Machine Head – Tokio Marine Hall, São Paulo/SP (29/10/2023)
Produção: Honorsounds
Banda de abertura: Project 46
Texto e vídeo por Johnny Z.
Fotos por André Tedim (@andretedimphotography)
Quem ai se surpreendeu com o anúncio do Project 46 como banda de abertura do Machine Head a convite de Robb Flynn? Sejamos honestos: um total de zero pessoas se surpreenderam. Mas também sejamos honestos e corretos: os caras mereceram e arregaçaram no palco! Baita som, iluminação, performance, presença de palco, tudo super afiado!
Não sou um conhecedor de sua obra, mas ao vivo a banda é extremamente pesada, daquelas que os riffs de guitarra de dão verdadeiros socos na cara a cada palhetada de Jean Patton (que está se despedindo da formação) e Vini Castellari. Não é a toa que o vocalista Caio MacBeserra – o Pica Pau do Metal Nacional (risos) – fala que o estilo da banda é ‘Metal Soco na Cara’. Completam a formação o monstro das baquetas Beto Cardoso e o baixista Baffo Neto.
O som no início estava um pouco embolado, o microfone de Caio chegou a falhar algumas pouca vezes, mas quem ligou? O peso era tanto que ninguém nem deve ter percebido, pois estava ocupado espancando o amiguinho do lado com tanta violência em forma de música! (risos)
E o público, que já estava em enorme número, aproveitou a sinergia da banda e mandou e dobro para os caras no palco! O vocabulário de Caio no palco se resume a duas palavras e 19 palavrões, numa performance de palco que lembra bastante Rodolfo Abrantes do Raimundos no início da carreira.
As desgraceiras de “Violência Gratuita”, “Capa de Jornal” e o hino da banda, “Pode Pá”, com Caio pedindo para todos se ajoelhassem para pular pular na hora certa, foram insanas. Costumo dizer que o Project 46 é uma mistura bem violenta e voltada para os ‘downpicking’de guitarra de bandas como Killswitch Engage, Five Finger Death Punch, Meshuggah, Lamb Of God, Machine Head, Pantera com Raimundos (fase Rodolfo). Me julguem (risos).
Foram 45 minutos de um verdadeiro caos, som e iluminação que me arrisco a dizer estar até melhor que a atração principal. Muitos julgam sem conhecer, outros falam que não gostam sem ouvir, mas os que assistem saem dizendo sempre as mesmas palavras: os caras tocam pesado para um c@*%#¨0!
Pontualmente às 20h45, ao final de “Diary Of A Madman”, de Ozzy Osbourne como introdução mecânica, as luzes se apagam e somente uma de cor azul por todo o palco enalteceu o pano gigante de fundo com o logo da banda. Era a deixa para o Machine Head que entrou no palco com a impiedosa “Imperium”, faixa do primeiro grande disco da banda pós tropeços, “Through The Ashes Of Empire”, de 2003. Nada contra, pois ela é um convite para o caos, mas qual o sentido sabendo que o álbum mais novo e até então o alvo da divulgação, o estupendo “Øf KingdØm And CrØwn” (2022), tem um em sua primeira faixa a fantástica “Slaughter The Martyr” – e que bisonhamente nem sequer foi tocada? Cairia como uma luva, pois seus primeiros três minutos poderia ser tocado como playback e a banda entraria no palco com tudo na parte porrada. Vai entender?
Robb Flynn (vocal/guitarra) tem a plateia na mão, mas especialmente nesta que foi a terceira passagem da banda pela terra da garoa, ou melhor, do dilúvio, pois choveu muito antes de abrir as portas do Tokio Marine, o músico simplesmente estava visivelmente empolgado. Da mesma forma que o correto e hoje essencial Jared MacEachern (baixo), realmente ensandecidos e curtindo muito o momento. Os mais novos membros da banda, o polonês Wacław Kiełtyka “Vogg” (guitarra, Decapitated) e o inglês Matt Alston (bateria), mesmo que mais contidos, talvez mais concentrados, não deixaram a peteca cair, pelo contrário, são músicos a altura de seus antecessores e isso ninguém vai discutir.
Se me permitem uma opinião pessoal como um die hard fã, eu acho que Dave McClain, ex-baterista e hoje de volta ao Sacred Reich, ainda seja mais preciso, técnico e até mais agressivo que Matt, mas isso não desabona em nada a pegada do inglês, de forma alguma, pois ele sentou a porretada sem dó fazendo tudo (quase) certinho. Alguns errinhos aqui e ali, mas show ao vivo se não tem isso, não tem graça! Se quer ouvir certinho escute o cd em sua casa com a bunda no sofá (risos).
Agora Vogg é simplesmente um monstro! O cara casou muito na banda e toca demais, foi a melhor escolha para substituir Phil Demmel, hoje no Vio-Lence (quando quer!). A precisão das palhetadas, solos e sua presença de palco intimidadora são excelentes, mesmo ele sendo mais ‘fechadão’ e extremamente concentrado. Num multiverso da loucura, Vogg seria um híbrido de Phil Demmel com o nosso Andreas Kisser (Sepultura), que alias foi uma banda bem lembrada por várias vezes durante o set do não mais americano Machine Head.
