Entrevista com Grutle Kjellson (Enslaved)

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Entrevista com Grutle Kjellson (Enslaved)

Beirando os 35 anos de existência e com dezesseis álbuns lançados, o Enslaved, um dos nomes mais tradicionais e conhecidos do Black/Viking Metal escandinavo, mais precisamente da Noruega, berço da fase mais ríspida do estilo, tem uma turnê marcada para a América Latina no final do ano, passando pelo Brasil pela terceira vez no dia 14 de novembro. Em entrevista concedida ao Metal Na Lata, Grutle Kjellson, vocalista e membro fundador da banda, conversou conosco sobre o desenvolvimento do seu som ao longo dos anos, além de falar sobre a própria banda, a música metal brasileira e outros detalhes de como o Enslaved chegou firme e forte ao momento atual.

Entrevista por Matheus “Mu” Silva
Fotos por Roy Bjørge/Nuclear Blast

Metal Na Lata: Olá, Grutle, seja bem-vindo ao Metal Na Lata!

Grutle Kjellson: Olá, obrigado.

Metal Na Lata: Vocês estão chegando aos 35 anos de banda. Como tem sido todo esse processo musical para vocês ao longo dos anos?

Grutle Kjellson: Na verdade, são 33 (risos). Nós sempre tentamos ampliar nossos horizontes, nos desenvolver, deixar as coisas mais interessantes para nós mesmos, nos desafiar, ir mais longe, nos tornarmos melhores compositores e músicos. Então, o objetivo sempre foi um desenvolvimento constante. Temos 16 álbuns na carreira e acho que conseguimos. Ainda acredito que estamos fazendo nossa própria música favorita, talvez (risos).

Metal Na Lata: Desde “Hordanes Land” até o último disco, “Heimdal”, sua musicalidade é muito única. Eu estive no último show de vocês aqui no Brasil, em 2019. Apesar do público pequeno, foi um ótimo show, e vocês estavam celebrando os 25 anos de Frost. Como você vê, durante a época áurea da cena Black Metal norueguesa, o som do Enslaved em comparação ao que era feito na época?

Grutle Kjellson: Tudo era muito diferente naquela época. A tecnologia era muito diferente; os álbuns antigos eram gravados em fitas e, então, processados no estúdio… Foi um processo muito, muito diferente. E nós éramos bem mais jovens, com menos experiência. Então, talvez, de alguma forma, as coisas fossem mais estressantes. Hoje, as coisas são mais acessíveis, e é um pouco mais fácil trabalhar com cada parte da música. Podemos fazer demos melhores, experimentar diferentes ângulos e ideias.

Então, realmente, é muito mais divertido compor, organizar e trabalhar nas músicas agora. Essa é uma vantagem que a tecnologia nos deu. Por outro lado, parece que, naquela época, todos aproveitavam os álbuns completos, fossem fitas cassete, CDs ou vinis. Agora, as músicas estão mais fragmentadas, é um cenário totalmente diferente. Na verdade, é mais difícil para os fãs terem a mesma conexão com os álbuns do que há 30 anos. Na época, conseguir música nova era um verdadeiro desafio, especialmente quando trocávamos fitas demo de todos os cantos do mundo. Isso criava uma relação mais forte, um sentimento de pertencimento mais intenso. Isso, obviamente, mudou a maneira como as pessoas consomem música hoje. Então, muitas coisas mudaram, além da música em si.

Metal Na Lata: Como você vê essa evolução? Desde Hordanes Land, que era algo mais Black/Viking Metal, até o som atual com mais elementos progressivos. Suas músicas são mais longas do que no passado. Como você enxerga essa mudança ao longo dos anos?

Grutle Kjellson: Nada mudou do dia para a noite. Hordanes Land foi gravado em 1992, há 32 anos. Nós ainda éramos adolescentes, menos experientes, obviamente. Havia uma energia totalmente diferente naquelas gravações. Agora, somos melhores músicos, temos composições e performances mais refinadas. Há, sem dúvida, uma grande diferença, mas ainda somos as mesmas pessoas. Eu e Ivar somos a base desde o início. Então, é fácil ouvir que ainda somos o Enslaved. Mantivemos a essência, apenas adicionando camadas com o passar do tempo.

Metal Na Lata: Falando da sua última turnê por aqui, vocês vêm para o Brasil em novembro. Quais são as expectativas? O que podemos esperar do setlist? Estão preparando algo especial?

Grutle Kjellson: Bem, houve a pandemia, e lançamos dois álbuns desde a última vez que tocamos na América Latina. Então, obviamente, o setlist terá muitas músicas que vocês ainda não viram ao vivo. Estamos realmente ansiosos para apresentar as músicas desses álbuns para vocês, de Utgard e Heimdal. E, é claro, vamos tentar misturar tudo. É difícil incluir músicas de todos os álbuns, já que são dezesseis, mas será uma boa mistura de clássicos antigos, material novo e algumas músicas selecionadas. Vai ser uma grande experiência. Espero que vocês aproveitem bastante no Brasil também.

Metal Na Lata: E sobre a cena brasileira, quais bandas você mais gosta ou que ouviu ao longo dos anos?

Grutle Kjellson: Nós ouvimos muito Sepultura nos anos 80, Schizophrenia, Beneath the Remains. Sarcófago, obviamente, e outras grandes bandas como o Vulcano. Foi uma cena realmente única no passado, especialmente no Brasil. Hoje em dia, não acompanho tanto o metal underground. Tenho procurado mais por algo que me remete aos anos 70 e 80. Há tanta música para ouvir que o tempo é limitado. Mas, de vez em quando, pego os álbuns do Sepultura. Boas lembranças da infância.

Metal Na Lata: Imagine que você é um jovem e descobre o Enslaved. Vocês têm uma discografia vasta, com dezesseis álbuns. Poderia mencionar três álbuns que você apresentaria a alguém? Imagine mostrando para um amigo: “Cara, esse é o Enslaved, ouça esses três álbuns e você entenderá a música deles”.

Grutle Kjellson: Oh, isso é difícil. Acho que seria o primeiro álbum, o mais recente e um entre eles. Então, eu escolheria Heimdal, Vikingligr Veldi e… talvez Below the Lights.

Metal Na Lata: E os planos para o futuro?

Grutle Kjellson: Vamos fazer essa turnê na América Latina. Temos um show em Oslo no dia 19 de outubro, onde tocaremos o primeiro álbum completo. Voltaremos da América Latina em meados de novembro, encerrando o ano para o Enslaved. Em 2025, teremos alguns compromissos, mas será hora de voltar a compor, trabalhar em novas músicas e projetos. Esses são os planos até agora.

Metal Na Lata: Obrigado pela sua atenção. Gostaria de deixar uma mensagem para os fãs brasileiros e sobre o próximo show aqui?

Grutle Kjellson: Apareçam! Vamos fazer uma noite do caralho juntos, em nome do Rock’n’Roll. Se cuidem, e nos vemos lá!

Agradecimentos à Nuclear Blast Records e Tedesco Comunicação e Mídia pela parceria e oportunidade.

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