Gojira – “Fortitude” (2021)
Roadrunner Records
#ProgMetal, #DeathMetal, #GrooveMetal
Para fãs de: Tool, Mastodon, Opeth
Nota: 9,0
Da França vem o Gojira, que tem um dos estilos mais difíceis de se rotular de todos os tempos. Seu som é uma mistura de tanta coisa, e mesmo as nuances em sua música que nos permitiriam tentar situar os caros leitores sobre o som do Gojira são diferenciadas e transbordam originalidade. Em tempos onde a maioria segue uma receita “para garantir o seu”, ouvir um grupo que tenta criar algo completamente original nos dias de hoje é gratificante, mesmo que levando em consideração que muita gente pode não gostar do som deles. O que é normal, tamanha peculiaridade no som desses franceses.
O som da banda é bastante pitoresco, e é provável que você ouça este “Fortitude” logo após ler minha resenha e discorde 100% de mim, exceto por um ponto: A originalidade da bagaça! Ao invés de tentar (infrutiferamente) rotular o Gojira, vou tentar explicar pra você o que senti escutando as onze faixas de “Fortitude”.
Começando pela capa psicodélica e feia (na minha opinião), mas que está no “padrão Gojira” que sempre optou por capas minimalistas e estranhas. Aparentemente, sua arte está mais na música que no visual.
“Fortitude” mostra um Gojira até mais direto que em álbuns anteriores, e aqui percebemos uma leve influência de Sepultura, principalmente no single “Amazonia” que tem um vídeo muito legal bombando no youtube. Isso sem esquecer que o vocalista e guitarrista Joe Duplantier já fez parte do Cavalera Conspiracy, o que poderia explicar ainda mais a influência presente na música do Gojira.
Quando “Born for One Thing” começa os primeiros riffs já te deixam meio confuso. Peso, quebradeira e vocais agressivos e melódicos ao mesmo tempo, cheio de efeitos, tudo em uma atmosfera única. O grande trampo das guitarras que estará evidente em todo o álbum já mostra a cara aqui com riffs pesadíssimos, intrincados e muitas harmonias pouco usuais.
A já citada “Amazonia” vem em seguida e de cara nos remete ao Roots do Sepultura, mais pelo clima que pela musicalidade em si. A letra fala sobre o desmatamento desenfreado na Amazônia (óbvio), e tem uma levada com percussão, cânticos e um riff hipnótico e simples, mas extremamente funcional. “Another World” vem mais arrastada e com um groove legal, bons riffs e os vocais de Joe bem marcantes. Uma belíssima sessão de percussão e vocalizações são os destaques dessa bela canção.
E é com vocalizações que a próxima “Hold On” começa, de forma bem densa. Algo meio tribal, um lick de guitarra e percussão marcantes, muito legal. Aí entram riffs pesados e belíssimos arranjos de guitarra no meio. É incrível como a música te leva a inúmeras atmosferas e nuances, é de fato uma coisa única. Quebradeira com riffs malucos é a tônica de “New Fond”, outra viagem musical de mais de seis minutos e tem um final com mais riffs pesados e mais arranjos vocais “estranhos”. Falando em estranheza, a canção título serve meio que uma introdução a “The Chant”, a mais diferente do disco. Veja bem, uma canção “diferente” em um álbum de uma banda como o Gojira é algo REALMENTE estranho. As melodias de voz trazem algo de System of a Down à mente, até algo de Pink Floyd também (te falei que o bagulho é doido). Musicalmente a canção é boa, mas acaba ficando meio monótona depois de um tempo por ser longa e repetitiva. Mas ainda assim é uma boa música.
Após esse momento mais “calmo” a banda retorna à esquisitice e quebradeira com “Sphinx” com muitos riffs intrincados e os vocais mais agressivos de todo o álbum. O trabalho das guitarras nessa música é excepcional! “Into The Storm” acelera o ritmo um pouco com uma levada rápida e guitarras melódicas,para cair em riffs palhetados com ótimas linhas vocais (ainda estranhas, mas que a essa altura você meio que já se acostumou). Destaque para a quebradeira no meio da música, dignas das bandas de prog metal.
Com um eficiente groove simples e com mais riffs criativos, acompanhados de um vocal que beira o grunge, temos “The Trails”. Destaque mais uma vez para as guitarras que esbanjam criatividade em riffs pesados e outros mais limpos, que pela velocidade não deveriam funcionar com a levada mais arrastada da música, porém funcionam e muito. É também digno de nota o trampo do baterista Mario Duplantier em todo o álbum, mas que nesta música brinca com as variações e improvisos em linhas hiper criativas.
Para finalizar, temos “Grind” que começa tão louca e quebrada que você leva alguns segundos até a entender onde a banda quer chegar com essa levada. Mais linhas de bateria absurdas e como sempre, surpresas durante a música com mudança de andamentos e climas a granel para terminar com um belo dedilhado.
Enfim, “Fortitude” é na minha opinião, forte candidato a melhor disco do ano. Em tempos onde muitos artistas criam raízes cada vez mais profundas em sua zona de conforto, felizmente ainda existem bandas que não se contentam em ser apenas mais uma em seu nicho.
Por mais que o som do Gojira não seja para você (perfeitamente compreensível), é inegável a criatividade e inconformismo que a banda estampa em cada música.
Mas aviso: Não é um álbum de fácil audição, daqueles que você ouve de fundo enquanto faz alguma atividade. É uma obra complexa, que se você sentar para ouvir e prestar atenção a cada nuance de onze canções completamente diferentes umas das outras (e ainda assim soam pertencentes a um todo comum) vai ter uma boa dimensão da mensagem musical do Gojira. Garanto que será uma experiência única e pessoal.
Thiago Barcellos