Brujeria – Carioca Club, São Paulo (26/08/2023)

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Brujeria – Carioca Club, São Paulo (26/08/2023)

Produção: Dark Dimensions

Texto e vídeo por Johnny Z.
Fotos por André Tedim

Celebrando os 30 anos de lançamento do icônico e polêmico álbum de estreia, “Matando Güeros”, a banda de Death Metal/Grindcore Brujeria aportou pela oitava vez no Brasil para uma turnê de 8 shows pelo país.

Para quem conhece os conhece sabe que seus shows sempre são extremamente violentos, agressivos e de certo modo ríspidos, mas impossível dizer que não são divertidíssimos. Assisti-los é um sentimento que nos faz ser transportados para uma dimensão onde tudo é perfeito, onde não existem problemas ou preocupações, pois literalmente não conseguimos nem pensar neles enquanto aproveitamos cada instante de seus os shows.

Por mais a formação do Brujeria tenha mudado inúmeras vezes, que até hoje nem sabemos ao certo que realmente é ou fez parte da banda, isso não muda nada, pois as figuras originais e principais do ‘culto’, Juan Brujo (vocal) e Pinche Peach (vocal), estão lá na frente conduzindo a missa de uma forma única que faz com que a plateia sempre fique nas suas mãos.

Saber a formação que acompanha esses dois ‘ministros do ódio’ hoje é dia é quase uma tarefa para a Interpol, mas, atualmente (nos palcos) a banda vem se apresentando, além dos já citados Juan Brujo e Pinche Peach, com El Sangron (Henry Sanchez/vocal), El Criminal (Anton Reisenegger/guitarra), Sérgio Lopez (baixo) e Svo (filho de Juan Brujo) na bateria, sendo esses dois últimos substitutos temporários (Será? Ninguém sabe!) de Hongo (Shane Embury/baixo) e Hongo Jr. (Nick Barker/bateria) respectivamente.

Neste exato momento, Nick Barker encontra-se internando devido a um problema de insuficiência renal, já Shane sempre está envolvido a um infinito inúmero de bandas e projetos.

Sem bandas de abertura, o Brujeria deu início a sua apresentação pontualmente às 19h30, conforme programado, e somado aos impecáveis sistemas de luzes e som, fizeram um dos shows mais anárquicos dos últimos anos nos palcos paulistanos. Tudo bem que os primeiros shows da banda no país, com a formação que contava com os membros originais e todos sabem quem eram, o negócio realmente era descomunal, mas o que temos atualmente não deixa nada a desejar para a ‘grosseria’ de antes.

Por exemplo, Svo (bateria) simplesmente arregaçou numa execução violenta, quase punk com nitroglicerina! Posso atestar isso, pois fiquei ao seu lado durante toda a apresentação. O cara é um monstro!

Outro grande destaque na banda hoje – se não o maior – é o guitarrista El Criminal, pois o cara tem uma pegada pesadíssima nos riffs, o que foi ainda mais gritante devido a excelente timbragem e equalização do som no Carioca Club naquela noite. É incrível a pegada que ele impõe às músicas da fase de Dino Cazares (Asesino), simplesmente avassalador! Se você fechar os olhos, vai achar que é o cara que criou a porra toda de tão perfeito que ele tira nota por nota, mas, ao mesmo tempo, sem soar mecânico e com uma facilidade incrível.

O atual baixista Sérgio Lopez fez um excelente trabalho e tocou tudo com precisão, mas a presença de palco e a energia escaldante de Shane fez falta. Já Pinche Peach é um maníaco no palco, pois parece que está ligado nos 220v, totalmente oposto a Juan Brujo que fica mais parado no centro e gritando feito um louco.

Nitidamente, Juan Brujo não ‘vocifera’ mais como antigamente, quando usufruía de uma voz bem mais grave, sombria e horrenda – que combinava muito -, mas não chega a atrapalhar, apenas acho que descaracteriza um pouquinho não termos aquela textura cavernosa que sua voz dava em contraponto aos riffs. Hoje, ele grita como se estivesse numa feira no centro de São Paulo, mas antes ele parecia o Godzilla com muita raiva (risos). Novamente, não atrapalha em nada, apenas questão de gosto pessoal deste quem vos escreve.

Na primeira parte do show tivemos, logicamente, a execução BRUTAL e ESCARRADA de “Matando Güeros ‘quase’ na íntegra, pois a banda deixou de fora “Molestando Niños Muertos” e colocou a emblemática faixa homônima- e o maior clássico desse álbum – para o final da segunda parte da apresentação.

Um caos apocalíptico foi intercalado com alguns poucos discursos viscerais de Juan Brujo e Pinche Peach, que fizeram dessa primeira parte do espetáculo passar de forma tão rápida quanto a duração original do disco, já que praticamente todas as faixas foram ligeiramente executadas mais rápidas.

Muitas rodas, stage divings, maluquices e todas as bizarrices possíveis aconteceram na pista (e no palco) nessa noite. A energia emanada por todos (incluindo a banda) era quase que palpável!

