ENTREVISTA COM OLOF MÖRK (AMARANTHE)
Ao incorporar influências de pop e dance com breakdowns e o peso do Heavy Metal, o Amaranthe ficou conhecido por sua sonoridade bem característica. Com três vocalistas na formação – Elize Ryd, Nils Molin e Henrik Englund, os suecos devem muito de seu sucesso ao guitarrista, tecladista e fundador Olof Mörk, o cérebro da banda ao lado de Elize. O Metal Na Lata bateu um papo exclusivo com o músico que revelou os bastidores da composição do novo disco “Manifest” (Nuclear Blast/Shinigami Records, 2020) e contou sobre a cena sueca, influências e possível vinda ao Brasil. Confira!
Por Gustavo Maiato
Fotos Divulgação/Johan Carlen
Diagramação e Header por Johnny Z.
Metal Na Lata: Como foi gravar o novo disco “Manifest” em meio ao cenário da pandemia? O processo foi diferente dos discos anteriores?
Olof Mörk: Começamos a compor em dezembro, depois paramos para entrar em uma turnê com o Sabaton e o Apocalyptica. Terminamos de compor no meio de março e nessa época percebemos a magnitude da crise do covid-19. Foi assustador para todos, nós remarcamos algumas gravações. Conversamos com a gravadora e com o produtor de estúdio e percebemos que se tivesse lockdown ou quarentena, nós estávamos na verdade em uma boa situação para gravar o disco. Quando gravamos um disco, a gente não encontra fisicamente muitas pessoas no processo. Muitos fãs não entendem como isso funciona, mas a gente fica completamente isolado no meio do nada. Basicamente, não deixamos a casa de gravação por dois meses. Então acabou que foi uma boa oportunidade para extrair algo criativo enquanto essa situação se desenvolvia.
Metal Na Lata: A música “Fearless” (confira o clipe aqui) traz uma mensagem positiva sobre um novo começo saindo da escuridão. Como você acha que essa música se relaciona com o momento que estamos vivendo agora? Pessoas estão perdendo seus empregos com a pandemia…
Olof Mörk: É difícil falar sobre isso porque muitas pessoas realmente ficaram em uma situação muito ruim com a crise, mas essa mensagem é minha convicção, é o que eu acredito. Você precisa escolher continuar e prosseguir sem medo, continuar lutando. Se você fizer isso, uma nova era pode surgir para você. Você sempre pode aprender alguma coisa com as situações ruins, mesmo que não pareça possível no momento. Com o Amaranthe, nós demos sorte, pois conseguimos gravar o disco. Nós ainda temos nosso trabalho, continuamos no streaming com o Spotify. Porém, muitos artistas ficaram em situação bem pior que a gente. O que eu estou querendo dizer é que eu entendo que toda a situação mundial é um problema, mas eu acho que se você tentar ver algum brilho no futuro, será encorajador.
Metal Na Lata: A música “Viral” (confira o clipe aqui) é uma espécie de crítica ao vício em redes sociais. Como surgiu a ideia de escrever essa música?
Olof Mörk: É sim parcialmente sobre essa questão da vida on-line. É uma discussão sobre as mídias sociais. As pessoas se viciam, ficam polarizadas e partem para debates sem significado nenhum no Facebook. Ao mesmo tempo, a música é sobre como as pessoas estavam lidando com a crise do coronavírus na época em que estávamos gravando. Quando as notícias começaram a chegar, um lado passou a dizer que todo mundo precisava ficar dentro de casa porque esse é o vírus mais perigoso do mundo. Por outro lado, pessoas falavam que o vírus era uma fraude, era mentira. Todo mundo virou um epidemiologista do nada! Então, essas pessoas se sentavam de frente para seus computadores e ficavam dando opinião quando talvez fosse melhor tentar ouvir o que os especialistas estavam falando. É por isso que eu não questiono o que os especialistas dizem, da mesma forma que os especialistas devem ser muito ruins em escrever um disco do Amaranthe! Todos nós somos especialistas em coisas diferentes…
Metal Na Lata: Para mim a melhor música do disco é a faixa “BOOM!1”. Um ótimo trabalho do Henrik Englund com seus guturais velozes. A Elize Ryd canta menos tempo do que o normal também. Como foi escrever essa música?
Olof Mörk: Nós tivemos a ideia para essa música depois de tocar em um festival ano passado. Eu e o Henrik estávamos conversando sobre fazer uma música que fosse mais voltada para os guturais. Pensamos no título já nessa época e comecei a pensar como desenvolver. Então, percebi que essa música precisava ser mais pesada. No último disco, na música “GG6”, esses versos em gutural já eram bem rápidos, então nós queríamos que essa nova música fosse mais rápida ainda! A ideia era fazer algo ainda mais pesado. No final eu acho que ficou bem legal. Vai ser muito bom tocar essa ao vivo. A Elize canta todas as músicas sempre e nunca tem uma pausa para descansar durante os shows. Como temos três cantores na banda, podemos pensar em termos de dinâmica. Às vezes, ela pode ter uma pequena pausa e voltar depois com um figurino novo e com a energia renovada.
