Kool Metal Fest – Carioca Club, São Paulo/SP (11/02/2024)

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Kool Metal Fest – Carioca Club, São Paulo/SP (11/02/2024)

Bandas: Santa Muerte, Cerberus Attack, Escalpo, Damn Youth, Ratos de Porão, Exhorder e Vio-lence
Local: Carioca Club Pinheiros, São Paulo/SP
Data: 11/02/2024
Produção: Sobcontrole
Assessoria: Tedesco Comunicação e Mídia

Texto, fotos e vídeos por Johnny Z.
Fotos Ratos de Porão, Exhorder e Vio-lence por André Tedim (@andretedimphotography)

“A apatia é grande e a crise é geral… todo mundo trabalha e se fode o ano inteiro, mas chega no Carnaval… é Globeleza… é Globeleza!”

Para quem não sabe, essa frase foi dita por João Gordo antes de sua banda, o Ratos de Porão, executar a faixa “Crise Geral”, gravada para a posteridade no álbum “R.D.P Vivo”, lançado em 1992. E não é que 32 anos depois essa mesma frase foi dita pelo seu ‘poeta original’ em cima de um palco? Sim meus caros leitores, estavamos no Carnaval, em pleno show do Ratos de Porão e ouvimos essa pérola nostálgica!

Domingo de Carnaval, um calor absurdo, bloquinhos aos montes pela cidade, metrô abarrotado de ‘foliões’, alguns educados outros nem tanto, mas mesmo assim, no meio desse caos suburbano do feriado (da rede) ‘global’, tivemos um evento para nos ‘divertirmos’.

O Kool Metal Fest, que já acumula um currículo de mais de 20 anos despejando muito metal em nossos ouvidos e sempre mesclando artistas fora da bolha do convencional com alguns médio/grandes medalhões. Em 2024, um elenco de respeito veio no Carioca Club, e foi literalmente esmagador! Em todos sentidos, som, iluminação, bandas, tudo, mas claro, uma pequena exceção decepcionante…

Claramente e infelizmente, pouquíssimo público entrou para a primeira atração, mas conforme os shows ‘maiores’ iam chegando, a pista se preenchia. Aí fica uma crítica aos ‘fãs’ que bradam aos quatro ventos que ‘apoiam o metal nacional’, mas ficam na parte de fora bebendo ou nem comparecem nas primeiras bandas para assistir somente os grandes e mais famosos. Isso é patético e me causa certa repulsa por conta da hipocrisia, mas cada um sabe o que faz com sua própria consciência (ou seria vergonha?).

SANTA MUERTE:

Pontualmente às 14h30, a banda paulistana de Thrash Metal/Crossover, com nuances de Punk Rock que adicionam uma pitada de sujeira, Santa Muerte, formada por Marília Massaro (vocal/guitarra), Marcelo Araújo (guitarrista da Cerberus Attack que colaborou como baixista) e Jhully Silva (bateria), apresentou faixas de seu único registro, o EP “Psychollic”, lançado em 2017, além de algumas novas músicas, com uma abordagem cheia de fúria e totalmente despretensiosa, no melhor estilo Punk: crua, despojada e direta!

Infelizmente, o reduzido público não demonstrou o devido respeito aos músicos, mas aqueles que estavam presentes receberam não apenas uma descarga de energia, devido à sonoridade intensa da banda, mas também testemunharam um desempenho eficiente. Vale ressaltar que a apresentação foi um tanto curta e estática no palco, já que Marília, por sua posição de vocalista, ficou um tanto restrita ao microfone, e Marcelo, na função de baixista convidado, estava bastante concentrado no que estava tocando, resultando em uma presença de palco um pouco contida. No entanto, isso não comprometeu o show, e a banda expressou sua gratidão a todos que compareceram cedo, anunciando que em breve iriam gravar o tão aguardado álbum de estreia.

O Santa Muerte é, sem dúvida, uma banda promissora, embora necessite de certo refinamento, especialmente em relação à postura no palco, tornando-a menos rígida e mais descontraída, para aproveitar a intensidade de sua música. Certamente, ouviremos mais sobre o Santa Muerte no futuro!