Falar de uma plateia em um show do Brujeria, e isso já faz parte do espetáculo, é algo que valeria risos e mais risos, pois você vê literalmente de TUDO subindo e se jogando do palco. As pessoas (ou quase) se transformam em loucos ao assistir a um show da banda, e quando sobem ao palco elevam isso a quinta potência! Não tem sexo, tamanho, peso, idade, absolutamente nada que atrapalhe tal fato, e se tivessem cavalos na plateia, eles com certeza subiriam e fariam o mesmo(risos). E você pensa que a banda se incomoda com isso? Jamais! Chamam sempre todos para subirem no palco e sem nenhum empecilho, o que, de forma muito respeitosa, obedecem sem fazer nenhum tipo de cagada, sequer passam do limite dos retornos.

E no Carioca Club, que estava praticamente lotado, não foi diferente! Tenho que bater palmas para o pessoal que se divertiu MUITO (aliás como sempre num show deles!) e se comportou como verdadeiros ‘encabronados’.

Os três vocalistas apresentam meio que posições diferentes dentro do grupo: Pinche é mais falante como um ministro instigador do caos, El Sangron o torturador e estrategista, já Juan Brujo o comandante do exército, mas o conjunto da obra funciona muito bem quando todos empunham seus facões e soltam todo tipo de baixaria possível, o que, diga-se de passagem, é engraçado demais! Certas horas me dava um pouco de medo quando eles empunhavam os facões, pois a qualquer instante poderia surgir um doido varrido no palco e a chance de se machucar era iminente (risos).

Estão se perguntando: Quais foram os destaques da primeira parte?
Poxa, um disco icônico e ‘quase’ na íntegra já não basta para você?!!!! Uma aula de como devastar sem classe nenhuma, somente passando por cima sem pudor e sem dó (risos)

A segunda parte da apresentação foi pura energia, até mais intensa e violenta que a primeira! E lembre-se que, nessa hora, o cheiro da ‘marola’ já estava em um nível de deixar até quem não usufruía da substância natural, completamente ‘sorridente’ e fora de si (risos).

Confesso que gosto mais dos discos “Raza Odiada” (1995) e “Brujerizmo” (2000), ao “Matando Güeros” (1993), então poder presenciar verdadeiros tsunamis em forma de música – com toda a qualidade sonora do dia – como “La Migra”, “Colas de Rata”, “Hechando Chingados”, “La Ley Del Plomo”, “Marcha de Ódio” (com direito a referências a um líder como coreografias, “Revolución”, “Consejos Narcos”, “Brujerizmo” e enfim “Matando Güeros”, foi uma verdadeira catarse ‘hecatombica’ (se é que essa palavra existe, mas acredite, tem todo sentido). Impossível mensurar o grau de porradaria que essa leva de clássicos despejou no público naquela noite!

Vale um destaque engraçado antes de “Consejos Narcos”, quando Pinche Peach e El Sangron perguntaram se tinham “maconheiros” presentes e se podiam “conseguir” um pouquinho da erva para a banda, sendo prontamente atendidos (risos).

Só não entendi o motivo de não incluírem nenhuma faixa de “Pocho Aztlan” (2016), pois é, também, um excelente álbum.

Após “Matando Güeros”, tivemos o momento ‘porra louquice’ habitual de um show do Brujeria: Ao som mecânico de “Marijuana”, paródia que a banda lançou no EP homônimo de 1997 da música “Macarena”, muitos fãs subiram no palco, sem nenhum pudor e controle, para “dançar”, zonear e tirar fotos com a banda, deixando os seguranças meio sem saber o que fazer. E nem precisavam se preocupar, pois foi tudo numa boa, com “respeito” e com um clima surreal de confraternização. Daria para ser diferente?

Parabéns Dark Dimensions e equipe! Organização, pontualidade, som, luzes, público, banda, setlist, tudo perfeito! Só nos resta agora esperar por uma nova vinda da banda para divulgar o excelente novo álbum “Esto Es Brujeria” (sim, já tivemos acesso ao material. Obrigado Nuclear Blast!), que vai sair oficialmente dia 15 de setembro!

Se você tem dúvida se um dia deve ou não assistir a um show do Brujeria, faça um favor a si: Queime-a! (literalmente)

Setlist:

Satanás
Fura de Venta
Leyes Narcos
Sacrificio
Santa Lucía
Seis Seis Seis
Cruza La Frontera
Greñudos Locos
Chingo de Mecos
Narcos Satanicos
Desperado
Machetazos
Culeros
Missas Negras
Chinga Tu Madre
Verga del Brujo
Cristo de la Roca
Castigo del Brujo
Estan Chingados
La Migra
Colas de Rata
Hechando Chingasos
La Laey del Plomo
Marcha de Odio
Revolución
Consejos Narcos
Brujeirizmo
Matando Güeros
Marijuana
(som mecânico)

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