Toto – Espaço Unimed, São Paulo/SP (24/11/2024)

toto_2024
Compartilhe

Toto – Espaço Unimed, São Paulo/SP (24/11/2024)

Produção: 30e
Texto e fotos por Matheus “Mu” Silva

Dezessete longos anos após sua primeira passagem pelo Brasil, o Toto, uma das maiores e mais bem-sucedidas bandas da história da música rock, finalmente retornou ao país. Em produção da 30e, a banda fez show no Espaço Unimed neste domingo (24), além de também tocar no Rio de Janeiro na terça (26).

Com mais de 40 milhões de discos vendidos, Grammys e donos de hits atemporais como “Rosanna”, “Africa”, “Hold The Line” e “I’ll Be Over You”, o Toto alcançou um sucesso tremendo durante sua fase mais prolífica, entre o final dos anos 70 e os anos 80. Com uma música muito rica, acessível e cheia de classe, passeando por várias nuances musicais — desde soft rock até altas doses de progressivo, funk, soul e jazz —, a banda conseguiu alcançar diversos públicos e ajudou a cimentar seu nome na história. Contando com seu guitarrista original, o lendário Steve Lukather, além do vocalista de longa data Joseph Williams, a banda também sempre teve ótimos músicos acompanhando sua trajetória, e há três que não poderiam deixar de ser mencionados: Bobby Kimball, vocalista original que gravou os primeiros discos, incluindo o maior sucesso comercial da banda, o “Toto IV” (1982); o fenomenal baterista Simon Phillips; e o tecladista David Paich, que acompanha a banda por toda a sua existência, tendo tocado em todos os discos, mas que, infelizmente, hoje em dia não faz mais turnês. Conhecido por alguns fãs como “Roupa Nova gringo” — uma comparação mais que respeitosa —, o Toto fez um sucesso estrondoso no Brasil, sendo até tema da novela O Outro (1987) com “I’ll Be Over You”.

Com a casa abrindo às 19h, houve um show de abertura da banda Saudade, iniciado às 20h. Liderada pelo vocalista Saulo Von Seehausen, o som da banda passeia por influências como MPB e pop, calcado naquele som vanguardista dos anos 70. Divulgando seu disco Bem Vindo, Amanhecer (2022), apresentaram músicas como “Ah, Que Maravilha”, “Do Avesso” e a faixa-título, além de uma bela homenagem a Guilherme Arantes, tocando um cover de “Meu Mundo e Nada Mais”. Com 35 minutos de set, o Saudade é um grupo muito interessante e profissional, com uma musicalidade completa e cheia de pegada, além da evidente influência do Toto, por sua música também ser muito bem elaborada e acessível. Um ótimo aquecimento para o show e que também fará a abertura do Toto no Rio de Janeiro.

Às 21h, os músicos do Toto assumiram suas devidas posições e iniciaram o show com a excelente “Girl Goodbye”, de seu disco de estreia, Toto (1978). Steve e Joseph passeavam pelos lados do palco, sendo totalmente ovacionados, enquanto a banda entregava uma performance incrível dessa música, que já trazia uma influência progressiva, cheia de momentos mais complexos e, ainda assim, totalmente comercial, com Steve fazendo um solo simplesmente arrebatador. Sem o menor aviso, as notas do teclado de Greg Phillinganes introduziram um dos clássicos absolutos da banda, “Hold The Line”, também do disco homônimo de 1978, e aí não teve jeito: todo mundo cantou junto do início ao fim.

Com Joseph perguntando se o público conhecia a música seguinte, tocaram “99”, outra faixa bem conhecida, do Hydra (1979), em mais um grande momento do show, que incluiu um impressionante solo de baixo de John Pierce. Em um momento de descontração com o público, Joseph lembrou de uma namorada que tinha na época da música e disse que pensava nela todos os dias, antes de iniciar “Pamela”, do The Seventh One (1988). Essa é outra bela canção muito lembrada pelo público, com direito a um incrível duelo de guitarra e teclado entre Steve e Greg, que se divertiram tanto quanto a plateia.

Perguntando se havia músicos na plateia — com um número considerável de pessoas levantando a mão —, Steve fez uma dedicatória aos irmãos Mike e Jeff Porcaro, que compuseram junto a ele a instrumental “Jake To The Bone”, do disco Kingdom of Desire (1992). A faixa foi um desfile de técnica absurda de todos os músicos envolvidos, deixando a plateia boquiaberta com a precisão na execução dessa música, tão complexa e rica em arranjos e andamentos, sendo um dos pontos altos do show. Após sua execução perfeita, os holofotes se voltaram para o tecladista Greg, que iniciou um solo em seu instrumento, com direito a um trecho de “I Won’t Hold You Back”, cantado a capella pelo público, acompanhando o músico. Em seguida, veio “Burn”, do Toto XIV (2015), com Steve e Joseph fazendo “air drums” durante sua execução — um gesto que até o público imitou, já que a bateria dessa música é marcante.

