Faces Of Death – “Evil” (2023)
Impaled Records | Master Records | Gerunda Produções | Gate Of Doom Records
#ThrashMetal
Para fãs de: Slayer, Sepultura, Exodus, Testament, Sodom
Texto por Johnny Z.
Nota: 9,0
Os anos 80 e a primeira metade dos anos 90, ainda que uma parcela dos fãs de metal acredite terem sido prejudiciais ao estilo — com o que discordo plenamente e com todas as minhas forças — tiveram um impacto profundo, especialmente na cena do metal brasileiro. E o maior nome desse impacto chama-se Sepultura.
Schizophrenia (1987) e, principalmente, Beneath the Remains (1989), formaram o caráter de 95% dos fãs de Thrash Metal, Heavy Metal, ou seja lá como você queira chamar — desde que seja Metal em nosso país! São obras-primas que não apenas moldaram o caráter, mas também construíram um império que segue firme e forte, apesar de alguns ainda o segregarem, vítimas da estúpida cultura do cancelamento gratuito.
Pois bem, cientes disso, a veterana banda paulista Faces of Death — atualmente formada por Laurence Miranda (vocal/guitarra), Luiz Amadeus (guitarra), Sylvio Miranda (baixo) e Niko Teixeira (bateria) — apresenta seu novo álbum: Evil. Sucessor do ótimo Usurper of Souls (2020), o trabalho entrega exatamente aquilo que a banda sempre buscou: um Thrash Metal extremamente pesado e brutal, sem invencionismos, e, desta vez, focado inteiramente como um tributo ao metal descrito no início desta humilde resenha.
Como disse Laurence Miranda em uma conversa particular (e que acredito fazer sentido repetir aqui), Evil é como se o Slayer tivesse gravado Beneath the Remains. Um verdadeiro resgate às origens. Isso já dá uma bela ideia do que está por vir, certo?
Gravado no Audiolab Extreme Studios, em Taubaté (SP), e com arte assinada pelo renomado Marcelo Vasco (The Troops of Doom, Slayer, Machine Head, etc.), o álbum traz 10 faixas de brutalidade robusta e galopante, recheadas de riffs e palhetadas que remetem fortemente ao já citado — e consagrado — Beneath the Remains. Se essa era a ideia, acertaram em tudo: produção, composição, pegada, timbragem, influência, violência e musicalidade, tudo isso sem soar como uma cópia. A essência do Faces of Death está ali, inconfundível.
Falando em palhetadas, Evil é uma verdadeira saraivada de riffs no rosto do ouvinte — e é exatamente isso que, ao meu ver, dá o peso e a energia ao Thrash Metal. O trabalho de guitarras está supremo, com bases e solos incríveis. Mas calma, não para por aí: Niko Teixeira na bateria é um monstro. Ponto. Qualquer coisa que eu diga soará redundante. A família Teixeira foi a melhor coisa que aconteceu ao Faces of Death, pois, junto à família Miranda, agora temos Luiz (guitarra) e Niko Teixeira, que revigoraram a banda de tal forma que — sem desrespeito aos antigos membros — não apenas subiram degraus, mas deram saltos de cinco em cinco!
Agressivo, técnico, criativo, pesado e pungente, Evil transporta o ouvinte de volta aos tempos de adolescência, mas com os pés no chão — não deixando que a nostalgia fique apenas nas memórias afetivas. Além disso, reacende a esperança de que essa fase retorne com força. E acredito que temos hoje bandas que fazem isso de forma primorosa, como o próprio Faces of Death, além de Sacrifix, Andralls, Deathgeist, Forkill, entre outras.
Querem provas de que quem vos escreve não está falando besteira?
A introdução do disco traz ecos que você certamente já ouviu em Bestial Devastation (Sepultura), Nightmare Theatre (Exorcist) e The Number of the Beast (Iron Maiden). Em Stronger Than You, temos uma homenagem ao Sepultura com trechos de letras do álbum (adivinha?)… sim, Beneath the Remains. Os solos remetem aos melhores momentos de Andreas Kisser, Kerry King e Jeff Hanneman (a lendária dupla do Slayer), e os vocais de Laurence se aproximam bastante dos de Max Cavalera em… bem, chega! (risos). E isso não é pejorativo — é um baita elogio!
É quase desumano destacar faixas em Evil, mas Kiss of Death, que aborda a tragédia sem precedentes da Boate Kiss e toda a revolta gerada pela impunidade, acertou em cheio para este que vos escreve.
Hanging Out with the Devil também merece menção: aqui, a luz brilhou de tal forma que nos deixou com o queixo no chão e a saliva escorrendo — há coisas que jamais imaginaríamos ouvir em uma música do Faces of Death! Vou deixar assim, para aguçar sua curiosidade. Mas tenho quase certeza de que foi ideia de Luiz Amadeus, pois o cara é fora da curva! (risos). Um verdadeiro gol de placa!
Outro ponto importante em Evil são as letras — algumas extremamente pesadas (e o instrumental acompanha!). Exemplos? Blood Cross, que trata dos crimes de pedofilia na igreja; A Monster in the Park, sobre o criminoso conhecido como Maníaco do Parque; Suicide, que aborda a depressão; e Lemmy Said One Day, que expressa revolta contra parte da cena metal que se deixa levar por política, cancelando todo mundo. Como bem resume o título da faixa e a filosofia do saudoso Lemmy (Motörhead): “Rock/Metal é Rock/Metal. Não há direita, esquerda, centro, branco, preto, azul…”
Vale destacar também a nova versão de When Calls the Death, lançada originalmente em 2022 como single e videoclipe. Aqui, a faixa foi regravada com mudanças no início e timbragens alinhadas à proposta sonora de Evil.
Evil é um verdadeiro resgate dos bons — eu diria excelentes — tempos do Thrash Metal nacional, com uma produção que revigora todos os instrumentos. Uma pancada old school de tirar o fôlego!
Mais um álbum para bagunçar a lista de melhores do ano!