Iron Maiden – Allianz Parque, São Paulo/SP (06/12/2024)

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Iron Maiden – Allianz Parque, São Paulo/SP (06/12/2024)

Produção: Move Concerts
Assessoria: Midiorama

Texto por Johnny Z.
Fotos por Stephan Solon / Move Concerts Brasil

Vídeo por TheKillerHorseman

E mais uma vez, tivemos o privilégio de presenciar o show de uma das maiores — senão a maior — banda de Heavy Metal do mundo: o Iron Maiden. Prestes a completar 50 anos de uma carreira lendária, o sexteto britânico encantou o público em duas noites completamente esgotadas no Allianz Parque — um local espetacular para grandes eventos. Estivemos presentes na primeira apresentação, em uma sexta-feira quente que, para nossa sorte, contrariou as previsões meteorológicas e trouxe uma noite sem uma única gota de chuva.

Como muitos já sabem, minha relação com o Iron Maiden é muito especial. Nos anos 90 até 2003, fui parte do primeiro e maior site dedicado à banda na América do Sul, na América Latina e, talvez, até nas Américas: o saudoso Seventh Page, acessado pelo link ironmaiden.com.br. Esse projeto foi um marco para fãs da banda e, em 2001, tivemos o privilégio de ganhar um prêmio do iBest. Mas essa é uma história que posso compartilhar com mais detalhes para quem quiser conversar comigo sobre o assunto (risos).

Só para contextualizar, e a título de curiosidade, minha história com o Iron Maiden começou no final de 1986, quando ouvi o álbum “Somewhere In Time” pela primeira vez. Eu era apenas uma criança de 9 anos, e aquele momento mudou minha vida para sempre. Foi meu primeiro contato com o Rock e o Metal, e também a primeira banda pela qual me tornei um colecionador apaixonado. Desde então, nunca mais parei. O Iron Maiden não foi apenas a porta de entrada para esse universo, mas também a trilha sonora que me trouxe até aqui. Foram inúmeros shows desde 1992, segunda passagem da banda pelo país, já que a primeira foi em 1985, no Rock In Rio, e lá em nem sonhava eu conhecer.

Mas vamos ao show!

A abertura ficou a cargo dos dinamarqueses do Volbeat, uma banda de que gosto muito, mas que nunca havia visto ao vivo. A primeira vez deles em nossas terras foi em 2018, no Lollapalooza, um festival que não me agrada, já que a maioria de suas atrações é alternativa demais e bem distante do que costumo consumir.

Com sua híbrida e genial mistura de Metallica, Johnny Cash, Elvis Presley, Social Distortion e The Misfits, a banda agradou em cheio todos os presentes. Logo na primeira faixa, com o Allianz Parque quase todo tomado, a interação e sinergia entre a banda e o público foram gigantescas.

Formada atualmente pelos fundadores Michael Poulsen (vocal/guitarra) e Jon Larsen (bateria), juntamente com Kaspar Boye Larsen (baixo, desde 2016) e o guitarrista convidado Flemming C. Lund, no lugar de Rob Caggiano (ex-Anthrax), que infelizmente deixou a banda no ano passado, a formação mostrou-se muito entrosada, mesmo sem tocar ao vivo desde agosto do ano passado.

Prestes a lançar o seu novo álbum de estúdio, ainda sem título definido, o sucessor do excelente “Servant Of The Mind” (2021), a banda apresentou por uma hora um resumo de sua discografia, inteligentemente dando destaque a seus hits – não necessariamente a suas melhores músicas -, pois quem não os conhecia ali com certeza saiu de lá fã.

Michael Poulsen, mesmo sem dizer uma palavra antes da primeira faixa, conquistou o público presente ao vestir uma camiseta do “Beneath The Remains“, do Sepultura (risos). Mas, além disso, o músico tem uma voz potente e impactante, é certeiro nas bases, no peso e nas vilões, e sua presença de palco e simpatia são excepcionais. Vale um comentário pessoal deste redator: acredito piamente que eles serão uma das maiores bandas dos próximos 20 a 30 anos — escrevam isso. Já demonstram isso na Europa e nos Estados Unidos há alguns bons anos, e a cada ano que passa, tenho mais certeza de que isso acontecerá a curto prazo. Em um cenário de muitas cópias e quase nenhuma originalidade, a banda conseguiu mostrar algo inovador, impactante e de altíssima qualidade.

Uma pena que, nesse primeiro show, a banda não teve o auxílio dos telões (enormes) laterais, pois, durante toda a sua apresentação, eles ficaram desligados. Até mesmo para quem estava na pista premium, em um evento desse porte, é primordial que haja telões. Mas, fora isso, o som estava impecável, a iluminação excelente e a banda demonstrou claramente que curtiu cada instante estar ali, abrindo para o gigante Iron Maiden, como mencionou o próprio Michael.

