ENTREVISTA COM WOLF HOFFMANN (ACCEPT)
Por Gustavo Maiato
Header/Diagramação por Johnny Z.
Fotos por Iana Domingos, Scott Duissa e Deaf Music
Guitarrista da banda alemã Accept desde os 16 anos de idade, Wolf Hoffmann já marcou seu nome na história do Heavy Metal. Em 2021 – aos 61 anos de idade – o músico segue produzindo, com o lançamento de “Too Mean To Die”, que chegará às lojas e às principais plataformas de streaming no dia 29 de janeiro. O Metal Na Lata bateu um papo exclusivo com o guitarrista sobre os dois singles já lançados – “Too Mean To Die” e “The Undertaker” – e sobre outros temas como sua carreira como fotógrafo profissional e a influência que o Accept exerce sobre as novas gerações de músicos. Boa leitura! (Entrevista realizada antes do lançamento do novo álbum!)
Metal Na Lata: No videoclipe oficial da música “Too Mean To Die”, no YouTube do Accept, um fã escreveu que vocês são como o AC/DC: dão aos fãs exatamente o que eles querem. Você concorda com essa afirmação?
Wolf Hoffmann: Nós tentamos! Eu sempre fui um grande fã de AC/DC e por um lado eu concordo que nós sempre tentamos entregar aquilo que os fãs estão esperando. Não queremos inventar moda, temos uma base de pessoas que curtem nosso trabalho, temos uma história e um legado. Mas eu não acho que somos tão limitados quanto o AC/DC! As músicas deles são exatamente as mesmas sempre! Acho que nosso espectro é maior nesse sentido.
Metal Na Lata: Ainda sobre “Too Mean To Die”, a música fala sobre alguém que é muito mau até mesmo para morrer. Considerando que essa letra seja de alguma forma autobiográfica, você já fez muita coisa errada na sua vida que justifique o título da música?
Wolf Hoffmann: Acho que não! Apenas soa legal para os fãs ter um álbum em que eles podem dizer que são malvados! Nós somos os guerreiros do metal da Alemanha e não podemos ser mortos!
Metal Na Lata: A outra música lançada, “The Undertaker”, é quase uma balada. Qual a diferença entre escrever uma música “padrão Accept” – mais rápida e pesada – e uma música mais lenta como essa?
Wolf Hoffmann: Você acha que “The Undertaker” é uma balada? Verdade mesmo? (risos)
Metal Na Lata: Bom, se a gente levar em conta a discografia do Accept, acho que dá para considerar essa música como uma balada! (risos)
Wolf Hoffmann: Sim, entendo! Você é a primeira pessoa que fala que essa música é uma balada! Mas eu entendo o que você está dizendo. Considero ela uma música mid tempo tradicional como “Princess of the Dawn”. Não é tão agressiva, realmente. Nesse disco temos um equilíbrio entre vários estilos, temos músicas de mid tempo, muitas mais velozes e até uma balada mesmo. Tem uma variedade bem grande. É difícil escolher uma música que represente o álbum inteiro, mas escolhemos essa música como single porque ela já estava pronta há muito tempo. Foi uma das primeiras que finalizamos. Ela conta uma história visual interessante também. Quando você ouve, começa a aparecer um filme na sua cabeça. Isso é legal para pensar videoclipes, mostrando um coveiro (Undertaker) e tudo mais. Temos outras músicas que dariam ótimos singles, mas são mais difíceis de traduzir para o visual.
Metal Na Lata: O coveiro do clipe tem uma maquiagem pesada, parece até o Coringa! Qual foi a inspiração para esse personagem da maneira que ele é apresentado no vídeo?
Wolf Hoffmann: Enviamos a música para a empresa que produziu o vídeo e eles vieram com essa ideia. Eles chegaram com essa ideia do coveiro dançando com uma garota no cemitério. Nós amamos essa ideia! O clipe foi filmado na Polônia, mas as cenas no cemitério foram filmadas em Nashville, no Tennessee. O nosso outro guitarrista Uwe Lulis mora na Alemanha e não pode estar presente no dia da gravação do clipe. Não dá para viajar por causa da pandemia. Tentamos fazer o melhor possível, o trabalho ficou bem legal.
Metal Na Lata: Como foi escrever as músicas do novo álbum no meio da pandemia? Vocês se encontraram em algum momento presencialmente?
