Glam Fest Brasil – Carioca Club, São Paulo/SP (17/03/2024)
Bandas: Goaten, Stevie Rachelle’s Tuff, Pretty Boyd Floyd e Crazy Lixx
Produtora: Dark Dimensions
Assessoria: JZ Press
Texto por Cecil B. Demented
Fotos por Carol Oliveira (@ca.oliveira)
A primeira edição do Glam Fest Brasil aconteceu em São Paulo, em pleno domingo – com um calor infernal -, e foi uma celebração do Glam/Hair Metal dos anos 80 que ficará gravada na mente daqueles que estiveram presentes no Carioca Club.
Vou direto ao ponto e começo destacando a minha experiência principal da noite, e depois compartilho minhas impressões sobre as outras bandas do line-up: Crazy Lixx, Stevie Rachelle’s Tuff e Goaten.
Pretty Boy Floyd: O destaque da noite
Todo fã veterano de Hard Rock, Heavy Metal, Sleaze, ou simplesmente de Rock, que se preze, tem pelo menos 5 bandas que precisam assistir para completar a lista do “ver antes de morrer” – ou, “ver antes dos caras passarem dessa para melhor”. Tudo é possível depois dos 45 a 50 anos (idade média do público e dos músicos circulando pelo Carioca Club).
E o Pretty Boy Floyd foi incluído na minha lista com sucesso!
Steve Summers (vocalista, líder e único da formação original da banda) personifica tudo aquilo que a geração da Sunset Strip representava nos seus dias áureos, mantendo-se como um performer relevante que supera as bandas que tocam em seguida – como foi o caso do Crazy Lixx, que, nesta noite, foi ofuscado por Summers e sua trupe, com um visual glam revisado e uma atitude incrível no palco! Junto a Summers, a formação desse Pretty Boyf Floyd é composto por Dizzy Aster (guitarra), DieTrich Thrall (baixo) e Nick Mason (baterista)
E o melhor é que, fora do palco, esses caras se comportam como se estivessem na Sunset Strip, especialmente nesta noite no Carioca Club. Eles circulavam pela galera, sem nada de meet & greet; a coisa é uma celebração do momento único com seus fãs. Inclusive, tive o privilégio de comprar um Jack & Coke para Steve Summers (ele mesmo) no balcão do bar dentro do Carioca Club.
E parece que meu Jack & Coke contribuiu para que Steve Summers desfilasse grandemente os sucessos do Pretty Boy Floyd ao longo de cerca de uma hora de apresentação, sempre mantendo sua presença marcante no palco, com um visual Glam Dark – que é o mais adequado para atualizar o Glam de acordo com o século XXI (nada de cabelo com permanente cheio de brilho e calças spandex azuis, por favor).
O fato é que o palco do Carioca Club foi dominado pelo Pretty Boy Floyd nesta noite e, para um fã como eu – e os outros cerca de 400 presentes – foi uma experiência única de viagem no tempo durante a execução das músicas do álbum que, para mim, está no top #3 do Sleaze Rock – “Leather Boyz With Electric Toyz” (1989) – como “Rock & Roll (Is Gonna Set the Night on Fire)”, “Your Mama Won’t Know”, “Rock and Roll Outlaw” e assim por diante. Vale destacar que a iluminação e o som do Carioca nessa noite estavam tão vibrantes que essa viagem foi realmente pulsante.
A voz de Steve Summers continua genuína, anasalada, com agudos bem executados sem maiores dificuldades. Falando em cantar sem maiores dificuldades, foi muito legal ver o Pretty Boy Floyd tocar “Toast of The Town” e Summers emular a forma de cantar de Vince Neil, por assim dizer.
Seja como for, é uma atitude de homem prestar homenagem às bandas que abriram caminho para o Hair Metal reinar nos anos 80 na Sunset Strip, no Rainbow Bar, Whisky a Go-Go, entre outros que ainda estão de pé e funcionando muito bem para a cena local de L.A., onde o Pretty Boy Floyd circula sem embaraços, até os dias de hoje.