Como tocaram basicamente seus maiores sucessos, meu destaque principal vai para a execução soberba da pesadíssima ‘Shotgun Blues’, que não foi tocada no dia seguinte. Mas começar o show com ‘The Devil’s Bleeding Crown’ e ‘Lola Montez’, seguida do clássico ‘Sad Man’s Tongue’, foi de matar qualquer fã de frenesi!

Outros pontos altos foram as execuções perfeitas de petardos como ‘Black Rose’ e ‘For Evigt’, mas o encerramento com ‘Still Counting’, com Michael pedindo que todos ligassem a lanterna dos celulares e sendo prontamente atendido, mostrou que a banda fez um gol de placa no país.

A banda tem um apelo muito peculiar no metal, pois consegue combinar facetas mais acessíveis com riffs extremamente pesados de forma inacreditável, e o melhor de tudo: funciona demais tanto em estúdio quanto ao vivo. São gênios, ponto final.

Setlist:

Born to Raise Hell (intro) (Motörhead)
The Devil’s Bleeding Crown
Lola Montez
Sad Man’s Tongue
(com trecho de “Ring of Fire” de Johnny Cash)
A Warrior’s Call
Black Rose
Wait a Minute My Girl
Shotgun Blues
Fallen
Seal the Deal
The Devil Rages On
For Evigt
Still Counting

Por volta das 21h, as luzes se apagaram, e a introdução mecânica com a música ‘Doctor, Doctor‘, do UFO — clássica abertura dos shows do Iron Maiden — começou. E ali, meus caros, é onde se separam os jovens dos velhos fãs da Donzela. Se você, caro leitor, assim como eu — e a grande maioria dos fãs — é dos “velhos”, tenho certeza de que já ficou pulando e se esgoelando nessa parte, mesmo antes da banda subir ao palco. Assuma: você fez — e sempre faz — isso (risos).

A segunda parte da introdução, com a trilha sonora do filme Blade Runner, trouxe à tona a mais pura e emocionante nostalgia que um fã de longa data poderia sentir. Quem, no final da década de 80, não se descabelava para conseguir uma fita VHS com um show da turnê de “Somewhere In Time“? Acredito que muitos! Eu certamente me incluo nisso, pois, quando comecei a venerar o Iron Maiden, buscava tudo que podia — material oficial ou pirata, quanto mais, melhor! E sejamos realistas: foi uma pena enorme não termos um registro oficial ao vivo dessa turnê.

Naquele momento, o coração subiu à garganta. Com a entrada apoteótica de ‘Caught Somewhere In Time‘, seguida pela sensacional, magistral e soberba ‘Stranger in a Strange Land‘, o nível de intensidade foi simplesmente avassalador — algo que só experimentei nas turnês Somewhere Back In Time de 2008 e 2009, e quando a banda revisitou clássicos centrados na era Maiden England (1988), em 2013. Foi uma verdadeira catarse física, emocional, musical e psicológica, com direito a aparição meio rápida do Eddie ciborgue da capa do single — um transe absoluto para quem vive essa experiência intensamente. Quem não vive e não sente dificilmente entende. Esses acabam falando (ou escrevendo resenhas por aí) com a coerência e a credibilidade de um guaxinim cego e surdo. E está cheio desses por aí (risos).

Falar bem dos músicos do Iron Maiden chega a ser redundante, mas não tem como deixar de destacar, com efusivos elogios, o senhor Bruce Dickinson. Meu amigo, o que esse homem cantou nesse show, aos 65 anos de idade e pós-cura de um câncer na garganta, é digno de estudo. Ele alcançou todas as notas como se ainda estivesse em 1986! Foi de arrepiar. Bruce encontrou uma técnica vocal que permite atingir as notas de antigamente com uma facilidade impressionante, sem aparente esforço. É simplesmente inacreditável e inspirador!

E quanto à elegância, técnica, alma e feeling de Adrian Smith? Eu sei, é chover no molhado, mas nunca me canso de elogiar esse senhor. Dá gosto vê-lo tocar, deslizando os dedos pelas cordas e pelo braço da guitarra como se estivesse manuseando algo amanteigado. Adrian é simplesmente um ícone, e assistir aos solos dele nas faixas de Somewhere In Time foi o ápice para mim, especialmente pelo que estava por vir.

A unidade entre Dave Murray e Adrian Smith era mágica naquela época — e continua sendo até hoje. Mesmo assim, não tem como ignorar que um certo Janick Gers insiste em fazer barulho com sua guitarra no meio das beldades harmônicas e melodias impecáveis dessa dupla de ouro. Não, eu não sou um hater do Janick Gers. Reconheço que ele é um excelente compositor e um performer de palco incrível, mas, para mim, ele não é essencial para a banda ao vivo. Ponto final. Aceita que dói menos. Sei que vocês, fãs mais recentes que conheceram o Iron Maiden com ele, vão contestar — e estão no direito de fazê-lo. Assim como eu estou no dever de dizer que vocês estão errados (risos).