Wolf Hoffmann: Sim, nós começamos a escrever tem tempo, eu encontrei o pessoal da banda ainda em janeiro. Em março, quando a coisa começou a complicar, nós já tínhamos umas sete músicas escritas. Queríamos encontrar em junho novamente, mas tudo fechou e não conseguimos. Nosso produtor Andy Sneap não conseguiu viajar para os EUA para trabalhar com a gente, não tivemos escolha senão trabalhar sozinhos. Reunimos com o Andy on-line às vezes e ele orientava, dava comentários. Isso influenciou um pouco o resultado, mas quase tudo já estava feito antes da pandemia.
Metal Na Lata: Em outra entrevista, você comentou que achava legal o fato de outras bandas apontarem o Accept como grande influência. Qual você acha que é a maior contribuição do Accept para o Heavy Metal que possa servir de influência para outras bandas?
Wolf Hoffmann: Eu não sei bem, sempre ouço bandas dizerem que a música “Fast as the Shark” influenciou o som deles. Bandas de Speed Metal e Thrash Metal contam que ouviram essa música e pensaram “meu deus, isso é algo completamente diferente do que eu já ouvi!”. Algumas pessoas já me contaram que por causa de músicas como essa elas resolveram aprender a tocar guitarra e estar em uma banda. Eu não sei, acho que nós fomos responsáveis por mudar o gosto musical de muitas pessoas e também mudar a vida de muita gente! É muito louco isso!
Metal Na Lata: Mudando um pouco de assunto, você já trabalhou como fotógrafo profissional. Como surgiu esse ofício na sua vida e que tipo de trabalho você costuma fazer?
Wolf Hoffmann: A fotografia entrou na minha vida quando eu comecei a viajar pelo mundo com o Accept. Do nada eu estava nessa banda, viajando para os EUA pela primeira vez, no início dos anos 80. Estava longe de casa conhecendo esses lugares fantástico. Então comecei a tirar fotos para registrar esses momentos nas turnês. Minha mulher sempre me apoiou dizendo que minhas fotos eram muito boas. Eu só estava tirando fotos para mim, não pensei que seria nada especial, mas com o encorajamento dela eu passei a tirar mais e mais fotos, comprei uma câmera melhor, fiquei obcecado com esse lance da fotografia! Se você lembrar bem, era mais difícil fotografar alguns anos atrás. Você precisa saber muitas coisas, demorava anos de prática para se tornar um bom fotógrafo. Eu sempre amei isso! Quando o Accept deu uma pausa nos anos 90, eu quis fazer com que essa outra paixão se tornasse a minha profissão. Então eu fiz isso. Fiz muitas fotografias para comerciais, mas meu começo foi a fotografia ligada a arte, natureza, árvores, pedras, fotografia em preto e branco. Um fotógrafo que me inspirou muito foi o Anthony Adams, ele é especializado em fotos preto e branco. Mas viver de fotografia profissionalmente é complicado! Você precisa pensar o que pode te trazer mais dinheiro! Então comecei a trabalhar para empresas na área de propaganda, foi bem divertido até.
Metal Na Lata: Tem algum trabalho fotográfico que você tenha feito que você se orgulhe muito?
Wolf Hoffmann: Eu fiz muitas coisas legais, mas teve um que foi o mais interessante para mim que sou um guitarrista. Eu fui à casa do Les Paul, quando ele ainda estava vivo, e eu fotografei todos os instrumentos dele. Esse trabalho acabou se tornando um bonito livro para colecionadores de guitarra e fãs do Les Paul. Eram vários instrumentos vintage, bem legais!
Metal Na Lata: Falando um pouco sobre sua carreira solo. Você lançou o disco “Headbangers Symphony”, que é totalmente inspirado em música clássica. Qual a sua relação com esse gênero musical hoje em dia e como ela inspirou o Accept também?
