Entrevista Zhema Rodero (Vulcano)

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Entrevista Zhema Rodero (Vulcano)

Por Lucas David

Com mais de 40 anos de estrada, o Vulcano é um dos nomes mais conhecidos quando falamos de metal extremo no Brasil. Grande influência para incontáveis bandas, dentro e fora do país, a banda lançou ótimos trabalhos durante sua trajetória, que se tornaram marcos no Black, Thrash e Death Metal, com seu mais recente álbum, “Epilogue”, sendo considerado um dos melhores da banda até então (confira a resenha aqui).

Tivemos o privilégio de entrevistar o lendário guitarrista, membro fundador e líder da banda, Zhema Rodero, que nos falou sobre o processo de composição do novo disco, o conceito por trás dele, o mercado musical nos dias de hoje e a história da banda durante todos esses anos.

Metal Na Lata: Gostaria de agradecer o tempo concedido para essa entrevista e dizer que sou um grande fã da banda.

Zhema Rodero: Eu quem agradeço você e ao “Metal Na Lata” por essa oportunidade e também por você ser fã da banda!

Metal Na Lata: Vocês lançaram o novo álbum “Epilogue” há pouco tempo e de surpresa. Por que decidiram fazer dessa forma?

Zhema Rodero: Estávamos negociando com a gravadora dos “Eye in Hell” (2020) e “Stone Orange” (2022) para o lançamento desse “Epilogue”, porém não chegamos a um denominador comum sobre o tempo de duração do álbum, 27min. Eles queriam mais 10 min. e eu insistindo que se tratava de um álbum conceitual e não tinha como enfiar mais 3 ou 4 músicas. Sem perspectivas de interesse de gravadoras eu lancei primeiro no Bandcamp.

Metal Na Lata: O que poderiam nos contar sobre o processo de criação e gravação desse novo trabalho?

Zhema Rodero: Sempre que eu termino um álbum e terminar significa colocá-lo aos fãs e crítica, eu início outro. É sempre assim embora eu não queira, é como um vício.  Assim, eu já vinha trabalhando nessas músicas que aparecem no “Epilogue”, porém, com o cancelamento da turnê Americana em novembro de 2023, e todos nós já estávamos com o tempo empenhado nisso, e com a parceria do Cleiton Nunes (baixista), resolvi aproveitá-lo e terminar o álbum. Elaborei um roteiro para que os temas pudessem permeá-lo e estruturei o álbum para se comportar como um livro. Eu criei uma figura central, “um mago” que representasse a mim mesmo e desenrolei o tema por sobre a trajetória do Vulcano e então do “Om Pushne Namah” até o “Stone Orange” é como se fossem os capítulos deste livro e então vem o Epílogo, que é aquilo que sucede o último capítulo deixando uma reflexão aos leitores.

Metal Na Lata: Poderiam nos contar um pouco sobre o tema por trás do disco e a escolha da capa?

Zhema Rodero: Entre o Prelúdio e o Epílogo, existe um mago indeciso entre assumir sua condição de mestre, e sempre olhando o passado através do espelho retrovisor, então em uma viagem nas “Asas do Tempo” faz uma escolha entre o destino de Crisipo ou resistir e mudar a direção. Por fim, peregrina até a fonte e reconhece que não pode fugir da sua essência e revela a chave que lhe pertence. Após anos e anos dedicados aos ensinamentos do “Conhecimento”, encontra-se de frente ao espelho e reluta novamente, mesmo sabendo que ali é o fim chamando o princípio, mostrado em todo livro oculto. Por fim, o mago faz uma releitura completa sobre tudo e todo esse Tempo, passando a viver o restante do tempo que tem como um homem comum. – Epílogo! encontra-se consigo mesmo em um ritual e uma aparição, a criatura feminina com assas rugosas e calda anfíbia!

Metal Na Lata: Vocês apresentaram ótimas músicas em “Epilogue”, como “The Wizard” e “On The Wings”. Isso mostra uma banda muito entrosada e com muita vontade de tocar. Como está sendo a recepção do público quanto a esse trabalho?

Zhema Rodero: O Vulcano tem como natureza fazer o que gosta, então tocar com empolgação é natural em nós. “Epilogue” encontra-se apenas nas plataformas de streaming e em agosto será lançado pela “High Roller Records” nos formatos LP, CD e cassete, e então será divulgado com mais força. Por enquanto só tenho lido críticas positivas sobre o álbum, porém muita gente ainda não ouviu e nem viu uma arte final pronta.

