O Underground é um conglomerado que reúne várias pequenas cenas compostas por bandas vindas das mais diversas regiões, estados e cidades. cada uma com sua proposta e também com sua própria guerra para lutar. Vencer e ter êxito é questão estatística, de sorte e também de muita perspicácia, pois o terreno é árido e seletivo. De São José Dos Pinhais (Paraná), vem o Hell Gun tendo em punho sua bandeira a favor do Heavy Metal em essência – riffs poderosos, baixo pulsante, bateria imposta e vocais poderosos fazem parte de seu primeiro disco “Kings Of Beyond” – que foi lançado recentemente através da Classic Metal Records. Conversamos com o vocalista Matheus Luciano, que nos deu pormenores sobre a trajetória da banda, sua busca por identidade, e sobre as dificuldades em ser e pertencer ao Underground – lançar, produzir e ir em busca de visibilidade e espaço. Sente-se, boa leitura e tenha um Bom Metal com o Hell Gun!!
Por William Ribas
Header e diagramação por Johnny Z.
Fotos cedidas pela banda
Metal Na Lata: A banda surgiu em 2013, em 2015 lançou o primeiro EP “Southern Hell”, mas somente agora é chegado o momento para o tão sonhado primeiro álbum completo. Primeiramente, como foram estão sendo esses 7 primeiros anos de existência?
Matheus Luciano: Salve Metal na Lata, um imenso prazer estar falando com vocês. Bom, na verdade bem no início, a banda começou como um projeto de covers e com uma formação completamente diferente, somente fomos começar a trabalhar nas nossas próprias composições e formar a identidade da banda no final de 2014. Com a minha entrada lançamos o EP “Southern Hell” em 2015, e a partir de então nos mantivemos sempre ativos no Underground. Como toda banda que vive nesse circuito, temos muitas dificuldades, e momentos inesquecíveis que fazem tudo valer a pena, já passamos por muita coisa e apesar de relativamente todos da banda estarem na faixa dos 25 anos, podemos dizer que nesse tempo de atividade já angariamos bastante experiência dentro e fora dos palcos.
Metal Na Lata: O que levou a banda ter esse espaço de 5 anos entre um lançamento e outro?
Matheus Luciano: Como citei, a caminhada no Underground não é nada fácil, tivemos muitos imprevistos como mudanças de formação (relativamente poucas em comparação à outras bandas com esse tempo de estrada), por exemplo. Após isso apesar de termos lançado alguns singles, levou um tempo até conseguirmos iniciar as gravações do disco de maneira adequada. A produção de “Kings Of Beyond” teve início em 2018 e foi encerrada somente no início de 2020, isso devido à forma que gravamos, em um estúdio móvel e com pouco tempo disponível para gravar durante a semana. Além disso nosso produtor teve alguns problemas pessoais que acabaram levando à demora na finalização do trabalho, e todos nós temos nossos empregos regulares e ou estudos, enfim o processo foi longo, mas acreditamos que valeu a pena toda a espera pois ficamos satisfeitos com o resultado.
Metal Na Lata: Ao meu ver essas dificuldades que aparecem muitas vezes são necessárias e importante para moldar o caráter musical de uma banda. Servindo muitas vezes também para “separar os meninos dos homens” mostrando quem quer algo por diversão e quem quer levar isso realmente a sério, concorda?
Matheus Luciano: Certamente, acho que quando você entra no Underground deve ter o pé no chão, e consciência de que noites maravilhosas de casas cheias viram assim como tocar pra meia dúzia, isso faz parte da nossa cena e procuramos sempre dar o mesmo show, seja pra 6 ou 500 pessoas. Dificilmente irá surgir um novo Iron Maiden, até por que o mundo não é o mesmo, a grande mídia não tem interesse em apoiar nosso estilo e quem permanece é sim por amor por essa vida, por tocar e estar na estrada levando sua música e sua mensagem.
Metal Na Lata: Vocês lançaram “Southern Hell” ainda no começo da banda. Como foi a repercussão para o EP? E acreditam que ele cumpriu bem o papel de colocar o nome Hell Gun em evidencia?
Matheus Luciano: Acredito que sim. O EP mostra sim uma banda bastante crua e inexperiente, e é exatamente o que éramos naquele momento. Quando gravamos aquelas músicas nunca havíamos tocado elas ao vivo e muitas tiveram até mesmo as letras finalizadas enquanto eram gravadas. Apesar disso o retorno que tivemos foi totalmente inesperado, pois imediatamente fomos acolhidos pela cena curitibana e muita gente curte o EP até hoje. Ele recebeu várias resenhas também e faixas como a ‘Wolfman’ nós tocamos até hoje apesar de termos alterado vários arranjos.
Metal Na Lata: O álbum “Kings of Beyond” traz em sua formula algo mais voltado ao metal tradicional dos anos 80 seja nas músicas, seja na gravação e mixagem. Ter essa roupagem oitentista foi planejado ou saiu naturalmente devido as influencias dos integrantes?
Matheus Luciano: A influência oitentista foi algo natural desde o princípio, pois isso era o que nós ouvíamos (e ainda ouvimos) quando estávamos juntos, e é o estilo que sempre agradou a todos na banda. Nunca houve dúvidas sobre isso, porém não foi algo que idealizamos por exemplo: “Nossa banda vai ser oitentista”. As músicas apenas saíram com essa pegada. Já na parte da produção do disco como a banda já estava com sua identidade bem formada já há um bom tempo, não tivemos dúvidas de que esse clima “vintage” viria a calhar e nisso o Arthur Migotto foi a pessoa ideal para capturar essa atmosfera sem soar datado ou piegas.
