Entrevista exclusiva com Daniel Martins (Soul Factor)

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São quase 20 anos de uma história comum a muitos nomes do underground. Dificuldades, lutas e vitórias fazem parte da caminhada do Soul Factor, mas nem por isso o quarteto de Brasília  baixa a guarda. Confira agora a entrevista exclusiva que fizemos Daniel Martins (vocal), único membro original, e conheça mais dessa banda que não se rende nem se estivesse diante de um esquadrão de tortura.

Por Márllon Matos

Metal Na Lata: A banda teve um início promissor no quesito gravação. Uma demo em 1999, um split em 2001, um cd ao vivo em 2002 e um de estúdio em 2003, mas depois disso foram quase 10 anos até o lançamento de “Resurgence Of Chaos” (2012). O que ocasionou essa demora?

Daniel Martins: O que aconteceu é que tínhamos um contrato na época com a Salmus, que renderiam 5 CDs, um por ano, deste contrato lançamos dois e depois a gravadora teve sérios problemas financeiros e não pode cumprir com o resto das gravações. Ficamos, então, sem suporte e sem grana, deixando claro que até o álbum “Timeline” tudo foi cumprido corretamente. Alguns anos depois, conhecemos o Carlos Monteiro que havia contratado a banda para um show em Barreiras (BA). Descobrimos que já tínhamos tocado juntos no Rio, além de termos amigos em comuns, acabamos ficando amigos e, após algum tempo, ele fundou a Conspiracy Record, inde acabamos fechando um contrato que rendeu o álbum “Resurgens of Chaos”.

Metal Na Lata: Qual é a mensagem por trás do nome Soul Factor? E como surgiu o nome?

Daniel Martins: A mensagem que a banda transmite é sobre a verdade das escrituras e sua influência em nossas vidas, também de experiências vividas por nós em nosso dia a dia. Sobre o nome, após a saída do The Joke? Fiquei um ano em ‘stand by’, pois tinha acabado de mudar, e neste tempo este nome me veio à mente, achei legal e resolvi guardar para algum projeto futuro. Mais ou menos um ano depois conheci alguns músicos em Brasília e resolvemos tentar compor algumas canções juntos, o que resultou em uma demo gravada no ME estúdio no Distrito Federal.

Metal Na Lata: Não faz muito tempo que um dos ex-membros da banda veio a falecer. Como era o seu contato com o Danielzão depois que ele saiu do Soul Factor? Alguma vez rolou alguma reunião ou participação especial em um show?

Daniel Martins: É isto foi algo muito triste. Após o Danielzão ter saído da banda ficamos muito tempo sem ter contato. Nos últimos anos ele começou a tocar no Bereshith Elyon e nos encontramos mais em show que dividimos e, também, na casa do Kalebe que fazia os vocais do Bereshith Elyon. Sabíamos todos que ele tinha que cuidar de sua saúde, mas ele era muito na dele e não gostava que déssemos opinião em sua vida, bom, tentamos de tudo para alertar sobre se cuidar, mas deveria partir dele esta vontade, infelizmente o que temíamos aconteceu, perdemos um grande amigo, um músico, um cara muito especial e autêntico.

Metal Na Lata: Vocês tiveram uma estréia incomum no mercado fonográfico. O primeiro trabalho oficial da banda foi um ao vivo, em vez de em estúdio. De onde surgiu essa ideia e como foi, para a banda, ter esse ‘cartão de apresentações’ para o público em geral?

Daniel Martins: É verdade (risos). Muito estranho gravar um ao vivo assim, vou explicar, a banda chegou em um momento que tínhamos que lançar algo, e pintou uma oportunidade de um amigo que foi um grande parceiro e permitiu que utilizaremos seu som em um evento que seria captado pelo Orbis, que também são grandes parceiros, uma galera muito profissional que ajudou no que pode, então gravamos, na hora de mixar e prensar não tínhamos esta grana… então pintou a Salmus que fechou um contrato com a banda e pagou todos os custos, o lance de termos iniciado com um ao vivo foi um questão de oportunidade, mas sempre somos muito questionados por isto.

Metal Na Lata: Uma curiosidade, na gravação do primeiro disco, o teto do local caiu enquanto estavam tocando, como foi na hora e porque decidiram deixar o ocorrido na gravação?

Daniel Martins: (Risos) isto virou um marco, inclusive filmamos o acontecido, o que verdadeiramente aconteceu foi que o Cine Paranoá estava em reforma e não ficou 100% pronto até a data do evento, mas não pudemos esperar pois envolvia agenda de muitas pessoas como o Riti e a galera do Órbis, então gravamos em meio a uma reforma, e um pedaço do gesso caiu na hora da música “The Face of Light” eu parei pois fiquei preocupado de atingir o público, já pensando em cortar esta parte na hora da mix, mas no estúdio todos gostaram e insistiram para não cortar, então ficou.

Metal Na Lata: Muitos talvez nem lembrem ou saibam disso, mas você anteriormente tocava guitarra (além de cantar) na pioneira The Joke? em Minas Gerais. Como foi aquele tempo e quais aprendizados daquela época você trouxe para o Soul Factor?