Metal Na Lata: Falando nessa música, para alguns fãs mais conservadores, o Amaranthe pode soar muito pop ou eletrônico. Como você lida com esses comentários? Eu acho que vocês criaram um som único bem característico.
Olof Mörk: Para mim é estranho. É claro que temos muitas influências pop e dançantes, mas se você olhar bem, as músicas têm guturais e tudo. O Nils, nosso vocal limpo, também faz bem o estilo do Metal. Todo mundo tem suas opiniões, nós sabíamos que essas opiniões adversas podiam surgir. Era algo que estava na minha cabeça antes de lançar o primeiro disco da banda. Existe muito conservadorismo no cenário do Heavy Metal. Quando eu comecei a ouvir Metal nos aos 80 e 90, era justamente o contrário que acontecia. Muitas bandas tentavam coisas novas, novos gêneros era desenvolvidos quase todo ano. Mas essas mesmas pessoas gostam de ficar classificando: “Isso é Thrash, isso é Symphonic” . As pessoas pensam muito em função dos gêneros hoje em dia, eu pessoalmente acho isso chato. Eu quero tentar algo novo.
Metal Na Lata: Ao longo dos anos, o Amaranthe substituiu dois vocalistas: o Jake E, vocal limpo, deu lugar ao Nils Molin. E o Andy Solvestrom, que fazia os guturais, foi substituído pelo Henrik Englund. Como foi para você adaptar o seu jeito de compor em função dessas mudanças? Você acha que a sonoridade da banda foi alterada?
Olof Mörk: Duas coisas foram muito importantes nesse processo. A primeira foi achar bons substitutos em ambos os casos. E em segundo lugar, não queríamos que esses substitutos fossem cópias dos cantores anteriores. Nós queríamos que eles trouxessem suas próprias personalidades para a banda. Eu acho que no caso do Henrik, quando ele começou a cantar gutural com a gente em 2013, ele tinha uma abordagem mais moderna, mais rítmica e espontânea talvez. O Andy era mais direto ao ponto. No caso do Nils, ele tem uma pegada meio Hard Rock oitentista. Foi muito legal incorporar o estilo dele na banda.
Metal Na Lata: A Elize Ryd é uma das grandes vocalistas da atualidade. Como você enxerga a posição dela dentro do cenário das vocalistas de metal?
Olof Mörk: Quando a gente começou a banda, isso foi algo muito legal de perceber. Ninguém cantava no estilo dela, isso era exatamente o que a gente queria. Tem muitas vocalistas mulheres no metal que são consagradas como a Tarja Turunen, Floor Jansen (Nightwish) ou a Anneke Van Giersbergen (Ex-The Gathering). Todas elas têm um estilo mais clássico e operístico. A Elize, por outro lado, tem um estilo mais soul, mais R&B. Ao mesmo tempo, ela tem uma voz agressiva se ela quiser. Isso foi muito legal, já que a gente queria uma voz poderosa, mesmo que a gente tenha uma influência pop e dance. A voz dela combina muito com a alma do Heavy Metal.
Metal Na Lata: Vocês gravaram um cover do Sabaton, a música “82nd All The Way” (confira o clipe aqui), e até tocaram essa música com a banda ao vivo uma vez. Por que vocês escolheram essa música especificamente para fazer o cover e como foi gravar?
Olof Mörk: Eu e o Pär (Sundström), o baixista do Sabaton, conversamos alguns meses antes de entrarmos em turnê. Eu disse que queria fazer algum tipo de colaboração com eles, um crossover entre nossas bandas. Nós somos amigos há mais de 10 anos e seria legal fazer algo junto para mostrar essa amizade para nossos fãs. O Pär então sugeriu de a gente fazer esse cover e nós achamos uma ótima ideia. Ele falou sobre essa música “82nd All The Way” com a gente antes mesmo de o disco deles sair. Ele me enviou uma versão ainda não finalizada da música e falou “essa música deve ficar bem no estilo de vocês”. Eu ouvi e concordei na hora! Ela soa um pouco como o Amaranthe. Foi muito divertido traduzir essa música no nosso estilo.
Metal Na Lata: E qual música do Amaranthe você acha que seria legal de o Sabaton fazer um cover?
Olof Mörk: Essa é uma ótima pergunta! Nunca tinha pensado nisso! Mas pensando agora, acho que seria a música “Make It Better”, do nosso novo disco. Ela tem uma vibe bem metal e pode encaixar com o estilo do Sabaton.