Com um set list extenso de mais de três horas de duração, iluminação estratégica e as vezes monocromáticas para acompanhar cada identidade visual do álbum que a faixa fazia parte, fomos agraciados com a melhor apresentação da banda na capital paulista num show chamado “An Evening With Machine Head”, onde todos os álbuns da banda foram lembrados, incluindo algumas surpresas!
Achei que a casa estaria mais cheia, mas mesmo estando na pista premium, tínhamos um certo conforto para ficar até bem próximos do palco. Não consegui enxergar a pista comum, mas acredito que abarrotada não estava, muito menos o setor superior, mas, na minha percepção – e posso estar enganado – acredito que em torno de 85% a 90% da casa estava realmente preenchida. Enfim, se eu estiver errado, não me xiguem, eu fui lá para ver o show, não esses detalhes (risos).
A sinergia de Robb com o público era incrível, e realmente o músico sabe lidar muito com a plateia, com muitas piadas, interação, conversas sérias e, claro, bebedeiras, onde lembrando o saudoso Dimebag Darell (Pantera), jogou várias vezes copos com cerveja para o público que se matava para conseguir um mísero golinho se sucesso. Os copos eram completamente destroçados, mas a farra e a zoeira sempre se atualizavam.
Elogios e histórias com o Sepultura fizeram parte dos papos de Robb algumas vezes, sendo uma delas muito emocionante, com o músico humildemente falando com orgulho – e não para fazer média – que o Sepultura faz parte do DNA do Machine Head. Logicamente que o famoso coro de “Sepultura, Sepultura, Sepultura” ecoou de forma ensurdecedora. Vogg em seu solo de guitarra até tocou um belo trecho de “Refuse/Resist”, muito aplaudido.
Mesmo Robb estando cansado da turnê – que estava literalmente acabando nessa noite – não estando com sua voz 100%, e se sentindo meio doente, o que foi comentado pelo músico, mandou muitíssimo bem durante todo o set, e sem querer puxar saco, eu não notei problema nenhum, ok Robb?
Tudo muito correto, banda tinindo, som correto e nada estourando ou embolado, mas meu único ponto negativo seria a diferença das guitarras nos falantes da esquerda e direita, ou seja, no lado da esquerda – o de Vogg – escutávamos mais a guitarra dele, já quem estava do lado direito me disse que escutavam mais a de Robb. Não me incomodou e não atrapalhou, mas seria muito melhor se tivesse tudo nivelado.
Outro momento grandioso foi a parte destinada a execução de um cover, onde Robb deu 4 opções para o público escolher: “Whiplash” (Metallica), “Seasons In The Abyss” (Slayer), claramente para sacanear “All the Small Things” (Blink 182) ou “Hallowed Be Thy Name” (Iron Maiden). Antes do veredito, a banda começa a tocar a (tranqueira) do Blink 182 com Robb parando ao meio e falando “Ué, não era essa que vocês escolheram?”, com risos gerais e muito “carinho” por parte do público “educado” (risos). Mas numa disputa bem pareada, ganhou o Slayer, e meus amigos, ver e ouvir o Machine Head tocando “Seasons…” brilhantemente e na pegada ‘machinehead’ bem na nossa frente foi simplesmente I-N-C-R-Í-V-E-L para esse senhor que já estava completamente moído.
Mais um momento muito importante foi ao início de “Darkness Within”, onde Robb empunhando seu violão elétrico falou o quanto a música é importante para nós seres humanos, pois ela acerta nossos corações, e então, pediu para todos desligarem seus seus celulares, e guardassem aquele momento na memória e nos corações. A grande maioria obedeceu, mas obviamente uns ‘sem noção’ ligaram, mas não comprometeu o clima. Parabéns a vocês, seus ‘bobão’.
Vale ressaltar o poder se fogo das faixas do maravilhoso “Øf KingdØm And CrØwn“, pena que apenas três fizeram parte desse show. Quem sabe um dia seja executado na íntegra? Mas quem é louco de reclamar do setlist executado? Ninguém!!
Ao final do show tivemos uma verdadeira chuva de palhetas, com Vogg, Robb e Jared abrindo sacos e mais sacos de palhetas personalizadas e jogando na plateia como se fosse milho as galinhas desesperadas de fome (risos). Creio que TODOS saíram de lá com pelo menos uma palheta de recordação. Sensacional demais!
Ah, está esperando algum destaque? Calma lá, precisa ainda de mais em um show que foi – pelo menos para mim – o show do ano??? MACHINE FUCKIN’ HEAD, FUCKERS!!!!
Assista ao vídeo de “None But My Own (Live At Tokio Marine Hall 2023” em nosso instagram!
Setlist:
Imperium
Ten Ton Hammer
Choke on the Ashes of Your Hate
Now We Die
The Blood, the Sweat, the Tears
Unhallowed
None But My Own
Take My Scars
Locust
Is There Anybody Out There?
No Gods, No Masters
Seasons in the Abyss (Slayer)
Old
Aesthetics of Hate
Guitar Solo (Vogg)
Darkness Within
Catharsis
Bulldozer
From This Day
Davidian
Halo