escrever mais músicas como essa usando os mesmos personagens. Originalmente não foi planejado.

 

Metal Na Lata: Há uma história de que, no início dos anos 2000, Tuomas Holopainen, do Nightwish, estava desistindo da banda e você apareceu e o fez mudar de ideia. Você poderia nos contar um pouco sobre essa história?

Tony Kakko: Leia o livro (risos)! (Nota do Autor: ele se refere ao livro
“Nightwish: A Biografia Oficial Parte 1: 1996-2006) Eu realmente não tenho nada a acrescentar a isso. Fico superfeliz se a caminhada que fizemos juntos o ajudou a clarear sua mente e fazer as coisas funcionarem novamente.

 

Metal Na Lata: Ainda falando sobre seu relacionamento com o Nightwish, quais são as suas lembranças da gravação do DVD “From Wishes To Eternity”? No Rock in Rio em 2015, eu jurei que você relançaria o dueto em “Beauty And the Beast”, desta vez com Floor Jansen!

Tony Kakko: Isso teria sido ótimo, realmente, mas bem… Fiquei muito feliz por ter a chance de ter tocado com o Nightwish. Foi uma grande honra!

 

Metal Na Lata: E o que dizer do Northern King”? Esse projeto paralelo foi bastante bem-sucedido. Quais músicas você gostaria de tocar em um álbum futuro?

Tony Kakko: O navio do Northern Kings está nas docas há um tempo, e todas as pessoas nele se concentram no projeto de Natal, o Raskasta Joulua, que é uma grande coisa na Finlândia. Nós já conversamos sobre reviver o Northern Kings de alguma forma em algum momento, mas agora parece um tiro no escuro. Eu adoraria!

 

Metal Na Lata: Por favor, deixe uma mensagem para os fãs do Brasil e para o Metal Na Lata!

Tony Kakko: Não posso esperar para voltar ao Brasil! Eu sinto saudade de vocês. Espero ver vocês todos nos nossos shows!

 

Mais informações:

www.facebook.com/sonataarctica
www.sonataarctica.info
www.instagram.com/sonataarcticaofficial

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