Metal Na Lata: Quem sabe quando os shows voltarem não rola um cover…
Olof Mörk: Eu vou falar sobre isso com o Pär!
Metal Na Lata: A Suécia é o lar de muitas bandas de Metal consagradas, de todos os subgêneros. A que você atribui esse fato de o Metal ser tão forte e ter todas essas vertentes bem estabelecidas no seu país?
Olof Mörk: É estranho porque nos anos 80 nós não tínhamos esse cenário com várias bandas. Os EUA e a Inglaterra dominavam a cena. Nós tínhamos algumas bandas como o Europe e o Yngwie Malmsteen. No começo dos anos 90, aconteceu uma coisa em Gotemburgo, que é minha cidade natal. Algumas bandas começaram a ganhar destaque e passaram a colaborar umas com as outras ao invés de competir entre elas. Isso é uma coisa muito legal aqui na Suécia. Eu estive em uma banda grega chamada Nightrage por 6 anos e lá na Grécia é diferente, as bandas ficam competindo para ver qual é a melhor. Aqui na Suécia, quando eu tinha 16 anos, eu tinha uma banda chamada Rapture. Nós tocávamos Melodic Death Metal e tocamos algumas músicas com o In Flames. Isso foi antes de eu conhecer a Elize. O pessoal do In Flames foi muito legal com a gente, eles falaram que se a gente quisesse, poderíamos pegar emprestada a sala de ensaio deles, usar os instrumentos deles. Eles até chamaram a gente para abrir um show da época do “Clayman”. Eles nos trataram muito bem. Essa é uma das razões de porque a cena cresceu tão rápido de apenas algumas bandas para centenas depois.
Metal Na Lata: Quais são os seus guitarristas favoritos?
Olof Mörk: Quando eu era pequeno e praticava muito guitarra eu descobri o Yngwie Malmsteen e ele sempre foi uma referência para mim. Principalmente a maneira que ele tocava nos anos 80. Ele é um dos meus guitarristas favoritos. Apesar do fato dele tocar muito rápido, ele tem um vibrato muito legal e um fraseado interessante. Eu escutava muito Steve Vai também e obviamente Eddie Van Halen e Joe Satriani. Nos últimos 10 anos, tivemos também grandes guitarristas da Escandinávia como o Alex Laiho do Children of Bodom. Ao longo dos anos foram muitas influências, nos últimos tempos eu tento manter a mente aberta.
Metal Na Lata: A música “Burn With Me”, do disco “The Nexus” (2013), fala sobre o término de um relacionamento amoroso. No clipe, é mostrado um acidente de carro como metáfora para a música. Como surgiu essa ideia?
Olof Mörk: Basicamente, a ideia dessa letra é mostrar os sentimentos por trás de um término de relacionamento. Nós queríamos falar sobre a frustração, a raiva e a tristeza dessa situação. Essa é a história que nós queríamos mostrar. Outra mensagem que a música traz é que você não deve deixar esse ódio te consumir. O vídeo é como um aviso, tem uma briga na história do clipe e as pessoas deixam as emoções transbordarem e isso leva a uma tragédia. É uma mensagem para as pessoas se manterem fortes, manterem a mente tranquila. Todo mundo já teve um término de relacionamento, o mundo já viu milhões de situações assim e na maioria das vezes as coisas se ajeitam.
Metal Na Lata: Você conhece alguma banda brasileira? É fã de alguma?
Olof Mörk: Obviamente, todo mundo conhece o Sepultura. Era uma das minhas bandas favoritas quando eu comecei a ouvir Metal. Depois, eu fiquei muito fã do Angra também.
Metal Na Lata: Você conhece o Angra então?
Olof Mörk: Sim, eu tenho uma banda de Power Metal até, chamada Dragonland. Eu ouvi muito Angra, eu lembro que a música “Nova Era” era a minha favorita. Eu sei que o Brasil tem uma cena forte dentro do metal, especialmente nos anos 90.
Metal Na Lata: Os fãs brasileiros podem esperar que o Amaranthe venha ano que vem? Temos o Rock in Rio vindo aí…
Olof Mörk: Adoraríamos voltar ao Brasil! Seria um sonho para a gente. Definitivamente, temos a intenção de voltar ao Brasil e para toda a América do Sul assim que a situação permitir. Estava nos planos tocar aí na turnê do “Manifest”. Na última vez que tocamos aí, foi maravilhoso.
Metal Na Lata: Poderia deixar uma mensagem para os fãs brasileiros?
Olof Mörk: Obrigado pelo apoio de vocês. Esperamos ver todos vocês em breve assim que a situação permitir!
Mais informações:
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