Voltando ao show, algo que realmente me saltou aos olhos foi a incrível qualidade do som, da iluminação e da decoração do palco. Tudo estava impecável, especialmente nas faixas de “Somewhere In Time”, onde os panos de fundo traziam a icônica temática da capa do álbum e de seus singles executados.

Sim, você que está lendo já percebeu o quanto esse álbum é importante para mim, certo? Não tem como ser imparcial. Aliás, eu arrisco dizer: jornalista que se diz imparcial em resenhas está, no mínimo, mentindo (risos).

‘Writing on the Wall’, a parte do “future” da turnê The Future Past Tour, vinda do mais recente álbum ‘Senjutsu’, veio em seguida. Confesso que, apesar de dar uma abaixada na energia de todos, foi muito bem recebida e cantada por todos. E, para ser coerente, preciso admitir: a música realmente conquistou a todos, inclusive a mim, que, logo após o seu lançamento, não me agradou tanto. Ao vivo funcionou muitíssimo bem.

No entanto, a sequência com ‘Days of Future Past’ e ‘The Time Machine’ foi a primeira parte do show que trouxe uma certa “brochada” para uma grande parcela do público. Veja bem, não são músicas ruins, longe disso, mas são mornas e não empolgam muita gente, especialmente os fãs mais antigos, mas como o intuito da turnê era – também – promover “Senjutsu”, segue o baile (risos).

Vale ressaltar, porém, que o baixo do mestre Steve Harris, como sempre, podia ser ouvido em qualquer canto do estádio, com muita força e potência. Da mesma forma, a bateria do nosso querido Nicko McBrain, que todos sabemos ter enfrentado problemas sérios de saúde, estava incrível. Ele passou por um AVC e ainda assim se dedicou intensamente para fazer essa turnê, com um profissionalismo digno de herói. Não apenas pelo que passou, mas também pela sua idade avançada (72 anos). Sua paixão e dedicação ao tratamento para voltar aos palcos merecem aplausos!

A maravilhosa ‘The Prisoner’ veio com força total, elevando a nostalgia aos níveis de ebulição novamente. Assistir a essa faixa ao vivo, com a introdução do filme passando no telão, foi algo de arrepiar até os cabelos da alma (risos).

Porém, logo em seguida, veio a última parte enfadonha do show: ‘Death of the Celts’. Na audição de “Senjutsu”, gostei bastante dessa música e até a elogiei como uma (quase) ‘The Clansman’ moderna e com menos impacto. Mas, ao vivo, foi decepcionante. Chegou a dar sono — e deu! Sinceramente, acredito que ‘Stratego’ ou a própria ‘Senjutsu’ seriam escolhas muito melhores para essa parte do setlist.

Foi incrível ver todos os músicos correndo pelo palco, especialmente Bruce Dickinson e Steve Harris. Já Dave Murray e Adrian Smith são mais centrados (por quê será, né?), enquanto Janick Gers… bom, deixa pra lá, ele sempre é um “detalhe à parte”.

Bruce, como sempre, parece incansável. O cara não muda nunca! Você pode assistir a qualquer show antigo ou vídeo dele, seja de 1982 ou 2024, e verá o mesmo Bruce Dickinson: uma verdadeira máquina do entretenimento, capaz de dominar qualquer plateia no mundo inteiro tanto com sua presença de palco como com seus discursos cheios de ironias e brincadeiras.

Mas aqui, no Brasil, é diferente! Tem tudo isso, mas o amor contagia, e a energia da conexão entre banda e público é única. E sim, os músicos sentem isso sempre!

‘Can I Play with Madness’ trouxe todo mundo de volta à energia que nunca deveria ter caído, seguida da esplêndida e querida por todos: ‘Heaven Can Wait’. Achei que teríamos os famigerados convidados na parte do “ôôô”, como faziam antigamente, mas não tivemos. Não foi um problema, o Allianz lotado fez essa parte tão alta que mal se ouvia Bruce! A galera vibrou, ainda mais, por conta da entrada de Eddie da capa de “Somewhere in Time” simulando um tiroteio futurista com Bruce, esse com direito a canhão! Simplesmente sensacional! Mas o melhor ainda estava por vir: a belíssima e tão sonhada por 101% dos fãs da banda — ‘Alexander The Great’.

Ok, todos já sabiam que ela estaria no setlist. Muitos já tinham assistido a dezenas de vídeos dessa música ao vivo na turnê pelo YouTube. Mas estar ali, presenciando aquele momento, foi algo além. Foi de arrancar lágrimas até do marmanjo mais durão ou do tiozinho mais calejado.