Setlist:

Scars Of Guilty
Survive Or Live
Personal Hell
Círculo de Sangre
Cyco Pit
Hipocrisia Never Ends
Trap On Track
Reactions

CERBERUS ATTACK:

Os músicos paulistanos da Cerberus Attack, composto por John França (vocal/guitarra, Blasthrash), Marcelo Araújo (guitarra solo), Marcelo ‘Maskote’ (baixo) e Bruno Morais (bateria), subiram ao palco pontualmente às 15h20. Com um Thrash Metal impetuoso, agressivo e veloz, no melhor estilo da fase “Arise” do Sepultura, agitaram os presentes, que, embora em maior número, ainda estavam longe do ideal. A brutalidade e a determinação dos músicos trouxeram à memória os gloriosos tempos dos anos 90, quando o Thrash Metal estava em seu auge (sim, aceite, dói menos!).

A pista do Carioca Club estava gradualmente se enchendo e aquecendo, e faixas como “Fastest Way to Die” e “Duck Parade” de seu álbum mais recente, “Abyss of Lost Souls” (2021), começaram a incitar modestas e pequenas rodas. A qualidade, entrosamento e presença de palco da banda evidenciaram uma bagagem e experiência notáveis, destacando-se Marcelo Araújo, cujo estilo lembrava Scott Ian (Anthrax, S.O.D) – inclusive em sua postura e performance pelo palco – surpreendendo a todos. A apresentação foi uma verdadeira avalanche de Thrash Metal, digna dos anos 80/90. O setlist intenso incluiu as poderosas “Moshers” e “Harbinger Of Decay”, encerrando a pancadaria com grande estilo e um trecho de “Detroit Rock City” do Kiss. Foi um espetáculo incrivelmente violento!

Setlist:

Straight Outta East Side
Strategic Cut On Education
Mithify Yourself
Fastest Way To Die
Third World Kids
Duck Parade
Moshers
Harbinger Of Decay

ESCALPO:

O Escalpo, originário de Rio Claro, interior de São Paulo, subiu ao palco às 16h, apresentando uma fusão de Death Metal, Crossover, Hardcore e D-Beat. Com Neri Orleone nos vocais, Allisson Big Bull e Thiago Franzin nas guitarras, Murilo Ramos no baixo (Forget Everything) e Jean Novaes na bateria, a banda entregou uma performance coesa, precisa e agressiva. No entanto, a recepção do público foi morna, com muitos espectadores simplesmente “conferindo” a apresentação. O setlist incluiu praticamente todas faixas do álbum “I” de 2023, resultando em uma apresentação enérgica e empolgante em pouco mais de meia hora. Destacam-se as músicas “Onda de Estupidez” e “Eviscerando o Opressor”. A empolgação foi tanta que o vocalista Neri perdeu seu tênis, que acabou indo parar no meio do público (risos). Fiquei impressionado com a apresentação e o som da banda, especialmente após descobrir que eles já excursionaram pela Europa e estão planejando retornar. Isso só reforçou a minha constatação: esses caras são talentosos, e o público precisa compreender a proposta deles! Eu entendi e curti muito!

Setlist:

Onda de estupidez
Olhando Pro Chão
Eviscerando o Opressor
Desconstrução/Destruição
A Dor Do Açoite
Escravidão Auto Imposta
Retrocedendo
Desumanização

DAMN YOUTH:

Por volta das 16h50, o quarteto cearense Damn Youth, composto por Elton Luiz (vocal), Camilo Neto (guitarra), Jardel Reis (baixo) e Italo Rodrigo (bateria), assumiu o palco e desencadeou uma catarse sonora em forma de Thrash Metal/Crossover. Com uma energia contagiante, simplesmente arrasaram ao apresentar seu mais recente álbum, “Descends Into Disorder”, lançado em 2023. Um público consideravelmente maior agitou intensamente todo o set dos cearenses, e a cada faixa executada, o carismático Elton expressava seu agradecimento dezenas de vezes por estar compartilhando aquele momento com a plateia, chegando a soltar uma frase bem-humorada a respeito da energia daquele momento: “Nossa, estou me sentindo um Ramones aqui em cima” (risos).

Canções como “Senseless Massacre”, “Straight Line”, “We Are Your Fear”, “Your Leader Will Fall”, “Opression Breeds Rebelion” e “Restitution” foram entoadas por muitos na frente do palco, ansiosos para cantar junto com o vocalista, que generosamente cedia o microfone diversas vezes aos sortudos. A cada música apresentada, a banda conquistava ainda mais o público, que inclusive já começava a subir no palco para pular, mas foi com os singles de 2018, “Nazi Punk/Bangers Fuck Off!” e “No Mercy to Nazi Sympathy”, que o caos se transformou em um verdadeiro pandemônio Thrash de tirar o fôlego! Que banda, meus senhores, que banda!!! Uma grande revelação; é extremamente necessário que vocês prestem atenção nesses caras!