Metal Na Lata: Com mais de 40 anos de carreira o Vulcano é influência para muitas bandas que buscam ter a mesma sonoridade que vocês. Porém, existem bandas que influenciam vocês nos momentos de criação?

Zhema Rodero: Eu acho que não existe mais essa ou aquela banda, porém é claro que existe um “background” intrínseco e indetectável na minha mente, na minha digital como músico, que corrobora para que eu faça músicas com assinatura do Vulcano. Muitos críticos atuais ouvem nossos novos álbuns como sendo músicas medianas, com aquele ar de que “já ouvi isso muitas vezes”; mas não é assim! Eles só não ouvem com os ouvidos contextualizados no tempo. Tem muitas nuances interessantes de tempo & divisão em nossos riffs.

Metal Na Lata: Ainda sobre os anos na estrada, como vocês veem a história da banda durante todo esse tempo e como tem sido estar na ativa?

Zhema Rodero: O Vulcano deixou sua impressão digital no mundo sem nenhuma mácula e continuamos a fazer música, discos e shows, foi assim, é assim e assim será! Eu tenho a percepção que o Vulcano não alcançou o “mainstream” como outros companheiros aqui do Brasil, porém tem propriedade suficiente para que, se assim tivesse, não deveria nada aos que lá estão.

Metal Na Lata: Como veteranos na cena vocês acompanharam a evolução da forma de se consumir música e hoje na era digital isso certamente mudou muito. Nessa nova era como vocês enxergam a importância de lançarem o material físico da banda?

Zhema Rodero: Material físico, LP, CD e Cassete é a meta de toda banda, pelo menos aquelas que nasceram há 20 anos passados. É o “Manifesto de Sua Música”! É o involucro final que carregará sua arte nas mãos de um ser humano. Eu nunca faço um álbum pensando em apenas estar nos aplicativos de música instalado em celulares, faço para serem carregados e manuseados por pessoas, logo “Epilogue” será “manifestado”

Metal Na Lata: Vocês acham que o mercado atual define como uma banda deve atuar ou ela tem espaço para trilhar seu próprio caminho?

Zhema Rodero: Infelizmente o mercado e alguns críticos de música estão avançando sobre a naturalidade da banda escolher seu estilo, caminho, sonoridade, abordagem etc. Existem muitos “legisladores” do Metal com seus “fiscais” ditando, é isso, é aquilo… está errado! No caso do Vulcano, e tendo eu como o líder, da banda nunca corri atrás de fama e sucesso, então faço o que quero e faço para os fãs nada mais!

Metal Na Lata: Voltando um pouco no tempo, a banda foi uma das pioneiras no metal extremo, sendo referência tanto dentro quanto fora do país. Para vocês, como foi esse período?

Zhema Rodero: Eu só tive essa percepção em meados dos anos 90, até então era uma distância gigantesca entre Vulcano e bandas escandinavas, por exemplo, em que lá nos anos 10 fizemos turnês, viajamos juntos e nos tornamos próximos. Foi só então que “caiu a ficha”.

Metal Na Lata: A banda teve contato com a cena Black Metal Norueguesa que surgiu no final dos anos 80/ começo dos anos 90?

Zhema Rodero: Eu tinha contato por carta muito frequente com Euronymous (Øystein Aarseth, Mayhem). Foram várias trocas de informações, planejamentos de lançamentos mútuos, de turnês etc. As cartas dele eram sempre longas, muito longas. Eu sabia do que acontecia por lá por aquelas várias linhas. Também tive contato com bandas Americanas com trocas de fitas K7.

Metal Na Lata: Quais são os planos da banda atualmente?

Zhema Rodero: Não tenho muitos planos de longo prazo, então é cumprir o compromisso de uma turnê para 2025 porque assinamos com a Dragon Productions, uma “Booking Angency” europeia e também assinamos com a High Roller Records para o lançamento do “Epilogue” em LP, CD e Cassete. Por outro lado, estou trabalhando em um Projeto “1987’s Vulcano”, que será um EP onde gravarei com Angel, Arthur “Von Barbarian” e Fernado Levine (vocalista, baterista e baixista, respectivamente, que gravaram o disco “Anthropophagy”, de 1987).

Metal Na Lata: Gostaria de agradecer muito pela atenção e parabenizar pelo ótimo disco. Para finalizar, gostariam de deixar alguma mensagem para os fãs?

Zhema Rodero: Deixo meus agradecimentos pela oportunidade desta entrevista onde pude contar um pouco mais sobre essa trajetória de quase 43 anos na história do Metal Brasileiro e também agradecer aos leitores que chegaram até aqui! Abraço e nos veremos em breve!

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