Sofie Jell – “Beauty Lies In The Eyes Pt. 2” (2021)
Banana Atômica
#Grunge, #StonerRock, #AlternativeRock
Para fãs de: Silverchair, Soundgarden, Nirvana, Alice In Chains, Queens Of The Stone Age, Bush
Nota: 9,0
Urgente, orgânico e totalmente preenchido por melodias e referências sonoras de outras décadas. É exatamente isso que “Beauty Lies In The Eyes Pt. 2”, o novo ep do quarteto baiano Sofie Jell entrega. Um trabalho maduro e ciente de seu não ineditismo, mas altamente coeso e marcado pela excelência tanto de suas composições quanto de sua produção.
Formada em 2017 e composta por Lucas Laudano (voz e guitarra), Leonardo Guimarães (bateria) Bruno Mendes (baixo) e Marquinhos Menezes (guitarra), a Sofie Jell tem como suas principais influências os nomes que, aceitando ou não, oxigenaram a música nos anos 90. Indo da dita cena de Seattle e todos os ecos produzidos por ela até o Stoner Rock do Queens Of The Stone Age. Ao longo do trabalho percebe-se facilmente diversos nuances e investidas à la Nirvana, Alice In Chains, Soundgarden e Silverchair, mas também é nítido o esforço da banda em criar uma personalidade própria e uma assinatura artística apenas sua.
“B.L.I.T.E Pt. 2” foi gravado no Estúdio do Beco em Salvador/Bahia e produzido pelo próprio quarteto junto a Vicente Fonseca. O novo material é a continuação natural do que a Sofie Jell apresentou em 2018, quando fez sua estreia com “Beauty Lies In The Eyes Pt. 1”. Aqui, porém, ouvimos ainda mais profissionalismo, maturidade, domínio e fluidez.
Na máxima — “ouve-se rápido, aprecia-se devagar” — o ep entrega 6 composições substanciosas, inspiradas e dotadas de uma energia visceral raramente ouvida nestes tempos de “Rock Influencers” (queria que isso fosse uma piada) e “fast-foods musicais”. Algo que é comprovado logo em sua abertura, na viscosa e pesada “Why?”. Com guitarras afiadas e timbres que pronunciam com clareza os anos 90. “Overrated” vem na sequência com ainda mais peso e personalidade. Composição essa que, caso tivesse sido lançada na mesma época do “Nevermind” e de outros tantos clássicos enflanelados teria feito enorme sucesso. Bem, nada impede que faça agora. Aqui ouvimos um revival decente e não essas incontáveis cópias horrivelmente insípidas aclamadas como redentoras do Rock por revistas e sites cujo cérebro implora por uma atualização há décadas.
A nostalgia continua na vigorosa “Figure Out” e é devidamente intensificada na faixa seguinte, “Insidead” — com arranjos que se dilatam e contrastes entre peso e sutileza; raiva e melancolia. Um fim de tarde cinza que anuncia chuva e conjectura uma noite de pensamentos liquefeitos pede por uma música como essa. Também sublime é a introspectiva “Down”, cujos relevos delicados e bucólicos muito memoram as suavizações do Alice In Chains e Stone Temple Pilots. (Espero não ter escrito uma heresia). “Wasted Days” encerra o ep com o mesmo humor demonstrado nas duas faixas anteriores. Transitiva e texturizada, mas apoteótica em seus minutos finais. A leveza em oposição ao peso das guitarras e os refinados parágrafos orquestrados somados à crueza do Rock a tornam ainda mais necessária e evocativa. Curiosa e Elogiosamente a mesma me lembrou uma de minhas músicas favoritas desde sempre — “Emotion Sickness”; a faixa de abertura do clássico “Neon Ballroom” lançado pelo Silverchair em 1999.
“Beauty Lies In The Eyes Pt. 2” emana não apenas nostalgia, mas também muita paixão (o nutriente necessário para que a música viva). Suas músicas são fortes, carregadas de sentimentos, honestas e elegantes. Os valorosos acréscimos do pianista e arranjador Jorge Luiz Marques Filho são realmente memoráveis. Recomendo demais, principalmente para aqueles que sabem apreciar um trabalho bem-feito e que não vivam em bolhas. Agora me dê licença que vou procurar minha velha camisa de flanela, pegar meus fones, cervejas e tabaco, essa noite de chuva será totalmente dedicada ao Sofie Jell. “That’s All Folks”!
Fábio Miloch