Metal Na Lata: Adicionar algo mais atual podemos dizer que é carta fora do baralho para a música do Hell Gun?
Matheus Luciano: De forma alguma. Não temos nenhum tipo de restrição quanto a isso, pois como te disse, não seguimos uma cartilha do True Metal, nós fazemos a música que nos agrada e nada impede que novas coisas sejam agregadas à sonoridade. Nós pretendemos ser fiéis a nós mesmos, mas não se limitar com essa ideia de old school acho que isso só acaba enlatando os músicos.
Metal Na Lata: As letras caminham para diversos lugares. Temos contos de terror e outras mais realistas que falam dos problemas atuais. Ter um trabalho diversificado e que entregue ao ouvinte diversos horizontes pode ser um dos grandes trunfos do Hell Gun para conquistar novos fãs?
Matheus Luciano: Acredito que sim, e não apenas do ponto de vista lírico, mas também instrumentalmente pois há músicas como “Emilly’s Possession” ou “Night Of The Necromancer” que possuem um clima mais épico e outras como “Pride To The Nations” e ” Revolution Blade” que são mais direto ao ponto e realistas, essas nuances tornam a banda mais interessante tanto no momento de ouvir o material quanto na hora de fazer um show ao vivo.
Metal Na Lata: Antigamente as bandas se encontravam nos ensaios e criavam com todos juntos, hoje com a internet e os diversos aplicativos muitos veem criando suas partes em casa. Como foi feito todo o processo criativo para o “Kings of Beyond”?
Matheus Luciano: Bem como disse anteriormente, o “Kings Of Beyond” já estava em produção há um bom tempo e essas músicas foram todas compostas da forma que você descreveu, uma ideia ou riff inicial posteriormente é trabalhado por todos na banda. Nesse momento de isolamento, não estamos mais nos vendo e, portanto, não estamos ensaiando por enquanto, porém já existem várias ideias para novas composições e estamos criando bases para novas músicas há distância mesmo.
Metal Na Lata: Então possivelmente teremos um novo álbum do Hell Gun antes do que todos imaginam? E já é possível a pontar para que caminho essas novas ideias vão levar o som da banda?
Matheus Luciano: Com certeza nosso plano maior é não ter um tempo tão longo até o próximo lançamento, nem que seja um EP. Em breve iremos já divulgar um material novo. Queremos nos estabelecer nessa linha entre o Heavy/Thrash com essa pegada própria para fortalecer ainda mais a identidade da Hell Gun.
Metal Na Lata: Como se deu a parceria com Classic Metal Records para o lançamento físico do álbum?
Matheus Luciano: Foi minha ideia entrar em contato com a Classic Metal, achamos que o selo faz um grande trabalho tanto lançando ótimas bandas nacionais como clássicos do Heavy Metal tradicional, achamos que seria uma boa ideia e o Denis quando ouviu nosso material se interessou na hora pelo lançamento. A edição está muito bonita e estamos muito satisfeitos com a parceria.
Metal Na Lata: Pelo o que pude acompanhar o novo trabalho vem chamando bastante atenção de fãs e mídia especializada. O lyric vídeo de “Night of the Necromancer” passa das mil visualizações. Por todo momento que estamos passando fazer um show de lançamento para o álbum é inviável no momento. Uma das grandes saídas são os festivais on line onde a banda tem participado bastante. Como está esse trabalho virtual para que as músicas de vocês cheguem cada vez mais longe.
Matheus Luciano: Essa é nossa melhor ferramenta no momento e temos tentado tirar o máximo proveito disso. O disco tem recebido bastante apoio no Bandcamp e ótimos números de streams no Spotify. Além disso não poderíamos deixar de citar o canal NWOTHM FULL ALBUMS que postou o disco no dia de lançamento e em uma semana já havia passado das 10 mil visualizações. Portais de informação e sites tem estado bastante ativos durante a pandemia e oferecendo bastante apoio às bandas o que é ótimo também. Então é isso nosso plano, é de por enquanto ficar em novos vídeos, entrevistas e lives e em festivais online que também estão sendo excelentes alternativas de divulgação.
Metal Na Lata: Para finalizar, qual faixa do novo lançamento vocês acreditam que mais representam a banda, e por que?
Matheus Luciano: É difícil escolher uma só, cada música acaba sendo como um pedaço seu, um filho, mas eu diria que o primeiro single “Revolution Blade” é uma faixa ótima para apresentar a força da banda e a fúria contida que tínhamos por lançar logo esse disco, assim como a mensagem forte que ela traz.
Metal Na Lata: Obrigado pela entrevista, o espaço final é todo seu.
Matheus Luciano: Gostaríamos primeiramente de agradecer a vocês do Metal na lata pelo espaço e apoio! Estamos muito felizes com o feedback que temos recebido pelo disco, recebemos mensagens de pessoas de diversos países que estão curtindo muito nosso trabalho. Muito obrigado à galera que nos curte e seguem nas redes sociais, ao nosso querido amigo e produtor Arthur Migotto, ao Denis e Patrícia pelo lançamento e belíssimo trabalho gráfico e de acreditarem no nosso potencial! Para finalizar pra todos que quiserem adquirir o cd “Kings Of Beyond” basta entrar em contato com a banda através do facebook, Instagram ou e-mail. Valeu galera!!!
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