Dark Funeral – Vip Station, São Paulo/SP (08/03/2025)
Produção: Bilheto/Mosh Productions
Texto e fotos por Matheus “Mu” Silva
Pela quinta vez no Brasil, a instituição do Black Metal sueco Dark Funeral veio ao nosso país, com shows em Limeira/SP (07), o de hoje em São Paulo (08) e, amanhã, em Curitiba/PR (09). A atual turnê, celebrando os 30 anos do EP de estreia autointitulado de 1994, com a atual formação regravando-o, infelizmente foi permeada por muitas adversidades. Inicialmente como headliner do MAD Metal Fest, o evento (assim como a data seguinte em Curitiba) foi cancelado devido a problemas internos da produção, o que infelizmente prejudicou várias bandas que viriam para o festival. No entanto, o show acabou sendo “salvo” por uma operação feita pela Bilheto em conjunto com a Mosh Productions, viabilizando sua realização e garantindo que tanto as bandas que já estavam no Brasil quanto o público pudessem seguir com as apresentações previamente agendadas, o que acabou dando certo.
(Nota: Por conta do remanejamento de horários e problemas de logística, a resenha não conta com texto sobre as bandas Suicidal Nazareth, Luxúria de Lilith e Mystifier. A resenha se inicia a partir da apresentação do Besatt.)
Subindo ao palco às 17h20, conforme previsto no novo cronograma, e com a casa relativamente cheia, a clássica banda polonesa Besatt destilou seu Black Metal cru e impiedoso no Vip Station. Na ativa desde 1991 e liderada pelo vocalista/baixista e membro original Beldaroh, o Besatt vem com certa frequência ao Brasil, o que fez com que sua apresentação fosse bastante celebrada pelos presentes. Músicas como “Baphomet” e “Ave Master Lucifer”, ambas do ótimo Hellstorm (2002), foram alguns dos pontos altos do show, tanto pela execução quanto pela resposta do público, com a banda sempre agradecendo a recepção e o fato de conseguirem ter tocado, mesmo diante de todos os imprevistos. Com 40 minutos de set, a banda cumpriu seu papel, preparando o terreno para o que viria a seguir. Saíram do palco ovacionados e lembraram o público de que ainda fariam mais uma apresentação no domingo, em São Caetano/SP — data essa arranjada pelo pessoal do Necrópole Hall para ajudar nos custos da estadia da banda, em mais uma operação para conter os prejuízos decorrentes do cancelamento do festival.

Após a troca de palco, com bandeiras e um pano de fundo interativo repleto de sangue e a imagem do clássico vampiro Nosferatu, às 18h43 iniciou-se a apresentação do Dark Funeral. Já fazendo alusão à produção de palco, começaram o show com “Nosferatu” (We Are The Apocalypse, 2022), de forma totalmente explosiva, seguida de um grande clássico da banda, “Atrum Regina” (Attera Totus Sanctus, 2005), que contou com uma execução primorosa. Após alguns agradecimentos de Heljarmadr, a banda tocou a ótima “To Carve Another Wound”, do Where Shadows Forever Reign (2016), primeiro disco que contou com seus vocais e que dominou boa parte do set.
E então veio um dos pontos altos da apresentação: “The Arrival of Satan’s Empire”, do clássico absoluto Diabolus Interium (2001), levando o público a bater cabeça incessantemente e a abrir rodas de mosh. Essa música é um verdadeiro rolo compressor, representando todo o caos e destruição que a banda sempre buscou trazer em seu som. Diminuindo um pouco a intensidade, a banda tocou “When I’m Gone” (We Are The Apocalypse, 2022), com sua pegada mais arrastada e soturna. Além de ser uma das melhores músicas do disco, levou o público a exclamar as palavras de seu título sempre que era cantado.
Após uma dobradinha do Where Shadows Forever Reign (2016) com “As One We Shall Conquer” e “Unchain My Soul”, e por conta da celebração de 30 anos do EP de estreia Dark Funeral (1994), a banda tocou-o na íntegra, o que fez a festa dos presentes. Pérolas como “Open The Gates”, “Shadows Over Transylvania”, “My Dark Desires” e “In The Sign of The Horns” colocaram o Vip Station abaixo, com todos cantando a plenos pulmões esses verdadeiros clássicos — não só da banda, mas do Black Metal como um todo. E, após essa enxurrada de hinos, a banda voltou para o bis final com “Let The Devil In” (We Are The Apocalypse, 2022) e “Where Shadows Forever Reign”, do disco autointitulado de 2016. Com uma apresentação relativamente curta, de aproximadamente 70 minutos, a banda entregou um ótimo show, mostrando por que são um dos pilares do Black Metal sueco e também uma das bandas mais influentes da história do gênero.
Mesmo em um cenário desfavorável, bandas e público fizeram sua parte. O que poderia ter sido um dos maiores eventos do ano, infelizmente, ficou marcado por diversos problemas, mas, ainda assim, ter acontecido foi melhor do que não ter. Isso ficou evidente tanto na entrega das bandas quanto no público, que compareceu em grande número, enchendo o Vip Station. Uma noite com um gosto agridoce, mas, ainda assim, um testemunho da real devoção ao underground de todos os presentes. Quem optou por ir ao evento não saiu de lá decepcionado — muito pelo contrário, havia no ar a sensação de que esse show precisava acontecer. E, felizmente, aconteceu. E valeu totalmente a pena.
