Thrash disConcert II – RedStar Studios, São Paulo/SP (14/09/2024)
Assessoria: JZ Press
Texto por Cecil B. Demented
Vídeos e Fotos por Johnny Z.
Neste sábado à noite, em São Paulo, aconteceu a segunda edição do festival Thrash disConcert no Red Star Studio, um espaço incrível na capital paulista por ter uma excelente localização, fácil acesso e uma qualidade de som e iluminação incríveis para eventos mais intimistas. Palmas para a casa que mais uma vez apoiou a causa do Metal pesado nacional, abrindo suas portas para bandas tocarem em horário nobre – algo raro para o underground, já que essas bandas geralmente são relegadas a apresentações no domingo à tarde, em locais pouco conhecidos. O evento de hoje foi um verdadeiro manifesto do underground brasileiro, com as bandas Tosco e Faces of Death entregando performances de peso.
Teríamos uma terceira banda, os paulistanos da Trendkill Inc., mas, devido a um problema urgente de saúde do seu baterista, a banda teve que cancelar sua apresentação em cima da hora.
TOSCO:
O Tosco foi responsável pela primeira apresentação da noite, entregando uma porradaria e fúria impressionantes, com aquela atitude “metal up your ass”, típica das bandas que seguem a linha do Thrash/Hardcore americano da Bay Area, tanto da primeira quanto da segunda geração (quando os caras de lá e daqui realmente aprenderam a dominar seus instrumentos). Como o Thrash Metal brasileiro tem um DNA próprio, cito as bandas Ratos de Porão e o Korzus como duas das influências na sonoridade do quarteto formado por Osvaldo Fernandez (vocal), Ricardo Lima (guitarra), Carlos Diaz (baixo/ex-Vulcano) e Bruno Conrado (bateria/Vulcano).
Ao vivo, a banda mostra que está muitíssimo bem entrosada, com aquele ataque “sangue nos olhos” que contagiou todos os presentes em músicas como “Mais Uma Vez” e “O Monstro”, entre outras.
A porradaria foi amplificada pela qualidade do som, que estava nas mãos de um profissional da casa, que fez uma mixagem incrível para a noite, já que a banda estava gravando seu primeiro álbum ao vivo da carreira.
O Tosco transmite em seu som e letras muita revolta contra os políticos e suas promessas vazias, o sistema e tudo que existe de ruim na sociedade. Essa mensagem fica clara quando você ouve o peso de suas letras, que são praticamente expurgadas por Osvaldo. A música “O Brasil é um Crime” reflete bem essa visão crítica, abordando temas como corrupção e a podridão política do país.
Destaque para Ricardo Lima, com um timbre pesadíssimo, que mostra muita precisão nas bases e manda muito bem nos solos. O baixo e a bateria seguram a cozinha de forma muito fiel aos padrões do Thrash Metal/Hardcore, com faixas como “2 Psicopatas”, “Dia de Decisão”, “Lei do Silêncio”, “Casa de Noia” e a arrasa-quarteirão “Cala A Boca Globo”, que dispensa comentários, sempre flertando com o crossover em momentos em que o vocal e as letras ganham muito destaque.
O final apoteótico com “Guerreiros do Metal”, uma versão brutal, quase como um Thrash/Punk do Korzus, fez todos os presentes se esbaldarem como antigamente.
O Tosco está entre as bandas que mantêm viva a tradição do Thrash/Hardcore forjada aqui no Brasil ao longo das últimas quatro décadas. Junto com outras bandas atuais, eles mantêm a cena nacional não só bem servida, mas atualizada e relevante.
Setlist:
Redneck Stomp (Intro)
Mais Uma Vez
O Monstro
O Brasil É O Crime
2 Psicopatas
Dia de Decisão
Lei do Silêncio
Casa de Nóia
Cala A Boca Globo
Cenário de Chacina
João do Cão
Guerreiros do Metal (Korzus)
FACES OF DEATH:
O Face of Death chega com sua proposta de tocar o bom e velho Thrash Metal Old School, com vocais que remetem ao Max Cavalera das antigas, em músicas como “Priest From Hell”, por exemplo. A banda também me fez lembrar o Slayer daquela época de “South of Heaven”, especialmente em “Bloody Cross” e “Monsters”, entre outras executadas nesta noite, aliadas a uma presença de palco bem intimidadora – mas, claro, o show rolou em clima de celebração, com cada integrante dando o seu melhor em seus instrumentos.
Para não me alongar muito, o vocalista e guitarrista Laurence Miranda é uma figura interessante no palco, pois transmite uma agressividade e energia impressionantes em cada palhetada e grito no microfone, vide a poderosa “Usurper Of Souls”, que traz uma rifferama digna dos velhos tempos. O restante da banda, composto por Sylvio Miranda (baixo), Maurício Filho (guitarra) e Igor Nogueira (bateria) — sendo os dois últimos recém-recrutados — mostrou que também comanda o palco com muita precisão.
Enquanto toca riffs e solos espantosos, o cara olha para a plateia com uma sensação de tranquilidade ao longo de todas as músicas, como em “A Monster in the Park”. Faz até parecer fácil tocar o Thrash mais clássico e brutal que se ouve nesta noite, até as cortinas se fecharem ao som de “Black Magic” (Slayer) e “Orgamatron”, cover do Motorhead, mas imortalizado pelo Sepultura, que levou o Rock N’ Roll sujo da banda original a algo mais Thrash Metal de linhagem teutônica, principalmente do Sodom no início de sua carreira.
Esse é o panorama geral do evento desta noite. Só sei que saí da RedStar Studios com minhas energias recarregadas e feliz por estar presente em um evento como esse, que mostra que a cena Thrash Metal underground tem muito a oferecer. Basta você, ‘banger de sofá’, começar a comparecer…
Setlist:
Priest From Hell
New World Order
Fucking Human Gods
Usurper Of Souls
Evil
Bloody Cross
A Monster In The Park
Killer… In The Name Of God
Strong Than You
Black Magic (Slayer)
Orgasmatron (Motorhead)