RATOS DE PORÃO:

Com a casa já bastante preenchida (embora não totalmente lotada), o Ratos de Porão assumiu o palco às 18h, proporcionando uma performance intensa como de costume. João Gordo (vocal), visivelmente mais magro (sem perder sua imponência de outrora), entregou um dos seus melhores shows dos últimos anos. Em nenhum momento, percebeu-se falta de ar, cansaço ou qualquer impacto negativo em sua performance, algo que anteriormente estava comprometido devido a condições de saúde desfavoráveis, mas que agora estão sendo tratadas de forma adequada. Ao lado de João Gordo, Jão (guitarra), mais equilibrado no palco (sem perder a agressividade), e Juninho (baixo), junto à batida certeira e hardcore de Boka (bateria), lideraram o caos crossover/metal/punk que todos adoram em um show do quarteto. Já tive a sorte de testemunhá-los dezenas de vezes ao vivo, em diversas fases, mas é inegável afirmar que, na atualidade, os caras estão em sua forma mais brutal!

Na minha experiência pessoal, foi bastante intrigante ver a inclusão de faixas de “Descanse Em Paz” (1986), “Brasil” (1989) e, especialmente, “Just Another Crime… In Massacreland”, álbum de 1993 que, na época, recebeu – injustamente, diga-se – algumas críticas adversas. Músicas como “Satanic Bullshit”, e “Video Macumba”, revelaram-se bastante apreciadas por todos presentes, inclusive por alguns que talvez não as conhecessem. O setlist foi repleto de clássicos como “Descanse Em Paz”, “Cérebros Atômicos”, “Morrer”, “Amazônia Nunca Mais”, “Farsa Nacionalista”, “Crise Geral”, “Crianças Sem Futuro”, uma versão inusitada de “Aids, Pop, Repressão”, com um início meio reggae/meio funk, totalmente peculiar e irreverente, “Beber Até Morrer” (cantada por praticamente todos os presentes no recinto), a incrível “Lei do Silêncio”, “Sofrer” e composições de “Necropolítica” (2023), último álbum inédito da banda. Era impossível não se deixar levar pela energia pulsante que impediu o público de ficar parado.

Um show do Ratos de Porão é e sempre será uma dose quase letal de energia e entrega máxima no palco: pancadaria, caos, stage divings, mosh, discursos corrosivos de João Gordo, e uma fusão de Metal, Punk, Hardcore, Crossover de gente grande! Lendas!!!!!

EXHORDER:

Os veteranos thrashers americanos do Exhorder, originários de Nova Orleans e considerados a banda criadora do estilo Groove/Thrash Metal (ao contrário do que se fala sobre o Pantera), estrearam em um palco brasileiro para um público já considerável, embora longe de estar lotado. Atualmente, a formação inclui Kyle Thomas (vocal/guitarra, líder e único membro original), Jason Viebrooks (baixo), o excelente Sasha Horn (bateria) e o guitarrista convidado Waldemar Sorychta (guitarra, ex-Grip Inc.), ocupando o lugar do recém-contratado Pat O’Brien (guitarra, ex-Cannibal Corpse). Pat não pôde comparecer devido a restrições judiciais relacionadas a incidentes nada amistosos em seu país.

Às 19h20, a banda entrou no palco com o intuito de conquistar a maioria do público presente que ainda não os conhecia, mas sua apresentação foi uma mescla de empolgação (para quem conhecia a banda) com um sabor agridoce devido a vários problemas, sendo alguns até meio inaceitáveis.

O primeiro deles foi a abertura com a faixa instrumental “Slaughter In The Vatican”, de quase 8 minutos de duração, deixando um clima meio estranho pela ausência de comunicação do vocalista com o público, o que geralmente acalora uma apresentação logo nos primeiros minutos. Em “Legions Of Death“, e a partir daí uma enxurrada de problemas nas guitarras, tanto de Kyle (baita frontman, diga-se!) como de Waldemar, sendo o último uma das decepções de todo o evento por sair no meio da faixa para tentar resolver o problema, até aí tudo bem, mas voltar com a guitarra totalmente desafinada, fora de tom, e com um som horrível. Um músico e produtor do gabarito dele, cometer essa falha não é nada bacana! E não ficou só nisso, pois praticamente todos os solos de Waldemar foram realmente deploráveis.