Setlist:
Your Mama Won’t Know
Toast of the Town (Mötley Crüe)
Leather Boyz with Electric Toyz
Rock & Roll (Is Gonna Set the Night on Fire)
Wild Angels
Good Girl Gone Bad
48 Hours
Rock & Roll Outlaws
The Last Kiss
I Wanna Be With You
Restless
Saturday Night
Crazy Lixx: O ‘anti-climax’ da noite
Acredito que os veteranos do Crazy Lixx tenham ficado um pouco frustrados, especialmente porque escolheram São Paulo para encerrar, o que seria em grande estilo, a turnê pela América Latina. Infelizmente, parece que não conseguiram se destacar tanto quanto sabemos que eles poderiam devido a fatores alheios aa suas vontades.
Nesse sentido, acredito que o Crazy Lixx tenha sentido um pouco o impacto e, combinado com a má mixagem do som das guitarras – que acabaram se perdendo atrás do baixo e da bateria, diminuindo bem a potência sonora da banda – culminando em uma performance que pode não ter sido a melhor para o quinteto em um festival, se comparada as outras em terras brasileiras.
Não quero parecer desrespeitoso, pois tenho muito respeito pelos suecos que se autodenominam “A Última Banda Sobrevivente da Nova Onda de Hard Sueco” e tem discos excelente e hits muito bons. Nesta noite, eles tocaram “Rock and a Hard Place”, “Girls for the 80’s”, “Silent Thunder” e outros sucessos que os fãs presentes cantaram junto e apreciaram demais o momento com sua banda favorita. Certamente, a noite valeu a pena para eles também, pois era evidente a alegria estampada nos rostos dos suecos, mesmo parecendo estarem derretendo de calor no finalzinho do verão paulista. Me pergunto: Será que o retorno deles no palco tinha o mesmo som que recebíamos na plateia? Acredito que não, pois ninguém aceitaria as guitarras tão baixas.
Danny Rexon (vocal), Joél Cirera (bateria), Jens Anderson (baixo) e a dupla de guitarristas Chrisse Olsson/Jens Lundgren são excelentes músicos que se divertem muito no palco e proporcionaram um show empolgante e cheio de energia. No entanto, acabaram sendo ofuscados – na minha opinião – por uma mixagem ruim que simplesmente fez as guitarras desaparecerem, sendo os riffs e as melodias desse instrumento um dos pontos altos das músicas banda. Talvez se não fosse por esse detalhe, estaria bem cotado como um dos melhores da noite.
Setlist:
Whiskey Tango Foxtrot
Hell Raising Women
Rock and a Hard Place
XIII
Silent Thunder
Rise Above
Sword and Stone (Bonfire)
Girls of the 80’s
Walk the Wire
Wild Child
Two Shots at Glory
Blame It on Love
21 Til I Die
Anthem for America
Never Die (Forever Wild)
Stevie Rachelle’s Tuff: Em ótima forma
Embora já tivesse assistido a Stevie Rachelle tocando com o Tales From The Porn no Manifesto Bar por volta de 2017 – naquela ocasião, inclusive, gravei uma entrevista com ele para o Metal na Lata – Stevie continua sendo o mesmo cara simples e gente boa de sempre. Foi animador assistir a mais uma apresentação dessa personalidade do Glam Metal mundial.
Considero Rachelle um bom performer de Hair Metal. No entanto, infelizmente, o TUFF se destacou muito bem com seu álbum de estreia (“What Comes Around, Goes Around”, de 1991), em uma época em que a onda Glam dos anos 80 já havia desaparecido – algo que ficou claro quando bandas emblemáticas do Hair Metal, como Trixter e Nelson, começaram a cair no esquecimento nos anos 90.
Com uma banda experiente de músicos brasileiros, Bento Melo (baixo/Tales From The Porn/Sioux 66/Nite Stinger), Leo Gonn (guitarra/Chromeskull), Gabs Haddad (bateria/Sioux 66), Steve Rachelle é muito honesto ao afirmar que a relação com os músicos da formação original da TUFF é tranquila, mas ter a formação completa custa caro. Por isso ele veio sozinho. Negócios, como de costume.
Junto com os brasileiros, Rachelle sabe como dominar o palco e fazer uma apresentação Glam apropriada, mantendo-se próximo ao contato com seus fãs, esbanjando carisma e autenticidade.
