Pain – “Dancing With The Dead” (2005) (Relançamento 2025)

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Pain – “Dancing With The Dead” (2005) (Relançamento 2025)

Nuclear Blast | Shinigami Records
#IndustrialMetal #TechnicalMetal

Para fãs de: Rammstein, Clawfinger, Fear Factory, The Kovenant, Deathstars

Texto por Johnny Z.

Nota: 9,5

Lançado originalmente em 2005, “Dancing With The Dead” representa um ponto de inflexão importante na discografia do projeto sueco Pain, liderado por Peter Tägtgren — conhecido também por seu trabalho no Hypocrisy e como produtor renomado no The Abyss Studio. Quarto álbum de estúdio da banda, ele marca uma transição sonora significativa, onde o metal industrial se funde de maneira ainda mais coesa com elementos de música eletrônica, sintetizadores melódicos e uma produção cristalina, refletindo a maturidade artística e técnica de Tägtgren.

Comparado aos álbuns anteriores, como “Rebirth” (1999) e “Nothing Remains the Same” (2002), este trabalho apresenta uma abordagem mais acessível em termos de melodia, sem abrir mão da carga emocional e da estética sombria e pesada que são marcas registradas do projeto. Se antes o som era mais cru e calcado em batidas industriais ríspidas, aqui há uma clara intenção de refinar as estruturas das músicas, com refrões mais pegajosos e uma pegada quase radiofônica em alguns momentos — sem jamais soar genérico ou desprovido de identidade ou fúria.

A inspiração para o disco surgiu de uma experiência quase fatal de Tägtgren, que chegou a ser declarado clinicamente morto por alguns instantes antes de ser reanimado. Essa vivência deu origem não só ao título, “Dancing With The Dead”, mas também ao tom lírico e introspectivo que permeia o álbum. Letras que falam sobre morte, alienação, dor e desilusão são embaladas por batidas dançantes, guitarras distorcidas e atmosferas densas, criando um contraste que é, ao mesmo tempo, desconcertante e fascinante.

A qualidade de produção é um dos grandes trunfos do álbum. Cada camada sonora é meticulosamente tratada, com os sintetizadores ocupando um espaço importante na mixagem, mas sem soterrar os riffs de guitarra, que continuam (muito) pesados e precisos. A voz de Tägtgren, ora melódica, ora distorcida eletronicamente, guia o ouvinte por um labirinto emocional onde o metal e a música eletrônica coexistem de forma harmoniosa.

Entre os destaques, a faixa-título “Dancing With The Dead” é um verdadeiro hino, com um riff bem groovado e marcante, clima sombrio e refrão memorável. “Don’t Count Me Out” traz uma letra poderosa, quase autobiográfica, sobre resistência e superação, com (também) um groove envolvente e arranjos que mostram a habilidade de Tägtgren em criar músicas pesadas e cativantes. “Bye/Die”, com sua pegada mais agressiva e industrial, é outro ponto alto, perfeita para as pistas de dança góticas e clubes alternativos europeus. Já “Same Old Song”, resume bem a proposta: uma crítica à repetição e à apatia da sociedade, disfarçada sob um instrumental dançante e moderno.

Outras faixas que merecem atenção são “Not Afraid to Die”, que alterna momentos introspectivos com explosões de intensidade, e “Nothing”, que mostra uma faceta mais melancólica e melódica do Pain. A versatilidade do álbum é notável, mantendo coesão mesmo ao explorar diferentes nuances da música industrial e eletrônica.

Esse relançamento se trata de uma versão remasterizada de “Dancing With The Dead”, incluindo três faixas bônus, sendo duas versões alternativas, uma para “Nothing” e outra para “Bye/Die”, mais a inédta “Trapped”, ambas de tirar a fôlego, reforçando o quanto as composições de Tägtgren funcionam bem por unir peso, batidas e emoções profundas.

No contexto da discografia do Pain, “Dancing With The Dead” é um divisor de águas. Ele estabeleceu de vez o projeto como uma força relevante dentro do metal industrial europeu e expandiu sua base de fãs para além do nicho, conquistando ouvintes tanto do metal quanto da música eletrônica. Sua importância vai além das vendas ou dos rankings (embora tenha alcançado o segundo lugar nas paradas suecas): trata-se de uma obra que consolidou a personalidade artística de Tägtgren, dando ao Pain uma assinatura sonora clara e distinta.

Com “Dancing With The Dead”, o Pain não apenas refinou sua fórmula — ele transcendeu suas próprias limitações anteriores, entregando um álbum coeso, poderoso e emocionalmente ressonante. É uma dança com a morte, sim, mas também com a vida, com a reinvenção e com a capacidade de transformar trauma em arte pulsante. Um dos grandes trabalhos do metal industrial do início dos anos 2000. E sejamos bem coerentes: que disco pesadasso!!!

Na minha opinião — e digo isso com total convicção — o Pain é um projeto ainda melhor e mais vibrante do que o Hypocrisy, não em termos de sonoridade, já que ambos mesmo sendo bem pesados sejam opostos, mas sim na qualidade geral do trabalho do gênio Peter Tägtgren.

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