O público parecia inerte durante toda a apresentação, mas foi em “My Time” que um burburinho apareceu, mas logo sumiu com a execução dos (ótimos) novos singles do novo álbum, que ninguém conhecia, “Year Of The Goat” e “Forever And Beyond Despair”.

Clássicos (desconhecidos por 90% do pessoal) foram executados, como as excelentes e bem recebidas pelos fãs mais antigos “Exhorder” e “Desecrator”. Mesmo que seus músicos se esforçassem no palco, foi um show frio com um curtíssimo setlist, que infelizmente deixou a estreia do Exhorder no Brasil decepcionante. Saíram do palco devendo algo melhor no futuro. A banda era excelente antigamente, e mais ainda agora com Pat na guitarra, com certeza o nível se elevará, mas por favor, entendam que Waldemar como guitarrista (pelo menos nesse show) é um excelente produtor.

Setlist:

Slaughter in the Vatican
Legions of Death
My Time
Year of the goat
Forever and Beyond Despair
Exhorder
Desecrator

VIO-LENCE:

O Vio-lence, lenda do Thrash Metal da Bay Area, retornou ao Brasil pela segunda vez, subindo ao palco às 20h30. Apesar de uma formação descaracterizada, com apenas Sean Killian (vocal) e Phil Demmel (guitarra, ex-Machine Head) como membros originais, o show foi impressionante. A ausência de um segundo guitarrista, apesar de estranha, não prejudicou o som, pois Phil brilhou com sua rifferama, palhetadas e solos excepcionais, em sua última apresentação como membro do Vio-lence, antes de se dedicar exclusivamente à nova banda de Kerry King, ex-Slayer.

A formação incluiu Christian Olde Wolbers (baixo, ex-Fear Factory) e Adrian Aguilar (bateria, Exmortus), proporcionando uma experiência única para quem teve a oportunidade de presenciar esse show. O baterista Adrian Aguilar, usualmente conhecido por sua performance mais ousada no Exmortus, estranhamente surpreendeu ao apresentar-se de maneira mais convencional e reta.

O show foi uma verdadeira máquina dos anos 80, com ‘stage diving’ e até mesmo os músicos interagindo divertidamente com o público. Sean e Phil empurravam e “chutavam” de volta muitos fãs que subiam ao palco, sempre de forma descontraída e sem violência (sim, acredite!).

A incerteza sobre o futuro do Vio-lence persiste, mesmo com a confirmação de uma turnê especial de “Eternal Nightmare” (1988) em abril. A expectativa de um retorno do baterista original, Perry Strickland, acrescentaria algo especial à banda. Ira Black (ex-Heathen, Metal Church, Vicious Rumors), que vinha se apresentando com a banda ao lado de Phil, pode assumir o posto de guitarrista. Só nos resta esperar…

O setlist repleto de clássicos levou os fãs de cabelos brancos de volta no tempo, e as faixas do EP mais recente, “Let The World Burn”, como a poderosa “Upon Their Cross”, foram muito bem recebidas. O cover de “California Über Alles” dos Dead Kennedys, com a participação aparentemente ‘animada demais’ de Kyle Thomas, acrescentou uma nota divertida ao show.

O encerramento com “World In A World”, clássico que frequentemente aparecia do saudoso programa Fúria Metal da MTV, manteve a energia alta até o fim.

Sean Killian realmente parece um general no palco! Com seu jeito meio ‘manézão’ de andar pelo palco, com sua jaqueta cheia de patchs, ‘carecão’ e com aquela cara sisuda (pero no mucho), pode até enganar, mas sua voz característica de “montanha russa desgovernada” é uma das forças motrizes da banda. Christian é um monstro com uma baita presença de palco, além de ser um excelente baixista, e se encaixou perfeitamente na banda.

Apesar da despedida de Phil, não houve um sentimento agridoce de ‘perda’, e a esperança é que o Vio-lence se reestruture e continue sua trajetória.

Podemos descrever o Kool Metal Fest como um evento ‘triturante’, ‘avassalador’ e maravilhoso, que deixou – mais uma vez – uma impressão duradoura aos presentes pela excelente organização, horários pontuais, som, iluminação e um público (que deveria ser maior) dedicado. Todos os envolvidos merecem reconhecimento, e já aguardamos ansiosamente a próxima edição.

Setlist:

Liquid Courage/Eternal Nightmare
Serial Killer
Phobophobia
Kill on Command
I Profit
Calling in the Coroner
Officer Nice
Upon Their Cross
California Über Alles
(cover do Dead Kennedys com Kyle Thomas)
World in a World

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