O show foi muito agradável, com a banda tocando todos os hits do TUFF, como “Good Guys Were Black”, além das inconfundíveis baladas “So Many Seasons” e “I Hate Kissing You Goodbye”, e um pesadíssimo cover de “You’ve Got Another Thing Comin'”, do Judas Priest! Claro que o ápice da apresentação, com todo o público enlouquecendo, foi a última música do show, “All New Generation”, na qual o TUFF mandou muito bem, prestando uma homenagem incrível para toda a cena de L.A. (quem curte, sabe). E, no bis, Rachelle cantou a segunda parte de “All New…”, a emblemática música “American Hair Band”.
Foi uma apresentação muito acima da média, com iluminação e som impecáveis, e Stevie mostrando estar em ótima forma aos 58 anos. Portanto, não há com o que os fãs se preocuparem, pois o TUFF ainda estará por aí, vindo e voltando para o Brasil por um bom tempo, mesmo que seja só com ele.
Vale ressaltar que Stevie, sem frescura, desceu do palco e foi celebrar, vender merchandising para seus fãs, tirar fotos, sem precisar de meet & greet pago. Estava próximo à porta de saída do Carioca Club e o vi saindo por conta própria do local, com uma mochila nas costas. Mais um dia bom, mais um cachê que ele recebe de maneira muito honesta e digna, pois ele realmente manda muito bem, especialmente no quesito ter a plateia nas mãos, honestidade e foco nos negócios. Ele é um excelente músico e entertainer, isso ninguém pode negar, pois um show com ele é sempre garantia de diversão!
Setlist:
God Bless This Mess
In Dogs We Trust
Ruck-a-Pit Bridge
Good Guys Wear Black
I Hate Kissing You Goodbye
So Many Seasons
Summertime Goodbye
You’ve Got Another Thing Comin’ (Judas Priest)
The All New Generation
American Hair Band
Goaten: Mostrando presença
O Goaten, que lançou seu primeiro álbum “Midnight Conjuring” no final do ano passado, apresenta uma sonoridade com uma pegada Hard mais densa, flertando com NWOBHM e até o Thrash Metal. O trio formado por Francis Lima (vocal/baixo), Daniel Limas (guitarra) e Rafaah Drinkwine (bateria) entregou um excelente show, vibrante e primoroso abrindo a noite do Glam Fest Brasil com muita garra.
O que a banda nos trouxe nesta noite, com músicas como “Metal Blade” – que me fez lembrar de um esquema ‘Caught in a Mosh’ à la Anthrax – foi incrível, embora um tanto fora de contexto da ocasião mais ‘hard e glam’, na minha opinião. Eles também se saíram muito bem com a música “Pride or Dust”, que tem uma vibe bem Hard N’ Heavy. Parece que a banda está encontrando sua sonoridade, que será desenvolvida nos próximos lançamentos, pois eles têm potencial de sobra para isso. Acho que só precisam definir uma direção clara.
Setlist:
Intro
Mistress of Illusion
Finally Free
Metal Blade
Gypsies in the Night
Nature of the Century
Pride or Dust
Phantom Chaser
Sacrifice
Bells
Hunting the Damned
A celebração dos presentes
Foi muito legal reencontrar bons amigos em uma balada Glam no estilo ‘rock, fuck, dope’, muitos dos quais trabalhamos juntos em veículos de imprensa da cena metal, indo e vindo, incluindo muitos que conheci através do Metal Na Lata. Se o evento não foi um sucesso de público, o que não foi culpa dos organizadores, pois a divulgação foi ampla, não faltou diversão e momentos memoráveis para todos nós que estávamos presentes neste festival. Parabéns Dark Dimensions pela iniciativa, organização, pontualidade e casting.
Para encerrar, vale uma reflexão:
Acredito que o que falta para uma cena Glam se estabelecer no Brasil é apostar em bandas autorais e, assim como o TUFF e o Pretty Boy Floyd fizeram nesta noite, reverenciar as bandas que as antecederam, pois isso cria um senso de tradição musical que ainda não existe no Brasil até hoje, infelizmente – esse recado é para os ‘Hardões’, e todos que se dizem fãs de Rock, que preferem ir a shows covers em vez de participar de eventos triunfantes e prazerosos como este! É lamentável, mas mantemos a esperança.