Throe – “Throematism” (2021)
Abraxas Records | Sinewave Label
#PostMetal, #PostRock, #Shoegaze, #Industrial, #Noise
Para fãs de: Jesu, Neurosis, Year Of No Light, Mogwai, Godflesh, Paradise Lost
Nota: 9,0
O Throe é a nova extensão criativa de Vina (Vinicius Castro), guitarrista/cientista sonoro de um dos maiores expoentes do Stoner/Doom Metal brasileiro, o Huey. A galeria de lançamentos do projeto é formada por dois singles: “Death Feels Like An Embrace That’s Not Allowed” e “Praise/Breathe” — ambos concebidos em 2020 — respectivamente em julho e outubro; “Odium” — um EP (também lançado em 2020), gravado em parceria com João Kombi, guitarrista e vocalista do Test e um álbum, “Throematism”, lançado em 2021 pela Abraxas Records e Sinewave Label.
“Throematism” foi composto entre 2020 e 2021 e tem sua produção dividida entre o próprio Vina e Marco Nunes — também responsável pela mixagem e masterização, realizadas no Tori Studios. A bela imagem da capa é uma fotografia da praia da Cova Redonda, no Algarve, em Portugal, devidamente captada pela genial Claudia Tavares. A direção de arte é assinada por Thiago Minoru.
Em termos sonoros o álbum é um imenso complexo de influências e referências diversas, que vão de Mogwai e My Bloody Valentine até Fields Of The Nephilim e Paradise Lost. Prolongando-se ainda até demiurgos da música experimental como Neurosis, Jesu, Year Of No Light e Godflesh. Ao todo, são 04 composições divididas em pouco mais de 41 minutos, todas elas crescendo a partir de ideias cruzadas, incontáveis camadas instrumentais, dinâmicas sabiamente definidas e elementos sobrepostos. É interessante dizer que toda essa versatilidade e todas essas informações sonoras exploradas pelo artista não resultaram numa obra mecânica, excessiva ou demasiadamente vanguardista, pelo contrário, o registro é fluído, emocionalmente intenso, coeso e altamente envolvente.
A inaugural “Neon Star” é densa, angustiante e enigmática em iguais proporções. Os magníficos sintetizadores criam uma atmosfera única que se alonga por toda a duração da mesma. O trabalho das guitarras também é singular — tanto em seu papel de injetar o peso metálico que a faixa precisa quanto no setor melódico, onde revela todo bom gosto do artista. A faixa titulo é um épico de mais de 19 minutos totalmente preenchidos por ambiências, texturas e humores diversos. “Gone” é uma pílula experimental baseada em fragmentos e possibilidades sonoras… Crescendo a partir de minimalismos até culminar numa apoteose musical indescritível! “Último Céu” encerra o trabalho explorando os mesmos elementos e progressões das faixas anteriores. Partindo de um revelar lento de ideias e sensações que se ampara em sintetizadores, beats e lapidadas melodias — evoluindo e ganhando formas em seus derradeiros minutos.
“Throematism” é um trabalho intenso, impactante e hipnótico, tal qual se propunha ser (voluntariamente ou não), e mais que isso, ele é altamente imersivo. É praticamente impossível ouvi-lo e não ser tomado por toda gama de emoções que ele transmite ou não se ver arrebatado por seus cenários e contemplações. Daqueles raros álbuns que conseguem exprimir tudo o que vivenciamos e sentimos — humanos que somos — dores, mágoas, medos, ira, alegrias e frustrações, sem se utilizar de palavras, que no fim das contas nem lhe faltam. Todos os sentimentos (bons e ruins) estão nele, unificados e traduzidos sob a forma de música e quando música exprime o inexprimível nada mais precisa ser dito.
Fábio Miloch