Rotting Christ – Carioca Club, São Paulo/SP (08/02/2025)
Produção: Estética Torta
Assessoria: Acesso Music
Texto e fotos por Matheus ‘Mu’ Silva
Pela nona vez no Brasil, o Rotting Christ, lendário grupo de Black Metal vindo diretamente da Grécia e divulgando um dos melhores discos do ano passado, “Pro Xristou” (2024), desembarcou em nosso país para uma série de shows, com dez datas por aqui, sendo a terceira realizada em São Paulo (08). O evento contou com a abertura de outra banda lendária do cenário nacional, o Miasthenia, de Brasília/DF, e teve produção da Estética Torta, que tem trazido, cada vez mais, nomes relevantes do cenário extremo mundial ao nosso país.
Formado em 1987, o Rotting Christ é um dos nomes mais prolíficos do Black Metal. Fugindo de fórmulas convencionais (a banda no início era de grindcore, só para se ter uma noção), eles desenvolveram, a partir de seu disco de estreia, “Thy Mighty Contract” (1993), o que ficou conhecido como “Black Metal Helênico”, apostando em músicas densas, carregadas de peso e melodia, sem se apoiar em extremismos sonoros. Essa abordagem trouxe grande destaque e influência à cena, inspirando bandas conterrâneas como Varathron, Necromantia, Thou Art Lord e Kawir, e até mesmo um grande nome brasileiro, o Mystifier, demonstrando como esse estilo específico de som consegue ser tão original. Desde o início, a base da banda são os irmãos Sakis Tolis (guitarra/vocal) e Themis Tolis (bateria). Sua música nunca ficou estagnada, agregando elementos góticos, como visto nos clássicos “Triarchy of the Lost Lovers” (1996) e “A Dead Poem” (1997). A banda consolidou seu nome em grandes discos como “Theogonia” (2007) e “Aealo” (2010), encontrando sua verdadeira identidade sonora no excelente “Kata Ton Daimona Eaytoy” (2013). Tudo isso faz do Rotting Christ um dos nomes mais respeitados e queridos no cenário extremo mundial, com uma reputação impecável e performances ao vivo sempre impressionantes.
A abertura do show ficou por conta do Miasthenia. Vindos de Brasília/DF e já com mais de 30 anos de existência, a banda está divulgando seu mais recente disco, o excelente “Espíritos Rupestres” (2024). A formação conta com Susane Hécate (vocal/teclados) desde o início, Thormianak (guitarra), presente em todos os discos de estúdio, e Aletea (baixo), além de Ritchie Santiago (bateria), que entrou de última hora para essa apresentação, substituindo temporariamente a baterista Lith. O set começou às 18h, trazendo um Black Metal cheio de referências históricas, que torna a banda um nome ímpar no cenário nacional. Devido ao tempo reduzido de apresentação e à mudança de baterista, a banda optou por tocar apenas faixas do último álbum, uma decisão interessante, considerando que o disco foi um dos melhores lançamentos do ano passado. “Evocação”, “Bruxa Xamã”, “Espíritos Rupestres” (com um solo furioso de Thormianak), “Tapuia Marcha” e “Transmutação” foram executadas com precisão, uma marca registrada da banda. Susane também fez breves comentários sobre as letras, tornando a experiência ainda mais imersiva. A iluminação e o som ajudaram a tornar a apresentação ainda mais impactante. Com meia hora de set, o Miasthenia saiu ovacionado pelo público, servindo como um excelente aquecimento para o que estava por vir.
Setlist Miasthenia:
Evocação
Bruxa Xamã
Espíritos Rupestres
Tapuia Marcha
Transmutação





Com um atraso de dez minutos, às 19h30, e após uma breve introdução, os gregos do Rotting Christ finalmente iniciaram sua apresentação com “Aealo”, do disco homônimo de 2010, um clássico emblemático. Em seguida, veio “Pretty World, Pretty Dies”, do último álbum “Pro Xristou” (2024), com Sakis incentivando o público a bater palmas durante as partes mais cadenciadas, recebendo uma resposta imediata. Ao final, ele agradeceu a oportunidade de vir ao Brasil duas vezes em um ano (a banda esteve aqui em fevereiro passado na turnê de 35 anos) e seguiu com “Demonon Vrosis”, também do “Aealo” (2010), celebrada pelos presentes. “Kata Ton Daimona Eaytoy”, faixa-título do álbum de 2013, levou o Carioca Club a bater cabeça em sincronia com a banda. O show prosseguiu com “Like Father, Like Son” (“Pro Xristou”, 2024), que já foi cantada por grande parte do público, mostrando seu potencial para se tornar um clássico.
Sakis, então, anunciou que era hora de tocar algo “old school”, e “King of a Stellar War” (“Triarchy of the Lost Lovers”, 1996) foi recebida com um coral impressionante. A surpresa veio com a participação de Armando “Beelzeebubth”, guitarrista do Mystifier, no baixo para “The Sign of Evil Existence” (“Thy Mighty Contract”, 1993), destacando o respeito mútuo entre os pioneiros do Black Metal em seus respectivos países. Na sequência, “Non Serviam” (1994) manteve a energia em alta.
Instigando a plateia a abrir uma roda de mosh, a banda tocou “Societas Satanas”, cover do Thou Art Lord (projeto paralelo de Sakis), e “In Yumen – Xibalba” (“Kata Ton Daimona Eaytoy”, 2013), ambas com uma resposta frenética do público. “Grandis Spiritus Diavolos” e “The Raven” (“The Heretics”, 2019) encerraram o set principal, com momentos de canto coletivo emocionantes, algo incomum em shows de Black Metal, mas que se encaixa perfeitamente na sonoridade do Rotting Christ.
Retornando ao palco, Sakis gritou: “Mais uma, Brasil?!” e a banda encerrou com “Noctis Era” (“Aealo”, 2010), cantada do início ao fim, fechando a noite com chave de ouro. Apesar do set curto, com pouco mais de uma hora, o Rotting Christ entregou uma apresentação impecável. Mesmo com a ausência de algumas músicas mais antigas, a priorização do material recente fez jus ao legado da banda, evidenciado pela recepção entusiástica do público. Somado ao excelente show de abertura do Miasthenia, a noite foi verdadeiramente épica.
Setlist Rotting Christ:
Aealo
Pretty World, Pretty Dies
Demonon Vrosis
Kata Ton Daimona Eaytoy
Like Father, Like Son
Elthe Kyrie
King of A Stellar War
The Sign of Evil Existence (part. Armando Beelzeebubth)
Non Serviam
Societas Satanas (Thou Art Lord cover)
In Yumen – Xibalba
Grandis Spiritus Diavolos
The Raven
Noctis Era









