Hypocrisy – “Catch 22 (The Complete Edition)” (2008) (Relançamento 2024)
Nuclear Blast | Shinigami Records
#DeathMetal #IndustrialMetal #MelodicDeathMetal
Para fãs de: Fear Factory, Pain, Soilwork, The Haunted
Texto por Johnny Z.
Nota: 8,5
“Catch 22 (The Complete Edition)” é uma reinterpretação corajosa e acertada de um dos álbuns mais controversos do Hypocrisy. Originalmente lançado em 2002, “Catch 22” marcou uma guinada sonora ousada para a banda sueca, incorporando elementos mais modernos, melodias acessíveis e até nuances de metal industrial. A mudança foi recebida com divisões entre os fãs: enquanto alguns admiraram a experimentação, muitos o consideraram uma ruptura com o Melodic Death Metal sombrio e atmosférico que consagrou o grupo por muitos anos.
Ciente da repercussão mista, seu líder e mentor criativo Peter Tägtgren decidiu revisitar o álbum seis anos depois. Assim, em 2008, nasceu essa versão “completa”, trazendo duas interpretações do disco: a original remasterizada e uma regravação completa, com vocais, guitarras e bateria totalmente refeitos. A produção também foi inteiramente renovada, trazendo uma sonoridade muito mais agressiva e coesa com o restante da discografia da banda.
A bateria eletrônica ou processada que aparecia em partes da versão original foi substituída por uma performance orgânica e precisa à cargo de Reidar “Horgh” Horghagen (ex-Immortal), dando um impacto brutal e mais humano às músicas. As guitarras foram regravadas com mais peso, o baixo mais groovado e os vocais de Tägtgren estão visivelmente mais intensos, refletindo sua evolução como vocalista ao longo dos anos (mesmo que o espaço entre as duas gravações era de apenas 6 anos).
Entre as faixas que mais se beneficiaram da nova roupagem são “Don’t Judge Me”, com seu refrão marcante e riffs diretos; “Destroyed”, carregada de groove e peso; “Turn the Page”, que mostra o lado mais melódico e acessível da banda; e “Another Dead End (For Another Dead Man)”, envolta em uma atmosfera densa e introspectiva. A faixa “A Public Puppet” também se destaca, tanto pela letra crítica quanto pela nova mixagem que a tornou mais imersiva.
Liricamente, o álbum trata de temas como julgamento social, alienação, conflitos internos e misantropia, alinhando-se com seu título, que remete a uma situação paradoxal e sem saída, comum em estruturas militares e sociais — um tema que Peter explora com sarcasmo e amargura ao longo do disco.
Aos meus ouvidos, a regravação é muito superior à versão original, e sejamos francos, o esforço da banda em “corrigir” um trabalho que, embora ousado, parecia destoar de sua proposta artística, deu muito certo. Essa nova roupagem não só resgatou o valor do álbum original como também o reposicionou dentro da discografia do Hypocrisy como uma peça importante, ainda que polêmica, da sua trajetória. Guardadas as devidas proporções de estilo e/ou importância, seria como se o Celtic Frost regravasse o “Cold Lake” com mais peso e sem frescura, ou seja, refazendo-o totalmente do jeito certo. Ok, acho que exagerei, mas vocês me entenderam, certo? (risos).
No fim, “Catch 22 (The Complete Edition)” é um raro exemplo de como a autocrítica e o respeito ao próprio legado podem gerar frutos criativos e relevantes. É um álbum que merece ser ouvido — especialmente na versão regravada (que aqui apresenta a faixa “Nowhere to Run” como bônus num belíssimo CD duplo digipak) — como uma peça reformulada com mais maturidade, peso e fidelidade à essência do Hypocrisy.
Deixe de lado toda autocrítica, ou o que fulano ou sicrano disseram sobre a mudança na sonoridade original, e aprecie essa nova roupagem — valerá muito a pena.