Na sequência, para aquecer os corações apaixonados, tocaram a belíssima balada “I’ll Be Over You”, do Fahrenheit (1987), em um dos momentos mais tocantes do show, que emocionou os muitos casais maduros presentes. Logo depois, foi a vez da animada “Stop Loving You”, do The Seventh One (1988), com o público cantando seu refrão em uníssono. Assumindo os vocais, Steve dedicou a próxima música a um velho amigo, relembrando quando ouviam a faixa juntos em um toca-fitas dentro de um ônibus na juventude. Ele então fez um cover magnífico de “Little Wing”, de Jimi Hendrix, demonstrando toda sua destreza na guitarra. A performance foi tão emocionante que os músicos de apoio reagiam com expressões de admiração, aprovando o que viam.

Após um incrível solo de bateria de Shannon Forrest, tocaram “I’ll Supply The Love”, do Toto (1978), com o membro mais recente da banda, o tecladista Dennis Atlas, assumindo os vocais principais. Todos os outros músicos fizeram os vocais de apoio, acompanhados pelo público. Dedicando a próxima canção à sua filha, Joseph apresentou “A Thousand Years”, do The Seventh One (1988). Em seguida, perguntando se o público queria algo mais “funkeado”, tocaram “Georgy Porgy”, do Toto (1978), colocando o Espaço Unimed para dançar.

A música seguinte, “Dying on My Feet”, do Falling In Between (2006), teve os vocais principais executados pelo tecladista Greg, enquanto Steve não parava de sorrir, demonstrando a admiração pela banda e pelo momento. Nem mesmo a pausa para apresentar os músicos que compõem o Toto diminuiu o ritmo do show. A cada membro apresentado, a banda tocava um trecho de algo que marcou suas carreiras ou influências, como “Beat It” (Michael Jackson), “I Keep Forgettin'” (Michael McDonald), “The Power of Love” (Huey Lewis & The News), “Sex Machine” (James Brown), “Carry On Wayward Son” (Kansas) e até mesmo “Hakuna Matata”, cantada por Joseph, que gravou a versão original para O Rei Leão. Foi uma dose incrível de nostalgia para o público.

Seguiram então com “Home of The Brave”, do The Seventh One (1988), com o percussionista Warren Ham no vocal principal. Mais um tributo veio logo depois, desta vez aos Beatles, com “With a Little Help from My Friends”, na versão eternizada por Joe Cocker. A execução foi épica, com todos os músicos e o público cantando o refrão a plenos pulmões. Ainda sendo ovacionados, Shannon chamou a faixa seguinte com sua bateria: “Rosanna”, do Toto IV (1982). Para aumentar ainda mais a empolgação, Greg fez um solo de teclado tão incrível que Joseph não resistiu e fingiu massagear suas costas, arrancando gargalhadas do público.

Como não poderia deixar de ser, encerraram o show com chave de ouro com outro clássico eterno: “Africa”, também do Toto IV (1982). A plateia cantou cada palavra da música, do início ao fim, celebrando um espetáculo inesquecível.

Com quase 50 anos de estrada, o Toto não entrega apenas um show, mas um verdadeiro espetáculo. Em vários momentos, parecia inacreditável como a banda consegue ser tão coesa, perfeita e energética, como se fosse um CD rodando. Foi uma noite de pura magia e emoção, que certamente ficará na memória de todos os presentes — e com certeza na minha. Obrigado, Toto, por um dos shows mais incríveis que já vi em toda a minha vida.

Setlist:

Girl Goodbye
Hold the Line
99
Pamela
Jake to the Bone
Keyboard Solo (com trecho de “I Won’t Hold You Back”)
Burn
I’ll Be Over You
Stop Loving You
Little Wing (The Jimi Hendrix Experience cover)
Drum Solo
I’ll Supply the Love
A Thousand Years
Georgy Porgy
Dying on My Feet (introdução da banda + trechos de Beat It, I Keep Forgetting e The Power of Love)
Home of the Brave
With a Little Help From My Friends (The Beatles cover)
Rosanna
Africa

Compartilhe
Assuntos

Veja também