Cada estrofe, interpretada impecavelmente por Bruce, cada verso, cada parte e cada solo — principalmente o de Sir Adrian Smith — foi de chorar de emoção. O clímax foi tão intenso que, na sequência, com a sempre presente ‘Fear Of The Dark’, precisei me hidratar e dar uma pausa na sala de imprensa. Sim, teve toda a interação dos fãs com seus celulares, todo mundo cantando, etc.

Estávamos chegando ao final do show. E, claro, veio a clássica ‘Iron Maiden’, uma verdadeira paulada que incendiou o público. Cheguei a ver até algumas rodas de mosh na pista premium (risos)!

No entanto, havia algo que eu esperava ouvir, especialmente de Bruce: algumas palavras sobre o saudoso Paul Di’Anno, que nos deixou recentemente. Por serem os dois últimos shows da banda nesta turnê e no ano, e no Brasil — terra onde Paul teve grande parte de sua vida e descendência —, teria sido um gesto respeitoso dedicar a ele algumas palavras ou uma homenagem.

Mas tudo bem, nada que tenha prejudicado o andamento do show. Outra coisa que esperei nesse momento foi ver algum Eddie inflável mais significativo e robusto surgindo acima da bateria de Nicko, como vinha acontecendo em turnês anteriores. No entanto, surgiu um insosso balão que mal dava para diferenciar do pano de fundo. Não que tenha feito falta ao espetáculo, mas são detalhes que, pessoalmente, senti falta. Mas, para ‘tapar’ esse buraco, tivemos a aparição de outro Eddie, agora como o samurai de “Senjutsu”, que sim, valeu a pena, pois o acho brutal!

Após uma breve pausa marcada pelos gritos de “Maiden! Maiden!”, a banda retornou ao palco para o bis com mais uma faixa de “Senjutsu”: a ótima ‘Hell On Earth‘ e todo seus efeitos de pirotecnia no palco. Porém, aqui entra um detalhe muito pessoal: no estúdio, adorei essa música, mas ao vivo ela me pareceu morna e sem graça. Infelizmente, foi uma das minhas decepções pessoais da noite.

Encerrando a noite: ‘The Trooper‘ e ‘Wasted Years‘, que dispensam comentários, transformaram o show em uma verdadeira festa. Em especial, Wasted Years teve um significado especial para quem vos escreve, pois a banda poderia tocá-la 70 vezes na mesma noite, e eu pularia, cantaria e me emocionaria em todas elas (risos).

Ao final, todos vão para a frente do palco para a tradicional foto, jogam palhetas, peles de bateria, entre outros itens. Mas o melhor de tudo: todos saem com as almas pilhadas e lavadas, já esperando pela turnê de 50 anos que com toda certeza passará pelo Brasil com faixas de todos os álbuns até o “Fear Of The Dark”. Tem dúvida que vai ser maravilhosa? Tem dúvida que vão lotar todos shows? Eu não tenho!

Você pode não curtir os últimos lançamentos da banda e até deixá-la de lado por um tempo. Acredite, é compreensível. Mas não adianta, quando chega o show, seu amor pela banda volta com mais força! Só mestres conseguem te trazer de volta de onde você nunca deveria ter saído! Um show desses caras é mais que um show. É um culto? É um espetáculo? É um frenesi? É uma confraternização e encontro de amigos? É tudo isso, só que elevado a enésima potência! Up The Irons!

Obs.: Após esse show, no dia seguinte e antes da segunda apresentação, a banda anunciou a saída do gigante Nicko McBrain das apresentações ao vivo, apresentando Simon Dawson, baterista da banda British Lion, como substituto. Foi um choque, mas a tristeza dessa “partida” logo deu lugar à gratidão e à felicidade por ter vivido na mesma época que esses caras incríveis, ter assistido a inúmeros shows da banda com Nicko e curtido cada instante de sua trajetória.

Só gratidão! Obrigado, Nicko. Você jamais será esquecido! Descansa guerreiro, você merece curtir a vida com sua família de uma forma mais tranquila agora. Nós sempre te amaremos e sempre honraremos todo esforço e legado que você nos brindou com sua música por anos a fio!

Obrigado Move Concerts e Midiorama pela parceria de sempre no credenciamento, e parabéns por mais um grande espetáculo!

Setlist:

Caught Somewhere in Time
Stranger in a Strange Land
The Writing on the Wall
Days of Future Past
The Time Machine
The Prisoner
Death of the Celts
Can I Play With Madness
Heaven Can Wait
Alexander the Great
Fear of the Dark
Iron Maiden
Hell on Earth
The Trooper
Wasted Years

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