Vulcano – La Iglesia, São Paulo/SP (28/09/2024)

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Vulcano – La Iglesia, São Paulo/SP (28/09/2024)

Texto e fotos por Matheus “Mu” Silva

Para comemorarem o lançamento de seu mais recente disco de estúdio, “Epilogue” (2024), a instituição do metal nacional Vulcano fez um show especial no La Iglesia, em São Paulo/SP, no último sábado, 28, tendo como banda convidada a Masturbator. O disco foi lançado de forma independente, e na Europa pela High Roller Records.

Falar do Vulcano é falar da própria história do metal brasileiro. Formada em Santos/SP em 1981, é uma das bandas mais antigas ainda em plena atividade e pioneira do metal extremo não só do Brasil, mas certamente da América Latina, tendo em vista que são difíceis registros de outras bandas do mesmo período. Desde seu primeiro lançamento oficial, o histórico “Live!” (1985), seguido pelo pilar do metal extremo nacional, “Bloody Vengeance” (1986), e sem poder deixar de mencionar os discos seguintes, “Anthropophagy” (1987) e “Who Are The True?” (1988), a banda cimentou seu nome e importância tanto no metal nacional quanto no internacional, sendo sempre citada por grandes bandas do mesmo período, em um tempo em que as bandas buscavam alcançar níveis inimagináveis de música extrema.

Mesmo com um hiato de 14 anos sem lançar nada após “Ratrace” (1990), a banda voltou com tudo, lançando “Tales From The Black Book” (2004), e não parou mais. Em 2010, com a efetivação de Luis Carlos Louzada no posto de vocalista, substituindo Angel, a banda ganhou ainda mais vigor, tanto nas gravações quanto nas apresentações ao vivo, tendo iniciado essa trajetória no excelente “Drowning in Blood” (2011) e agora chegando ao seu sétimo lançamento como frontman. Além dele, não posso deixar de mencionar a mente por trás disso tudo, o guerreiro Zhema Rodero, guitarrista original, que carregou a banda por todos esses anos, nunca baixando a guarda para o mainstream, acreditando sempre na força do underground, e carregando em seus riffs a história que ajudou a escrever de nossa música metal.

Para abrir a noite, foi convidada a banda Masturbator, de Franca/SP. Banda também relativamente antiga, de 1988, tiveram algumas demos e splits lançados ao longo dos anos, até finalmente chegarem ao seu primeiro full-length, “Hell Warrior” (2023). Contando com os membros mais antigos, Samuel (vocal) e Sidinei (guitarra), além de Marcos Junior (guitarra), Jason (baixo) e Iury (bateria), o som deles é um Death Metal bem Old School, e o show foi focado nas músicas do debut, como “Reality of Inquisition”, “Pornographic Terror”, “Bestial Masturbator” e a faixa título. Mesmo com uma apresentação curta, de 25 minutos de set, entregaram uma boa apresentação, sem firulas, apenas música extrema sem dó.

Às 22h35, o Vulcano, os donos da noite, entrou em ação. Iniciando o set com “Legiões Satânicas (Satanic Legions)”, do eterno “Live!” (1985), a banda executou toda a sua primeira parte instrumental até o vocalista Luiz subir e proferir a eterna sentença: “os portais do inferno se abrem para vocês! Se preparem, agora… Vulcano!”, e dar sequência na parte cantada da música. Agora sim, o show começou de verdade. Na sequência, uma faixa mais recente, “Church at a Crossroad”, do disco “The Man, The Key, The Beast” (2013), e voltando novamente ao passado com a clássica “Witches Sabbath”, da primeira demo “Devil on my Roof” (1984), bem cantada pelos presentes, pois ela abre o disco “Live!” e foi eternizada juntamente à frase que a precede. O vocalista Luiz comentou que, embora o show fosse intencionado para lançar o disco novo, preferiram entregar músicas antigas ao público, e assim tocaram “Domínios of Death”, do clássico “Bloody Vengeance” (1986).

De qualquer forma, como não poderiam deixar de tocar algo do “Epilogue” (2024), apresentaram uma única faixa do álbum, o single “On The Wings”, seguida por “Gates of Iron”, do disco de retorno “Tales From The Black Book” (2004). Daí pra frente, foram apenas músicas lançadas até seu debut de 86, de forma alternada, passando primeiramente pela clássica “Spirits of Evil”, depois com a faixa título da primeira demo, “Devil on my Roof”, voltando ao debut com “Ready to Explode”, novamente pra demo com a poderosa “Fallen Angel”, e mais duas em sequência do primeiro álbum, “Holocaust” e “Death Metal”. Tocaram a última que faltava do Lado A da demo, “The Signals”, e mais uma do debut, “Incubus”.

Para encerrar a noite, não poderia faltar seus dois maiores clássicos, ambos do disco “Live!”, mas que efetivamente ganharam versões de estúdio posteriormente no “Tales From The Black Book”: “Total Destruição”, com Luiz vociferando a sua intro: “Eu sou o quinto cavaleiro do apocalipse. Empunho em minhas mãos uma espada forjada em aço e fogo. Ergam suas cabeças para que eu possa decepá-las! A dor não devem temer, pois vosso sangue em minhas mãos eu vou beber, pois preciso de vossas almas para meu pacto com Satã pagar… E de vosso sangue para eterno continuar. Pois está tudo perto da total… destruição!”, e sem tempo de respirar, na sequência teve “Guerreiros de Satã”, ambas levando o público ao delírio, pois são verdadeiros símbolos do nosso underground. E pra fechar o show, tocaram “Bloody Vengeance”, coroando uma apresentação calcada no que o Vulcano representa para o metal.

Em uma noite dedicada ao que era feito de mais primitivo em nossa história, este sábado tivemos dois nomes que seguem pavimentando seu caminho, com uma entrega absurda. Ambas as bandas falaram pouco, mas entregaram tudo o que interessa: música pesada, de qualidade e de verdade, o metal forjado nos anos 80 em seu mais puro estado de brutalidade.

Agradecimentos ao pessoal do La Iglesia pela cordialidade, parceria e amizade no credenciamento para este evento.

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