Daniel Martins: Cara, muitos aprendizados trago deste tempo e desta banda que ainda hoje muito admiro, foi minha primeira banda cristã, eu era um novo convertido aprendendo a lidar com tudo isto, e a banda muito me ajudou, pois sempre estive no meio do rock, tive a sorte de tocar com excelentes músicos no The Joke? Foi uma grande escola, e ainda hoje tenho influência deste tempo quando componho, foram 4 anos que estive na banda, passamos por muita coisa juntos, que rendeu o excelente álbum “The death of the brittle biscuit”.

Metal Na Lata: Que bandas ajudaram a formar a sonoridade de vocês? Que músicas do seu repertório você indicaria para aqueles que estão descobrindo a banda agora?

Daniel Martins: Tudo que escutamos nos influência na hora de compor, na banda sempre escutamos muito Mortification, Tourniquet, Believer, Sepultura (era Max), Living Sacrifice, Trino, Pantera, Korzus… e mais um monte de coisas, acho que tudo isto veio a formar o que fazemos hoje, após tanto tempo a banda começa a andar só no quesito estilo de som, tentamos não mudar muito, respeitando o estilo imposto pela própria banda. Sobre música para um cara que não ouviu nosso som, acho que diria “Ruins of The Soul” “Suicidal Soul” e “Apocalyptical Voice”.

Metal Na Lata: Como você vê o cenário de Brasília. A cidade ainda merece o título de “capital do rock”?

Daniel Martins: Brasília, como tambémBelo Horizonte, foi um seleiro de grandes bandas nos anos 80 e 90 algumas destas bandas ainda estão na ativa e outras voltaram a atuar, acredito que é um lugar com grandes bandas, mas como em várias cidades já não existe mais uma grande cena, e fazer shows e festivais se tornou bem mais difícil… mas ainda acredito que é uma cidade forte no quesito rock.

Metal Na Lata: Para quando podemos esperar um novo álbum de estúdio de vocês?

Daniel Martins: No momento estamos voltando todos nossos esforços para a gravação do DVD de 20 anos da banda que sairá em 2018, só após este lançamento prepararemos um novo álbum, mas o DVD vai incluir músicas inéditas que já estão sendo compostas e logo apresentaremos em nossos shows.

Metal Na Lata: No Brasil, uma gigantesca parcela do público que consome Heavy Metal reclama da falta de espaço do estilo nas grandes mídias, mas ao mesmo tempo quando se tem algo acontecendo, reclama, julga que fulano se vendeu ou bate uma inveja. Em outros gêneros mais famosos aqui, vemos que as pessoas se apoiam mais, vide o exemplo dos sertanejos, que lutam juntos para que mais e mais se consiga o espaço deles. Em algum momento você acha que acontecerá o mesmo com o Heavy Metal?

Daniel Martins: É uma pergunta difícil de responder, pois como fã do estilo torço para que aconteça, mas a experiência que trago de todos estes anos, mostra que este meio por mais que deveria ser o contrário é um estilo estranhamente preconceituoso e separatista ainda, cada um quer defender um estilo ou uma postura e não se olha para o todo, para que aja crescimento todos temos que carregar a mesma bandeira, só assim seremos fortes, independente de estilos ou crenças.

Metal Na Lata: Há um mês atras, a banda foi retirada de um festival em Brasília por ser uma banda cristã. Lá fora vemos várias bandas de estilos e ideologia diferentes tocando juntos e sem o menor problema.  De alguma, forma vocês que essa situação poderia ter sido contornada e ter evitado tanto falatório?

Daniel Martins: Sim, é muito simples, deveriam deixar claro no contrato para não convidar bandas que não acreditarem no mesmo que eles, assim nem teriam chamado o Soul Factor, mas é o que eu disse na resposta anterior, as pessoas no Brasil ainda hoje são muito separatistas é isto impede o crescimento do estilo.

Metal Na Lata: De certa forma após todo o incidente, vocês tiveram uma maior procura sobre a banda. Honestamente, dá para dizer que teve algum lado positivo nisso tudo?

Daniel Martins: Sim, claro, não seremos hipócritas, em nossa página mesmo tivemos muitas pessoas falando que não conheciam nosso som e passaram a curtir depois de toda esta polêmica, o lado positivo é que a banda teve uma maior visibilidade e respeito por sermos verdadeiros e não abandonarmos nossos princípios e também muitos que nem são cristãos se uniram à nós por perceberem o preconceito e discriminação que rolou, fiquei feliz por ver que muitos intenderam que esta desunião não leva a nada de bom, só enfraquece o rock.

Metal Na Lata: Suas considerações finais, Daniel.

Daniel Martins: Muito obrigado pelo espaço, e parabéns por permanecer apoiando bandas de metal, precisamos de pessoas que lutem e apoiem este tão ralado e injustiçado estilo de arte!

Maiores Informações:

www.soulfactor.com.br
www.facebook.com/SoulFactor7/

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