Wolf Hoffmann: A música clássica faz parte da minha vida desde sempre. Eu cresci ouvindo, meus pais ouviam toda hora. No começo, eu não era muito fã, porque queria ser rebelde e tocar Metal! Não queria saber de música clássica! Eu redescobri a música clássica quando tinha vinte e poucos anos. Tem coisas muito legais, eu ouvia muito Tchaikovsky, Beethoven. Eu sempre tive o sonho de combinar esses caras com o que eu curtia, que era o Heavy Metal. A primeira vez que eu fiz isso foi na música “Metal Heart”, em 1985. Desde então sempre que consigo eu coloco alguma coisa de música clássica. Nesse novo álbum vai ter músicas com elementos clássicos. Então foi natural pensar em fazer um álbum solo mais focado na música clássica. Eu não queria competir com o Accept nem nada, simplesmente era muito legal trabalhar nessas músicas.
Metal Na Lata: Você acha que já é hora de lançar um novo disco solo focado em música clássica?
Wolf Hoffmann: Seria muito bom! Estou pensando cada vez mais nisso, agora estou com tempo até as turnês voltarem. Eu estou escrevendo coisas, infelizmente isso demanda uma energia grande e muito tempo também. Escrever músicas instrumentais dá muito mais trabalho! É muito mais fácil escrever uma música quando tem alguém para cantar as letras.
Metal Na Lata: Eu ouvi uma vez que música clássica é o Heavy Metal só que sem eletricidade...
Wolf Hoffmann: Sim! É verdade! Tem muita similaridade mesmo.
Metal Na Lata: Vamos falar sobre o último lançamento da banda, o disco ao vivo “Symphonic Terror”. Fazer um álbum ao vivo hoje em dia é o mesmo processo de vinte anos atrás? O que mudou na maneira de produzir esse tipo de registro?
Wolf Hoffmann: Na verdade, não mudou muita coisa. Você toca, grava e é isso. Hoje você pode consertar coisas com a tecnologia, se você errou algo. Mas você precisa tomar cuidado para não ficar fake. A perfeição pode ser bastante chata! Esse disco foi ótimo, nós tocamos no Wacken em 2017 com uma orquestra sinfônica. Foi uma noite muito especial, as pessoas amaram, foi muito bem recebido. Nós até fizemos mais shows com uma orquestra pela Europa, foi aí que encontramos nosso mais novo guitarrista, o Philip Shouse. Agora temos três guitarristas na banda! O Phil estava nessa turnê e vimos que ele é um cara muito legal. Teve uma ligação muito grande, quando a turnê acabou todos nós sentimos que não devíamos mandar ele para casa. Por que não pegar ele para a banda? Isso vai ser muito interessante! Nós fizemos alguns shows no brasil já com esse nova formação!
Metal Na Lata: Foi a primeira vez que o Accept tocou com uma orquestra, certo? O que mais o Accept pode almejar para apresentações ao vivo? Tocar com uma orquestra deve ter sido a realização de um sonho… Qual será o próximo passo?
Wolf Hoffmann: Eu não sei! Precisamos esperar agora para ver o que podemos fazer. Musicalmente, é uma experiência incrível! Mas pensando na logística, é um inferno! Você precisa ser muito bem organizado para dar tudo certo. Quando você toca com uma banda, você sempre pode falar “ei, vamos tocar essa outra música hoje? Vamos esticar essa outra?”, dá para ser mais espontâneo no palco. Quando você está com uma orquestra, não tem espaço para isso. Tem que ser exatamente o que está escrito. Os músicos olham para as partituras e simplesmente tocam o que está escrito.
Metal Na Lata: Como funciona, você que escreve as partituras? Os músicos ou o maestro dão opinião sobre os arranjos?
Wolf Hoffmann: Não, eles são como robôs! Eles tocam o que estão na frente deles. Você pode falar com o maestro e negociar de tocar alguma música um pouco diferente, mas normalmente tem que ser tudo o que está escrito. Os músicos nem ensaiam, eles não sabem o que vão tocar até a hora do show praticamente. Tem só um ensaio na tarde do show, e eles já ficam prontos!
Metal Na Lata: Você pode deixar uma mensagem para seus fãs? O que podemos esperar do Accept em 2021?
Wolf Hoffmann: Olá Brasil! Nós queremos muito voltar assim que possível! Precisamos esperar que a pandemia acabe. O Brasil sempre foi um dos nossos lugares favoritos no mundo! Parece um clichê, mas é verdade! Nós amamos a América do Sul! Vocês são os melhores! Queremos voltar, enquanto isso, ouçam o novo álbum “Too Mean To Die” que sai no dia 15 de janeiro! Fiquem bem!
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